quinta-feira, 2 de abril de 2020

OS XILÓGRAFOS DO RIO GRANDE DO NORTE EM 1999 - DORIAN GRAY

Wodem Madruga
Wodem Madruga, quando Diretor Geral da Fundação José Augusto, escreveu:  "A riqueza da poética  norte-rio-grandense foi a grande motivadora para que, em 1995, fosse criado o Projeto Chico Traíra - fazendo justiça a um grande número de poetas populares até então desconhecidos do universo poético  potiguar. Através de ampla convocação os poetas trazem seus cordéis que, selecionados por uma Comissão, são editados e recebem as tradicionais capas, com xilogravuras de nossos artistas, que colaboram com um gesto de parceria voluntária".


DORIAN GRAY Caldas também deixou sua marca no álbum de xilogravuras - Projeto Chico Traíra 1999. 
Nascido em Natal, na avenida Deodoro, em 16 fevereiro de 1930. DORIAN GRAY foi um artista múltiplo: pintor, tapeceiro, escultor, gravador, poeta, ensaísta, jornalista, professor, ilustrador. Faleceu em 23 de janeiro de 2017,  bem próximo dos 87 anos.
A participação de DORIAN GRAY  foi destinada aos folhetos do poetas João Gomes Sobrinho (Xexéu)  e Roque José de Medeiros. Vejamos as xilogravuras:
Capa para o folheto "A Flor da Mangueira Rosa" - Xexéu

Capa para o folheto: "O Pensamento Vivo de Nóia" - Roque José de Medeiros


 Daremos continuidade amanha com  Emmanoel Duarte.

Mané Beradeiro
02 abril 2020

quarta-feira, 1 de abril de 2020

ANOTAÇÕES SOBRE A HISTÓRIA DA REVISTA DA ANRL - PARTE I

 "A ANRL apresenta hoje ao povo do Estado o primeiro número da sua Revista, que é órgão de imprensa destinado a afirmar a sua existência nos domínios das letras potiguares"

 Nestor Lima

 
Capa da Revista nº 01

 Não há dentro do Rio Grande do Norte nenhuma revista cultural que tenha a longevidade e  periodicidade da que é impressa pela Academia Norte-Rio-Grandense de Letras - ANRL. O primeiro nº veio em 1951, na gestão de Paulo Viveiros, sendo Diretor da Revista o Acadêmico Nestor Lima. Possivelmente lançada entre setembro a dezembro daquele ano (Veja nota abaixo). Breve estaremos comemorando 70 anos da sua criação.



Somente quem está à frente da editoração de uma revista sabe as dificuldades que enfrenta. São muitas. Desde a garimpagem de material por parte dos escritores, recursos financeiros,  parcerias, etc.



Às vezes na linha da vida de uma revista existem lacunas. A revista da ANRL não foge à regra. Entre o número 1 e o 2 passou dos anos; do nº 4 ao 5, mais dois anos. Do nº 6 ao 7, sete anos sem nenhuma edição ( o maior espaço sem publicação), do nº 36 ao 37, cinco anos. Foi  com o nº 38 (janeiro/março- 2014) que a revista se equilibrou nos trilhos e manteve sua periodicidade  trimestral. Tudo isso tem o suor e a dedicação dos Presidentes da ANRL e dos Diretores da Revista ( isso já é pauta para breve artigo).




Sobre ela já escreveram  Armando Negreiros dedicando-lhe várias páginas no livro "Na Companhia dos Imortais" ( Natal/RN: A.S Editores, 2003), páginas 17 a 43. Leide Câmara, em seu livro " Memória Acadêmica" ( Natal/RN: EditoraIFRN, 2017),  tratou sobre o assunto, nas páginas 629 a 647, dando ênfase às edições, com todas as capas do nº 1 ao 53.

 



O próprio autor desse artigo, teve a iniciativa de  organizar o livro artesanal, " Autores e Assuntos na Revista da ANRL - 1951 a 2018" (Natal/RN: Carolina Cartonera, 2018), com apoio da ANRL,  no qual consta os nomes, artigos, gêneros, número da revista e páginas, de todos aqueles que escreveram  até dezembro de 2018. É um livro de referência, indispensável àqueles que desejam pesquisar sobre o assunto.
 

LINHA DO TEMPO DA REVISTA DA ANRL



nº 01 - ? - 1951 (Esse número foi lançado depois de agosto de 1951, pois o jornal "A Ordem", edição do dia 31 agosto 1951, noticia que brevemente será lançado o primeiro número da revista).



nº 02 - ? - 1954 ( Lançado no dia 16 novembro 1954, por ocasião dos 18 anos de fundação da ANRL,   comemorado na Escola Doméstica de Natal, tendo a presença do escritor  Garcia Vinholas (Espanha). Jornal "O Poti", 9 novembro 1954).

nº 03 - ? - 1955 ( Lançada dia 14 novembro 1955 - jornal "O Poti", 22 outubro 1955).

nº 04 - ? - 1956 (Começou a circular apenas na primeira quinzena de fevereiro de 1957, conforme notícia em "O Poti", edição do dia 1 de fevereiro de 1957).



nº 05 - ? - 1959 (Na edição de 14 outubro 1959, do jornal "Diário de Natal",  o jornalista Danilo ( Aderbal de França) diz que edição está pronta, após um ano por problemas técnicos)



nº 06 - ? - 1960 (totalmente dedicada ao centenário  de nascimento do poeta Manuel Segundo Wanderley. Foi publicada provavelmente de maio em diante, pois no dia 6 de abril foi o encerramento das palestras em comemorações alusivas ao centenário de nascimento, dentro da  Semana de Segundo Wanderley. "O Poti", 13 março 1960).



nº 07 - 1968 (esse número compreende o espaço de 1949 a 1967 e foi impressa  e lançada no mês de janeiro de 1968 - Imprensa Universitária do RN.  Jornal "Diário de Natal - 19 janeiro 1968 - Coluna "Crônica Social" de Danilo).



nº 08 - maio - 1970  ( Lançada em 28 de maio  1970 - jornal "Diário de Natal" - 27 maio 1970)



nº 09 - ? - 1971 (impressa em fevereiro de 1974 - Imprensa Universitária do RN).



nº 10 - ? - 1972 



nº 11 - julho  - 1974  (lançada em 3 julho 1974 - jornal "Diário de Natal" - 02 julho 1974).



nº 12 -  novembro - 1976 (Lançada no dia 18 de novembro 1976. "O Poti" - edição do dia 21 novembro 1976, p, 9 - Academia comemora seus quarenta anos).



nº 13 - novembro 1977  (Lançada em 14 novembro 1977- jornal "Diário de Natal", 15 novembro 1977).



nº 14 - novembro 1978  (Lançada em 22 outubro 1979.  "Diário de Natal - Coluna Paulo Macedo - edição  20 outubro 1979).



nº 15 - novembro 1979/80 



nº 16 -  novembro 1980/81 (Foi lançada no dia 25 de março de 1982, patrocinada pelo Ministério da Educação e Cultura - Fundo Nacional do Desenvolvimento da Educação - Fonte:  Paulo Macedo - Diário de Natal - 25 de março de 1982) 



nº 17 -  janeiro/ novembro - 1982  (lançada dia 27 janeiro 1983 - Paulo Macedo - Diário de Natal - 28 janeiro 1983)



nº 18 -  janeiro/dezembro - 1983 (lançada dia 4 de maio 1984 - Paulo Macedo - Diário de Natal).



nº 19 -  ? - 1987  (lançada em 15 janeiro  1987 - Paulo Macedo - Diário de Natal).



nº 20 - março 1988

nº 21 - maio 1990

nº 22 - novembro 1990

nº 23 - setembro 1991

nº 24 - maio 1993

nº 25 - janeiro 1996

nº 26  - julho 1997

nº 27 - julho 1998

nº 28 - dezembro 1998

nº 29 - dezembro 1999

nº 30 - setembro 2000

nº 31 - janeiro/ junho 2001

nº 32 - julho/dezembro 2001

nº 33 - janeiro/junho 2002

nº 34 - julho 2005

nº 35 - dezembro 2005

nº 36 - outubro 2006

nº 37 - dezembro 2011

nº 38 - janeiro/março 2014

nº 39 - abril/junho 2014

nº 40 - julho/setembro 2014

nº 41 - outubro/dezembro 2014

nº 42 - janeiro/março 2015

nº 43 - abril/junho 2015

nº 44 - julho/setembro 2015

nº 45 - outubro/dezembro 2015

nº 46 - janeiro/março 2016

nº 47 - abril/junho 2016

nº 48 - julho/setembro 2016

nº 49 - outubro/dezembro 2016

nº 50 - janeiro/março 2017

nº 51 - abril/junho 2017

nº 52 - julho/setembro 2017

nº 53 - outubro/dezembro 2017

nº 54 - janeiro/março 2018

nº 55 - abril/junho  2018

nº 56 - julho/setembro 2018

nº 57 - outubro/dezembro 2018

nº 58 - janeiro/março 2019

nº 59 - abril/junho 2019

nº 60 - julho/setembro 2019

nº 62 - janeiro/março 2020
 

Francisco Martins

01 de abril 2020



OS XILÓGRAFOS DE 1999 NO RIO GRANDE DO NORTE - AUCIDES SALES

AUCIDES Bezerra SALES  é natural de Caraúbas-RN, tendo nascido em 8 dezembro de 1954. Além de gravador é professor em educação artística, escultor, pintor, escritor e promotor cultural. Aucides Sales também tem como bandeira a cultura indígena, fazendo pesquisa nesse campo. Reside em Natal.
 
 Teve duas participações no álbum de xilogravura da Fundação José Augusto, em 1999.  Para o folheto "Cidades do RGN e Bairros de Natal", da autoria de Barra Mansa e Caetano da Ingazeira (acima) e para o folheto " De Virgulino a Lampião", do autor Edísio Calixto.
Amanhã publicaremos a participação de Dorian Gray.

Mané Beradeiro
01 abril 2020

COMENTANDO MINHAS LEITURAS : LONGE DA TERRA

Um lugar que era dos índios Karajás, e o tori (homem branco) achou por bem "colonizar". Deram-lhe o nome de Leopoldina (Hoje é Aruanã). É nesse povoado que vai viver por quase três anos seguidos o jovem José Mauro de Vasconcelos. Fugindo das cidades grandes ele buscou a selva e com ela se identificou. O sangue de índio pinagé, que corria em suas veias, encontrou a paz e a felicidade diante da beleza que a natureza lhe apresentou. "Longe da Terra" é uma grande crônica, com lances de romance, uma mistura dos dois gêneros. Zé Mauro vai mostrar o quanto era pobre e pequenina Leopoldina. As chuvas que chegavam por lá e duravam oito meses; a indolência da população; os costumes dos Karajás, etc. Foi nessa estada que Zé Mauro garimpou material para escrever "Banana Brava".
"Um dia, se eu escrevesse um livro, Gregorão estaria dentro de um dos tipos principais" (p.67). É foi em Leopoldina que ele serviu como professor das crianças índias, de fez às vezes de "médico" à população, sendo chamado de "dotô". Chegou até a ser sacristão do Padre Gonçalo que chegou junto com ele e só aguentou quatro meses. "Longe da Terra" veio ao público em 1949, mas o que nele está narrado foi vivido nos anos de 1940/42. O jovem Zé Mauro vivia a vida em toda a sua intensidade e dela fazia parte as cenas de amor com Teluíra, índia karajá, nas areias do grande rio Araguaia, o Beé Rokan.
Sabe aquela história de que Zé Mauro estudou medicina? Pois é neste livro que ele deixa bem claro porque abandonou três anos do curso(p.164 a 173).
Aruanã precisa tomar conhecimento sobre este trabalho de Zé Mauro.
"Eu morrerei um dia e a vida continua" (p.187).

A capa do livro é de Jayme Cortez.

terça-feira, 31 de março de 2020

CACIMBA DE SÃO TOMÉ - 1ª IGREJA MATRIZ DE NATAL

Voltei com aquelas postagens sobre a história do RN. Chamo esta série Cacimba de São Tomé, de onde tiramos baldes com pequenos textos de poemas com cheiro de história.



HOUVE AQUI NESTE LOCAL
UM TEMPLO EDIFICADO
DESTRUÍDO POR HERÉTICOS
EM LONGO TEMPO PASSADO.
NO MESMO CANTO SURGIU
COM A FÉ QUE O POVO UNIU
OUTRO TEMPLO CONSAGRADO.


Mané Beradeiro

A Igreja Matriz de Nossa Senhora da Apresentação foi construída no início do século XVII. Durante o período holandês (1633 a 1654) ela foi totalmente destruída. No seu local foi edificado novo templo (1672 a 1694). A torre só foi anexada em 1862.

OS XILÓGRAFOS DE 1999 NO RIO GRANDE DO NORTE

Assis Trajano, Aucides Sales, Dorian Gray, Emmanoel Duarte, João Natal, João Viannei, Pedro Pereira, Emanoel Amaral e Goreth Medeiros  foram os nomes dos xilógrafos que participaram do  álbum de xilogravuras,  organizado  pela Fundação José Augusto, através do projeto  Chico Traíra. Isso foi em agosto de 1999, quando a Fundação tinha na gestão Wodem Coutinho Madruga.
 21 anos  faz que as goivas do tempo sangram a casca da árvore dessa história. Resolvi trazer aos meus leitores, os desenhos  que fazem parte desse álbum. Vamos começar com ASSIS TRAJANO.  Nesta exposição virtual teremos a oportunidade de não apenas conhecermos os gravadores daquele tempo, como também tomaremos conhecimento sobre os poetas cordelistas que participaram da Coleção Chico Traíra.

Francisco de ASSIS TRAJANO da Silva, natural de Ceará-Mirim-RN, nasceu em 9 de abril de 1973. Executa gravuras, desenho artístico, pintura em aquarela e em azulejo e, também, modelagem em papel machê. O trabalho acima ilustrou a capa do folheto: "Nos Cem Anos de Cascudo" - autor Cícero Nascimento.
Para o folheto " Conheça Natal revivendo a sua História" - autora Lindaluz Ximenes de Andrade, Assis Trajano gravou  um ângulo interno do Forte dos Reis Magos.

Amanhã publicaremos  Aucides Sales.

Mané Beradeiro
31 de março 2020

COMENTANDO MINHAS LEITURAS: VAZANTE

A história se passa numa ilha, onde há um presídio, uma comunidade de pescadores. 200 pessoas no máximo habitam aquele lugar. Diogo,o delegado, Saturnino, o médico e Nina, a estrangeira, são os personagens principais. O livro é extremamente triste, com poucas cenas de felicidades. Lançado em 1951, Vazante é um livro que exige do leitor a capacidade de enxergar muito mais do que se propôs escrever o autor. Há várias ilhas nesse romance. Cada personagem está rodeado de lembranças e experiências que marcaram suas existências.
De 1 a 5, atribuo nota 3.

quinta-feira, 26 de março de 2020

quarta-feira, 25 de março de 2020

O VÍRUS E O VELHO



Meu doutor eu sou do mato.
Lá não tem televisão, o meu rádio tá quebrado,  telefone tem também não!
Eu senti o mundo parado
O povo todo trancado
Numa grande aflição!
Quando procurei a feira,
Na cidade do meu chão,
Nem bancas estavam lá.
Surgiu minha  indagação:
-O que é que se assucede?
-Será guerra mundial?
Mas não ouço um estrondo, nenhum um tiro de canhão.
Doutor me arresponda:
-Que está acontecendo?
E o doutor foi explicando coisa que eu não sabia.
Um tal de coronavírus vindo lá do estrangeiro,
Tá matando muita gente, muito mais que Lampião,
Que os peidos de Jandira, que o bafo de Tonhão,
Que  inhaca de Raimundo,
Que a fome no meu sertão.
Eu fiquei agoniado e disse para o doutor:
-Será possível que não tenha um homem que mate esse sujeito?
Que fure os olhos dele, quebre as pernas por inteiro, destrua as suas armas, lasque logo este estrangeiro?
Doutor, só mais uma pergunta. Pode ser?
-Esse tal de coronavírus come mesmo o quê?
Menino! Quando o doutor falou fiquei todo arrepiado. Minha alma deu um pulo, meu corpo ficou gelado.
Vou voltar pra minha casa e ficar todo trancado.
O tal do coronavírus come velho pra todo lado!

Mané Beradeiro
Parnamirim/RN - 25 março 2020



 

terça-feira, 24 de março de 2020

COMENTANDO MINHAS LEITURAS - BANANA BRAVA


C.S Lewis diz: o homem literário relê, outros homens simplesmente leem. Estou aproveitando esse tempo em casa para reler alguns livros de José Mauro de Vasconcelos. Ontem foi a vez de "Banana Brava", escrito em 1942, quando o autor tinha 22 anos. São 27 capítulos que narram prostituição, traição, adoção, companheirismo, caridade, vingança, suicídio e assassinato, num espaço de garimpo. José Mauro esclarece o leitor "o que escrevo não é meu, é da vida. Apenas copio a vida" (p.12).
"Banana Brava" é um garimpo, em Goiás, onde Gregório e Joel são os protagonistas do enredo. Gregório é a representação da força muscular. Joel, a parte racional, tão necessária num lugar "que prende mais do que algemas. Prende o corpo, prende a alma"(p.45). 78 anos depois do seu lançamento, "Banana Brava" ainda é um romance desconhecido por muitos. Bem escreveu Janilson Sales de Carvalho: "Saiu da coragem de um jovem de 22 anos que se embrenhou na selva para descobrir esse povo e suas histórias. É hora desse povo (e de cada brasileiro) descobrir José Mauro de Vasconcelos".






segunda-feira, 23 de março de 2020

COMENTANDO MINHAS LEITURAS - FARINHA ÓRFÃ



Aproveitei a tarde de hoje (21 março 2020) para reler "Farinha Órfã" um livro de contos de José Mauro de Vasconcelos. Este não é para crianças. Exceto, o primeiro conto que dá título ao livro. Os demais estão repletos de cenas do universo adulto, com histórias que envolvem homens e mulheres em paixões ardentes, vinganças, etc. Tem dois contos neste livro que o autor contempla o Rio Grande do Norte, num ele constrói a imagem de Avelurdes, uma mulher dama, que é de Caicó, mas está ganhando a vida dentro da selva de Goiás. Num outro, o autor cria Proximogordes Absalão da Silva, em Natal. Por sinal este conto tem um final arrebatador. Farinha Órfã é uma expressão usada em Goiás que servia como sinônimo de solidão.


Francisco Martins

sábado, 21 de março de 2020

O HUMOR DE MANÉ BERADEIRO - POEMA PARA ACABAR FIADO

Em Natal, ali na avenida Rio Branco, centro, onde hoje está instalado o Banco do Brasil, foi o local do Mercado da Cidade Alta. Entre os seus comerciantes tinha um que vivia se lamentando da extensa lista de clientes que comprava fiado e não honrava com seus deveres.
 
Avenida Rio Branco - Mercado  da Cidade Alta à direita (Foto de Jaime Seixas - ano não identificado)

Um dia, o poeta Jaime Wanderley estava bebendo cervejas no Magestic, do poeta  Jorge Fernandes, quando escutou o comerciante se lamentando da crescente venda de produtos no fiado. Jaime  interviu:
 
O Magestic
-O amigo precisa colocar um aviso em seu barracão para acabar com o fiado. Quer que eu escreva o aviso?
O comerciante disse que aceitava de bom gosto.
Jaime tomou um pedaço de papel e escreveu:

PRA QUE NÃO HAJA TRANSTORNO
AQUI NO MEU BARRACÃO,
SÓ VENDO FIADO A CORNO,
FELA DA PUTA E LADRÃO

Posto o aviso, o pedido de fiado acabou-se. 



sexta-feira, 20 de março de 2020

ONDE ESTUDOU JOSÉ MAURO DE VASCONCELOS EM NATAL

José Mauro de Vasconcelos quando morou em Natal estudou no Colégio Diocesano, que  funcionava no prédio onde hoje são as instalações do Convento Santo Antonio, anexo a Igreja de Santo Antonio, também conhecida como "Igreja do Galo".
 


"A cidade ia ficando longe, via-se bem a balaustrada de Petrópolis como se fosse um brinquedinho de anão. A Catedral com sua torre alta. A igreja  do meu colégio Santo Antonio. A sua torre arredondada com um galo esperando um raio que nunca apareceu..." (VASCONCELOS, p. 242)

Vamos conhecer um pouco da história deste colégio. Recorro primeiramente a Lauro Pinto, ele escreve: "O Colégio Santo Antonio foi fundado pelos padres diocesanos de Natal, no dia 1º de março de 1903, e sempre funcionou anexo à Igreja do mesmo nome" (PINTO, p.53).
O memorialista no diz que as instalações eram precárias, principalmente o sistema sanitário. A água potável, no tempo em que Lauro Pinto  por lá estudou, vinha de uma cisterna, abastecida com por calhas, por ocasião das chuvas.
Em 1919 houve um violento surto de febre tifóide, vitimando seis estudantes: Lídio Cabral  da Fonseca, Absalão Pinheiro, José Anísio Gomes, Artur Tupã e outro que Lauro Pinto não lembra o nome. O colégio foi fechado. Esta foi a primeira fase do Colégio Santo Antonio. 
Em 1930, o Colégio  é reaberto, desta vez confiado aos Irmãos Maristas, que ficam nas mesmas instalações até o final de  1935. No dia 7 de fevereiro de 1936 começou a funcionar na avenida Apodi, esquina com avenida Deodoro até os dias atuais.
 

José Mauro de Vasconcelos, aos 11 anos estudou no Colégio Santo Antonio,  que também já era conhecido pelo nome de Colégio Marista. Ele vai lembrar do Irmão Feliciano, aquele que foi o primeiro a descobrir a solidão da sua alma e também do Padre Monte, que era  Diretor Espiritual dos alunos e foi  escolhido para ser o patrono da primeira turma de concluintes, no ano de 1935. 
Padre Monte
-Você já viu o Padre Monte?

-Aquele magrinho de óculos.
-Sim. O  confessor do colégio ...
(VASCONCELOS, p.34)

As memórias de José Mauro neste período de estudante  estão registradas no livro "Vamos aquecer o Sol" (1974). Ele fez parte dessa primeira turma e narra o que viu na noite de 23 de novembro de 1935, ( no 8º Capítulo - A Viagem) quando começou a Insurreição Comunista, afetando a cerimônia de formatura, que não aconteceu. .

 (imagens do atual Convento dos Capuchinhos - onde funcionou o Colégio Santo Antonio)





Referências:

PINTO, Lauro. Natal que eu vi. Natal/RN: Imprensa Universitária, outubro 1971.
A ORDEM, jornal. Colégio Santo Antonio - Primeira Turma de Peritos Contadores- Ano I, nº  104, 20 de novembro de 1935.
A ORDEM, Jornal.  Colégio  Santo Antonio - Ano I, nº 162,  7 fevereiro 1936.
VASCONCELOS, José Mauro de. Vamos aquecer o Sol. São Paulo/SP: Melhoramentos,

NÍSIA FLORESTA - MEDALHÃO DE 1911


 Se Natal fosse uma cidade que conservasse seus monumentos, ontem teríamos celebrados os 109 anos da inauguração do Medalhão de Nísia Floresta. Infelizmente nossa educação ( ou falta dela), não nos permite ter estes momentos. Há uma contracultura em destruir, roubar, pichar. Até quando? Compartilho  com meus leitores dois pequenos textos sobre o assunto.

"O Monumento a Nísia Floresta, em Natal. Inaugurado em 19 de março de 1911, na Praça Augusto Severo. Obra de Corbiniano Vilaça e do escultor francês Edmond Badoche. Medalhão de Bronze aposto a uma stela  de granito, com incrustações de bronze; uma palma e datas do nascimento e morte. Feito em Paris, sob a orientação de Henrique Castriciano" (CÂMARA, 1941)


MEDALHÃO DE NÍSIA FLORESTA

"A efígie em bronze da consagrada escritora Nísia Floresta foi colocada em uma alameda do logradouro que foi o majestoso jardim da Praça Augusto Severo, no dia 19 de março de 1911. A efígie era cravada em uma linda coluna de granito.

O Medalhão de Nísia Floresta teve um fim mais triste, porque foi removido para lugar desconhecido. Ninguém mais o viu. Só um conforto anima o sofrimento de Nísia Floresta, porque ela encontrou um companheiro de sofrimento na pessoa do historiador José Toríbio Medina, cujo busto, um belo bronze, do ilustre estadista chileno, oferecimento do seu Presidente Gabriel Gonzalez Vilela, foi colocado na Praça Pedro Velho em 1952. De lá para cá a cidade nunca mais o viu." (PINTO,1971).

Referências

CÂMARA, Adauto da.  História de Nísia Floresta. Rio de Janeiro/RJ. Editora Irmãos Pongetti, 1941.
PINTO, Lauro. Natal que eu vi. Natal/RN: Imprensa Universitária, outubro 1971

quinta-feira, 19 de março de 2020

ORAÇÃO DE COROINHA

Deus lhe guarde na subida
Tire as pedras do caminho
Proteja-lhe na descida
Dando todo seu carinho
Que durante a quarentena
A hora seja serena
Não lhe falte pão e vinho.

Mané Beradeiro
19 março 2020

quarta-feira, 18 de março de 2020

PRAIA DO FORTE - 64 ANOS QUE FOI ASSIM "BATIZADA"


Praia do Forte, em Natal-RN, Quem deu esse nome àquele lugar?  Vamos conhecer um pouco dessa história. Em 1956, o Diário de Natal contava com a colaboração de um colunista  por nome de Wilson  Jovino de Oliveira, naquele tempo, Natal tinha como prefeito Djalma Maranhão. O jovem jornalista Wilson tinha uma sessão diária no jornal acima, com o título "Nossa Cidade". Ele  sugeriu o nome e no dia 6 de março de 1956, oficialmente o lugar foi "batizado" com o nome de Praia do Forte,  com a presença de Wilson Jovino de Oliveira, o prefeito Djalma Maranhão, Câmara Cascudo, Lourdes Paschoal e outras personalidades, conforme está registrado nos arquivos do "Poti".

Referência
O Poti- edição 2356 - ano XXV - 8 de março de 1981

terça-feira, 17 de março de 2020

POEMA DO V

VÍRUS
VIRU
VIR
VI
V
VA
VAL
VALE
VALEI
VALEI-M
VALEI-ME
VALEI-ME D
VALEI-ME DE
VALEI-ME DEU
VALEI-ME DEUS!

Francisco Martins
17 março 2020

segunda-feira, 16 de março de 2020

AS MÃOS

  Em plena safra do Corona Vírus - quando as mãos são constantemente lembradas - eu trago o poema "As Mãos", do poeta Manuel Alegre (Portugal).


Com mãos se faz a paz se faz a guerra
Com mãos tudo se faz e se desfaz
Com mãos se faz o poema ─ e são de terra.
Com mãos se faz a guerra ─ e são a paz.

Com mãos se rasga o mar. Com mãos se lavra.
Não são de pedra estas casas mas
de mãos. E estão no fruto e na palavra
as mãos que são o canto e são as armas.
E cravam-se no Tempo como farpas
as mãos que vês nas coisas transformadas.
Folhas que vão no vento: verdes harpas.
De mãos é cada flor cada cidade.
Ninguém pode vencer estas espadas:
nas tuas mãos começa a liberdade.

1979.

domingo, 15 de março de 2020

COMENTANDO MINHAS LEITURAS - A SEMANA I



"Uma Seleção de crônicas de Machado de Assis foram publicadas na Gazeta de Notícias do Rio de Janeiro entre os anos de 1892 e 1900. Alguns desses textos já foram reproduzidos na edição organizada em vida pelo autor de Páginas Recolhidas". É esse o texto que há no livro "A Semana I", (Editora Globo: Rio de Janeiro, 1997). O estilo da crônica é sem dúvida o quê  mais nos fornece dados sobre aquele que a escreve. Neste caso, Machado de Assis vai se dando aos poucos em textos que sua mão escreveu no século XIX, mais precisamente na última década daquele século. Além do retrato da época, meio de transportes, costumes, crenças, vestimentas, comidas, etc, que mais poderemos aprender? Machado de Assis vai revelando. Mostrando seu pensamento, dizendo entre uma linha e outra que a arte é uma religião e nela o gênio é o seu sumo sacerdote¹. Do alto dos seus 53 anos de vida, Machado de Assis, acha-se no direito de advertir o leitor que "os anos nada valem por sim mesmos. A questão é saber aguentá-los, escová-los bem, todos os dias, para tirar a poeira da estrada, trazê-los lavados com água de higiene e sabão de filosofia"². E quando se trata de filosofia,  o autor sabia se alimentar como ninguém. Comeu do pão da sabedoria nos mais variados pratos que lhes foram apresentados: os grandes filósofos gregos, os pensadores  e homens cultos da sua época, além é claro de mostrar ter muito conhecimento sobre o livro sagrado, a Bíblia. Por inúmeras vezes é possível encontrar referências bíblicas nos textos machadianos. Ele recorre com frequência à sabedoria do povo judeu. Mas, isso não assegura que Machado tenha sido um cristão convicto, e ele mesmo se declara adepto do Espiritismo³.


Francisco Martins.
15 março 2020

Referências

1) Crônica 2 de Outubro de  1892, p. 24
2) Crônica 30 de Outubro de 1892, p.35
3) Crônica 23 de Setembro de 1895, p.146