Natal-RN, 04 de maio de 2011
Mãe eu estava aqui a folote, q
uando de repente fiquei abirobado para escrever uma carta pra senhora.
Mãe, tô sentindo uma saudade das cachorras das mulestas. As vezes eu fico acedendo as ventas em busca do meu chão, na esperança de sentir o cheiro daquela terra e seu perfume tão singular.
Mãe, seu fio vive na Capitá, trabalhando que nem jumento. É difícil, mas tô conseguindo aguentar o banzeiro.
Sabe, mãe! Aqueles conselhos que a senhora me dava, eu recordo de tudim por aqui. Não meto a mão em cumbuca, que eu não sou doido para apanhar mais do que galinha para largar o chôco. Também não vivo atufaiando o juízo dos outros para não ganhar fama de rapaz sem educação.
Mãe, Natal é muito linda, e o Rio Grande do Norte, entônce, nem se fala! Tem muito cabra arretado. Já conheço um balaio deles. Mas mãe, a saudade de São Sarauê não me sai da cachola.
Arre égua! Tem hora que me dá uma vontade de pegar minha mala e voltar para ir. Pois fazer cultura por aqui, mãe, é malhar em ferro.
Aí eu penso em botar o pé no caminho de volta. Mas me alembro de suas palavras: "Dagora pra diante, meu fio, sua missão é falar dos escritores do Rio Grande do Norte e também do Brasil. Não se apegue em leriado, nem lorota, tão pouco queira amizades com mequetrefes. Fique longe das quizilas. Faça seu trabalho sem futricas. Deus te abençôe!"
Mãe, quem sou eu para ensinar Padre Nosso a Vigário, mas por aqui, bem que já tenho um monte de gente que se alegra com meus dizeres. Isto é bom demais!
Vou fechar a carta, mãe, pois a luz da lamparina tá ficando fraquinha, magrinha que só filé de mosquito. Mando um cheiro prá senhora e pro papai.
Seu fio
Mané Beradeiro