sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

LEMBRANDO O NASCIMENTO DE AUGUSTO SEVERO

Nascido em Macaíba, em 11 de janeiro de 1864, de família tradicional e numerosa com doze irmãos, era filho de Amaro Barreto de Albuquerque Maranhão e Feliciana Maria da Silva Pedroso. Depois de estudar o primário em Macaíba,  ingressou no Atheneu (Natal) e se transferiu para a Bahia onde completou o curso secundário, no Colégio Barão de Macaúbas. Em 1880 estudava na Escola Politécnica do Rio de Janeiro, na qual cursou 1º ao 3º ano de  engenharia. Voltou a Natal, onde em 1982 lecionou matemática no Atheneu e militava ao lado do seu irmão Pedro Velho, nas lutas políticas locais. Foi deputado estadual e federal. Em 1902 parte do Rio de Janeiro com destino a França onde irá realizar sua experiência com balão dirigível, o PAX. No dia 12 de maio de 1902, às 5:30hs, no Parque Vaugirard, em Paris, o balão PAX sobe silenciosamente com Augusto Severo e o mecânico francês Sachet. Quinze minutos mais tarde, a uma altura de quatrocentos metros, ocorre violenta explosão e a aeronava em chamas cai na Avenida Marne, trazendo consigo os corpos carbonizados. Era o fim de Augusto Severo, aos 38 anos.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

A PRIMEIRA NAMORADA

Hoje namorar é bem diferente da segunda década de 1900. Hoje se fica e enfica. Antigamente namorar era um ato de coragem. Resgatei neste folheto de cordel a história que tantas vezes ouvi meu avô (Chico Martins) contar sobre a experiência dele com a primeira namorada. O texto fará parte das poesias a serem declamadas no show MISTURANDO OS VERSOS,  dia 4 de abril, no Teatro de Cultura Popular Chico Daniel, da Fundação José Augusto.

PRESSÁGIO

 Leio Leonardo Barros desde o seu primeiro livro, O Amor de Yoni e tenho, desde então, acompanhado a sua carreira como escritor. O seu primeiro livro, com uma forte conotação erótica, me chamou a atenção não pelo erotismo em si, mas pela sua linguagem, pela sensualidade latente inerente a cada uma das personagens, mas também pelo seu humor. O seu livro seguinte, O Maníaco do Circo, eu tive a oportunidade/ privilégio de ler antes do lançamento oficial, que aconteceu na Bienal do livro do Rio de Janeiro de 2009. Neste livro, notei uma mudança drástica quanto a forma do escritor, quanto às historias que se desenrolavam nesse segundo romance. No segundo livro, Leonardo Barros apresentou uma face mais perversa, tendo uma forte carga psicológica permeando toda a história, sem deixar, nunca, de ser Leonardo Barros, com seu toque de sensualidade nas personagens, seu erotismo velado e, nesse livro em específico, um tom de um humor mais ácido, mais negro.
Livro após livro, Leonardo Barros não foi apenas se superando, mas sim evoluindo, tanto que quando ouvimos rumores sobre o lançamento de seu próximo livro, a primeira pergunta que fazemos é: “o que será que ele vai aprontar agora?”.
É sempre bom ler um livro, lançamento, de Leonardo Barros, e olhar para trás e rever, reviver todas as histórias já lidos dele, e ao ler Presságio me envolvi com a história, vi traços, sim, óbvio, do primeiro Leonardo Barros, no entanto acabei me surpreendendo ao ver um novo autor, mais maduro, mais conciso, mais direto, que sabe onde quer chegar, que sabe melhor conduzir a história, que sabe prender mais o leitor. Leonardo Barros tem várias faces, e em Presságio encontramos todas essas expostas na medida certa. Um toque de mistério/ suspense, pitadas de um característico humor (provocado pela inusitada situação em que personagens se metem), uma sensualidade (dessa vez mais sutil e disfarçada, e por isso mesmo, talvez, mais provocante e imaginativa para o leitor), tramas psicológicas e momentos de tensão capazes de deixar o leitor com o coração acelerado e a sensação de boca seca.
Fiquei tenso em algumas passagens, ri de determinadas circunstâncias da história, torci em outros momentos, fiquei curioso para saber onde iria dar todo aquele "emaranhado" em que se tornou a trama e só me dei por satisfeito de verdade quando li a última palavra e vi um último ponto final na última página, quando pude fechar satisfeito o livro, e comprovar, mais do que nunca, o momento ímpar que vive Leonardo Barros, o seu momento de notável e grande evolução.
 
Por Lima Neto ( http://lugardaspalavras.blogspot.com.br/2013/01/pressagio.html)
 

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

CONVERSA DE CANCELA - II

-E aí comadre, aquele problema já resolveu?
-Que nada, continua parado. Tudo do mesmo jeito.
-Mas comadre você tem que chamar seu marido para uma conversa.
-Eu sei, mas ele diz que é macho e macho não conversa, manda.
-Ah! Se fosse comigo, quando ele abrisse a boca para dizer que era macho eu rebatia na hora falando: macho mesmo é o relógio que dá até 12 sem tirar o ponteiro.
-Deus me livre de falar uma coisa dessa para ele
-Então tu vais ficar calada e aguentar a sogra morando com vocês durante seis meses sem nenhuma precisão?
-Faz parte.
-Como assim: faz parte?
-Casamento é o único crime que já vem equipado com o castigo.
-É, a vida nem sempre é boa.
-Se a vida fosse uma coisa boa ninguém teria nove meses de férias antes de nascer.
-Ainda bem que a minha sogra já morreu...
-Pois é, você é que tem sorte, atirou no detefon e acertou na mosca.
-Estou indo comadre, tenho muitas roupas para lavar e quarar na beira do rio.

(Mané Beradeiro - 08.01.2013)

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

ASSIM DISSERAM ELES ....

Gilberto Freyre

"A Verdade é que, sem ela (literatura de cordel) faltaria no nordeste uma expressão preciocíssima de sua vivência e de sua convivência"

Gilberto Freyre, em Literatura de Cordel - Antologia, organizada por Ribamar Lopes, 1982, pág 13.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

MISTURANDO OS VERSOS - SHOW BENEFICENTE

Pr. Marco Lianza

Mané Beradeiro e o Pr. Marco Lianza estarão no mês de abril fazendo um show beneficente, em prol da construção do templo da Igreja Batista Regular Emaús - no Parque Industrial, em Parnamirim. O local do show será o Teatro de Cultura Popular Chico Daniel, da Fundação José Augusto, em Petrópolis, Natal. Os ingressos estarão à venda ao preço de R$ 10,00 a partir do final deste mês.  Pr. Marco Lianza é poeta de versos livres, com vários CD´s de poesias já lançados. O show promete ser uma noite bem calorosa de arte, com os dois poetas no palco, cada um apresentando seu estilo. Haverá também apresentação de escolas convidadas  outros artistas locais.

CASAGRANDE E SENZALA 80 ANOS


80 anos de  vida fará em dezembro deste ano, a obra clássica de Gilberto Freyre, "CASAGRANDE E SENZALA", lançada em  1 dezembro de 1933, quando o autor estava com 33 anos. Entretanto, foi no dia 20 de janeiro de 1933 que o autor definiu este título para o seu livro. Antes, Gilberto Freyre vinha intitulando de "Vida Sexual e de Família no Brasil Escravocrata". Em 1942 saiu a primeira edição na Argentina, no Carnaval de 1962 a Escola de Samba Mangueira-RJ desfilou tendo como samba enredo o tema deste livro e em 1970 a obra foi adptada para o teatro. É um livro indispensável em qualquer biblioteca e à leitura de todo brasileiro.

sábado, 5 de janeiro de 2013

CONVERSA DE CANCELA - I

-Bom dia! O senhor visitou a fazenda do seu futuro genro?
-Fazenda? Aquele mentiroso disse que tinha um açude lá do tamanho de Gargalheiras, e o quê eu vi foi que a água é tão pouca, mas tão pouca que não dá nos peitos de um peba.
-E ele falava tanto que tinha uma grande plantação de capim para alimentar o gado ...
-Tudo mentira. O pasto que eu vi lá é tão pequeno, tão baixo, mas tão baixo que periquito e canário comem de cócoras.
-Será verdade patrão?
- E por acaso você acha que sou homem de mentira? Quem não tem palavra é o Governo, pois suas juras e promessas são mais falsas que beijo de rapariga.
-Tem razão!
-Mas o senhor continua aprovando o namoro dele com sua filha?
-Homem, os tempos mudaram, eu sei que ele é mais ruim que jerimum cheio d'água, mas quem vai viver com ele é ela, e não eu.
-E o senhor não vai dizer nada a ela, dá um conselho, coisas assim...
-Eu não, vou continuar calado que só sino na semana santa. Minha esposa também acha melhor assim, pois segundo ela, na idade que tá nossa filha, se não for com ele, tá dificil encontrar outro namorado, mas dificil que mortalha de segunda mão.
-Compreendo patrão. Agora, se me permite tô indo à feira, pois o caminho é longo e mais tarde o sol vai castigar, e não quero voltar no calor do meio dia, para ficar sofrendo igual a peba em areia frouxa. Inté patrão.
-Vá com Deus, quem tem perna curta levanta cedo e sai primeiro.

( Mané Beradeiro - 05.01.2013)

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

CENTENÁRIO DE VINÍCIUS DE MORAES - MORENA FLOR

Se vivo fosse o poeta Vinícius de Moraes estaria celebrando este ano seu centenário de nascimento. Nascido em 19 de outubro de 1913, o poeta viveu 67 anos, até o dia 9 de julho de 1980, quando encantou-se o homem que consagrou suas décadas de vida ao amor e a mulher. Ao longo deste ano estarei postando algumas poesias suas por aqui, em homenagem ao grande poeta da literatura brasileira.

Morena flor
me dê um cheirinho,
cheirinho de amor,
depois também,
me dê todo esse denguinho
que só você tem.
Sem você o que ia ser de mim?
Eu ia ficar tão triste,
tudo ia ser tão ruim,
acontece que a Bahia fez
você todinha assim,
só prá mim

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

MINHAS LEITURAS - "ISTO NÃO É CONTO DE FADAS"

Livro: ISTO NÃO É CONTO DE FADAS
Autor: Dale Tolmasoff
Editora Fiel da Missão Evangélica Literária
Ano: 2005
Páginas: 30

Dale Tolmasoff recontou a História de Jesus Cristo provando literariamente que não é um conto de fadas. O livro é ideal para ser lido por crianças, jovens e adultos, além de ser uma ferramenta  grandiosa para contação de histórias. Num mundo cercado por fábulas e lendas, o autor nos remete à História da Salvação com texto suaves e profundos e com ilustrações (de Corbert Gauthier) que por si só já valem por mil palavras.

2013 COMECEI CONTANDO HISTÓRIA


Dale Tolmasoff escreveu o livro  "ISTO NÃO É CONTO DE FADAS". Nele, o autor reconta de forma cativante a história da vida de Jesus Cristo mostrando literalmente que não é um conto de fadas.
Aprovetei o momento e fiz a contação desta história no culto que teve ontem à noite, no templo da Igreja Batista Regular Emaús-IBRE.
Desta forma principio o 5º ano do Momento do Livro levando às pessoas o gosto pela leitura e a verdade sobre a mais bela das histórias.

segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

FELIZ ANO NOVO

A todos os meus amigos, leitores, que sempre encontram um tempo para visitar meu blog desejo um ano novo  repleto de paz e harmonia. Que 2013 possa trazer a cada um de vocês a realização dos seus sonhos. Muito obrigado por fazerem parte da minha vida. Sintam-se imensamentes abraçados.


quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

ASSIM DISSERAM ELES...


"Os outros se orgulham dos livros que escreveram, eu me orgulho dos livros que li"

Jorge Luis Borges


MOSTRE SEU TALENTO






MOSTRE SEU TALENTO

Prêmio Poesia Livre 2013
Concurso Nacional Novos Poetas
Inscrições Gratuitas

De 01 de dezembro de 2012 a 05 de janeiro de 2013
www.poesialivre.com.br

Apoio Cultural: Revista Universidade

Realização: Vivara Editora Nacional



MINHAS LEITURAS - O QUE É CORDEL

Livro: O que é Cordel
Autor: Franklin Maxado
Editora: Queima Bucha
Ano 2012
Páginas: 160

Li e reli este livro recentemente. A primeira leitura foi como  quem vai ao pote com muita sede. A segunda fiz com mais calma, pois já sabia o que vinha pela frente. É sem dúvida um ensaio muito interessante sobre a Literatura de Cordel. Seu autor Franklin Maxado, natural de Feira de Santana-BA, é bacharel em Direito e a vida o fez  autoridade na Literatura de Cordel. Ler "O Que é Cordel" é  como ter acesso a um seminário onde de entrada você vai ouvir Arievaldo Viana, Crispiniano Neto e Paulo Dantas fazendo uma apresentação do que virá depois na fala de Franklin. No entanto, gostaria de registrar que há umas anotações a serem feitas para a terceira edição, a saber:  na página 22, quando o autor escreve Gonçalo Fernandes Troncoso, não veria ser Trancoso? a citação " Fora da Igreja não há salvação", página 23, atribuída a São Francisco de Assis não procede, pois quem decretou isso foi o Concílio de Niceia, no ano 323, por último, a terra natal de Moisés sempre foi o Egito e não a Terra Prometida, como consta na página 29. Fora isto, o livro é uma fonte formidável de estudo e consulta sobre a história do Cordel.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

ABERTAS INSCRIÇÕES PARA A CADEIRA 39 DA ANRL





ACADEMIA NORTE-RIO-GRANDENSE  DE LETRAS
EDITAL

Em obediência ao disposto nos Estatutos, e por solicitação do Presidente Diógenes da Cunha Lima, comunico que estão abertas as inscrições para a Cadeira número trinta e nove, desta instituição, da qual é Patrono Antonio Damasceno Bezerra, sendo o Primeiro Ocupante Raimundo Nonato Fernandes. Os candidatos devem apresentar Curriculum Vitae, exemplares de obras publicadas e requerimento de inscrição, na sede da Academia, à Rua Mipibu, 443, Petrópolis, Natal, RN,  com prazo de até trinta dias  desta publicação. A presente vaga, conforme nossa norma se destina a conterrâneo residente dentro e fora do Estado. Natal, 17 de dezembro de 2012.

Anna Maria Cascudo Barreto
Secretária Geral.

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Láureas a quem de fato merece o reconhecimento na Educação

Francilene e Angélica Vitalino

  Para Paulo Freire: “Educar é impregnar de sentido o que fazemos a cada instante!” Foi procurando dar um sentido ou talvez notar a excelência do trabalho desempenhado por alguns profissionais engajados na educação, que a Secretaria Municipal de Educação e Cultura de Parnamirim decidiu laureá-los neste último dia 21 de dezembro de 2012.

          Durante as comemorações natalinas, um representante de cada setor educacional foi escolhido, na certeza de que cada um deles reservará, em suas memórias, este dia em que foi celebrado o que tem sido feito em favor da educação de Parnamirim.

           Os homenageados foram saudados com o tema “Bodas”, uma vez que esta palavra, originária do latim, significa “celebração por uma promessa”, “aliança que foi feita em algum lugar e espaço histórico”.  

          E representando toda a classe dos mediadores de leitura, escolhida com base em critério pré-estabelecidos, a Profª Francilene Nunes, da Escola Municipal Íris de Almeida, que celebrou bodas de prata (25 anos de serviço) em que a perseverança, em meio a uma realidade que tenta ofuscar o brilho da jornada.

Fonte:  http://riodeleitura.blogspot.com.br/2012/12/laureas-quem-de-fato-merece-o.html

domingo, 23 de dezembro de 2012

MÉRITO ALBERTO MARANHÃO

O Governo do Estado e o Conselho Estadual de Cultura do Rio Grande do Norte  concederam na noite de ontem, 22 de dezembro de 2012, a entrega do Mérito Alberto Maranhão às personalidades culturais que contribuiram para o desenvolvimento do Estado.
A cerimônia aconteceu no salão nobre do Teatro Alberto Maranhão e contou com a presença da Secretária Extraordinária de Cultura, Isaura Rosado, do Presidente do Conselho Estadual de Cultura, Iaperi Araújo, do Presidente da Academia  Norte-Rio-Grandense de Letras, Diógenes da Cunha Lima, além dos Conselheiros Paulo de Tarso Correia de Melo, Jurandyr Navarro, Eulália Duarte Barros e Valério Andrade.
às 18: 40 minutos foi iniciado o evento, com palavras de saudações do Presidente Iaperi Araújo, que falou também sobre a criação do Mérito Alberto Maranhão e aproveitou para explicar que  embora fosse naquele momento agraciado com a medalha, a indicação do seu nome foi feita em 2009, quando Paulo de Tarso Correia de Melo presidia o Conselho Estadual de Cultura.
No total  foram 12 agraciados, a saber:
1) Antonio Marques
2) Benedito Vasconcelos
3) Iaperi Araújo
4) José Ferreira de Melo
5) Almir Barreto
6) Marcelo Navarro
7) Walter Nunes da Silveira
8) Nevaldo Rocha
9) Almino Afonso
10) Enélio Lima Petrovich - In memorian
11) Raimundo Nonato Fernandes - In memorian
12) Walter Dory - In memorian
Após a entrega da medalha e do diploma, o Desembargador Marcelo Navarro falou em nome dos homenageados e após as suas palavras, a Secretária Extraordinária da Cultura, Isaura Rosado, leu a mensagem da Governadora Rosalba Ciarlini encerrando a cerimôni.

ENTREGA DO MÉRITO ALBERTO MARANHÃO






http://www.facebook.com/media/set/?set=a.449670435094070.102874.100001533520654&type=3

sábado, 22 de dezembro de 2012

A FORMIGA SOLITÁRIA



Entrei no banheiro dos homens e foi impossível não notar a presença dela naquele lugar. Era um pequeno ponto, num canto da parede, imóvel. Pensei que ela estava morta. Com um fiapo de vassoura mexi com ela e tive a certeza que estava viva.
O que estava fazendo uma formiga ali? Perguntei-me.
Os dias seguintes, sempre que ia ao banheiro, ela estava lá. No mesmo local. Aquilo ia me deixava curioso. Por que ali? Formigas não vivem em grandes comunidades? Chamei Professor Paulo, que leciona Ciências. Ele veio, olhou a formiga e sentenciou: “-Formigas não vivem sozinhas. Esta deve ter sido expulsa do formigueiro, ou então está perdida”.
A semana terminou o mês também. Já se passaram três meses e minha amiga continua morando lá, naquele canto de parede, num banheiro masculino da Escola Municipal Manoel Machado, em Parnamirim, Rio Grande do Norte. Em princípio procurei manter um relacionamento com ela mais foi difícil. Ela não me entendia, nem eu a ela. Mas, dentro de mim, queimava a vontade de saber o motivo dela viver longe de tantas outras formigas. Não tive alternativa a não ser procurar ler tudo sobre a família Formicidae.
Entrei na internet com vontade, e depois que achava que sabia tudo sobre formigas tomei coragem e fui mais uma vez tentar um diálogo com ela. Coisa de louco você pode pensar. Desta vez apaguei a luz do banheiro, pois algo me dizia que talvez assim teria maior chance, e acreditem, eu não estava errado. Consegui conversar com ela.
Clic! Apaguei a luz. Entrei vagarosamente. Fui até perto dela e falei:
-Você sabia que sua família apareceu na Terra há aproximadamente cem milhões de anos, quando o Brasil e a África eram uma só massa de terra?
Silêncio... Ela nem sequer se moveu. Não desisti.
-Eu tenho a impressão que você não gosta de multidão, por isto abandonou o formigueiro. Lá tem milhões de formigas, não é?
Novamente aquele silêncio. Mas deu para perceber que ela movimentou uma das anteninhas. O que significaria isto? Sinceramente não sabia.
-Olha eu trouxe um torrão de açúcar para você. Tenho notado que não há muito que comer por aqui. Vou deixá-lo aqui, pertinho de você está bem?
Depositei o açúcar e fiquei por alguns segundos pensando no que falar para aquele ser tão pequenino.
Eu estaria louco? Sim, só poderia estar. Levantei-me e disse para mim mesmo: “Tome juízo homem, você já não é mais criança para ter estas fantasias”. Ainda pensava quando percebi que ela queria dizer-me algo e para escutá-la foi preciso que me aproximasse o máximo possível.
-Obrigado pelo açúcar. Falou-me.
-Não tem que agradecer. Respondi sorrindo e eufórico em poder dialogar com uma formiga.
-Qual o seu nome. Perguntei
-Rafael
-Rafael? Você então é uma formiga macho?
-Sim. Eis a razão pela qual estou sozinho neste mundo.
-Poderia explicar melhor?
-Nós, as formigas machos, só servimos uma única vez, para fecundar a rainha. Depois disto nos tornamos descartáveis. Não podemos nem sequer entrar no formigueiro, pois seremos barrados e se insistirmos nos matam.
-Ah! Então você foi expulso da sua colônia?
-Isso mesmo. Agora eu sou uma formiga eusocial, destinada a viver sozinha.
-E lá no formigueiro não tem nenhum outro macho?
-Não! A rainha controla tudo. Ela só põe ovos femininos e estéreis, é por isto que tudo funciona tão bem lá dentro, não há macho, nem choques entre sexo. Tudo é harmoniosamente preparado. Ela anda dentro do formigueiro e vai percebendo a necessidade se precisa de operárias, pões ovos que geram operárias, se precisar de soldados, que também são fêmeas, põe ovos dos quais eclodem soldados.
 -Então quer dizer que um formigueiro é na verdade um grande campo de organização feminina. Um exemplo para a nossa sociedade...
-Não diga isto meu bom rapaz. Veja mais além. Lá dentro não existe igualdade, direitos, só deveres, olhe por exemplo, a vida da casta das operárias, trabalham dia e noite até morrer. Vivem no máximo quatro meses, enquanto a rainha, dependendo da espécie pode viver de dois a vinte anos. Isto é injusto, jamais houve ou haverá uma operária anciã.
Perguntei se ela gostaria de ser transportada para a reserva florestal, conhecida como Mata da Viúva, que fica alí perto. Ela respondeu-me:
-Não, não quero morar lá em hipótese alguma. Enquanto estamos dentro do formigueiro temos proteção, mas agora, seria suicídio. Serviria de alimento para pássaros, lagartos e outros predadores. Aqui me sinto seguro.
-Tamanduá também! Completei, eles comem por dia trinta mil formigas.
-De tamanduá eu não tenho medo, pois na minha infância fui amigo de um tamanduá, e ele me deu uma senha que salvaria minha vida de todos os tamanduás.
-Que senha? Fui curioso, embora achasse que Rafael jamais me revelaria.
-Para você posso falar, pois os humanos não fazem parte do cardápio deles. A senha é a seguinte: sempre que um tamanduá jogava a língua em minha direção eu deveria gritar: OLHA A ONÇA TAMANDUÁ!
 -E funcionou alguma vez?
-Sim, sempre com infalível precisão. Tamanduá não pode ouvir isto que se senta imediatamente e abre os braços.
-Ah! Então é por isto que as pessoas falam em “abraço de tamanduá”.
-É, o bicho aguarda sentado que onça o ataque e ele crava suas unhas afiadas e poderosas nas costas dela, para se defender.
Aquela revelação foi importante para mim. Quis saber mais sobre o universo das formigas, e perguntei o que ele faria da vida. Querem saber da resposta? Ei-la:
-Vou descansar um pouco e aventurar sair por aí. Quem sabe poderei ter a felicidade de encontrar outros machos que também foram banidos das suas colônias.
Rafael sabia que não teria muito tempo para viver. E tinha certeza que naquela área não haveria perigo de se encontrar com um Tamanduá.
Despedi-me de Rafael levando comigo uma grande lição, a saber: alegria de formigueiro é ver tamanduá sendo atacado por onça.

Francisco Martins