sexta-feira, 18 de setembro de 2009

O HUMOR DE MANÉ BERADEIRO



Renato Caldas, poeta do Vale do Açu, pioneiro da poesia matuta no Rio Grande do Norte, foi ao Rio de Janeiro solicitar ao Dr. Carlos Lacerda uma ajuda financeira para o lançamento do seu livro "Fulô do Mato". Naquela época, no Rio de janeiro, Dr. Carlos Lacerda estava a todo vapor com a sua campanha "Ajuda teu irmão". Depois de várias tentativas, finalmente, Renato Caldas consegue audiência com o doutor Carlos.

__O que você quer mesmo? Perguntou Carlos.

__Uma ajuda financeira para lançar meu livro. Sou poeta lá do Nordeste, pobre, sem recursos...

Dr. Carlos Lacerda achou que era mais um cabeça chata que queria pegar uma graninha e voltar para o Norte. Queria uma prova e falou para Renato:

__Se você é poeta mesmo, faça um verso. Se eu gostar ajudo na publicação do seu livro.

Era tudo que Renato queria. E do alto da sua inteligência mandou brasa:

__"SEU DOUTOR CARLOS LACERDA QUE INVENTOU ESSA MERDA DE AJUDA TEU IRMÃO, PUBLIQUE "FULÔ DO MATO", AJUDE O VELHO RENATO, POETA LÁ DO SERTÃO".


Causos da nossa literatura, coisas do nosso chão.


Fonte: Repentes e Desafios, de José Lucas Barros. 1985.

ENQUETE PREMIARÁ PARTICIPANTES


A enquete ao lado premiará, por sortéio, aquele que acertar a resposta da pergunta. O prêmio será um exemplar de "Crônicas Sensoriais". Participe, vote e envie sua resposta para o e-mail: letrasreais@hotmail.com, com seu nome e telefone, com o assunto: enquete. Você tem seis dias.


Quem terá sido o escritor que mais lançou livros no Rio Grande do Norte?

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

ASSIM DISSERAM ELES

"O vírus do amor ao livro é incurável, e eu procuro inocular esse vírus no maior número possível de pessoas."


JOSÉ MINDLIN

terça-feira, 15 de setembro de 2009

MINHAS PEDRAS


Para José Pacheco Dantas ( 1878-1961)

Meu lençol é de pedra, e por ser assim não durmo em cama, não tenho rede, deito e descanso no chão.
Cada pedra que a vida me jogou eu não revidei, não devolvi. Juntei-as, formei uma manta, uma grande colcha sob a qual tento descansar.
Meu lençol é de pedra. Frio no Inverno, quente no Verão, mas sempre pedra. Tentei debalde estender meu manto nos varais da existência.
Meu lençol é de pedra, mas meus olhos não pesam, meus sonhos não cessam, não são tristes, não são inertes.

Abril de 2009

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

UM ACAMPAMENTO INESQUECÍVEL - IIIª PARTE



Quando terminamos o tempo da quarentena fomos realizar o Iº Acampamento, na área de treinamento da Lagoa do Jiqui. Nas mentes de todos aqueles jovens fervilhavam inúmeras perguntas: “Que faríamos?”, “O que nos aguardava?”, “Haveria sofrimento?” e outras mais.
Montadas as barracas, os pelotões começaram a receber as instruções naquele campo. Lembro-me que foi um acampamento inesquecível. Passamos por uma pista de mensageiro, onde devíamos andar sozinho, escondendo-se do suposto inimigo, não se deixando capturar e entregar no final da mesma, a mensagem que nos foi confiada. Este exercício foi feito pela manhã, atravessamos um terreno alagadiço, entramos em pequenos córregos e nossas roupas ficaram molhadas o dia inteiro, além das lamas fedorentas e os coturnos encharcados.
À tarde daquele primeiro dia de acampamento, um tenente nos ensinava a tática de silenciar sentinelas, como atacar sem ser visto e surpreender o inimigo. Muitos soldados ficaram com marcas do cabo de aço no pescoço por vários dias. Veio a noite, fria, escura e saímos para outro exercício: atacar o inimigo que estava naquelas proximidades e pretendia destruir os sistema de fornecimento d’água que abastecia Natal e Parnamirim.
Tínhamos recebidos instruções que toda cautela era necessária. Nenhum barulho. Caminhávamos em fila indiana, dentro da mata fechada, erguendo os pés e baixando-os devagar, evitando quebra de galhos ou qualquer outro barulho que viesse a denunciar nossa posição. Mas, soldado recruta é jovem traquino, dado a surpreender e fazer coisas inesperadas. E aquela noite prometia.
A frente da fila indiana ia o Capitão Raul Carriconde. Em determinado lugar ele percebeu que havia um buraco onde os soldados poderiam tropeçar e provocar barulho. Toma a precaução e avisa a quem vem atrás: --Tem um buraco logo aqui na frente. Cuidado. Avise a quem vem atrás de você. Fale baixo!
E assim, aquela ordem foi sendo cumprida de soldado para soldado.
Mas, se para o poeta havia uma pedra no meio do caminho, para o Capitão Raul Carriconde havia o soldado Bento. Tão logo ele recebeu a exortação sobre o buraco, fez uma das suas, pondo em risco todo o sucesso daquele pelotão: --Ei! atenção, tem um buraco lá frente. Cuidado para não cair nele! Estas palavras pronunciadas de maneira alta provocaram risos e desequilibrou toda a harmonia da missão que vinha sendo executada.
O soldado foi promovido. Tiraram do meio da fila para frente do Capitão Raul Carriconde, que não media esforços em sacolejá-lo e ameaçava dá-lhe uma semana de xadrez, caso o inimigo nos atacasse naquele instante.
Para felicidade do soldado Bento seus gritos perderam-se na imensidão daquela noite, assim como o pio das corujas que voavam naquela mata. Encerrando estas atividades, tivemos, a alegria de presenciar uma belíssima encenação sobre uma batalha, com bastantes tiros de festim e também munição traçante, de várias cores.
Depois, exaustos, cansados, com as roupas totalmente suadas e fedendo a lama, sem banho nenhum por um dia, fomos dormir. Recordo-me bem as palavras proferidas pelo Tenente Arnaud: “ –Isto aqui não é piquenique. O soldadinho não esteja pensando que veio acampar. Brincar de escoteiro. Isso é treinamento. Vocês vão dormir, mas permaneçam atentos. Nada de tirar os coturnos, a gandola e muito menos soltar o fuzil. Durmam abraçados com ele. Entenderam soldados?”
--Sim, senhor, tenente! Respondemos uníssono.
Exauridos tentamos dormir. Nas barracas espalhamos o poncho sobre o solo e fazíamos da mochila o travesseiro. Apenas folgávamos os coturnos e abríamos a gandola. O fuzil preso entre as pernas, nossa “namorada”, como tantas vezes tínhamos ouvido nas instruções de sala lá no quartel.
Surpresas teríamos naquela noite. E elas chegaram. Vieram trazendo em determinado momento um barulho infernal e bastante fumaça. Alguém jogou propositadamente uma granada de efeito moral naquele acampamento. Erguermo-nos, e rapidamente estávamos sob o comando do Tenente Arnaud que juntamente com os sargentos, cada qual respondendo pelo seu pelotão, adentrava a mata e se posicionava para proteger os demais.
Era madrugada. Meu corpo pedia descanso e desde a manhã daquele primeiro dia ansiava também por um banho e tudo o que eu tinha era uma mochila, um capacete de aço sobre outro de fibra, uma farda surja e fedorenta, um cantil e o fuzil. Isso era o que eu possuía para proteger o pedaço da pátria que naquele momento eu era “convidado” a fazer.
Ficamos ali por um bom tempo até recebermos a ordem de voltarmos ao acampamento. Tínhamos apenas pouco mais de três horas para descansar, isto é, se outras surpresas não viessem. E ali, o soldado Martins começou a se perguntar: “Por que vim para esta vida militar? Que planos tem Deus para mim num mundo tão diferente daquele até onde vivi em 1984?”. Olhava para meus companheiros, eles também não sabiam responder nem mesmo o porquê estavam servindo ao exército, imaginem perguntas filosóficas.
Passamos três dias acampados. No outro dia logo pela manhã tomamos banho e assim fizemos também no terceiro dia. O Exército não era tão ruim assim.
(Esta crônica é parte do meu próximo livro: Alvoradas no Itapiru)

ASSIM DISSERAM ELES

"Não há corrupção política, o que há é uma corrupção de indivíduos que são políticos"

José Antonio Martins
Livro: CORRUPÇÃO. 2008. Ed. Globo.

O HUMOR DE MANÉ BERADEIRO


Tem gente que adora tornar o mundo mais alegre, não é? Pois então na vizinha cidade de Macaíba-RN, há muito tempo atrás Chico Gúrcio contratou um letreiro para abrir no frontal do seu comércio os seguintes dizeres: A PÉROLA DE CHICO GÚRCIO. Só que o sujeito muito mal intencionado, abriu o letreiro e pintou as letras das direita para a esquerda, deixando propositadamente duas letras sem pintar, para terminar o serviço só na manhã seguinte. E aí então foi o maior alvoroço, pois logo cedo as beatas passavam para a missa e viam lá as letras pintadas: A _ _ ROLA DE CHICO GÚRCIO.
Coisas da nossa terra! Causos de Mané Beradeiro.

domingo, 13 de setembro de 2009

SEM EIRA NEM BEIRA


( Para todos os poetas que produzem a poesia processo e visual)

Formidável...,
Formicida...
Formidante...
Futicida...
Fuxiqueira..
Franciscana..
Frecheira...
Boaníssima...
Bodogueira...
Boquiaberto..
Botadeira..
Bozó dentro da bicheira
Lapidando...tão me dando...tô gostando...tô lezando...sou tranqueira.
Sem eira, nem beira, beirando o bode, da feira do benfeitor.
Lá vem Loreta, quase morena, lá vai Luvana com seus rabiscos, que não são ciscos.


sexta-feira, 11 de setembro de 2009

NILO PEREIRA


Logo mais será postado no blog http://www.chamine2.blogspot/ o artigo que escrevo mensalmente, sempre no dia 11, sobre o centenário de nascimento do escritor Nilo Pereira. Este ano, além de Nilo Pereira estão também fazendo cem anos de nascimento Edgar Barbosa e Jorge O'Grady de Paiva. Sobre os três eu tenho palestras para serem feitas nas escolas e instituições culturais.

O HUMOR DE MANÉ BERADEIRO

Esta história aconteceu em Açu e já faz muito tempo. Neco Capuxu escreveu um telegrama para seus familiares em Natal informando que sua esposa Ritinha fora vítima de uma estrepada de espinho de quixabeira. Até aí tudo normal, o danado foi a grande ambiguidade que ficou nas palavras do telegrama, pois o texto veio assim: 'RITINHA ESTREPADA PAU DENTRO LATEJANDO SE AGARRA COMIGO NÃO QUER QUE EU TIRE"
.
Gostou? Este e outros causos fazem parte do show de Mané Beradeiro. Agende uma apresentação para sua escola, empresa ou aniversário. Contato pelo e-mail: letrasreais@hotmail.com

ASSIM DISSERAM ELES


"Anúncio é dinheiro"


Erasmo Xavier, cenógrafo e caricaturista potiguar, que viveu de 1904 a 1930.

IVAN MACIEL TOMOU POSSE NA ANRL


O jurista e escritor Ivan Maciel tomou posse nesta noite de quinta feira, na cadeira 17, sucedendo Aluízio Alves. Foi saudado pelo acadêmico Vicente Serejo. A cerimônia contou com a presença de vários intelectuais e políticos do Rio Grande do Norte.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

MOMENTO DO LIVRO TERÁ UM NOVO PERSONAGEM



O escritor Francisco Martins Alves Neto que visita as escolas públicas e particulares com o projeto MOMENTO DO LIVRO, contando histórias, estará neste mês de setembro estreiando mais um personagem. Desta vez será o Palhaço Leitorino Patati, que terá como principal objetivo contar histórias para crianças até 12 anos, além de coordenar momentos de recreação com jogos, trava línguas, parlendas, advinhações, e outros momentos lúdicos da nossa cultura.
Com a estréia de Leitorino Patati, o MOMENTO DO LIVRO passa a contar com dois personagens, posto que, Mané Beradeiro - o contador de causos e poesias matutas, já é atuante desde janeiro deste ano.

sábado, 5 de setembro de 2009

O HUMOR DE MANÉ BERADEIRO


No escritório da SUDENE, em Natal, o chefe pediu para ser redigido um aviso que tivesse a seguinte mensagem: "favor usar a descarga e manter a tampa do sanitário sempre fechada após o uso".

O redator foi mais além, com toda empolgação escreveu o texto: "FINEZA PRESSIONAR O MECANISMO HIDRÁULICO DO AUTOCLIMAS ATÉ QUE OS CATABÓLICOS SEJAM TOTALMENTE EXPEDIDO NO DEJECTÓRIO. FAVOR MANTER O OPERÁCULO DESCERRADO APÓS A DEJECÇÃO".




Fonte: Tempo de rir, de Celso da Silveira, Editora Clima, 1984.


Esses e outros causos estão dentro do show de Mané Beradeiro. Leve-o para sua escola ou empresa. Contato pelo e-mail: letrasreais@hotmail.com

ASSIM DISSERAM ELES....

"Professor é como motorista de taxi: passa o dia correndo"

Antenor Azevedo (Professor)

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

SAPOTERATURA IV - A DESCOBERTA DE ÁLVARO

( Mais um conto da minha obra inédita Sapoteratura).

Esta é uma história para crianças. Ela aconteceu há pouco tempo, logo após o Sol se por.
Numa noite calorenta resolveu o sapo sair para caçar alguns insetos. Ele vestiu uma bermuda, a camiseta regata, calçou os tênis, foi ao banheiro, molhou o rosto, beijou a esposa e disse:
__Vou até a casa 131. Disseram-me que lá tem muitos formigueiros. Ao ouvir isto, Dona Sapa aconselhou:
__Tome cuidado! Lá tem crianças, vê se não as assustam e toda precaução é pouca, cuide-se para não ser apedrejado. Você sabe, quando as crianças nos vêem ou se assustam ou nos apedrejam.
O sapo acatou os sábios conselhos da sua companheira e se foi. Cruzou a rua com passadas largas, com aquele seu jeito desconcertado de andar, pois temia ser atropelado. Ao chegar a frente da casa 131, subiu a calçada e caminhou em direção ao portão, percebeu que ele não estava totalmente fechado e por uma abertura pode entrar.
Lá de dentro, veio ao seu encontro uma cachorra. Latia muito dizendo:
__ Au, au, vá embora senhor sapo. Aqui não há lugar para você morar.
__Calma, senhora cachorra, disse o sapo, eu não vim para morar, quero apenas caçar algumas formigas e logo vou embora.
__Au, au, vê se não demora. Falou a cachorra e saiu com aquele andar orgulhoso, ao mesmo tempo em que pensava: “sapos, que bichos feios, talvez sejam por isto que os humanos não os querem”.
O sapo estava debaixo da goiabeira, comendo formigas e pondo outras numa bolsa para levar. De repente ouviu uns passos em sua direção, era uma criança com dois anos de idade.
O menino ao vê-lo parou e ficou surpreso com aquela criaturinha. Neste momento, ele pensou nas palavras ditas por sua companheira. Olhou para o rosto do menino e viu que ele não estava com medo, olhou para as mãos e percebeu que também não tinha pedras.
O batráquio sorriu, fez o melhor sorriso que sabia para aquele filhote de humanos, que indo ao seu encontro, acocorou-se e ficou vendo-o comer formigas. A criança passou um bom tempo contemplando aquele bichinho.
Eis que se ouviu alguém chamar:
__Alvinho, oh Alvinho, onde você está?
O sapo percebeu que era com aquele filhote. E isto foi confirmado quando a criança se levantou e disse:
__Cá, mamãe.
A mãe foi ao encontro do filho e quando notou o sapo, também não demonstrou medo. Alvinho apontou para o bichinho e mostrou a sua mamãe a descoberta. Ela pegando o filho nos braços disse:
__Este é um s a p o. S a-p o. Repetiu a mamãe varias vezes com voz pausada, ensinando a Alvinho o nome daquela criaturinha.
__Aapó, aapó, repetia Alvinho. A esta altura, o sapo já estava de pança e bolsa cheia. Era a hora de pegar o beco, voltar para casa. A mamãe tinha entrado com Alvinho, e de lá de dentro da casa se ouvia vozes de outras crianças. Eram os irmãos de Alvinho brincando, que foram interrompidos por ele, assim falando:
___Ur, Ur, Cocóise, Cocóise, Aapó, aapó.
A mamãe esclareceu:
__Ele está dizendo para vocês Arthur e Matheus que viu um sapo. As crianças riram e continuaram a brincar.
Matheus se pôs a cantar:
__Eu vi um sapo, na beira do rio, com camisa branca, morrendo de frio. Não era sapo, nem perereca, era Alvinho, só de cueca!

INSENSIBILIDADE

Para Claudemir Chiarati


Ela estava lá, caída na calçada.
Sangrava, não se movia, morria, e nós sem percebermos morríamos com ela.

Passávamos insensíveis àquela vida.
Morria jovem, sem doenças, mais uma vítima da violência urbana.

Eu a vi tantas vezes naquela calçada, alegre, robusta, bela.
Mas, um homem, ou melhor, todos os homens, desta cidade decidiram matá-la.

Morreu a árvore. Ficamos sem sombra, sem verde, os pássaros neste dia entoavam uma melodia triste, sentados num fio da rede elétrica.

Quem será a próxima? Eu me pergunto.

Parnamirim – RN, 16 de julho de 2007

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

MORENA

Eu tive fome,
Vi tua nudez,
Comi teu corpo,
Enchi meu peito.
Eu tive sede,
Vi teu olhar,
Bebi teus sonhos,
Saciei meu tempo.
Eu tive sono,
Vi teus braços,
Regalei-me em teu colo.

Bixiga lixa, gota serena,
Um dia eu volto só pra te ver morena.

O HUMOR DE MANÉ BERADEIRO

Um sub-delegado, no interior do Rio Grande do Norte certa vez recebeu dois homens na delegacia, que vinham em busca de solução para um problema. O sub-delegado, expoente máximo da autoridade local naquele momento ouviu o primeiro homem com muita atenção e falou:

__ Você está com toda a razão!

Nesse instante, o outro cidadão tira uma nota de cem reais do bolso e vagarosamente puxa e mostra um pedaço da nota ao sub-delegado, que entendendo a mensagem, volta a falar ao primeiro homem:

__Mas pelo que estou vendo você vai acabar perdendo esta questão.



(Fonte: Humor dos Flagelados (1984), de Veríssimo de Melo.

SAPOTERATURA III - CASAL UNIDO



Ceará Mirim, cidade do interior, década de setenta, dia de feira livre, muita gente vindo à cidade comprar mantimentos. Nas ruas que ficam perto daquela mercearia, diversos caminhões estacionam levando e trazendo as pessoas do meio rural.
A mercearia está cheia, é gente querendo cigarros, alimentos, bebidas, fósforos, etc. Mas há também aqueles que chamam a atenção dos atendentes somente para pedir água. Querem matar a sede. Beber água gelada, coisa dificílima de encontrar na zona rural.
À priori não houve muita contestação sobre este serviço, mas depois, viu-se que os atendentes não só perdiam tempo, como também tinham que lavar bastantes copos, encher garrafas. Nos idos de setenta, copo descartável era artigo de luxo.
Solução encontrada: comprar um pote de barro, deixá-lo ao alcance de todos e amarrar uma corrente na boca do vaso de argila, tendo em sua extremidade uma caneca de alumínio. Assim todos beberiam à vontade e não precisariam pedir aos balconistas.
Foi uma idéia e tanto, funcionou de forma plausível por mais de mês, até que um dia, um rapaz destes bem traquinos, que residia ali por perto teve a iniciativa de jogar dentro do recipiente duas pequenas rãs.
Ninguém desconfiou de nada. Nem mesmo o dono daquele estabelecimento, posto que, o próprio rapaz se prontificou a encher o vaso de barro sempre que fosse preciso. Inteligente e esperto como era, sempre que as pessoas tomavam água, ele aproveitava, levantava a tampa, olhava para dentro e dizia:
__Nunca vi um casal de rãs tão unidas. Elas Vivem sempre agarradinhas, uma em cima da outra.
Quem tinha acabado de tomar daquela água, às vezes olhava para dentro do pote e não encontrava rã nenhuma, pois ele ainda não havia colocado as mesmas lá dentro, mas, mesmo assim, não deixavam de proferir palavrões com aquele rapaz.
Depois, quando ele já percebeu que as pessoas não acreditavam no que ele falava, pois verdadeiramente as rãs lá dentro. E tudo só foi descoberto porque uma das rãs veio dentro do copo de uma senhora, que teve uma reação tão violenta, fruto do medo, que derrubou o pote, espatifando cacos de barro e água espalhada por toda a mercearia.
Depois disto, nunca mais houve pote d’água naquela mercearia e o rapaz, bem, este cresceu e até tentou ser empresário de água mineral, mas ninguém naquela cidade teve coragem de comprar um só vasilhame da sua firma, restou-lhe então mudar de profissão. Hoje ele vive lá pras bandas de Apodi.