quinta-feira, 12 de março de 2020

HOJE É O DIA DO BIBLIOTECÁRIO





Para você que conhece a estrutura do livro,
Que trata dele com tanto carinho.
Que endereça e lhe dá um lugar nas estantes.
Que codifica e vigia.
Para você que sabe fazer um trabalho tão lindo
e merecedor de todos os aplausos,
Receba minha gratidão neste Dia do Bibliotecário.
Que todos os vilões dos romances, das novelas,
dos contos estejam ao seu lado, não para fazer o mal,
mas para agradecer por não ter deixado as traças os 
devorarem (Como são frágeis!).
Que os heróis, os mitológicos, enfim, os habitantes da 
biblioteca tragam o livro da felicidade e nele escreva
o seu nome.

Parabéns!

Francisco Martins
12 março 2020

segunda-feira, 9 de março de 2020

O CÂNTICO DA TERRA - JOSÉ BEZERRA GOMES

Nunca percorri as cinco partes do mundo:
Oropa, França e Bahia,
Mas vi os retirantes da minha terra
Nas longas caminhadas das grandes secas
Como se fossem os sobreviventes
De todos os cataclismos.

Nunca vi o espetáculo das belas  cataratas do mundo
Mas vi os rios da minha terra
Correndo nas grandes cheias
Com a violência das correntezas
Que nunca foram navegadas.

Nunca vi as grandes Orquestras Sinfônicas
Regidas pelos grandes maestros internacionais
Mas escutei o toque dos cegos das feiras nordestinas
Como se uma lágrima estivesse rolando na face
De todos os cegos do mundo.

Nota: José Bezerra Gomes - poeta natural de Currais Novos, nasceu em 9 de março de 1911 e faleceu no dia 25 de maio de 1982, aos 71 anos.
 

domingo, 8 de março de 2020

PLISSA-SE


Plissa-se


Em tempos chuvosos - raios de sol na gola

Em dias quentes – gotas de orvalhos.

Nos funerais – costura-se  solidariedade

Nos nascimentos – plissa-se  as fraldas com temas de felicidades.

Na vida, em todas as suas fases,  arremata-se o ponto da existência.



Obs: às mulheres, costureiras na máquina da vida, nas mais variadas formas de atividades profissionais.


Francisco Martins

08 março 2020

sexta-feira, 6 de março de 2020

UM POEMA ATRASADO PARA BENARDINA


UM POEMA ATRASADO PARA BENARDINA 

Benardina que tanto viveu
Que foi popular
Santa Cruz lhe esqueceu.
Maria também é seu nome
Sem altar, sem vela, sem ninguém pra chorar.
Conceição,  concebeu? Quem lhe amou tanto ou quantos lhe amaram em vida?
Ah! Benardina Maria da Conceição -  você é história encarnada - perdida no leito do Rio Inharé.
Viveu tanto!
Levou consigo muitos segredos
Trago hoje - com 65 anos de atraso da sua partida 
Esse poema sem flores,
Sim ele é seu, como foram os 41.245 dias da sua existência.

Francisco Martins
06 março 2020

Observação: A notícia acima foi publicada no jornal O POTI, edição do dia 5 de  abril de 1955.



quinta-feira, 5 de março de 2020

O ENGMÁTICO JOSÉ MAURO DE VASCONCELOS

Luizinho tocou o telefone prá mim e anunciou:
-Sabe quem chega hoje?
-Quem?
-O Zé Mauro de Vasconcelos!
-Não é possível!
Então combinamos que iríamos recebê-lo em Parnamirim e depois comeríamos um peixe em regozijo pelo acontecimento.
Às cinco e meia da tarde, de ontem, partíamos do Grande Ponto, em companhia do Capitão-Tenente Melo e Souza, filho do famoso escritor Malba Tahan e de Lenine Pinto atrasando a viagem para comprar um cachorro quente, em cada esquina.
O Jose Mauro saltou do avião mais gordo do que nunca e com a mesma calma, reclamando a viagem direta de São Paulo a Natal. A bagagem do escritor era tão grande que não cabia  no Austin do Capital Melo e Souza. Fiquei pensando:  Quem era o Zé Mauro ...Que eu conheci no Rio de Janeiro,  brincando sozinho, em plena Avenida Rio Branco, de procurar alfinetes.
Afinal, viemos para a cidade. Zé Mauro contanto  as novidades do sul e Luizinho informando as novidades da terra. O romancista de "Barro Banco" informa que já está na editora para ser lançado o seu novo romance "Arraia de Fogo", que continua o ciclo da selva iniciado com "Banana Brava" e cujo último livro lançado foi "Arara Vermelha". É o mesmo tema do heroísmo anônimo da vida na selva, em contato direto  com os elementos e resistindo  à fome, à sede,  às doenças, aos bichos e aos índios não civilizados.
Apesar dos sucessos dos seus romances, acredito que a obra de José Mauro de Vasconcelos terá no futuro uma importância muito maior. Ele será ainda descoberto pela crítica nacional.  Pouquíssimos escritores teem a sua disposição para se internar na selva a-dentro , estudando seus problemas e a existência dos selvícolas,  para escrever romances.
Atualmente ele foi convidado para escrever um livro sobre a Bahia. Já tem tudo planejado e dentro de poucos dias seguirá para Salvador, onde vai iniciar o seu trabalho. Todavia, quis rever a terra, os parentes e amigos.Aproveitou a viagem e  em lugar de saltar em Salvador resolveu vir até Natal.
Por tudo isso Luiz. G.M Bezerra ofereceu a Zé Mauro, ontem, em pleno Beco da Lama, um pitoresco jantar, servido no Restaurante Pérola, mas fora daquele corredor, no meio da rua mesmo. O Zé mauro estava meio triste  porque anunciara-se que havia discurso...Mas,  terminada a refeição, e antes que os oradores se manifestassem , surgiu um daqueles bêbados crônicos do Beco da Lama e fez saudação por todos nós.
Ao terminar o bêbado o seu discurso, com um porção de termos franceses pelo meio, Zé Mauro ofereceu-lhe um copo de cerveja, que era a bebida que tinha na mesa.  Mas este cronista, que conhece muito bem o bêbado de vista e sabe de suas preferências alcoólicas, declarou:
-Isso faz mal a ele
E, exatamente, ao receber o copo de cerveja, o bêbado informou, categoricamente:
Não bebo isso porque me faz mal.

Veríssimo de Melo

Jornal " O Poti" -  Ano I, edição 176,  data: 6 de março de 1955 - Coluna Crônica Social.

quarta-feira, 4 de março de 2020

AS 15 VESTIBULANDAS DA FACULDADE DE DIREITO




Próximo da semana em que se celebra o Dia Internacional da Mulher, 8 de março,  eu quero trazer aos leitores os nomes de 15 mulheres jovens que disputaram em igualdade com os homens, as vagas na primeira turma da Faculdade de Direito de Natal, no longínquo  mês de fevereiro do ano de 1955.  Vamos à lista:

1) Ivone Mesquita
2) Anna Maria Freire Cascudo
3) Genalda de Paula Cabral
5) Zila da Costa Mamede
6) Francisca Teixeira Borba
7) Terezinha de Azevedo Câmara
8) Eloisa Freire de Oliveira
9) Anilda Cavalcanti Marinho
10) Déa Maria de Souza Rodrigues
11) Terezinha de Almeida Galvão
12) Zélia Madruga
13) Aila Rodrigues
14) Cleide Miriam Wanderley
15) Moema Paiva Ferreira de Souza 

As provas  foram realizadas no período de 1  a 28 de fevereiro de 1955. 

Ao todo, concorreram 99 estudantes para a formação da primeira turma de Direito do Rio Grande do Norte. O resultado  foi publicado pelo  "O Poti" em 1 de março de 1955, com os seguintes nomes:
 1) Anna Maria Cascudo - 7,6
2) Antonio Emerenciano Sobrinho - 5,0
3) Anilda Cavalcanti Marinho - 6,7
4) Arnaldo Azevedo - 7,6
5) Artur Luiz - 5,3
6) Déa Maria Rodrigues -  6,5
7) Eider Furtado de Mendonça - 6,2
8) Elmo Pignataro - 6,3
9) Emilson Santos Lima - 5,2
10) Enélio Petrovich - 5,4
11) Ernani Alves da Sulveira - 7,2
12) Francisco Berilo Wanderley - 5,5
13) Francisco Dantas Guedes - 6,2
14) Francisco de Assis Teixeira - 7,4
15) George Geneide Erbano Pereira - 5,4
16) Tenório de Noronha - 7,3
17) Geraldo Guedes  Dantas - 5,1
18) Geraldo Macedo - 5,1
19) Ivan Maciel de Andrade - 6,3
20) Ivone Mesquita - 6,3
21) Jaime Revoredo - 5,2
22) Jaime Hipólito Dantas - 6,3
23) Jaldir Santos Lima - 5,7
24) João Damasceno Oliveira - 7,0
25) José França Monte - 5,2
26) Luciano Alves Nóbrega - 5,4
27) Nildo João Matias Alff - 5,5
28) Pedro Cortez de Amorim - 7,9
29) Pedro Martins Mendes - 7,0
30) Reginaldo Teófilo - 5,4
31) Rinaldo Lisboa Calheiros - 5,5
32) Terezinha Almeida Galvão - 6,0
33) Zélia Madruga - 6,0
34) Zila  da Costa Mamede - 6,7

Ao compararmos as duas listagens percebemos que 46,66% da primeira lista tiveram êxito, foram as vitoriosas. É importante lembrar esses nomes e trazer ao público. Das mulheres acima eu convivi com Anna Maria Cascudo e conheço, sem ter laços de amizade, Zélia Madruga.
Anna Maria Cascudo em 1959


Francisco Martins
04 de março 2020


Fontes:
O Poti - Edição nº 164, de 19 fevereiro de 1955.
______ - Edição nº  169, de 27 fevereiro 1955.
______ - Edição nº 170, de 1 março 1955. 
A República -  14 de outubro de 1959.



terça-feira, 3 de março de 2020

CONSELHO ESTADUAL DE CULTURA DO RN PRESTOU HOMENAGEM A JOSÉ MAURO DE VASCONCELOS

O Conselho Estadual de Cultura do Rio Grande do Norte, em Sessão Plenária realizada na tarde de 03 de março de 2020, às 16 h, em sua sede, situada à Rua Mipibu, nº 443, bairro Petrópolis, em Natal-RN, prestou homenagem ao escritor José Mauro de Vasconcelos, por ocasião  do seu centenário de nascimento.

Na oportunidade, o escritor Francisco Martins, pesquisador da vida e obra de José Mauro, montou uma mesa com os livros que foram publicados pelo autor homenageado. Durante a sessão, o Conselheiro Presidente Iaperi Araújo  falou sobre José Mauro e Francisco Martins respondeu algumas perguntas que foram feitas pelos Conselheiros. Desta forma, o CEC/RN registra em suas atas a lembrança de José Mauro de Vasconcelos, que viveu em Natal parte da sua infância e adolescência. Estiveram presentes: Iaperi Soares de Araújo, Paulo de Tarso Correia de Melo, Eulália Duarte Barros, Cícero Martins, Sônia Faustino, Valério Mesquita, Ormuz Barbalho e Diogenes da Cunha Lima.

MANOEL DANTAS SERÁ TEMA DE PALESTRA NO IHGRN


segunda-feira, 2 de março de 2020

CRÔNICAS DA GRATIDÃO - LEMBRANÇA II - A CASA DE OTTO GUERRA

Eu estava  com 18 anos quando me encantei com aquele  castelo e o tesouro que nele havia.  Nunca imaginei em minha vida que alguém pudesse ser tão rico  como ele.  Fiquei parado naquela janela, admirando o mundo que existia ali dentro, até esqueci de chamar  a pessoa e pedir a encomenda que tinha ido buscar.
Professor Otto Guerra
 Lembro o dia da semana e o ano, uma quinta-feira à tarde de 1982. O endereço também nunca esqueci: Rua Coronel José Pinto, nº 277,  Cidade Alta. Naquele ano eu trabalhava como Assessor  de Imprensa da Arquidiocese de Natal - no Gabinete do Arcebispo Metropolitano - Dom Nivaldo Monte. Entre meus afazeres estava a responsabilidade de escrever e editar o Boletim Informativo da Arquidiocese de Natal que circulava de forma gratuita pelas paróquias, levando as notícias principais da Igreja local. A última página do B.I era reservada para o Editorial, que na maioria das vezes tinha como autor o Professor Otto de Brito Guerra. Recebi a incumbência de ir pessoalmente à casa do Professor Otto Guerra e pegar o editorial. Caminhei da Praça Pio X até a casa dele. Cheguei, abri o pequeno portão de ferro e fui à janela, ia bater palmas e chamar pelo Professor Otto Guerra, quando fui surpreendido com aquela visão da biblioteca. Nunca tinha visto nada igual dentro de uma residência. Muitas estantes, todas repletas de livros. Fiquei em êxtase! Aquela pequena janela, gradeada, serviu de moldura para o quadro mais lindo que até então meus olhos contemplaram. Como senti vontade de viver ali, de fazer parte daquele espaço. 
Francisco Martins e a casa de Otto Guerra
Quando dei por mim vi que o Professor Otto Guerra estava do outro lado da janela, olhando para mim e perguntando o que queria. Fiquei todo perdido. Embaraçado  ainda perguntei se ele realmente morava ali. "Sim - esta é a minha casa. Quem é você?". Disse ser o rapaz que veio buscar o Editorial para o B.I. Ele foi até a máquina de escrever e trouxe o texto. Saí dali  pensando no tesouro que tinha o Professor Otto de Brito Guerra. Aquele dia foi inesquecível, conheci um homem que amava os livros de forma intensa, que dava prioridade a eles em sua casa. Como fiquei grato em ter voltado muitas vezes àquela casa.


Hoje, depois de tantos anos, a casa é a sede do Instituto Otto Guerra. Os livros continuam lá. Otto com certeza está no Céu, deliciando-se com todos os livros que não leu na sua existência terrena e também  lendo os que ainda serão escritos. Tomara que ele leia esta crônica.

Francisco Martins
Parnamirim-RN - 02 de março 2020

domingo, 1 de março de 2020

TUNEL DO TEMPO - QUANDO EU ERA ASSESSOR DE IMPRENSA



Fonte:  Diário de Natal - 23 dezembro 1983


A POESIA CINTILANTE DA MULHER POTIGUAR




As Mediadoras de Leitura da Secretaria Municipal de Educação e Cultura de Parnamirim terão a primeira formação do ano com um encontro, que atenderá os dois turnos, matutino e vespertino. Em ambos estarão presentes as escritoras Ana Claúdia Trigueiro, Andréia Braz, Ana Catarina Fernandes, Carla Alves e Juscely Confessor.

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2020

NINHO DE AMOR


Olha só minha veinha
O dia já clareou
Bem-te-vi canta lá fora
Avisando que chegou
E nós dois aqui juntinhos
Somos também passarinhos
Lembrando do que passou.

Mané Beradeiro
27 fevereiro 2020

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

MÚSICA E POESIA POTIGUAR


UM CENTENÁRIO A SER COMEMORADO AO LONGO DE 2020

Hoje, 26 de fevereiro de 2020 é a data que assinala o centenário do nascimento do escritor José Mauro de Vasconcelos,  autor de mais de vinte livros, conhecido não apenas no Brasil, mas também em diversos países. O seu livro mais conhecido é sucesso de vendas desde 1968:  "O Meu Pé de Laranja Lima" continua emocionando leitores das mais variadas idades.
 Queremos nesta quarta-feira elevar nossa voz e parabenizar José Mauro de Vasconcelos, agradecendo a Deus por ter permito a sua existência entre nós e perpetuado os seus livros presentes em inúmeras casas, onde moram  pessoas que são apaixonadas por José Mauro de Vasconcelos.

 Aqui no Rio Grande do Norte - mais precisamente em Natal, o centenário deste escritor será bem lembrando ao longo de 2020. Não agendamos nada para esta semana, por causa da festa do carnaval.  Teremos sessões especiais na Câmara dos Vereadores, na Assembleia Legislativa, na Academia Norte-Rio-Grandense de Letras e no Conselho Estadual de Cultura, além de escolas de Parnamirim.

Se depender dos admiradores de José Mauro de Vasconcelos ele vai continuar vivendo conosco, através dos seus livros e personagens. No segundo semestre de 2020 será lançada a biografia escrita por Evanildo Fernandes, o maior pesquisador e colecionador sobre o tema.


 Antes, o poeta Mané Beradeiro estará disponibilizando o folheto em poema de cordel, que homenageia José Mauro de Vasconcelos.

LITERATURA E CARNAVAL


Desde seu início até há bem pouco tempo, uma das características de nosso carnaval, foi a sua ligação com a literatura. Mascarados distribuiam versinhos geralmente de pés quebrados, os clubes carnavalescos jogavam para o povo sonetos e quadras. e alguns jornais, como "O País" em 1888, noticiavam o carnaval em quadrinhas:

" Para fugir à rotina
Para dar mais cor local
Noticiamos em quadrinhas
As festas de Carnaval".
Em minha "História do Carnaval Carioca" que a Civilização Brasileira lançará ainda este ano, dediquei um capítulo à literatura de Carnaval, apresentando não apenas essa - digamos assim - literatura avulsa, mas o papel que muitos escritores tiveram em passados carnavais.
Poetas fizeram os chamados "pufes" para as grandes sociedades. Os "pufes" eram os anuncios em versos das sociedades carnavalescas ou ainda a descrição de seus carros alegóricos. Infelizmente não se pode precisar, com segurança, quais os autores de todos os "pufes" porque os clubes principais - Tenentes, Fenianos e Democráticos não possuem aquivos. Mas assim mesmo colhendo informações pessoais de velhos carnavalescos se chega a saber que Olavo Bilac foi um grande fazedor de "pufes" dos Fenianos (Bilac era um Feniano fiel) e, mais próximo de nós. Atílio Milano era quem fazia o dos Tenentes.
Os escritores brasileiros, desde os primeiros passos do carnaval carioca, muito se tem ocupado, participado e muitas vezes tomado papel saliente na festa máxima de nosso povo.

ALENCAR E MACHADO DE ASSIS

Quem foi maior carnavalesco, mais apaixonado pelo Carnaval do que José de Alencar? Seus folhetins publicados pelo "Correio Mercantil" de 1854-1855, estão marcados pelo seu amor aos folguedos de Momo.
"O Carnaval escreve José de Alencar em 1855 - enquanto ele está longe, enquanto ele não vem transtornar o juízo com os seus momos grotescos e suas voluptuosas bacantes, aproveitemos a ocasião e falemos a seu respeito"... e lança a notícia que tanto o alegra alegrando os carnavalescos de sua época: as "Sumidades Carnavalescas" a primeira grande sociedade aparecida nesta cidade e a quem muito deve nosso carnaval, da qual era ele diretor, sairia nesse ano à rua, numa "grande promenade". Em 25 de fevereiro desse ano, J. A. contará em crônica o carnaval que passou: "Nesses três dias de frenesi e delírio, a razão fugiu espavorida, e a loucura, qual novo Masaniello empunhou o cetro da realeza. Ninguém escapou ao prestígio fascinador desse demônio irresistível: cabeças louras, grisalhas, encanecidas, tudo cedeu à tentação". E descreve com entusiasmo carnavalesco as festas em que tomara parte.

Em 1889, em suas crônicas intituladas "Bom dia", publicadas na "Gazeta de Notícias" e hoje reunidas em volume por Magalhães Junior, sob o título "Diálogo e reflexões de um relojoeiro", encontramos Machado de Assis comentando nosso carnaval e carnavalescos; em 1896 e seguintes, lá está Artur de Azevedo, um tremendo anti-carnavalesco, sempre a vociferar na sua celebre seção sob a assinatura de Gavroche. Dizia ele:

"Ei-lo
Hoje à noite, ó Deus santíssimo
Principia o Carnaval
Quem me dera a cem quilômetros
Da Capital Federal"

BILAC E JOÃO DO RIO
Mas se Artur de Azevedo estava sempre pronto a atacar o Carnaval, outros havia como Bilac e João do Rio que estiveram na primeira fila dos que colaboravam eficientemente pelo esplendor da nossa maior festa popular. Qual a melhor definição de ser carnavalesco do que a de Olavo Bilac publicada numa crônica de "O País" num domingo, 10 de fevereiro de 1907 e depois reproduzida em seu livro "Ironia e Piedade"?
"São uma gente à parte, quase uma raça distinta das outras. Os que amam o carnaval, como amam todas as festas, não são dignos do nome carnavalescos. O carnavalesco é um homem que nasceu para o Carnaval, que vive para o Carnaval, que conta os anos de vida pelos carnavais que tem atravessado, e que, na hora da morte, só tem uma tristeza: a de sair da vida sem gozar os carnavais incontáveis, que ainda se hão de suceder pelos séculos sem fim.
"Que se hão de suceder no Rio de Janeiro, escrevi eu. Porque o verdadeiro, o legítimo, o autêntico, o único tipo de carnavalesco real é o carnavalesco do Rio. A espécie é nossa, unicamente nossa, essencialmente e exclusivamente carioca: só o Rio de Janeiro, com seus carnavais maravilhosos, delirantes e inconfundivéis, possuem o verdadeiro carnavalesco".
É também de Bilac outra crônica que aparece no mencionado livro, constituindo hoje um delicioso flagrante do carnaval de sua época... "Ponham ali na rua do Ouvidor o mais sisudo de todos os homens sisudos, cerquem-no de uma dúzia de moças alegres que o cubram de confete e o inundem a bisnagadas e, se daí a uma hora o sisudo não estiver com a sobrecasaca esfrangalhada e a cartola, amolgada, empenhado com amor e delírio nas mais violentas refregas - então duvidem do poder do carnaval e creiam na fortaleza de ânimo de um Conselheiro Acacio".
Outro fervoroso animador do Carnaval carioca foi João do Rio, o grande cronista desta cidade, tão grande que até hoje nenhum outro conseguiu trazer, para o povo, como ele o fez, o dia-a-dia, os pequeninos e grandes problemas, os sonhos ou as aspirações da cidade, de sua vida. Há páginas de João do Rio que são verdadeiras obras primas como aquela intitulada "Cordões" publicada primeiro na "Gazeta de Notícias" e depois no seu "Alma encantadora das ruas".

ANTOLOGIA DO CARNAVAL

Em 1945, Wilson Louzada organizou uma "Antologia do Carnaval" editada pela gráfica "O Cruzeiro", reunindo páginas de grandes prosadores brasileiros sobre o Carnaval. Se bem que essa antologia não seja completa, e que melhor seria se apresentasse somente os escritores que escreveram sobre o carnaval carioca, eis a relação organizada por W. Louzada:
Manuel Antonio de Almeida - Machado de Assis - Vieira Fazenda - Artur Azevedo - João Ribeiro - Coelho Neto - Olavo Bilac - Graça Aranha - Luiz Edmundo - João do Rio - Lima Barreto - Melo Morais Filho - Mario Sete - Alvaro Moreyra - Carlos Chiacchio - José do Patrocínio Filho - Graciliano Ramos - Aníbal Machado - Ribeiro Couto - Dante Milano - Antonio de Alcantara Machado - Jorge de Lima - José Lins do Rêgo - Adalgisa Neri - Marques Rebelo - Raimundo Magalhães Junior - Francisco Inácio Peixoto - Rivadávia de Souza - Roberto Macedo - Raquel Crotman - Dante Costa - Jorge Amado - Lucio Cardoso - Rubem Braga.
Mas é muito maior a contribuição dos escritores não apenas em páginas de ficção como em estudos, Aníbal Machado, por exemplo - autor de um belíssimo conto intitulado " A morte da porta-estandarte" tem também um ensaio sócio-literário sobre o Carnaval que foi publicado pela extinta "Revista Acadêmica" e irradiada pelo rádio Roquete Pinto.
Além dos escritores arrolados por Wilson Louzada para sua Antologia - que bem merecia uma segunda edição - escreveram em prosa sobre o carnaval: (ordem alfabética) Afonso Arinos - Artur Azevedo - Augusto Frederico Schmidt - Barão do Rio Branco - Carlos Drummond de Andrade - Di Cavalcanti - Elsie Lessa - Gastão Cruls - Gonzaga Duque - Humberto de Campos - José Veríssimo - Lucia Benediti - Mario Pederneiras - Mucio Leão - Murilo Mendes - Orígenes Lessa - Paschoal Carlos Magno - Ribeiro Couto.
Escreveram sobre o Carnaval analisando-o histórica ou sociologicamente: (ordem alfabética) Gilberto Freyre - Melo Morais Filho - Roger Bastide - Roberto Macedo - Tristão da Cunha - Vieira Fazenda e muitos folcloristas: Edison Carneiro - Luiz da Câmara Cascudo - Mariza Lira - Renato de Almeida.

OS POETAS E O CARNAVAL

Escreveram poemas, sonetos, versos livres sobre o carnaval: Alvaro Moreyra - Augusto Frederico Schmidt - Augusto dos Anjos - Ascenço Ferreira - Bastos Tigre - Carlos Drummond de Andrade - Da Costa e Silva - Eduardo Guimarães - Emílio Moura - Epítecto Fontes - Gilka Machado - Guilherme de Almeida - Hermes de Andrade - Manuel Bandeira - Murilo Araújo - Olavo Bilac - Onestaldo de Pennaforte - Oswaldo de Andrade - Oliveira e Silva - Ribeiro Couto e Vinícius de Moraes.
Naturalmente essa relação não é ainda completa, pois o número de nossos prosadores e poetas escrevendo sobre Carnaval, aumenta dia a dia. Carlos Drummond de Andrade - outro exemplo - tem uma série de crônicas ( C. D. A, do "Correio da Manhã" sobre o carnaval da rua Joaquim Nabuco e ano passado Rachel de Queiroz publicou na revista "O Cruzeiro" um delicioso "Caso de Carnaval".

Em muitos romances - Graça Aranha, Gastão Cruls, etc, aparecem capítulos dedicados ao carnaval, assim como há muitos contos, de vários autores descrevendo a festa máxima do povo carioca.

SALVE REI MOMO!

Compreende-se que isso aconteça. Seria impossível aos prosadores e poetas brasileiros, principalmente os cariocas ou os aqui residentes, não participarem da festa do povo, aquele que atinge todas as camadas, a grande festa nivelada das classes sociais e a que dá a todos o direito de cantar alto, de rir, pular e sambar mesmo quando - e isto sempre acontece - contra essa alegria se levantam os grandes inimigos do Carnaval, a polícia, a chuva, os saudosistas.

Pretendo logo depois do aparecimento da "História do Carnaval carioca" publicar uma antologia da poesia carnavalesca e espero que a de Wilson Louzada reapareça em breve aumentada.

É sempre bom sentir que os intelectuais e o povo façam um só todo para saudar Momo, o único soberano que jamais será destronado nesta cidade.

  Reportagem de ENEIDA, publicada na Revista Leitura - edição de fevereiro de 1958.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020

CRÔNICAS DA GRATIDÃO - LEMBRANÇA I – A GARAGEM


Pede o meu coração para começar a escrever uma nova série de crônicas. Pede não, ordena, pois o coração é senhor na nossa existência. Já  escrevi “Crônicas Sensoriais” que tratam da minha infância, “Crônicas da Saudade” que registram meu tempo de seminarista e agora vou lembrar de pessoas que foram tão especiais em minha vida, vou chamar este conjunto de Crônicas da Gratidão.




Começo pelo casal Rivadávia Pereira  Pacheco e Idalina Correia Pacheco. Eles moravam na Rua Boa Ventura de Sá, Centro de Ceará-Mirim-RN. Por algum período os meus pais moraram em frente, eu era criança, tinha  meus nove anos. Ele já estava na casa dos sessenta e um anos e ela cinquenta e cinco. Eu percebi que quando eles saiam de carro e voltavam Dona Idalina sempre descia para abrir a garagem. Um dia eu tomei a iniciativa  de abrir, tão logo eles chegaram. Não esperei ela descer, corri, atravessei a rua e puxei o ferrolho que trancava o portão da garagem. Um gesto tão simples, que me rendeu um sorriso do casal.

Dali em diante eu sempre ficava alerta. Algumas semanas depois,  Doutor Rivadávia e Dona Idalina um dia chegaram com um presente para mim, um livro infantil, grande e colorido. Nossa,  como fiquei feliz! Agradeci e fui mostrar  a mamãe.

─ Por que eles lhe deram o livro?

─ Porque eu sempre abro o portão da garagem quando eles chegam.

─ Agradeceu?

─ Sim

Não sei dizer com exatidão qual foi a data e o dia que isso aconteceu, pois a minh’alma não teve a preocupação de registrar a efemeridade do tempo, guardou no entanto a essência do gesto daquele casal que se preocupou em presentear uma criança com um livro.  Isso eu nunca esqueci.

No dia seguinte, na escola, eu mostrei aos meus colegas o que tinha ganhado do Dr. Rivadávia e Dona Idalina.  Olhares diversos, várias mãos e muitas bocas viam, tocavam e perguntavam o que eu era deles.

Com um sorriso eu respondia:

─ Sou amigo!

Quanta prepotência minha, espalhar que era amigo de duas pessoas tão nobres e conhecidas na cidade. O certo é que tive o carinho deles. Recebi incentivo para ser leitor que mais tarde, bem mais tarde, aos quarenta anos chegava ao patamar de escritor. Não tenho nenhuma dúvida que eles contribuíram para isso.

 Dona Idalina viveu 74 anos (1918-1992), Doutor Rivadávia foi mais longevo, partiu 13 anos depois da sua esposa. Estava com 93 anos.
Ouso pensar que o fato de Dona Idalina ter partido antes do seu esposo teve um objetivo, ela ficou na porta do Céu aguardando a chegada dele. "Muitos anos esperando!" Pode pensar o leitor, mas do outro lado, na eternidade não existe tempo. E some-se a isto o fato de que o amor é a única virtude que consegue  nos acompanhar na passagem.
Hoje, a garagem da vida continua abrindo e fechando o portão da existência, tomara que haja  nestes lugares a presença de pessoas tão bondosas quanto o casal que eu tive a felicidade de conhecer. 


Francisco Martins – 22 de fevereiro de 2020.