domingo, 4 de agosto de 2019

COMENTANDO MINHAS LEITURAS: MEMÓRIAS E CONTOS DE J.BORGES


“Escrevo o que vi acontecer, o que vivi e ouvi dizer”
J.Borges

J.Borges - acervo do memorial J.Borges - Facebook


O livro é de 2002, mas somente ontem pela manhã eu tive conhecimento da sua existência, graças ao amigo Oreny Jr, poeta, sebista e editor, que sabe os tipos de livros que me agradam. Recebi uma mensagem perguntando se tinha interesse. Respondi que sim e no mesmo dia no final da tarde passei na casa dele e sai com o livro para degustá-lo à noite. "Memórias e Contos de J.Borges", 300 páginas, edição Gráfica Borges, teve para mim o gosto de umbuzada, com seu aroma e sabor.
Um livro personalíssimo em todos os sentidos. Se formos olhar pelo lado editorial ele tem a singularidade dos folhetos, desde a diagramação e a ilustração das xilogravuras, que formam à parte um belo conjunto com 64 gravuras. Se optarmos em querer analisar a  estrutura textual, aplicando a norma culta, perceberemos que não é necessário, posto quê estamos diante de um homem que escreve sem nenhuma pretensão de fugir ou esconder seus vocábulos. Ele tem consciência que é autodidata (p. 257) e a manifestação do seu texto não tem divisa entre a língua escrita e a  oral. Tive a impressão que J. Borges estava ali do meu lado, falando ao meu ouvido suas memórias, seus causos (que ele intitula contos), seus cordéis e outras coisas que tem o livro. Nele, J.Borges viaja ao tempo da sua infância e de lá nos trás o sertão com seus costumes, suas crenças, responsabilidades sociais. 6 poemas de cordel fazem parte do livro. Todos com aproveitamento de rimas acima de 97%, são eles:

 1) "As andorinhas da fé ou os ladrões do pé da serra" (38 estrofes,37 sextilhas e 1 septilha. Total de 229 versos e 97,8% aproveitamento de rimas)

2)"As bravuras de Cipriano e os amores de Jacira" (79 estrofes,78 sextilhas e 1 oitava. Total 476 versos e aproveitamento de 98,9% das rimas)

3)"O exemplo da cabra que falou sobre crise e corrução" (20 estrofes, todas em sextilhas, no total de 120 versos e 98,8% de aproveitamento de rimas)

4) _______, sem título, que trata sobre a Fundação Roberto Marinho. (20 estrofes,19 sextilhas e 1 em septilha. Total 127 versos e tem 98,4% de aproveitamento de rimas)

5)"Os efeitos do viagra" (10 estrofes, 6 sextilhas e 4 décimas. Total 76 versos e 97,3% de aproveitamento de rimas)

6) "A filosofia do peido" (30 estrofes, 29 sextilhas e 1 septilha. Total 181 versos e 98,9% de rimas aproveitadas).

Na parte dos contos, que na verdade são causos, o leitor vai se deparar com muitas histórias engraçadas, com características daquelas que chamamos de Trancoso. Eu considero estas as melhores:
O Coronel e o carpinteiro
O Velho Pedro Bandeira
Os meninos da porteira
O casamento de Mariano
O eclipse de 40

Por fim, quero concordar com o autor e se ele me permite assinar embaixo, no texto que tem como título "O Artista", que trata sobre a valorização do poeta, do artesão em todos os sentidos e principalmente no pagamento dos seus serviços.
J.Borges chegou de forma tardia na escola, apenas aos 12 anos e lá passou 10 meses, mas a escola maior, a vida, deu-lhes lições que o fez universal, um orgulho para o povo brasileiro, um homem com o valor de uma botija de diamantes, que muitos ainda precisam conhecê-lo.

Mané Beradeiro
Parnamirim/RN
04 de agosto 2019

quarta-feira, 31 de julho de 2019

CORDELTECA POETA XEXEU SERÁ INAUGURADA AMANHÃ COM UM DIA DE FESTA

Mané Beradeiro
A Escola Municipal Jornalista Erivan França,  no bairro de Igapó,em Natal/RN, vai inaugurar amanhã a Cordelteca Poeta Xexeu. A data será assinalada com várias apresentações de poetas, a saber: Mané Beradeiro (manhã); Marconi Branco (manhã e tarde); Jussiara Soares (manhã); Sírlia Lima (tarde); Dorinha Timóteo e Flauzineide Moura (manhã e tarde). Como se vê será um dia intenso de coisas boas acontecendo com a comunidade escolar. Haverá também o lançamento do livro "Semear" Antologia Literária Infantil da ALAMP  - Associação Literária e Artística das Mulheres Potiguares.
Marconi Branco
Jussiara
Marconi Branco é poeta, músico,letrista. Tem vários vídeos dele na internet mostrando sua arte. Jussiara Soares é cordelista, pedagoga, contadora de histórias e é membro da ALAMP. Sírlia Lima é escritora de livros infantis, cordelista e desenvolve um trabalho bem fecundo nas escolas do Rio Grande do Norte, tendo também sido agraciada com vários títulos a nível nacional.
Sírlia Lima
Dorinha Timóteo é sinônimo de encanto, poesia, alegria. Onde ela se apresenta deixa perfume no ar e toca o coração da plateia. Dorinha e Barroca, almas gêmeas da cultura que já estiveram bem além do Rio Grande do Norte, pelo Brasil e outros países.
Dorinha e Barroca
Flauzineide Moura é uma guerreira da cultura. Já fez muitas coisas nesta vida. Poderia estar em casa, gozando seu tempo e sua paz na condição de aposentada. Prefere dá maior alegria ao seu viver, compartilhando sua experiência de escritora e poeta.
Flauzineide



POETA DIOGENES DA CUNHA LIMA FAZ PALESTRA AMANHÃ NA SEDE DO IHGRN

O Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte - IHGRN dentro da sua programação Quinta Cultural, promovera amanhã à noite, em sua sede, uma palestra com o poeta Diogenes da Cunha Lima, advogado, professor, biógrafo,  Presidente da Academia Norte-Rio-Grandense de Letras. Será uma noite cheia de cultura.

TARDE DE AUTÓGRAFO COM O POETA MANÉ BERADEIRO EM PARNAMIRIM

Hoje à tarde, os professores que atuam nas bibliotecas escolares da rede municipal de Parnamirim, os Mediadores de Leitura, participaram da formação mensal e na ocasião do lançamento do cordel livro " A Avó com a saia de merinó",do poeta Mané Beradeiro. A tarde de autógrafo aconteceu no Teatro Municipal.
Foto por Angelica Vitalino
Professora Jacqueline (Escola Íris de Almeida) e Mané






Professora Daliana ( Escola Josafá Machado) e  Mané
Professora Dilza (Escola Homero Dantas) e o poeta Beradeiro

terça-feira, 30 de julho de 2019

UMA FORMA MILITAR DE ANUNCIAR UMA BOA NOVA


É lendo que a gente vai aprendendo as coisas, sabendo, descobrindo. Vejam só que coisa interessante:

O Major Tomas Laister, do Exército Inglês, morador de Colchester,  partiu para o campo de guerra e deixou a esposa em casa, grávida, já  perto de dar a luz. Em Seul, onde ele servia, recebeu meses depois o seguinte telegrama:

CHEGOU REFORÇO ONTEM A COLCHESTER PT PEÇA ARTILHARIA PESANDO  NOVE E QUATRO LIBRAS PT OFICIAL ENCARREGADO DE TRAZER REFORÇO E ESTE EM PERFEITO ESTADO PT

Estava dada notícia que ele era pai!

PALAVRAS SOBRE CÂMARA CASCUDO

Hoje, 30 de julho de 2019 celebramos os 33 anos do encantamento de Câmara Cascudo. Não vamos escrever morte, pois um homem da magnitude de Cascudo não morre, encanta-se. Ele até pode ter sentido o frio da moça caetana, arrancando-lhe daquela cama no Hospital São Lucas e levando-o para o além. Foi-se, é inegável, mas sua presença continua forte e precisa entre nós.
Cascudo é vitamina de A a Z quando se trata de cultura, não apenas brasileira, mas universal. Ele faz parte do rol dos nomes de homens que o Brasil ainda não conhece em sua totalidade. Existem ruas, avenidas, museus, bibliotecas, medalhas, prêmios, vinhos, etc com o nome de Câmara Cascudo, mas isso não basta para perpetuar  sua glória. No seu último aniversário, em 1985, quando completou 87 anos, em sua casa  na Avenida Junqueira Aires, onde viveu 41 anos, em discurso de agradecimento aos amigos, assim falou: "Sou uma saudade da vida agarrado ao sonho de continuar a viver".
E ele vive, porque soube ser muitos em diversos livros. O poeta Zé Praxedes foi muito feliz quando assim se expressou:
Nome internacional, o homem que sabe tudo,
parabéns minha Natal, Salve Câmara Cascudo
Todo mundo fica mundo para ouvir o que ele diz.
Remove pela raiz os causos mais complicados
É Câmara sem deputado, o formidável Luiz.
Se Américo de Oliveira Costa escreveu sobre a Biblioteca e seus Habitantes, eu confesso que consigo também vislumbrar no meu pequeno espaço a existência permanente e indispensável de Cascudo, em 22 livros  da sua autoria que eu tenho. Recentemente vivi  algumas horas de pesquisa no Ludovicus - Instituto Câmara Cascudo e as paredes daquela casa, repletas de sabedoria, revelaram-me a luta que tem a família para manter tão bem conservada a memória cascudiana, do provinciano incurável.
Por fim, desejo concluir lembrando uma frase do próprio Cascudo: "Estátua, festa, nome de rua, placa de bronze, dinheiro, batismo de arranha-céu, discurso, banquete, baile, tudo passa ou tudo fica sem expressão na memória coletiva. O livro fica. Acima de tudo, o livro contando a história daquele que trabalhou, amou, sofreu (Acta Diuna: O milagre da montanha, 9 de janeiro 1948, Diário de Natal)

Francisco Martins







segunda-feira, 29 de julho de 2019

INGLÊS GOSTA MESMO DE QUÊ?


Os ingleses deram sua contribuição no Brasil construindo as estradas de ferro. Numa cantoria de desafio Manuel Serrador respondeu a Josué  Romano:

E eu andava atrás de ti
Que só guaxinim por cana
Ou raposa por galinha,
Ou macaco por banana,
Inglês por linha de ferro
Ou preá por gitirana


TORPEDO DE MANÉ BERADEIRO 041/2019

QUEM EMPRESTA, NEM PARA SI PRESTA!  Até onde é verdadeira esta expressão?  Somos 
inclinados a praticar o egoísmo e não ajudar o próximo?
"Se fizerem empréstimo a alguém do meu povo, a algum necessitado que viva entre vocês, não cobrem juros dele; não emprestem visando lucro". Êxodo 22:25.  Portanto, quem não presta é aquele que cobra juros!

sábado, 27 de julho de 2019

ASSIM DISSERAM ELES ...





"Espalha-se o rumor e esse rumor cria a figura do delito ou da glória individual sem que a vítima ou herói haja merecido a coroa para a cabeça ou a corda para o pescoço"

Câmara Cascudo
Acta Diurna:  Me disseram, 14 de outubro 1947, Diário de Natal

quarta-feira, 24 de julho de 2019

OFICINA DE LIVROS CARTONEROS/ARTESANAIS

Local: CEEP - Lourdinha Guerra - Nova Parnamirim
Hora: 14 h
Quantidade de vagas: 15
Valor da inscrição: R$ 30,00

DINDINHA CONTINUA VIVA DENTRO DA LITERATURA POPULAR

Conforme foi anunciado por aqui, o poeta Mané Beradeiro lançou na tarde de hoje, a segunda edição do cordel " A  avó com a saia de merinó - a poética história de Dindinha ( avó de Auta de Souza e irmão), por ocasião do Chá Literário em homenagem aos avós, na Escola Municipal Jussier Santos, em Parnamirim/RN. Foi uma tarde encantadora.

Lei mais visitando o blog do Rio de Leitura no linka seguinte: Dias dos avós na Escola Jussier Santos

segunda-feira, 22 de julho de 2019

TORPEDO DE MANÉ BERADEIRO 040/2019

FESTA DE POBRE É BUCHO, FESTA DE RICO É LUXO. Serve o adágio para lembrar que a mesa
bem servida é aquela que é bem provida. Nossa alma também é convidada a viver na abundância das coisas boas, por isso está escrito:   A MINHA ALMA FICARÁ SATISFEITA COMO DE RICO BANQUETE ; COM LÁBIOS JUBILOSOS A MINHA BOCA TE LOUVARÁ (SALMO 63:5)

domingo, 21 de julho de 2019

MANÉ BERADEIRO RELANÇA O CORDEL QUE HOMENAGEIA A AVÓ DE AUTA DE SOUZA E SEUS IRMÃOS


Capa da segunda edição 2019

Na próxima sexta-feira, dia 26 de julho, o calendário brasileiro homenageia as avós e avôs, pegando carona por sua vez na liturgia católica, que atribui a data ao dia de São Joaquim e Sant'Ana, que segundo a tradição foram os pais de Maria, a mãe de Jesus.  O poeta Mané Beradeiro aproveita a semana dos avós e disponibiliza o cordel,  "A avó com a saia de merinó - a poética história de Dindinha (2ª edição), que homenageia a mulher que foi a avó materna de Auta de Souza, Henrique Castriciano, Eloy de Souza, João Câncio e Irineu.

Capa da primeira edição em junho 2017


Silvina de Paula Rodrigues nunca se deixou fotografar. Na ausência de uma imagem da Dindinha, o poeta Mané Beradeiro escolheu homenagear as mulheres avós, através da arte de Lucas Marques, que fez o quadro da sua avó  Maria da Luz de Assis, todo em canetas esferográficas. Partindo da arte de Lucas, um outro artista plástico, o xilógrafo  Jefferson Campos fez a matriz e a impressão em xilogravura, que digitalizada adorna a folha de abertura do poema.

A edição vem em estilo cartonero/artesanal - com 36 páginas e tem o selo da editora Carolina Cartonera.  Os interessados podem fazer seus pedidos diretamente  com o autor ( whatsApp (084) 8719 4534) ou para quem mora em Natal/RN na Estação do Cordel  e na Casa do Cordel. O preço do cordel é R$ 15,00.

quinta-feira, 18 de julho de 2019

SARAU QUINTA DAS ARTES


Após as primeiras etapas em Natal e Canguaretama, respectivamente, o projeto Sarau Quinta das Artes chega no dia 25 de julho ao município de São Gonçalo do Amarante. O evento multicultural ocorrerá no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte - IFRN, situado à rua Alexandre Cavalcante, s/n, no centro da cidade, no período de 14h às 17h.
A programação em São Gonçalo do Amarante contará com a exposição “Raízes Ancestrais”, do artista plástico Weid Sousa; a projeção do curta-metragem “Catarro”, de Paulo Dumaresq; monólogo “Ventre de Ostra”, pela atriz Luana Vencerlau; debate literário com os escritores João Andrade, autor da obra “Livro de Palavra”, e Leocy Saraiva, autora de “Versos Temporais”; solo “Fragmentação”, da bailarina Rozeane Oliveira, além do pocket show “Violas e Veredas”, com o menestrel Caio Padilha.
O projeto conta com o patrocínio cultural da COSERN/NEOENERGIA @cosern_oficial , Governo do Estado do Rio Grande do Norte @governodorn e Fundação José Augusto, por meio da Lei Câmara Cascudo.
Realização: Carla Alves Produção Cultural @salvesscarla
Assessoria de imprensa: Paulo Dumaresq @paulodumaresq
Documentação Digital: Odara Produtora @odaraprodutorarn

CONFRARIA DE LEITORES DA ESCOLA JACIRA MEDEIROS RECEBE AMANHÃ FRANCISCO MARTINS


Os alunos participantes da Confraria de Leitores da Escola Municipal Professora Jacira Medeiros de S. Silva, no bairro Nova Esperança, em Parnamirim/RN estarão reunidos na manhã desta sexta feira, dia 19 de julho, com o escritor Francisco Martins que falará sobre sua trajetória de leitor e escritor. Na oportunidade o escritor dará testemunho de fatos reais que aconteceram com ele e que a literatura foi fundamental para ajudá-lo. Mostrará também seus livros (11) e folhetos (50). A confraria se reúne mensalmente e conta com o apoio das Professoras Valéria Vaz, Aracy Gomes e Edilberto Cleuton Santos.

A BIBLIOTECA PARTICULAR DE MANÉ BERADEIRO

Este é meu espaço literário. Aqui eu guardo as seguintes coleções: revistas da Academia Norte-Rio-Grandense de Letras; de cordéis e matrizes  de xilogravuras; do jornal "o Galo"; livros diversos, além dos meus chapéus e peças antigas. Eu a chamo de Biblioteca Mané Beradeiro. Um lugar onde a literatura me abraça e me diz muito através dos seus habitantes.

Francisco Martins
18 julho 2019

quarta-feira, 17 de julho de 2019

AMANHÃ TEM O LANÇAMENTO DE “O BRASIL INEVITÁVEL




“O Brasil Inevitável”, de Mércio Gomes, antropólogo que atuou junto com o grande Darcy Ribeiro, durante vários anos, será lançado nesta quinta-feira (18), das 18 às 22 horas, na Academia Norte-rio-grandense de Letras, sendo considerado livro de leitura quase obrigatória, pois ele faz um estudo e analisa o comportamento do brasileiro, ontem e hoje.

Professor de História das Ciências e das Técnicas e Epistemologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, ex-presidente da Fundação Nacional do Índio/Funai e autor, dentre outros livros, de “O Índio da História e Darcy Ribeiro”, ele revê com um olhar histórico-antropológico as principais análises sobre classes e estamentos sociais, desigualdade social e cultural, a cultura em sua prática social, regimes políticos, colonialismo, escravidão, servidão, bem como sobre como brasileiros e estrangeiros vêm pensando e argumentando sobre nosso país. O livro debate com seus principais intérpretes, entre tantos, Gilberto Freyre e Sergio Buarque.

A obra enfatiza o papel do inter-relacionamento entre portugueses, indígenas e negros nos primeiros dois séculos na formação dessa cultura básica, sua miscigenação na formação do “povão” e sua contínua forma de existência através de vários sentimentos, inclusive o ralo amor que temos pela natureza, parte de nossas formas de violência e nossos modos de resistência a comportamentos exógenos.

Como o leitor vai constatar, o livro de Mércio Gomes é muito mais que um estudo antropológico para suprir a demanda dos estudiosos do Brasil e das bibliotecas acadêmicas. Ele provoca o leitor a ir adiante. Ir além dos parâmetros acadêmicos que balizam respostas ‘razoáveis’ para tantas perguntas acumuladas ao longo da história brasileira.

Lançamento: “O Brasil Inevitável”, de Mércio Gomes.
Local: Academia Norte-rio-grandense de Letras
Data: 18 de julho de 2019, das 18 às 22h.

SÃO BENTO DO TRAÍRI - O DIA EM QUE A CONHECI

Existem no Rio Grande do Norte muitas cidades pequenas. São Bento do Traíri é uma delas com uma população municipal de aproximadamente 4 mil habitantes. Chega-se lá através da RN-091, que liga a cidade de Santa Cruz a São Bento do Traíri, 16 quilômetros com incontáveis buracos, diria que na RN-091 tem um para cada habitante de São Bento. 

Que levaria uma pessoa até aquela localidade? Todas as vezes que eu perguntava sobre aquela cidade, tinha sempre como resposta: "é um lugar que só vai até lá quem tem negócio a resolver". Ontem, 16 de julho, eu tive a curiosidade de conhecer este lugar tão reservado. Como já estava em Santa Cruz a oportunidade era viável. Cheguei cedo em São Bento do Traíri e levava dentro de mim o desejo de mostrar minha arte de contador de histórias às crianças daquela cidade.

Parei de frente a Escola Municipal José Ribeiro da Silva, situada à Rua Theodorico Bezerra, centro. Ninguém sabia do meu trabalho, quem eu era. Todos ignoravam que ali estava um homem apaixonado pela cultura e principalmente a leitura. Na ausência do diretor e do vice diretor, consegui falar com o coordenador pedagógico e falei do meu desejo de contar histórias durante 40 minutos para todas as crianças daquele turno. Ele concordou, mas só daria certo às 10 h. Perguntou se teria algum custo e eu respondi que seria um presente meu, faria o show gratuito. Ficamos então acertados que às 9:45 eu retornaria.

Aproveitei e fiquei olhando a cidade, a vida dos habitantes, naquela calma tão ausente nas cidades grandes. Todos se conhecem. E eu era um estranho que parou na praça, estacionou o carro e ficou sentado no banco. Nada procurava, nada perguntava, nada vendia. Percebi que das casas que estavam em frente ao lugar onde eu sentara,  algumas pessoas olhavam de maneira dissimulada. Aproveitei o banco e trouxe a mala com as coisas que usaria no show, queria conferir se tudo estava certo. Foi quando uma mulher, do outro lado, varrendo a calçada perguntou de lá:
-O senhor é vendedor de relógios?
-Não
-Pensei que fosse! Vende o quê?
-Sonhos, alegrias, momentos felizes!
Fez uma cara de espanto e falou:
-Agora pronto. Quem já viu vender umas coisas dessas!
A conversa parou por ali mesmo. Retornei a mala ao carro e voltei com um livro, queria aproveitar aquela amanhã e ler até a hora da minha apresentação na escola. 

Aquela paz só foi interrompida quando chegou um senhor usando chapéu de couro, sentou-se ao meu lado e de forma muito carismática fez a saudação:
-Bom dia!
Não foi um bom dia rápido, ele fez questão de demorar  na segunda palavra: "Bom diaaaaaaaaaaaaa!"
Respondi na mesma alegria. Conversamos e em poucos instantes  já percebi que ele dava notícias de tudo e de todos. 
-Tá vendo aquela moça? Pois  antonte ( antes de ontem)  dois cabras numa moto perseguiram ela de Santa Cruz até aqui perto para assaltar e tomar a moto dela. Pensa que conseguiram? Não! Ela é uma danada de corajosa. Acelerou e deixou os cabras comendo fumaça.
Eu só confirmei com a cabeça.
Ele me mostrou um pedaço de charque que veio buscar para a esposa temperar o feijão. Mas pelo jeito, provavelmente não seria o feijão do  próximo almoço. Não demonstrava nenhuma pressa em seguir seu destino. Contou-me a história em que perdeu dois porcos para um falso comprador que prometeu pagá-lo na feira de Santa Cruz. 
-Caí na conversa daquele safado, viu? Também o cara era vistoso. Carrão, bem vestido, conversa bonita, dizendo que conhecia o marchante daqui, fulano e sicrano. Quando eu cheguei em Santa Cruz e procurei por ele, nem o rastro existia. Levou meus porcos aquele filho de uma égua!
Finalmente ele se despediu! Estava chegando  a hora, desci para a escola. Os alunos se concentraram, os professores curiosos e atentos. Falei de mim, do que faço e dei a eles o meu melhor: distribui motivos para sonhar e dos meus lábios saíram palavras que as motivaram rir. Foi uma manhã inesquecível em São Bento do Traíri, um lugar que não precisa ter motivos ou negócios para ir.