Um resgate de uma vida feita através da literatura de cordel. É assim que pretendo aos poucos semear as histórias que meu avô Chico Martins contava. Fiz primeiramente através deste cordel, onde é narrada a sua aventura com uma namorada pra lá de doida. Há muitas coisas a serem lembradas.
Boa leitura
Boa leitura
NAMORO DE ANTIGAMENTE
Mané Beradeiro
A primeira
namorada
É difícil
esquecer
E se for
como Amélia
Tudo vem
acontecer
Foi assim
com um rapaz
Que você vai
conhecer.
Seu nome é
Chico Martins
Do século
que já passou
Lá pros anos
vinte e dois
Seu coração
se encantou
Com uma moça
donzela
Por quem se
apaixonou.
Naquele
tempo tão longe
Namorar era
restrito,
Não tocava,
nem beijava,
Que negócio
esquisito!
Era assim o
costume
Para feio e
bonito.
Então Chico
Martins
Por Amélia
se quedou
Tomou banho
no açude
A ceroula lá
lavou
Quase seca a
barragem
Pela água
que jorrou.
E dentro
daquelas águas
Precavido
não sentou
Temendo ser
devorado
Por peixe
que atacou
Seu compadre
Zé Toquinho
Os possuídos
levou.
Chegou em
casa tão cedo
Que a sua
mãe perguntou:
“-O que se
assucedeu?”
Chico pouco
lhe contou
Tava nervoso
o moço
Porque nunca
namorou.
Conversando
com o pai
Uns
conselhos quis tomar
Mas diante
do silêncio
Resolveu
aventurar
E lá foi
Chico Martins
Com a moça
namorar.
Brilhantina
nos cabelos
Pó d’arroz
no pescoção
Pois o cabra
era alto
Parecendo um
mourão
Cada pé que
Chico tinha
Lembrava
embarcação.
O rapaz
embora grande
Temia de
encontrar
No caminho
do namoro
Com um bicho
deparar
Principalmente
raposa
Que o fazia
chorar.
Diz
Francisco de Assis
Que o amor
tem poder
De fazer
algo amargo
Ficar doce e
beber
Por isso
Chico Martins
Caminhou sem
perceber.
Três léguas
ele traçou
Com desejo
de olhar
O rosto
daquela moça
Que não pode
lhe tocar
Pois bem
pertinho estava
O seu pai a
vigiar.
A moça era
singela
De beleza
singular
Os passos
que ela dava
Perfumavam
bem o ar
Deixando
Chico Martins
Sem palavras
pra falar.
Estavam os
dois ali
Sentados sem
se tocar
Entre Chico
e Amélia
Parede a
separar
Apenas uma
janela
Os deixavam
vislumbrar.
A conversa
era tola
Muitas vezes
só olhar
Quando ela
cochilava
Chico se
punha a pensar
Cutucava a
menina
Para ela
acordar.
Com os dedos
imprensava
A costela da
donzela
Gritando:
“-Olha a faca!
Acorda, moça
tão bela,
Teus olhos
são luzeiros
No rosto
d’uma gazela”.
O sinal pra
cair fora
Era o pai
bocejar
Aquilo
significava
É hora de
caminhar
O jovem
Chico sabia
E não ia
murmurar.
Voltando
para seu lar
A noite era
escura
Tudo era
alcatrão
Seu corpo
sem ter bravura
Pedia todos
os santos
Não ter
nenhuma agrura.
Tudo tava
indo bem
Chico andava
ligeiro
Quando
quebrou do chinelo
A correia no
lajeiro
Teve que
consertar
Debaixo do
juazeiro
Se a coisa
tava preta
Ficou foi
muito pior
Pois o rapaz
tendo medo
Não soube
fazer o nó
E pra
aumentar a dor
Escutou algo
maior.
Correu para
uma pedra
Nela Chico
escorou
Com o
chinelo na boca
Ele quieto
lá ficou
O bicho era
raposa
E de medo se
mijou.
Tremia como
cipó
Balançado
pelo vento
Quando o
bicho gritou
Foi grande
abobamento
Que em
fração de segundo
Chinelo foi
alimento.
Chegou em
casa cansado
E não soube
explicar
Como pode engolir
Chinelo sem
mastigar
A mãe então
lhe falou:
-Se prepare
pra chorar.
Pois agora
vai saber
O que é estrebuchar
Dando luz a
um chinelo
Você vai se
arrebentar
Tome muito
óleo rizo
Pras bregas
aguentar.
Três semanas
foi o tempo
Pra
Chico recuperar
Quando
voltou pra Amélia
Nada disso
quis falar
Deu-lhe até
um presente
Pó de Arroz
pra cheirar.
O pote tinha
três quilos
Dava muito
pra usar
Mas depois
de várias noites
Chico pôs a
perguntar:
-Você não
usa o talco
Que lhe dei
pra perfumar?
A moça pra
responder
Deu risadas
de montão
E disse ao
namorado
Fiz papa e
rubacão
Papai comeu
e gostou
Foi grande
animação.
-Minha
filha, veja bem
O que eu vou
lhe falar
Era pra usar
na cara
Pra você
embelezar.
Onde anda
seu juízo
Me diga sem
badalar?
Passada esta
lembrança
Chico
Martins se lembrou
De
presentear a moça
Com um doce
que ganhou
A doida
muito depressa
Na cara toda
espalhou.
Isso foi a
gota d´água
Namoro se
acabou.
Chico fez a
sua trouxa
Pra Caraúbas
zarpou
Onde viu Ana
Cristina
Por quem se
apaixonou.
Breve
voltarei contar
Outros
causos de vovô
Que passou
por Janduís
Em Patu foi
um pivô
Viveu
em Ceará Mirim
Terra que
o adotou.
Acabou-se!!!!
Parnamirim-RN, 10 de setembro 2012
Parnamirim-RN, 10 de setembro 2012