Texto do Acadêmico Francisco Martins Alves Neto, ocupante da Cadeira número 18, que tem como Patrono Antônio Glycério.
Março está à porta, é possível ouvir o som das festividades poéticas que ele nos trará. Mês dedicado à poesia, nele se celebrou durante muitos anos no dia 14, data do natalício do poeta Castro Alves, o Dia Nacional da Poesia. Mas, veio Dilma Rousseff que em 2015 sancionou a Lei 13.131 que mudou a data para o dia 31 de outubro, aniversário de nascimento de Carlos Drumonnd de Andrade.
A UNESCO mantém a data do Dia Mundial da Poesia, como sendo 21 de março, desde 1999.
O certo é que em março a poesia reina de forma absoluta nas atividades culturais do Brasil. No Rio Grande do Norte, houve um homem, que teve a preocupação de comemorar o Dia da Poesia, quando sequer se falava nesta data comemorativa. Waldemar Dias de Sá, comerciante, político, proprietário do Engenho Capela, leitor, principalmente amante da poesia. Foi, pois, esse homem, natural de Ceará-Mirim/RN que teve a iniciativa de celebrar pela primeira vez no Rio Grande do Norte, o Dia da Poesia. Como foi? Veremos.
A data aconteceu em 1960, no dia 15 de maio, um domingo, na residência de Waldemar de Sá, que reuniu num almoço as personalidades culturais daquela época: Câmara Cascudo, como Orador, Newton Navarro, Jaime dos G. Wanderley, Clarice Palma, Sandoval Wanderley, Genar Wanderley, Rômulo Wanderley, Manoel Rodrigues de Melo, representando a Academia Norte-rio-grandense de Letras e Palmira Wanderley, a homenageada.
Com esse gesto de homenagear Palmira Wanderley, Waldemar de Sá, estava celebrando O Dia da Poesia. O evento teve repercussão na imprensa local, sendo noticiada pelo jornalista Paulo Macedo, que tinha a coluna “Paulo Macedo Explica em Sociedade” e foi também tema da crônica de Rômulo Wanderley, “Uma tarde de poesia”, em “Nota da Manhã”, ambos jornalistas da Tribuna do Norte.
Palmira Wanderley era naquela época a representação feminina da arte poética. Quase sempre presente em todas os eventos culturais, declamando suas poesias. Sentiu-se demais envaidecida com a homenagem que lhe foi prestada, e chegou a reclamar da ausência de Berilo Wanderley e Zila Mamede, que também haviam sidos convidados para este momento.
Waldemar de Sá convidou também Nilo Pereira para esta tertúlia. Não foi possível vir, mas enviou uma carta parabenizando a atitude do anfitrião e louvando a poeta Palmira Wanderley, é Nilo quem escreve: “Louvo o homem que trouxe de Ceará-Mirim a doçura do vale, a poesia encantadora da terra, a aristocracia do espírito” . Esta carta foi publicada na íntegra na coluna de Paulo Macedo, na edição da Tribuna do Norte, 19 de maio de 1960.
A data não ficou estabelecida, fixa, no calendário cultural do Rio Grande do Norte, mas, o gesto de Waldemar de Sá não ficou perdido no tempo e na história. Ressurgiu e ecoa 57 anos depois, como luz àqueles que hão de cantar versos e celebrar poetas.
NOTA DA ACLA
A foto é uma obra do artista ceará-mirinense Etewaldo, copiada de uma foto do homenageado, na época em que foi intendente de Ceará-Mirim.
Disponível em: https://www.facebook.com/francisco.martins.714/posts/1343151309079307?comment_id=1343196639074774¬if_t=feed_comment¬if_id=1488066040575813. Visualizada em 25.02.2017