quarta-feira, 20 de março de 2019

DIÁRIO DA LEITURA "A IRA DE JUDAS"




1 fevereiro 2019 : A Ira de Judas é o título de um livro de Ana Claudia Trigueiro, que tem onze contos. Foi publicado pela CJA, a capa é de Heverton R e a revisão de Bárbara Parente. A autora abre o livro com um poema de Zila Mamede, que a meu ver é um aviso sobre o que o leitor vai encontrar nas próximas páginas.
Deixei-me renascer no silêncio das horas e fui ler os contos assombrados. Na sua forma tão peculiar de escrever Ana Cláudia Trigueiro me colocou frente a frente com um terrível tubarão; revelou quem foi a pessoa que encontrou o tesouro do pirata Jacques Riffaut, lá no Poço do Dentão e me fez vibrar com o plano de Simon.
Até aí eu percebi que o livro exigia de mim, quanto leitor, um comportamento diferente, deveria degusta-lo como os bons vinhos, sem pressa. Deixei-o em minha escrivaninha e fui dormir pensando nas imagens daqueles contos.

2 fevereiro 2019: Retorno à leitura e eis-me debruçado sobre o conto metafórico de um mártir da Revolução de 1817 no Rio Grande do Norte. Na sequência, “o tempo escorrega bruscamente”, ouço latidos da minha cachorra no quintal, a meiga Ing. Quando dou conta de mim já estou dentro do texto, ladeado por Januária e Tonho. Por que eu fui entrar no conto? Não bastava ter ficado como simples leitor? Sofri, corri, gritei dentro mim ( para não acordar Sandra). Fui salvo porque me lembrei que não havia tomado a dupla “Lo e Sin” (Losartana e Sinvastatina).  Teria eu ainda coragem para sair da Serra Corada e ir à página 72? Ing latiu e eu fui dormir.

3 fevereiro 2019: Esta é a terceira noite de leitura, percebo que o Daniel deste conto  talvez tivesse tido mais sorte se estivesse na cova dos leões, do que indo para casa em ruas tão desertas. Estou ávido pelo desfecho ... Já li e não vou revelar.  O conto sobre Abelin não é assombroso, é romântico.  Estamos precisando de espíritos como o de Plácida para cuidar das nossas memórias. Lembrei-me do túmulo de Nísia Floresta, invadido em sua área, desrespeitados os limites.

4 fevereiro 2019:  Estou de plantão e tenho tempo para ler. Daqui, bem próximo do morro de Mãe Luiza ouço tiros. Natal está muito violenta. Ana  Cláudia Trigueiro me oferece como abertura para minha leitura “O estranho cemitério do Serrote do Junco”.  Destaco a frase “ a dor de uma mãe que perdeu um filho lateja até seu último dia de vida”.  Quanta desordem aconteceria no mundo se realmente os mortos ressuscitassem  daquela forma.  Quem ainda não teve aquela sensação do já visto, já vivido (déjà-vus)? Eu mesmo tive várias, é algo transcendental, uma experiência como a de Erina.  Vejo que faltam poucas páginas para concluir o livro. Opto para continuar amanhã. 

5 fevereiro 2019:  Cada vez mais eu confio no livro dos livros, lá eu aprendi que não há nada novo debaixo do céu. Ao iniciar a leitura do penúltimo conto de hoje tenho a nítida sensação que a escritora Ana Claudia Trigueiro ouviu muitas das histórias que eu também escutei quando era criança. Pacto com o demônio é um mote sempre constante  nas histórias de “Trancoso”. O que gostei neste conto é que a autora  apresenta o diabo como um homem bem vestido, cheiroso, barbeado. Nada de chifres, rabo e catinga de enxofre.  Recordo-me da citação bíblica: “ ...Porque o próprio Satanás se transfigura em anjo de luz” (2 Coríntios 11:14).  Satanás não rir, segundo a tradição judaica e cristã, mas no conto ele sorrir. São coisas possíveis à literatura. Começo o último conto. Um monstro chamado Labatut, reside num lajedo. Quando um dia eu for conhecer o tão lajedo terei muito cuidado para não me deparar com Labatut, afinal eu tenho gorduras espalhadas pelo corpo, e isso poderá despertar o apetite  do ogro.
E  assim terminei a leitura  do livro  A Ira de Judas.   Viver é maravilhoso, mas viver lendo é melhor ainda.

Francisco Martins

segunda-feira, 11 de março de 2019

ANLIC ANUNCIARÁ EDITAL COM NOVE VAGAS


No proximo dia 14 de março, a Academia Norte-Rio-Grandense de Literatura de Cordel - ANLIC vai anunciar, através da sua Presidente Tonha Mota, a abertura do edital para nove vagas às cadeiras da instituição. Serão 5  cadeiras já fundadas e 4 que nunca foram ocupadas. O edital será fixado na Estação do Cordel e divulgado pelas redes sociais. Aguardem.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

DADA A LARGADA PARA O PROJETO O MEU PÉ DE LARANJA LIMA - EDIÇÃO 2019

26 de fevereiro é a data que assinala o natalício do escritor José Mauro de Vasconcelos, autor de 21 livros publicados e 3 inéditos, sendo seu livro mais conhecido o romance autobiográfico "O Meu Pé de Laranja Lima" (1968).
À tarde de hoje, na cidade de Parnamirim-RN foi dada a largada para ação literária do projeto "O Meu Pé de Laranja Lima", existente deste 2015, que tem como objetivo apresentar o autor ao publico estudantil, tendo como ponto de partida o romance que da nome ao projeto. A reunião aconteceu com as professoras das escolas que irão realizar a ação com duração de dois meses consecutivos, que receberam as orientações do gestor Francisco Martins e da professora Angelica Vitalino, do projeto  Parnamirim: um rio que flui para o mar da leitura.
Conheça a metodologia do projeto lendo a matéria publicada no link Rio de Leitura


domingo, 24 de fevereiro de 2019

PROFESSOR CARLOS BARBOSA PUBLICARÁ LIVRO PELA CAROLINA CARTONERA


A Carolina Cartonera é uma editora informal que tem como meta ajudar as pessoas a realizarem seus sonhos de terem seus livros publicados. Elas surgiu no dia 15 de maio de 2015, quando o idealizador começou a produzir as capas para o primeiro livro cartonero, que foi "As Mulheres de Jesus".
Ao longo deste tempo, a editora Carolina Cartonera  tem conseguido atingir seus objetivos. Escolas e pessoas físicas tem procurado o editor Francisco Martins no intuito de celebrarem contratos para  publicação. Foi assim no sábado último, quando em São José de Mipibu-RN, o Professor Carlos Barbosa confiou à Carolina Cartonera a edição do seu livro " Setorização: Igreja em estado permanente de missão". 

Professor Carlos Barbosa é Diácono da Igreja Católica e o seu livro fala da importância da setorização na Igreja como ferramenta fundamental para o processo de evangelização em todos os níveis e numa administração voltada para o leigo,  tudo com base nos documentos da Igreja.

O RETRATO DE JAYME ADOUR DA CÂMARA



Por Ricardo M. Sobral, advogado e membro da ACLA

O título deste artigo não foi inspirado no Romance Filosófico de Oscar Wilde - O Retrato de Dorian Gray.
Como se verá mais adiante, mais aproriado seria buscar inspiração no cinema: três homens e um só destino. Circula nos meios culturais do estado que Jayme Adour teria sido retratado por Cândido Portinari, o mais importante pintor brasileiro de todos os tempos. A versão teria surgido de um comentário do jornalista Luiz Lobo, que escreveu o livro A Arte o Rabo de Galo, ilustrado por Leopoldo, filho de Jayme.
O Retrato existe, porém, não parido pelo pincel de Portinari. Como amigo e até certo ponto liderado de Adour, Portinari marcou várias vezes para fazer o retrato, mas Jayme, sempre movimentado, elétrico, viajante, cheio de compromisso, não tinha tempo.
Não obstante, Jayme ficou com um bom acervo de pinturas de Portinari. O pintor não tinha dinheiro para compra livros. Jayme emprestava. Portinari devolvia todos com a folha de rosto ilustrada com suas pinturas. Dona Leonor, viúva de Jayme, cedeu esses livros para Candinho, filho de Portinari. Estão na Fundação Portinari. Portinari, que morreu em 1962 intoxicado com  tintas que usava em seus trabalhos, era filho de imigrantes italianos. Nasceu em fazenda de café de Brodowisk, interior de São Paulo em 1903. Não chegou a concluir o curso primário. Seus trabalhos mais festejados são a tela "O Lavrador de Café" e o painel "Guerra e Paz", este de propriedade da Onu. Em 1945 concorreu pelo PCB a uma vaga na Câmara Federal e em 1947 ao Senado, sem, contudo, obter êxito.
O retrato de Jayme foi pintado por Dimitri Ismailovitch, artista plástico nascido na Ucrânia (1810), e falecido no Rio de Janeiro em 1976. O ucraniano, antes de estabelecer-se no Rio de Janeiro em 1927, estudou na Escola das Belas Artes da Ucrânia, passou sete anos em Istambul estudando arte bizantina e persa, com passagem pelos Estados Unidos, Londres e Atenas. Contemporâneo de Portinari, pintou a intelectualidade brasileira do eixo Rio-São Paulo entre as décadas de 30 e 50. Seus retratos de Villa Lobos e de Lily Marinho valem uma fortuna.
Jayme Adour da Câmara, patrono de uma das cadeiras da Academia Cearamirinense de Letras e Artes - ACLA-PSN, nasceu no Engenho São Leopoldo em 1898, de onde saiu montado num carro puxado por uma junta de boi para nunca mais voltar.
Foi jornalista, escritor, empresário, fundador da primeira agência de notícias do Brasil e o homem mais viajado do seu tempo.
Foi um dos expoentes do movimento modernista brasileiro, chegando a presidir a Revista da Antropofagia, veículo oficial de divulgação das idéias modernistas. Era um homem de posições firmes e claras. Enfrentou sozinho a ira da ditadura Vargas e as togas do STF ao se opor veementemente à entrega da judia Olga à Gestapo.
Foi quem no Brasil primeiro leu Marcel Proust; embora o macaibense Otacílio Alecrim tenha sido quem mergulhou com mais profundidade no complexo mundo proustiano, cuja obra prima tem como personagem principal o tempo.
O principal livro de Jayme é "Oropa, França e Bahia",  onde relata suas viagens pelo então vasto mundo, hoje apenas uma 'Aldeia Global' (H.M.McLuhan).
Jayme Adour faleceu de infarto fulminante em março de 1964 no Rio de Janeiro, debruçado sobre a máquina de escrever.

sábado, 23 de fevereiro de 2019

OS SOBREVIVENTES DA ARCA DA POESIA DE RÔMULO WANDERLEY


Em 1965 foi lançada a antologia “Panorama da Poesia Norte-Rio-Grandense”, do escritor Rômulo C. Wanderley. O trabalho nasceu como uma  ampliação da antologia de Ezequiel Wanderley, em 1922, conforme  declarou no agradecimento o organizador.
54 anos já se foram e ouso perguntar como leitor: quantos poetas estão vivos e foram participantes desta antologia?  E se ainda continuam a produzir poemas? A antologia contou com 228 poetas (199 homens e 29 mulheres). Fui atrás da resposta à primeira pergunta e descobri que desta relação estão ainda vivas as seguintes pessoas: Anchieta e Chalier Fernandes (irmãos) e Ney Leandro.

Charlier Fernandes
 
Anchieta Fernandes


Nei Leandro de Castro

Francisco Martins
23 de fevereiro 2019

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

LUÍS CARLOS LINS WANDERLEY NÃO FOI O PRIMEIRO CRONISTA DE CEARÁ-MIRIM

A História esconde segredos. Descobri-los é tarefa daqueles que gostam de pesquisar, que mergulham nos livros, em periódicos antigos, em escavações e outros meios.  Hoje é dia de anunciar que  LUIS CARLOS LINS WANDERLEY não terá mais o título de primeiro cronista da História de Ceará-Mirim.
Luís Carlos Lins Wanderley - quadro da galeria de patronos da ANRL 


Em agosto de 1882, o Bispo Dom José Pereira da Silva Barros, de Olinda-PE, esteve visitando o Rio Grande do Norte e o Dr. Luís Carlos Lins Wanderley, primeiro potiguar a se doutorar em medicina, foi convidado a fazer parte da comitiva, estando com o prelado em todas as paróquias que Dom José Pereira visitou, e entre estas a cidade de Ceará-Mirim. O olhar e as anotações do também jornalista Luís Carlos Lins Wanderley transformaram-se no livro " Visita Episcopal do Exmo. e Revdmo. Sr. D. José Pereira da Silva Barros a algumas paróquias do Rio Grande do Norte"(1887).

A memorialista Madalena Antunes, autora de "Oiteiro - memórias  de uma Sinhá-Moça"(1958) transcreve o texto escrito por Luís Carlos Lins Wanderley, no capítulo "A visita de D. José", o que comprova quanto foi marcante aquela estada de um Bispo, na cidade de Ceará-Mirim, cerca de 137 anos passados.
Madalena Antunes - memorialista






Este fato passou despercebidos pelos historiadores Rocha Pombo e Câmara Cascudo, que não registraram em nenhum momento a visita de Dom José pelo Rio Grande do Norte nos seus respectivos  livros: "História do Estado do Rio Grande do Norte" (1922) e "História do Rio Grande do Norte" (1984, 2ª edição). Cascudos lembrou de  citar no livro  "História da Cidade do Natal" (1980, p.444), afirmando que ele esteve em Natal em 8 de agosto de 1882.  O certo é que  por mais de um século e três décadas o nome do Dr. Luís Carlos Lins Wanderley foi detentor do título de primeiro cronista da cidade de Ceará-Mirim por causa do seu trabalho de relato junto ao Bispo  Dom José.

Francisco Martins tomando posse no IHGRN
Para se fazer justiça, o pesquisador Francisco Martins, membro do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte e da Academia Cearamirinense de Letras e Artes - ACLA - Pedro Simões Neto encontrou neste mês de fevereiro de 2019, um texto no jornal  "O Dois de Dezembro", periódico político e noticioso, datado de 10 de fevereiro de 1860, portanto 22 anos antes da visita episcopal, que muda essa história.. A crônica tem como título:  "VIAGEM OFICIAL DO EXMO. SR. DR. JUNQUEIRA À VILA DO CEARÁ-MIRIM". Dr. Junqueira citado na crônica era o Presidente da  Província do Rio Grande do Norte,  João José Junqueira que governou de 4 de outubro de 1859 a 28 de abril de 1860. Ele fazia parte do Partido Conservador.
Brasão do Partido Conservador

 A importância desta crônica para a História de Ceará-Mirim é de uma valor considerável. A visita do Dr. Junqueira começa a ser feita no dia 31 de dezembro de 1859, às 17 horas,  saindo a cavalo de Natal com destino à Vila de Ceará-Mirim, via Extremoz,  com a sua comitiva composta pelo chefe da polícia,  um ajudante de ordem,  um oficial da secretaria de policia, do guarda-mor da alfândega, e dois deputados provinciais.
Diz o cronista: "Na altura do Jorge, uma légua antes de chegar à vila foi S. Exc. recebido pelo comandante superior Manoel Varela do Nascimento, e mais um número crescido de cavaleiros que, juntos aos do Sr. Leopoldo, pode-se dizer, formavam um esquadrão completo de cavalaria".
O Leopoldo citado acima é  Manoel Leopoldo Raposo da Câmara que foi ao encontro do Dr. Junqueira, uma légua antes de Extremoz, oferecendo sua casa para a estada do Governo Provincial.
Dr. Junqueira visita os alicerces da construção da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição, fazendo doação de dois contos de reis para a obra do templo. Vai aos  engenhos Carnaubal  e Cumbe.
A visita termina na tarde do dia 3 de janeiro de 1860, quando pelas 17 hs volta para Natal. Quem foi o autor desta crônica? Eis um enigma  a ser decifrado. O cronista, habilidoso e de pena ágil, não quis assinar com o seu nome verdadeiro, fez uso de um pseudônimo:  O ROCEIRO DA CAPELA.

Brevemente, ainda neste semestre, o pesquisador Francisco Martins estará lançando uma plaqueta com ambas as visitas.

 
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terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

32 ANOS DO MEMORIAL CÂMARA CASCUDO


Na sessão de hoje, no Conselho Estadual de Cultura do Rio Grande do Norte, o Conselheiro Paulo Macedo lembrou que foi no mês de fevereiro de 1987, precisamente no dia 10,  a inauguração do Memorial Câmara Cascudo.  Um trabalho louvável e de grande importância para Natal em homenagem ao gênio do século XX,  Câmara Cascudo, conforme declarou Valério Mesquita.
O Memorial Câmara Cascudo, que não  compreende apenas a estátua, mas todo o complexo da casa, estátua e praça foi obra de Paulo Macedo quando era Presidente da Fundação José Augusto. Paulo Macedo relatou com peculiaridades a trajetória que teve que cumprir para ver realizada a sua ideia.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

PARA QUE SERVEM AS MÃOS?

 

As mãos servem para pedir, prometer, chamar, conceder, ameaçar, suplicar, exigir, acariciar, recusar, interrogar, admirar, confessar, calcular, comandar, injuriar, incitar, teimar, encorajar, acusar, condenar, absolver, perdoar, desprezar, desafiar, aplaudir, reger, benzer, humilhar, reconciliar, exaltar, construir, trabalhar, escrever......
As mãos de Maria Antonieta, ao receber o beijo de Mirabeau, salvou o trono da França e apagou a auréola do famoso revolucionário;
Múcio Cévola queimou a mão que, por engano não matou Porcena;
foi com as mãos que Jesus amparou Madalena;
com as mãos David agitou a funda que matou Golias;
as mãos dos Césares romanos decidiam a sorte dos gladiadores vencidos na arena;
Pilatos lavou as mãos para limpar a consciência;
os anti-semitas marcavam a porta dos judeus com as mãos vermelhas como signo de morte!
Foi com as mãos que Judas pôs ao pescoço o laço que os outros Judas não encontram.
A mão serve para o herói empunhar a espada e o carrasco, a corda;
o operário construir e o burguês destruir;
o bom amparar e o justo punir;
o amante acariciar e o ladrão roubar;
o honesto trabalhar e o viciado jogar.
Com as mãos atira-se um beijo ou uma pedra, uma flor ou uma granada, uma esmola ou uma bomba!
Com as mãos o agricultor semeia e o anarquista incendeia!
As mãos fazem os salva-vidas e os canhões;
os remédios e os venenos;
os bálsamos e os instrumentos de tortura, a arma que fere e o bisturi que salva.
Com as mãos tapamos os olhos para não ver, e com elas protegemos a vista para ver melhor.
Os olhos dos cegos são as mãos.
As mãos na agulheta do submarino levam o homem para o fundo como os peixes;
no volante da aeronave atiram-nos para as alturas como os pássaros.
O autor do "Homo Rebus" lembra que a mão foi o primeiro prato para o alimento e o primeiro copo para a bebida;
a primeira almofada para repousar a cabeça, a primeira arma e a primeira linguagem.
Esfregando dois ramos, conseguiram-se as chamas.
A mão aberta, acariciando, mostra a bondade;
fechada e levantada mostra a força e o poder;
empunha a espada a pena e a cruz!
Modela os mármores e os bronzes;
dá cor às telas e concretiza os sonhos do pensamento e da fantasia nas formas eternas da beleza.
Humilde e poderosa no trabalho, cria a riqueza;
doce e piedosa nos afectos medica as chagas, conforta os aflitos e protege os fracos.
O aperto de duas mãos pode ser a mais sincera confissão de amor, o melhor pacto de amizade ou um juramento de felicidade.
O noivo para casar-se pede a mão de sua amada;
Jesus abençoava com as mãos;
as mães protegem os filhos cobrindo-lhes com as mãos as cabeças inocentes.
Nas despedidas, a gente parte, mas a mão fica, ainda por muito tempo agitando o lenço no ar.
Com as mãos limpamos as nossas lágrimas e as lágrimas alheias.
E nos dois extremos da vida, quando abrimos os olhos para o mundo e quando os fechamos para sempre ainda as mãos prevalecem.
Quando nascemos, para nos levar a carícia do primeiro beijo, são as mãos maternas que nos seguram o corpo pequenino.
E no fim da vida, quando os olhos fecham e o coração pára, o corpo gela e os sentidos desaparecem, são as mãos, ainda brancas de cera que continuam na morte as funções da vida.
         
           E as mãos dos amigos nos conduzem...
           E as mãos dos coveiros nos enterram!



 Giuseppe Artidoro Ghiaroni

 



UM ROCEIRO DESTRONA LUÍS CARLOS LINS WANDERLEY


Luís Carlos Lins Wanderley
O pesquisador Francisco Martins encontrou um texto que destrona Luís Carlos Lins Wanderley como sendo o primeiro cronista de Ceará-Mirim-RN. A história deste achado você saberá brevemente, tão logo a página da Academia Cearamirinense de Letras e Artes - ACLA - Pedro Simões Neto faça a publicação da matéria. O autor do blog deu preferência à ACLA dada a importância do fato. Aguardem.

POETA XEXEU RECEBERÁ HOMENAGEM NO DIA 14 DE MARÇO


O poeta Gerson Pessoa está organizando um evento cultural, na cidade de Santo Antonio-RN, em louvor ao mais longevo poeta  da literatura de cordel do Rio Grande do Norte, o octagenário Xexeu. A festa vai acontecer na tarde do dia 14 de março de 2019, com início previsto às 16 h. Mané Beradeiro confirmou presença.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

O HUMOR DE MANÉ BERADEIRO


A Professora Jarlene  perguntou a Mané Beradeiro se ele sabia onde tinha o livro "Hora de alimentar serpentes" de Marina Colasanti. Mané não soube dá resposta exata, mas nem por isso perdeu a oportunidade e respondeu:
-Jarlene, este livro saiu com nova edição e até mesmo o título foi mudado pela autora, agora é: "HORA DE BOTAR O ALMOÇO DAS SOGRAS"!


ASSIM DISSERAM ELES ....




"Eu quero ir para o céu, disso não tenho dúvida. O que não me atrai é o meio de transporte para chegar lá, muito  primitivo!"

João Batista Pinheiro Cabral,  imortal da Academia Norte-Rio-Grandense de Letras.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

PADRE CAMPOS ESCREVE CRÔNICAS SOBRE SUA VIDA SEPTUAGENÁRIA









Padre Campos



"A duração de nossa vida é de setenta anos, e se alguns, pela sua robustez, chegam aos oitenta anos, o melhor deles é canseira e enfado, pois passa rapidamente, e nós voamos" 
(Livro dos Salmos)
 
Na trilha dos 71 anos, o Padre José Freitas Campos, com 44 anos de sacerdócio, é um ativo colaborador da cultura. Escritor e músico, o Padre Campos está sempre produzindo algo em prol do  conhecimento. É assim, que ele resolveu assinalar seus 70 anos, celebrados no mês de dezembro último, escrevendo um livro de crônicas que tem o título " O bom humor é divino - 70 histórias em 70 anos". Recebi do amigo sacerdote um exemplar e breve estarei lendo para resenhar seu trabalho.


Este é o primeiro trabalho do Padre Campos neste gênero literário. O   Presbítero  já navegou pelo campo didático, biográfico e ensaísta. Que Deus dê muita saúde ao Padre Campos e que ele possa escrever e pesquisar sempre mais, sem enfado e cansaço.


Francisco Martins
11 de fevereiro 2019

 

CONSELHO ESTADUAL DE CULTURA FARÁ AMANHÃ PRIMEIRA SESSÃO DO ANO

O Conselho Estadual de Cultura do Rio Grande do Norte retoma amanhã, dia 12 de fevereiro, o calendário das suas sessões ordinárias. A primeira de 2019 terá inicio às 16 h, em sua sede, sitia a Rua Mipibu,  443, bairro Petrópolis, em Natal.
Conselheiros na confraternização natalina de 2018

O CEC/RN é presidido pelo escritor Iaperi Araújo, sendo o Vice Presidente o poeta Paulo de Tarso Correia de Melo. 15 membros compõem o colegiado. Eu participo desta entidade  desde 2009 onde exerço a função de Secretário Administrativo. Na foto acima temos uma representação do CEC/RN em dezembro de 2018.

sábado, 9 de fevereiro de 2019

COMENTANDO MINHAS LEITURAS 2019 - O ANJO DEVASSO

"O Anjo Devasso"(2016) é o título de uma biografia romanceada do poeta Juvenal Antunes (1883-1941),  natural de Ceará-Mirim e um dos maiores poetas já nascido naquele vale. O livro foi escrito por Antonio Stélio ( foto abaixo).  Juvenal Antunes,  formado em Direito, funcionário público (Promotor de Justiça), boêmio, viveu 58 anos. Sua existência  assinalou a literatura brasileira, principalmente no Rio Grande do Norte e no Acre onde ele é bem mais conhecido.  

Antes de comentar o livro, vejamos um pouco sobre a importância deste poeta. Sua forma de viver, sua boemia, seus textos foram elementos que despertaram o olhar do crítico literário  Esmeraldo Siqueira, quando sobre ele escreveu o ensaio  "Um boêmio inolvidável" (1968). Está presente na primeira antologia  "Poetas do Rio Grande do Norte", " organizada por Ezequiel Wanderley (1922) e também da  antologia "Panorama da Poesia Norte-rio-grandense", de  Romulo Wanderley ( 1965). Em 1957 é criada a cadeira 35 na Academia Norte-Rio-Grandense de Letras, e Edinor Avelino escolhe Juvenal Antunes para ser o patrono da cadeira. Em 1956 é criada em Natal a Academia Potiguar de Letras, pelo Monsenhor  Alves Landim e Boanerges Soares, nela, Juvenal Antunes é patrono da cadeira 27.  No ano 2010, o escritor Pedro Simões Neto funda a  Academia Cearamirinense de Letras e Artes-ACLA, e dentro dos patronos é o nome de Juvenal Antunes  escolhido para a cadeira 3. Bem antes disso, em 1937, Juvenal Antunes participa da criação da Academia Acreana de Letras ( 1937) e é patrono da atual cadeira 31.
Juvenal Antunes
Dada essa introdução trago o meu comentário sobre o livro "O Anjo Devasso). Gostei da forma que o autor escolheu para narrar a biografia. Ele anuncia a  história do biografado de uma maneira que traz à tona pessoas que foram importantes no universo da vida de Juvenal Antunes, a cada uma dela é dada a participação em capítulos. Antonio Stélio  não mediu esforços de pesquisa para escrever sobre o assunto, a linha do tempo que ele nos apresenta contém tópicos relevantes sobre o poeta. Cada apresentação é como se à tela do leitor fosse fornecido tintas que vão dando vida ao melhor quadro que já se tenha pintado de Juvenal Antunes. Um homem que soube viver à sua maneira, liberto e libertino (quando assim desejou).
Não espere o leitor encontrar  nesse livro os poemas de Juvenal, há alguns, mas não foi esse o objetivo de Antonio Stélio. A produção literária do biografado encontra-se espalhada por vários jornais, revista e almanaques deste Brasil, além  dos poemas que estão em "Scimas" (1909) livro de estreia aos 26 anos e depois "Acreanas" (1922).  Mas, se o autor de "O Anjo Devasso" não quis reunir os poemas como uma espécie de antologia, que poderia compor a terceira parte do livro, ele, Stélio, nos fornece ao longo das 169 páginas, o mais belo poema escrito por Juvenal Antunes, a saber: o poema da vida, onde cada um de nós é seu próprio autor.

Juvenal "poeta muito além do seu tempo, feito de virtudes e de vícios", como prefaciou Vicente Serejo e  combatente da hipocrisia social, qualidade atribuída por Abimael Silva, editor,  é verdadeiramente digno da alcunha de Anjo Devasso.  Dentro de cada homem há duas naturezas, a carnal e a divina. Em Juvenal Antunes  a divina  adormeceu muito cedo e desde então a outra parte se fez senhora do seu tempo, da sua existência,  moldando-o como um Anjo Devasso. Conclamo os leitores que gostam de bons livros a terem em suas mãos este trabalho de Antonio Stélio.  Juvenal Antunes, canção ensaiada na bagaceira do Engenho Oiteiro (Ceará-Mirim-RN) e depois amadurecida no sabor da floresta que tempera o Acre,  é hoje, um misto de agradecimento e saudade.

Francisco Martins
9 de fevereiro de 2019

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019

CONSELHO DE PAI

A mãe estava muito preocupada em passar alguns ensinamentos para sua filha adolescente. Sabia que era chegada a hora de instrui-la  com alguns conselhos de educação sexual. Coisa que ela nunca teve e só foi descobrindo na prática. Mas com a sua filha queria que fosse diferente. Preparou-se com algumas leituras e finalmente  sentiu  que era chegada a hora.
-Filha, você está com quinze anos, namorando e mamãe que lhe dizer algumas coisas sobre o relacionamento entre mulher e homem.
A filha escutou tudo que ela falou atentamente.Quando terminou, a mãe ainda lembrou:
-Seu pai também vai falar com você sobre isto, afinal a responsabilidade é minha e dele em orientar você para a vida.
À noite, após chegar do trabalho, casando, recebeu a incumbência de ir também conversar com a filha. Tão logo começou os preparativos, limpando a garganta e sem saber direito por onde iniciar aquela conversa entre pai e filha, foi quando a própria filha falou:
-Papai, por favor, não seja longo em seus conselhos como foi a mamãe. Tente ser o mais claro e rápido.
Era tudo que ele queria. Olhou bem para a filha e disse:
-Jamais esqueça o que vou falar: "PICA NÃO TEM EDUCAÇÃO!" Fim de papo.

Francisco Martins
07 de fevereiro 2019

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

ASSIM DISSERAM ELAS ...

"A sua passagem foi rápida, porque era, ao mesmo tempo, o anjo, a flor e o gênio!"

Poeta Anna Lima (1882 - 1918), referindo-se a Auta de Souza, sua amiga, que três dias  antes de falecer escreveu para ela o poema Luz e Sombra.

SUB UMBRA

 A memória de Auta de Souza

No  escrinio azul de magua aureolado,
Repousa inerte o peregrino astro,
Como um lothus virginio de alabastro
Boiando à flor de um lago immaculado.

As phalenas, em bando, lacrimosas,
Ajoelham dos goivos pelas franças;
Há soluços nos lábios das creanças,
Psalmos de dôr no coração das rosas!

Livre das garras do soffrer insano,
Su'alma pura pelos céos fluctua,
Transformada n'um cysne  soberano!

É que Deus a chamou à Immensidade,
Para ensinar, talvez, a branca Lua
-A balada plangente da saudade!

Segundo Wanderley

Nota: Este poema foi publicado na Revista " A Tribuna: do Congresso Literário", periódico que circulava quinzenalmente em Natal. Edição especial do dia 27 de fevereiro de 1901, ano V.

A MORTE DE HILÁRIO NEVES

"A morte é quem redime tudo, é quem perdoa tudo, é quem alivia tudo"
Edgar Barbosa


Amanheci com uma vontade de visitar o túmulo de Hilário Neves, afinal, hoje, dia 7 de fevereiro faz exatamente 118 anos do seu falecimento. Faleceu jovem, aos 24 anos, 4 meses e 26 dias, na madrugada daquele ano de 1901, em sua residência na Rua Nova, hoje a Avenida Rio Branco, em Natal-RN. A cidade não deu conta do seu falecimento, até porque poucas pessoas sabiam quem era Hilário Neves.
Morreu poeta, seus versos retratam o desejo de viver, mas no início do século XX, a "Dama de Branco" era insaciável. Jogava seus dardos quem atingia os pulmões, e aos poucos matavam a pessoa. Foi assim que a tuberculose vitimou Hilário Neves. Mas quem foi mesmo Hilário Neves?
Quando seus irmãos anunciaram o falecimento com o nome verdadeiro, aí sim, a cena mudou. Houve choro, lamentação, colheram-se flores, e imediatamente foram chegando as pessoas para se despedirem daquela que  desde cedo trazia na alma a cor da  morte: Auta de Souza. Sim, a poeta tinha entre tantos outros pseudônimos o nome de Hilário Neves.

Francisco Martins
07 de fevereiro 2019