Robson Renato |
"Boca de Noite" traz no entanto marcas do gênero cordel que estão tatuadas na alma de Robson Renato. É ele mesmo quem nos diz: "Ainda criança, fui apresentado à minha paixão eterna, a poesia. Foi ouvindo repente e lendo os folhetos de cordel do meu pai, que despertei a verve poética que desabrochou definitivamente na Escola Estadual Tarcísio Maia ..."(RENATO, 2017 p.7)
O próprio autor esclarece que embora seja poeta cordelista e tenha lançado alguns folhetos, para realizar o seu sonho de ter um livro lançado, ele selecionou o que considerou ser o melhor em diversos estilos poéticos. Portanto, neste trabalho, como venho sempre enfocando o gênero cordel, é sobre esses textos presentes em "Boca de Noite" que quero me debruçar e resenhar.
Na página 9 somos recepcionados com uma estrofe de Martelo Agalopado, que também é conhecido como Gabinete. Dez versos decassílabos que obedecem o esquema abbaaccddc.
Conduzindo a divina inspiração
No versejo mais puro e verdadeiro
Vou plantando amizade em meu canteiro
Pra colher com fartura e gratidão.
Declamando na voz do coração,
Escrevendo com paz e compostura,
Sigo em frente, fugindo da censura
Pra mostrar meu trabalho, com efeito.
Cada verso que brota no meu peito
Foi plantado nos campos da cultura
Continuo a folhear o livro e somente lá nas páginas 31/32 é que terei outro encontro com mais estrofes no estilo de Martelo Agalopado, com o título de "Tristes contos manchados de opressão". São cinco estrofes fazem um severa crítica à falsa verdade que nos ensinaram nos bancos escolares, passando também pela consciência política. Diga-se a propósito que esta é a tônica que veste os versos de Robson Renato, e não poderia ser diferente, uma vez que nascem de um homem que é professor e geógrafo. A sociografia é uma constante no livro, gritando através das estrofes pela liberdade e conscientizando os leitores na construção de um mundo mais justo.
E para não ficar apenas no Gabinete, o poeta demonstra que também conhece o Galope à beira mar, e o usa para lembrar em apenas duas estrofes, página 34, o período da ditadura militar e a campanha das "diretas já". E os textos poéticos se dão em outros conjuntos, sempre com a bandeira de temas sociais: cotas universitárias, fome, trabalho rural, etc. O poeta não se atém apenas a uma modalidade de estrofe, como já escrevi acima, corre a pena pelo gabinte, martelo à beira mar, além de décimas, quadras (hendecassílabo) e sextilhas.
Os registros poéticos de Robson Renato trazem uma sonoridade sertaneja, recria na mente do leitor quadros que somente um coração de poeta é capaz de captar. Sua sensibilidade faz justiça a personalidades daquela região tão massacrada pelo clima e outros fatores.
Gostei principalmente do texto "O Porco e a Garça", onde à semelhança dos poetas cordelistas antigos, o autor viaja ao tempo em que os animais falavam e cria uma fábula, com forte mensagem, por sinal bem propícia à situação brasileira, metáfora que vai falar sobre valores. Sugiro que quando houver a próxima edição, o autor distribua os poemas deixando tudo que é cordel numa parte, e o que não é junto com os sonetos. Reveja também a revisão do uso do "porque" nas páginas 17 e 18.
As xilogravuras de J.Campos, são poemas sem palavras. Os traços do gravador nos prende - ouso dizer que sem dúvida nenhuma - que o xilógrafo está cada vez mais construindo uma obra onde seus traços marcam não apenas a umburana, mas também o leitor. É impossível olhar qualquer peça de J.Campos e não ser tocado bela beleza que dela emana. A capa do livro, desenho em giz de cera, feito por Marcos Estevam, é outra arte que valoriza a obra.
Finalizo lembrando que os poemas que fogem ao gênero de cordel, embora eu tenha lido, não foram objeto dessa resenha. Parabenizo o autor e desejo que continue a ser este bardo que trabalha e não deixa de encontrar tempo para um "Boca de noite" tão necessário para reunir toda a vizinhança em torno do pão literário.
Aos que ainda não leram o livro, deixo o convite de Antonio Francisco:
Abra as páginas desse livro
E mergulhe no sertão
Beba água da cacimba
Pise descalço no chão
E ouça o pulsar da terra
Bater no seu coração.
Mané Beradeiro
RENATO, Robson. Boca de Noite. 1ª edição. Offset Editora. Natal, 2017
Continuo a folhear o livro e somente lá nas páginas 31/32 é que terei outro encontro com mais estrofes no estilo de Martelo Agalopado, com o título de "Tristes contos manchados de opressão". São cinco estrofes fazem um severa crítica à falsa verdade que nos ensinaram nos bancos escolares, passando também pela consciência política. Diga-se a propósito que esta é a tônica que veste os versos de Robson Renato, e não poderia ser diferente, uma vez que nascem de um homem que é professor e geógrafo. A sociografia é uma constante no livro, gritando através das estrofes pela liberdade e conscientizando os leitores na construção de um mundo mais justo.
E para não ficar apenas no Gabinete, o poeta demonstra que também conhece o Galope à beira mar, e o usa para lembrar em apenas duas estrofes, página 34, o período da ditadura militar e a campanha das "diretas já". E os textos poéticos se dão em outros conjuntos, sempre com a bandeira de temas sociais: cotas universitárias, fome, trabalho rural, etc. O poeta não se atém apenas a uma modalidade de estrofe, como já escrevi acima, corre a pena pelo gabinte, martelo à beira mar, além de décimas, quadras (hendecassílabo) e sextilhas.
Os registros poéticos de Robson Renato trazem uma sonoridade sertaneja, recria na mente do leitor quadros que somente um coração de poeta é capaz de captar. Sua sensibilidade faz justiça a personalidades daquela região tão massacrada pelo clima e outros fatores.
Gostei principalmente do texto "O Porco e a Garça", onde à semelhança dos poetas cordelistas antigos, o autor viaja ao tempo em que os animais falavam e cria uma fábula, com forte mensagem, por sinal bem propícia à situação brasileira, metáfora que vai falar sobre valores. Sugiro que quando houver a próxima edição, o autor distribua os poemas deixando tudo que é cordel numa parte, e o que não é junto com os sonetos. Reveja também a revisão do uso do "porque" nas páginas 17 e 18.
Jefferson Campos |
Finalizo lembrando que os poemas que fogem ao gênero de cordel, embora eu tenha lido, não foram objeto dessa resenha. Parabenizo o autor e desejo que continue a ser este bardo que trabalha e não deixa de encontrar tempo para um "Boca de noite" tão necessário para reunir toda a vizinhança em torno do pão literário.
Aos que ainda não leram o livro, deixo o convite de Antonio Francisco:
Abra as páginas desse livro
E mergulhe no sertão
Beba água da cacimba
Pise descalço no chão
E ouça o pulsar da terra
Bater no seu coração.
Mané Beradeiro
RENATO, Robson. Boca de Noite. 1ª edição. Offset Editora. Natal, 2017