domingo, 19 de julho de 2020

HISTÓRIA DO BAIRRO DO ALECRIM



No século 17 a região era conhecida como Rifóles, referência ao pirata francês Jacques Riffault, que frequentava o ‘cais do sertão’ em busca de pau brasil.

Não conta ainda cem anos de existência. Em abril de 1856, quando o Cemitério foi inaugurado, o Presidente Antonio Bernardo de Passos informava ter adquirido um carro fúnebre em razão da “grande distância entre o Cemitério e esta Cidade”.

O Alecrim ficava no fim do Mundo…



A Praça Pedro II teve o privilégio das primeiras filas de casas. Conta-se que ali morava uma senhora (Ana Alecrim) que costumava enfeitar com ramos de alecrim os caixões dos “anjinhos” enterrados no cemitério, daí a origem do topônimo. Outra versão fala da abundância de alecrim-do-campo nesta área.

O bairro começava no Baldo, um reservatório das águas que desciam do Barro Vermelho, pela mata da Passagem. Daí, prosseguiam para o Oitizeiro, por dentro da Usina Elétrica, dirigida pelo mecânico alemão Johann Bragard, situada defronte da Santa Cruz da Bica. Poucas ruas e casas. Mais adiante, largas avenidas numeradas, repletas de mata-pasto e se prolongando, quase desabitadas, em direção ao Tirol.

Em outubro de 1871, o Presidente Delfino informava que a única desvantagem da Fonte Pública (Bica), no Baldo, “era ficar no último ponto do bairro alto da Cidade”.

Em dezembro de 1878, o Vice-Presidente Manuel Januário Bezerra Montenegro aludia ao Cemitério, “situado à grande distância da Cidade”.

Raríssimas pessoas residiam naquele descampado. Era terra de roçados de mandioca e milho, zona de caçada para os Morros. Umas quatro casinhas, de taipa, cobertas de palha, sem reboco, denominadas “capuabas”, estavam dispersas num âmbito de légua quadrada.

Segundo o historiador Luís da Câmara Cascudo, o antigo bairro do Alecrim era um local descampado, terra de roçados de mandioca e milho. Existiam umas quatro casinhas de taipa, cobertas de palha e sem reboco, denominadas capuabas, estavam distantes cerca de uma légua quadrada.

O Alecrim já foi chamado de Refoles, Alto da Santa Cruz e Cais do Sertão. Um dos marcos da ocupação das terras que originaram o bairro Alecrim foi a inauguração do Cemitério Público, em 1856, pelo Presidente da Província, Antônio Bernardo de Passos por causa de uma epidemia da cólera que aumentou a mortalidade geral da cidade.

Quando, a 7 de setembro de 1882, o Presidente Francisco de Gouveia Cunha Barreto pôs a primeira pedra para o “Lazareto da Piedade” (Asilo dos Alienados), o Alecrim era uma capoeira, entrecortada de tufos verdes de vegetação. Dizia-se que por ali passava a “estrada velha de Guararapes”. Nada mais.


Nos primeiros anos da República, o negro Manuel Lourenço possuiu o sítio mais distanciado, “Mangueira”, hoje Praça Gentil Ferreira.

Seguia-se o “Alto da Bandeira”, tendo essa denominação porque o industrial Amaro Barreto, abrindo a estrada de Macaíba para Natal, ali fincou uma alta e grande bandeira para orientar os trabalhadores. Ficou o topônimo: – “Alto da Bandeira” no cruzamento da Rua Fonseca e Silva com a Av. Presidente Quaresma, num comoro.

Aí se levantava, assombrando os tardios transeuntes, a “Cruz do Amaro”, recordando o assassinato de Amaro Xavier do Nascimento, em 1894.

Outro ponto de concentração demográfica era a “Baixa da Égua”, que o Vigário João Maria mudou para “Baixa da Beleza” e onde se construiu a capela de S. Sebastião.

Em 1905, na epidemia de varíola, o Alecrim estava densamente povoado, campo da inesgotável caridade do Padre João Maria. Ao redor da Praça Pedro II, as casinhas se aprumavam.

Mesmo assim, de Natal até o Baldo (Praça Carlos Gomes), havia caminho limpo. Para cima era uma trilha serpeando no meio do mato.

Apesar desse progresso, ainda em 1910 caçavam veados e cotias na Av. Alexandrino de Alencar.


Oficialmente o bairro foi fundado em somente em 23 de outubro de 1911, mas registros apontam atividades urbanas anteriores. Com dois padroeiros, São Pedro (o oficial) e São Sebastião, o Alecrim também se caracteriza por sua religiosidade, onde várias religiões convivem lado a lado – católicos, evangélicos, espíritas e suas vertentes.

Em 1912 a Escola de Aprendizes Marinheiros ficou no Refoles, articulando-se com os centros do Alecrim pela Rua Silvio Pelico. Em 1914, o Governador Ferreira Chaves fala na “grande distância para Natal”. A 15 de agosto de 1919, Alecrim é freguesia com sede na Igreja de S. Pedro.

Com o tempo, foram chegando aos prédios a luz elétrica e a água encanada. A linha de bondes demorou um pouco. Candeeiros e lamparinas iluminavam as casas. Quem não tinha poço ou cacimba no quintal tratava de obter água em chafarizes públicos, junto aos poucos cata-ventos. Lá para o quilômetro seis dos trilhos da Great Western funcionavam, em prédios adaptados, o Isolamento de São João de Deus, para tuberculosos e o Isolamento de São Roque, para variolosos. A pequena igreja de São Pedro, na praça Pedro Américo (hoje Pedro II), foi alargada e elevada após a criação da Freguesia, em 1919. O padre alemão Fernando Noite, da Ordem da Sagrada Família, vigário local, promoveu até mutirão, nas tardes de domingo, quando, para as obras, muitas pessoas, inclusive meninos, iam buscar tijolos e telhas junto à linha férrea e subiam pela rua Sílvio Pélico.

O perfil do bairro começou a ser delineado a partir da administração do Prefeito Omar O’Grady, que, em 1929, convidou o arquiteto italiano Giacomo Palumbo, para traçar o Plano de Sistematização para expansão urbana da cidade. Conta-se que Palumbo, sob a influência da cultura americana, desenhou um traçado com avenidas e ruas largas, as quais registravam com números. Da Avenida 1 até a Avenida 12, houve a associação da numeração com o nome de personagens históricos, intercalados com nomes de tribos.


A tradicional feira do Alecrim foi criada informalmente por José Francisco, natural da Paraíba e morador de São José do Mipibu ainda na década de 20. No início, a feira funcionava aos domingos embaixo de uma mangueira na atual avenida Amaro Barreto. No dia 23 de março de 1957 Câmara Cascudo apresentou José Francisco como o idealizador da feira, mas só no ano seguinte a Câmara Municipal de Natal aprovou a Lei para o funcionamento da feira e uma placa de bronze foi fixada na rua Nove.


Em 1941, durante a II Guerra Mundial, com a instalação da Base Naval, o bairro teve acelerado o seu processo de urbanização, quando se registra um aumento da população com a vinda de pessoas do sertão, e de outras regiões, para negócios na capital.

“O bairro do Alecrim, com todos os elementos sociais que caracterizam uma Cidade, já se espalha e derrama sua população em quilômetros e quilômetros, num avanço tentacular e dominador.

Há quem viva seis meses sem vir a Natal porque o Alecrim é bastante para a ressonância de interesses comerciais e domésticos”.

Cita Luís da Câmara Cascudo em artigo publicado originalmente – A República, Sábado, 10 de outubro de 1942.

Oficializado como bairro pela Lei Nº. 251, de 30 de setembro de 1947, na administração do Prefeito Sylvio Piza Pedroza, teve seus limites redefinidos pela Lei nº. 4.330, de 05 de abril de 1993, oficializada quando da sua publicação no Diário Oficial do Estado em 07 de setembro de 1994.

A vida cultural do Alecrim registra a existência de cinemas, até a década de 80, que, gradativamente, foram fechados: o São Luiz, o São Pedro, o São Sebastião, o Paroquial e o Olde. Nos carnavais, a cidade se voltava para ver os desfiles dos corsos (carros alegóricos dos carnavais do passado) que se realizavam nas ruas Sílvio Pélico, Amaro Barreto e adjacências.

O bairro teve, em sua história, como um dos principais pontos de encontro o bar Quitandinha na Praça Gentil Ferreira, local de “bate papo”, onde boêmios varavam as madrugadas, desde a época da II Guerra Mundial.



Em 1966, o Rotary Club do Alecrim deu de presente a praça  um relógio. O Rotary tinha como objetivo prestar um serviço a população, que na época não tinha condições de comprar um relógio. O relógio do Alecrim é referência para 92% das pessoas que passam pelo local.Em 2011, após 45 anos de uso, o Rotary Club do Alecrim trocou o relógio antigo por um novo, em comemoração ao centenário o bairro do Alecrim.

O bairro ainda tem como marca registrada o comércio de produtos populares, com sapatarias, lojas de tecidos, produtos agrícolas e as barbearias, que resistem ao tempo. Há bares e esquinas com jogo do bicho, uma tradição do lugar. Na década de 80, a construção do camelódromo (tentativa de resolver o problema gerado pelo conflito entre ambulantes e comerciantes estabelecidos) marcou a vida do lugar. Erguido em trecho da Rua Presidente Bandeira, aglutina vendedores ambulantes que comercializam produtos diversificados.

E os principais habitantes do bairro, na época?


No Barro Vermelho, constituído de sítios de muitas fruteiras, alguns com água corrente, pássaros cantando por toda parte, locais privilegiados para os melhores piqueniques e festas juninas, residiam o juiz federal Meira e Sá, o tenente João Bandeira de Melo, do Batalhão de Segurança; o comerciante Joaquim das – Virgens Pereira; o guarda-mor da Alfândega Carlos Policarpo de Melo, o escriturário do Tesouro Estadual João Fernandes de Campos Café, também pastor protestante; a família Melo, de Augusto Severo, e outros.

Na atual Praça Pedro II, do lado direito: Os comerciantes Alfredo Manso Maciel; José Antônio Fernandes e Isidro José da Rocha, os proprietários Elpídio Estelita Manso Maciel (Esteio Manso) e Pedro Joaquim Lins; os funcionários federais José Augusto da Fonseca e Silva e José Ildefonso de Oliveira Azevedo; o fiscal da Inspetoria Geral de Higiene (Secretaria de Saúde Pública) Antônio Cavalcanti de Albuquerque Maranhão (Cavalcanti Grande); do lado esquerdo: Os comerciantes Clínio e Teódulo Sena e Francisco Antônio Fernandes; o capitão Joaquim Andrade de Araújo, do Batalhão de Segurança; o pistonista José Alves de Melo, o sacristão Francisco Antônio do Nascimento, depois oficial comissionado do Exército (tenente Chico); o tenente João Alexandre de Vasconcelos (Joca de Xandu), que combateu em Canudos; o desembargador Hemetério Fernandes Raposo de Melo, cuja casa foi ocupada em seguida pelo fiscal de consumo José Ribeiro de Paiva.

Na rua Boa Vista, no centro da qual havia enorme barreiro: O tenente Inácio Gonçalves Vale, do Batalhão de Segurança e o comerciante João Andrade. Na rua General Fonseca e Silva: O oficial de justiça Abílio César Cavalcanti, depois delegado auxiliar da Capital e juiz de direito no interior, e o administrador do Hospício, Cândido Henrique de Medeiros, que fundou, em 19 de julho de 1914, a Conferência de São Pedro, dos vicentinos e a presidiu até quase o fim da vida. Cândido Medeiros (Seu Candinho), à frente dos confrades, prestou grandes serviços à pobreza do Alecrim e lecionou à noite, por algum tempo e sem remuneração, num dos salões do Grupo, tendo constituído, talvez, o primeiro curso, no Estado, de alfabetização de adultos. Em sua residência, seu filho Lauro, com alguns rapazes do bairro, fundou em 1917 e presidiu o Alecrim Futebol Clube. Os times treinavam e jogavam, inicialmente, num campo improvisado, em local para novo cemitério, nas proximidades da capelinha de São Sebastião, na Baixa da Beleza (rua Coronel Estêvão). O goleiro do quadro principal era o estudante João Café Filho, futuro Presidente da República.

Na rua América: João Antônio Moreira, carteiro dos Correios, que organizava e ensaiava, no quintal, anualmente, para o Carnaval, o Bloco Alecrinense, que todos chamavam A Maxixeira porque seus foliões desfilavam como verdureiras; Faustino de Vasconcelos Gama, administrador do Cemitério, que, nas festas natalinas, costumava mandar exibir, defronte da morada, para o público em geral, o Bumba-meu-Boi e os Congos, já que Pastoril ou Lapinha, Boi de Bonecas e João Redondo eram apresentados dentro de sítios ou salas.

Na rua Borborema: Os irmãos José e Francisco Martins Pinheiro, funcionários do Tesouro Estadual; os comerciantes Vicente Barbosa, João Luiz de França, Bento Manso Maciel, Luiz Rogério de Carvalho e Genuíno de Sousa Menino; o líder João José da Silva(João Ponche), da Liga Artístico-Operária, da Cidade Alta e o sargento-enfermeiro da Marinha Serôa da Mota, que realizava na residência sessões do Espiritismo.

Na rua Amaro Barreto: Os comerciantes Antônio Jeremias de Araújo e Manoel Firmino e o tabelião Miguel Leandro, que ensaiava em seu sítio o melhor Fandango natalense e o levava, nas festas de fim de ano, com a Nau Catarineta, a um grande tablado, na atual praça Gentil Ferreira. Cosme Ferreira Nobre, oficial de justiça do Tribunal, instalou nessa rua uma assembleia dos Pentecostistas. Havia por ali, pontos do chamado Jogo do Bicho, que em Natal não era tido como contravenção penal.

Na rua Coronel Estêvão, a mais extensa: O desembargador Antônio Soares de Araújo, então juiz de direito da Capital, que, à falta de médico no bairro, forneceu todas as manhãs, à sua custa e gratuitamente, durante anos. Doses de homeopatia aos doentes sem recursos, que o procuravam; o cônego Estêvão José Dantas, professor do Atheneu Norte-Rio-Grandense, que cooperava também nos atos religiosos da Paróquia; o guarda-livros Manoel Pinto Meireles, os poetas Damasceno Bezerra e Manoel dos Santos Filho; o capitão Felizardo Toscano de Brito (que voltaria a morar no Alecrim quando general da Reserva), Mário Eugênio Lira e José de Vasconcelos Chaves, secretário e tesoureiro da Prefeitura; a viúva Adelaide Fonseca (os quatro últimos na faixa conhecida como Alto da Bandeira); os comerciantes Manoel dos Santos Morais, Francisco Gorgônio da Nóbrega, Francisco das Chagas Dantas (Seu Chaguinhas) e Antônio Ferreira da Silva (Tota de Chicó), os três últimos os organizadores da Feira do Alecrim.

Na Avenida Alexandrino de Alencar: O coronel Manoel Lins Caldas, ex-comandante do Batalhão de Segurança (hoje Polícia Militar); o professor José Elídio Carneiro, da Marinha; o comerciante Sandoval Capistrano e o tesoureiro do Correio Geral, Pedro da Fonseca e Silva, o qual exercia também a função gratuita de delegado de polícia do bairro. Ali, ficava também o Posto Policial.

Na Rua Sílvio Pélico: O funcionário da Alfândega Antônio de Araújo Costa. Em casa próxima à Escola de Aprendizes Marinheiros, morava o comandante Antônio Afonso Monteiro Chaves, que matriculava os filhos no Grupo Escolar, o mesmo fazendo os que serviam naquele estabelecimento militar. Os pequenos cariocas, uns mais adiantados e esclarecidos, eram escutados com grande curiosidade pelos coleguinhas do bairro, sobre coisas do Rio de Janeiro. As noites eram tão tranquilas que, muitas vezes, se conseguia ouvir, das imediações do Grupo, o toque de silêncio, das vinte e duas horas, do clarim do Esquadrão de Cavalaria, no Tirol (avenida Hermes da Fonseca). Esse o Alecrim dos dez primeiros anos de sua criação, o bairro que o professor Luiz Soares, educando gerações, viu diariamente, durante mais de meio século, crescer e progredir.

Naquele tempo, o passeio-escolar mensal, para que os alunos aprendessem melhor a amar a Natureza, era vez por outra dirigido pela avenida Alexandrino rumo à Lagoa do Enforcado ou à Lagoa Seca. Um dia muito alegre para mestres e discípulos. O próprio diretor do Grupo organizava, com especial carinho, anualmente, duas comemorações — a Festa da Árvore e a Festa das Aves. Diversos alunos, na véspera, munidos de gaiolas e alçapões, percorriam sítios do Barro Vermelho e as matas do Réfoles, a fim de apanharem passarinhos, os quais eram soltos, alegremente, na manhã seguinte, quando as alunas, sob a regência de Carolina Wanderley, entoavam o Hino às Aves. A pobreza dominava os alunos. Não conheciam Papai Noel. Nem havia a merenda-escolar do governo. O pequeno horário de recreio, nas áreas internas, tinha a supervisão benéfica dos inspetores de alunos, Laurentino Ferreira de Morais (que faleceu como coronel da Polícia Militar) e Maria Elisa Pinto Meireles. Também não se adotava, em estabelecimento primário, a prática organizada de esportes. Muitos aprenderam a nadar fugindo de casa, à tarde, a fim de se banharem na maré, no Réfoles. Outros, se iniciaram no futebol na via pública, com bolas-de-meia, ou então adquirindo, em clubes, bolas de couro já imprestáveis, que enchiam com bexigas de boi obtidas na Matança (Matadouro Público), situado junto à grande curva da via férrea, no Oitizeiro. Aqui e ali, com muita dedicação, o diretor e as professoras conseguiam uma ou outra diversão gratuita para os discípulos.

O grande ideal do professor Luiz Soares foi sempre ver o Escotismo difundido, com eficiência, por todo o território nacional, por lhe parecer a melhor escola de preparação moral e cívica infanto-juvenil. Foi também o que procurou demonstrar, no Catete, em 1922, quando recebido em audiência pelo Presidente Epitácio Pessoa.


De início, participou com Henrique Castriciano e Monteiro Chaves, em 1917, da fundação da Associação Brasileira de Escoteiros do Rio Grande do Norte. Levou para ela cerca de trinta alunos de seu Grupo Escolar. A entidade nem chegou a completar dois anos de funcionamento. Por isso, ele fundou, em 14 de julho de 1919, a Associação de Escoteiros do Alecrim, hoje incorporada à Regional de Escoteiros.

Havia um antigo chalé, coberto de zinco, na atual praça Pedro II, esquina da rua Soledade, utilizado para fábrica de redes e, em seguida, para cinema, no qual atuava, como pianista , o futuro maestro Waldemar de Almeida. Pois ali nasceu a Associação, naquela radiosa manhã de 1919. Setenta e cinco escoteiros, quase todos alunos do Grupo Escolar, desfilaram pelas ruas do bairro e participaram da missa campal, na Igreja de São Pedro, comemorativa da assinatura do Armistício, após a Primeira Guerra Mundial.

O professor Luiz Soares obteve do governo Ferreira Chaves a construção dos salões do Grupo que ficam do lado da rua Coronel Estêvão e o instrumental para uma banda de música de dezesseis figuras, regida por José Gabriel Gomes da Silva (pistonista), funcionário dos Correios e pelo sargento Manoel Florentino de Albuquerque (clarinetista), depois guarda-fiscal do Tesouro. As aulas teóricas de Música começaram em 2 de maio de 1918 e já em 15 de outubro essa banda escolar (a Charanga do Alecrim) estreava fazendo alvorada pelo natalício do Governador, na residência oficial deste, à praça Pedro Velho.


Do governo Antônio de Sousa, conseguiu a criação, em 1920, do Curso Complementar, noturno, inclusive para adultos, sendo designado, no começo, para a cadeira de Geografia e História do Brasil. As outras ficaram regidas pelos professores Israel Nazareno de Souza (Português), Francisco Ivo Cavalcanti (Aritmética) e Anísio Soares de Macedo (Francês). Funcionou também no Grupo, naquele governo, uma Escola Profissional. Obteve, igualmente, que, no Frei Miguelinho, a quinta-feira fosse considerada Dia do Escoteiro, terminando as aulas ao meio-dia. O pavilhão nacional era hasteado no início, com execução, pela Charanga, do Hino à Bandeira, cantado pelas alunas. As áreas e salões do Grupo eram ocupadas, à tarde, pelos exercícios dos escoteiros, os quais desfilavam, em seguida, pela via pública precedidos da banda de música e de banda marcial. Depois, a Bandeira era arriada ao som do Hino Nacional e Luiz Soares proferia palestra sobre tema de Moral e Civismo.

Mas, não foi somente o bairro do Alecrim que absorveu as atividades do grande educador. Em 1927, ele reorganizou, com outra denominação, a Liga de Desportos Terrestres do Rio Grande do Norte, tendo sido eleito presidente da nova entidade. Esse trabalho profícuo levou o Presidente Juvenal Lamartine, seu parente e amigo, a construir, em 1929, no Tirol, o Estádio que conserva o nome daquele chefe de governo. No mesmo ano, conferiu a Luiz Soares, no Dia do Professor, a medalha de Honra ao Mérito. Houve elementos frustrados na vida que chegaram a apontá-lo como “amigo de todos os governos”.

Mas, na verdade, Luiz Soares nada pedia para si, não era político, viveu e morreu pobre. Explicava apenas, naquele tempo, que nenhum empreendimento educacional, num meio pobre, poderia esperar completo êxito sem a decisiva cooperação dos governos. Esse desprendimento pessoal e a probidade do dedicado mestre mereceram, igualmente, reconhecimento e admiração dos revolucionários de 1930.

Vitorioso o movimento em todo o país, da Paraíba quiseram indicá-lo para o magistério federal, a fim de dirigir a Escola de Aprendizes Artífices de Natal (hoje Liceu Industrial). Não obstante as grandes vantagens pecuniárias, em relação aos parcos vencimentos do magistério estadual, recusou delicadamente a honrosa lembrança para pedir apenas que o deixassem prosseguir em sua obra no Alecrim.

Vinte anos depois, na esperança de obter maiores benefícios para a coletividade e a fim de atender a insistentes apelos de alguns ex-alunos, concordou em disputar eleição para Vereador. Seus pares, em expressiva homenagem, o elevaram à Presidência da Câmara Municipal. A experiência, porém, não o satisfez. Deixou de concorrer a cargo político.

Luiz Soares foi um dos fundadores da Associação dos Professores e pertenceu ao Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, à Academia Potiguar de Letras e ao Conselho Estadual de Educação e Cultura. Cooperou no Instituto de Proteção e Assistência à Infância e em outras entidades educativas, sociais e esportivas. Partiu dele a criação das Faculdades de Odontologia, Farmácia e Direito, havendo participado das atividades destinadas à instalação e funcionamento dessas escolas superiores. Um cidadão verdadeiramente útil à coletividade natalense.

Em sua incansável operosidade, viajou em 1950 até Roma, a convite de seu filho Pedro Segundo, procurando localizar e movimentar, no Vaticano, o processo de beatificação do padre João Maria Cavalcanti de Brito, o apóstolo da Caridade, o inesquecível vigário da Catedral de Natal.

Cuidou da assistência médico-hospitalar à população, conseguindo construir a Policlínica do Alecrim, hoje Hospital Professor Luiz Soares. Recebeu também seu nome o velho Grupo, de que foi o único Diretor e que passou a funcionar dentro do Instituto Padre Miguelinho. Uma rua do Alecrim lembra igualmente, aos habitantes de Natal o nome do professor emérito. Não se poderia aqui enumerar tudo quanto ele, através de decênios, realizou no Grupo Escolar e no Escotismo. Basta se recordar, nestas linhas, que seus escoteiros se iniciaram precisando, por força das circunstâncias, prestar assistência a muitos desvalidos, durante situações calamitosas.

Primeiro, em 1918, na terrível epidemia conhecida por “ influenza espanhola” , num Posto de Emergência, no próprio estabelecimento de ensino, para distribuição de remédios e alimentos até a domicílio. Em seguida, no atendimento a flagelados da seca de 1919, os quais tiveram de ser abrigados, pelo governo, em galpões de palha, de más condições higiênicas, improvisados em terreno baldio no Barro Vermelho. Deus protegeu, porém, a saúde daqueles jovens.

Teve Luiz Soares, nos últimos tempos, a felicidade de receber a maior (e, por isso, muito rara) das condecorações a um Chefe-Escoteiro: A Comenda do Tapir de Prata, que o General Sir Robert Baden Powell — o criador do Escotismo — reservou àqueles que, em qualquer parte do mundo, houvessem prestado, durante longos anos, com abnegação e patriotismo, inestimáveis serviços à instituição. Nunca poderão ser esquecidos os que fizeram da educação da infância e da juventude verdadeiro apostolado.

Autor: Gutenberg Costa

Fontes: Tok de História, RN Blog Prog, Guia de Turismo Blog e IBGE.

quinta-feira, 16 de julho de 2020

LÍVIA NUNES DUARTE ILUSTRA FOLHETO DE CORDEL DO POETA MANÉ BERADEIRO

Amizade: sentimento de grande simpatia, afeição  e apreço. Eis um dos significados da palavra.  Mais na prática ela vai muito mais além, uma verdadeira amizade está cheia de reciprocidade. Eu sou um homem que tenho algumas amigas e por elas nutro  um carinho especial. Entre elas posso citar duas que conheci através da internet: Bete e Nádia, respectivamente de Santa Cruz-RN e São Manuel-SP.
Pois bem, em abril deste ano eu mandei uns cordéis para Lívia, uma ex-aluna de Nádia. Lívia é uma criança que tem aptidão para desenhar e ser uma grande ilustradora. Senti isso desde quando vi um dos desenhos dela. Tive a ideia de pedir a Nádia que indagasse se Lívia poderia  ilustrar um folheto de cordel. Isso foi e 7 de maio último.
Para meu deleite, Lívia aceitou. Ela é aluna da Escola Municipal de Ensino Fundamental e Educação Infantil EMEFEI -  Professor Geraldo Pascon. Mandei o texto do cordel  e a artista principiou as ilustrações. Recebi os desenhos esta semana e agora darei entrada em mais uma edição de um folheto de cordel, sendo o primeiro a ser ilustrado por uma criança, seu nome: LÍVIA NUNES DUARTE, 10 anos. Uma ruivinha que adora ler e desenhar.
Lívia Nunes Duarte - São Manuel-SP
O cordel vai ser sobre uma das iguarias mais famosas  da cozinha brasileira: o cuscuz. 


Aguardem o lançamento.  Provavelmente já estarei com ele disponível para venda no  próximo mês.

Mané Beradeiro.
Parnamirim-RN - 16 de julho 2020




 

2020 O ANO DA MORTE

A ano de 2020 é insaciável, tem fome de vida e se nutre com a morte de pessoas, serve-se delas jogando sobre cada alma ceifada um pouco do creme COVID 19. A mesa é posta em todas as partes do mundo e tem sempre os mesmos comensais: o Ano e a Morte. Tenho orado e pedido a Deus que proteja meus filhos, quem já esteve em minha vida e está longe, quem eu amo e quero bem. Cito os nomes para Deus ouvir. Não quero perder nenhum de vocês que estão lendo este texto. Cuidem-se! Sejamos pastores uns dos outros. Meu rebanho é grande, mas eu fui ensinado pelo Bom Pastor.

C ada um de vocês
O lhe para o próximo
V eja se podemos ajudar
I gnoremos a sede do "eu"
D epositemos fé e oração!


Francisco Martins

segunda-feira, 13 de julho de 2020

NOTA DE PESAR

A Academia Ceará-mirinense de Letras e Artes se solidariza com a família e amigos do multiartista Ivo Maia, que faleceu ontem, dia 12. 

A cultura de Ceará-Mirim e do Rio Grande do Norte perdeu um dos seus maiores expoentes, reconhecido no Brasil e no mundo por suas mandalas.

 André Felipe Pignataro Furtado de Mendonça e Menezes
 Presidente da ACLA 

Joventina Simões Oliveira
 Vice-presidente da ACLA

terça-feira, 7 de julho de 2020

LEITURA, A MELHOR PORTA PARA SAIR DA QUARENTENA



Você concorda que a Literatura pode amenizar o impacto dessa pausa obrigatória que vivemos?

Caso acreditem nessa assertiva, estejam conosco!

Quinta às 10h, no Facebook da Câmara Municipal de Parnamirim!

PAULO MACEDO, SINGULAR

    O jornalismo potiguar está de luto. Faleceu na tarde do domingo o mais emblemático profissional do colunismo social do estado, que fez história e estabeleceu parâmetro a partir dos anos 1950 na cobertura dos assuntos de sociedade, eventos sociais e culturais e de negócios. O jornalista e imortal da Academia Norte-Rio-Grandense de Letras, Paulo Macedo, morreu domingo quando se recuperava de uma cirurgia após uma queda em que fraturou o fêmur.

   Paulo não era apenas um ícone do jornalismo, um decano do colunismo social, mas era também uma expressão da geografia cultural de Natal, uma dessas raras pessoas que compõem a galeria de gente e de coisas que representam em si mesmas o retrato de uma época. Ele soube construir com seu espaço jornalístico, no rádio e no jornal (nas últimas décadas se estendeu também à televisão), uma dimensão de glamour para um estado provinciano e expandir no plano nacional sua própria história pessoal. 

     Quando eu comecei a escrever em jornal, no Diário de Natal dos anos 80, onde ele e alguns da sua geração eram as grandes referências, Paulo Macedo já se destacava entre todos pela unanimidade de um bem querer espalhado pelos diversos setores sociais, culturais, políticos e econômicos do RN. 

    Ele tinha aquela essência da canção de Lulu Santos que diz “eu experimentei aquela sensação de estar em sua companhia”, porque todos reivindicavam sua presença; não havia cena festiva com algum glamour se ali ele não estivesse.

    Paulo estabeleceu uma marca difícil para qualquer jornalista. Não ter desafetos públicos. Porque se os tinha – e deve ter tido alguma vez – jamais deixou transparecer na sua coluna, onde não havia espaço para agressões, achaques ou recados maledicentes.

     Se alguém não gostasse dele, dava de troco o silêncio, e mesmo que tal pessoa ganhasse o prêmio Nobel ele não citaria, ignoraria. É certo que havia os casos em que cobria de elogios algum inimigo daquela figura, mas nem todo cristão aguenta dar a outra face, né mesmo? 

    Paulo Macedo fez um jornalismo elegante, voltado para o enaltecimento e elogio dos seus personagens, e foi um dos profissionais que mais fez em favor da vida em sociedade e da atividade cultural do estado e principalmente de Natal. 

    Sua passagem pela Secretaria Municipal de Turismo e pela Fundação José Augusto deixou marcas e legados, como o Memorial Câmara Cascudo. E no plano político muitas obras surgiram a partir das notas em que cobrava benefícios pra cidade. 

    Tive a honra de ter convivido com ele durante meus doze anos no Diário de Natal e também na TV Ponta Negra. Nos últimos anos, fomos de novo colegas de atividade nas sessões semanais do Conselho Estadual de Cultura, onde ele tinha assento há anos, sempre renovando o mandato por iniciativa de todos os governos que o respeitavam.

      Sua morte é uma perda indelével para Natal, que deixa uma lacuna no jornalismo, no Conselho de Cultura e na Academia de Letras. E, provavelmente, sepulta com ele os valores de uma época que jornalismo nenhum trará de volta.

                                                                           Alex Medeiros.



TERCEIRA RUA MAIS LINDA DO MUNDO



Rua do Bom Jesus, no Recife, é eleita a terceira mais linda do mundo pela renomada revista americana Architectural Digest. Ficou atrás apenas da Setenil de Las Bodegas, na Espanha, e da Washington Street, no Brooklyn, em Nova York.

domingo, 5 de julho de 2020

CORDEL DE MANÉ BERADEIRO É LIDO EM CURITIBA-PR




Na próxima terça-feira, 7 de julho, em live que acontecerá às 18 h, Nádia Opalinski vai declamar o cordel "Piabinha Solidária", do poeta Mané Beradeiro.



NOTA DE PESAR


quarta-feira, 1 de julho de 2020

38 ANOS DE UM ENSAIO SOBRE O CORDEL E A VISITA DO PAPA

Foi em julho de 1980 que o Papa João Paulo II visitou o Brasil pela primeira vez. Passou por Brasília, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, São Paulo, Porto Alegre, Curitiba, Salvador, Recife, Piauí, Fortaleza, Belém e Manaus.

O cordel brasileiro registrou este fato histórico de forma exuberante e o antropólogo Veríssimo de Melo (1921-1996) escreveu um ensaio sobre isso e registrou a documentação de 50 títulos de folhetos que falaram sobre o assunto.  "Visita do Papa ao Brasil, Através da Literatura de Cordel" (Natal/RN: UFRN, 1982), uma plaquete com 17 páginas.  40 anos após esta primeira visita lembramos a importância do cordel e olhar que tiveram os poetas para o Papa João Paulo II.


O trabalho realizado por Veríssimo de Melo foi recebido pelo Papa João Paulo II, tendo como mediador o Núncio Apostólico do Brasil; foi apresentado na Iª Jornada de Literatura de Cordel ( 3 a 9 de maio de 1982, em São Paulo; está presente na Antologia de Folclore Brasileiro, de Américo Pellegrini Filho (EDART, São Paulo, 1982).


 

segunda-feira, 29 de junho de 2020

ESTRANGEIRISMO E NEOLOGISMO

A gente vai andando pelas ruas da cidade e se deparando com palavras que entram no nosso idioma e nos mostram que não somos totalmente livres. Isso é coisa do ESTRANGEIRISMO em comunhão com o NEOLOGISMO.
Será que nosso idioma precisa realmente delas para que sejamos compreendidos?  "

"Quando nos virá  esplêndida coragem de sermos nós mesmos, como o francês tem coragem de ser francês, e o inglês a de ser inglês, e o alemão a de ser alemão? Quando?" 

Já se preocupava Monteiro Lobato sobre a influência estrangeira, quando escreveu "Arte brasileira" ( Ideias de Jeca Tatu, 1946, p. 196).


 








CICATRIZES

Já estamos no finalzinho do mês de junho de 2020,  e isso implica assegurar que  a metade do ano  passou. Que ano! Pandêmico, onde a morte tem trabalhado de forma acentuada. Ceifou milhares de vidas, a maioria pela famigerada doença da COVID-19.
Mas eu não quero dar publicidade à Dama Apocalíptica, que cavalga  tendo em uma das mãos a  foice insaciável.  Vou escrever sobre a vida e suas cicatrizes. Sim,  pois viver intensamente é colecionar cicatrizes.

Revelarei as minhas. Vou à infância e dela trago três que lembro quando as ganhei. A primeira eu já até escrevi sobre ela no meu livro "Crônicas Sensoriais",  ao escrever a 6ª Lembrança, na qual relato  assim:

        "Aqui começa uma das minhas experiências mais dolorosas, a primeira da minha vida.... Pensei que Mocotó iria me atacar, pisotear, chifrar. E a vaca vinha desengonçada, determinada ao meu encontro. Pus-me a correr em direção a minha minha casa. Vi que o pequeno portão do alpendre estava fechado, restava-me tão somente a cerca de arame farpado. Mocotó corria atrás de mim. o som do chocalho anunciava que ela estava ganhando terreno, eu passava os piores segundos da minha vida. Veloz, e com a adrenalina esvaziando por todos os poros passei por debaixo da cerca, rente ao chão e senti quando o arame farpado com aqueles cravos metálicos rasgou minha carne"

Com o tempo a cicatriz desapareceu. Algumas não ficam para sempre. A segunda, essa sim, permanece comigo, no antebraço direito, é um risco. Como o consegui?  Tia Benigna me presenteou com um boné que tinha duas abas. Na fazenda, numa manhã, estava eu andando com o boné e puxei  a aba até cobrir totalmente os olhos. Nada via e na minha imaginação fiquei andando como se estivesse bêbado, andei e para infelicidade minha, pensei em correr. Se para Drummond havia uma pedra no meio do caminho, no meu, acreditem, havia uma cerca de arame. Novamente uma cerca. Meu braço foi rasgado, sangrou e para não preocupar minha mãe, não fui em busca do socorro materno. Optei em ir lavar o corte  no rio. Tinha meus oito anos. Quarenta e oito anos se foram, mas ela está no meu corpo e teima em me lembrar que um dia eu comecei a encenar.

Fui crescendo e chegaram as cicatrizes da alma. Estas são as que mais doem. Não tenham a curiosidade de saber quais são as minhas. Deixo-as guardadas num baú, no mais íntimo do meu ser. E quando penso que não terei mais cicatrizes, a vida me sinaliza dizendo que ainda não acabou. Elas chegam sem pedir licença, sem dizer se você as quer ou não. O importante é ter a coragem de olhá-las e dizer: O Deus no qual eu creio, ensinou-me através do seu Filho, que cicatrizes são  crônicas escritas no corpo e na alma, na grande trajetória da vida, no caminho da Ressurreição.

Francisco Martins
29 de junho de 2020







domingo, 21 de junho de 2020

UMA CONVERSA SOBRE LIVROS, CORDEL E HISTÓRIAS


DO OFÍCIO DE FAZER QUEIJO - RICOTA

Fazer queijo é um exercício de paciência. Uma atividade bem propícia em tempo de quarentena. Tomei a iniciativa de fazer uma ricota.Cinco litros de leite, da vaquinha Maricota.

Ela mandou deixar em minha casa e com eles um bilhete: "Poeta, segue o que tenho de mais precioso em minhas tetas. Faça um queijo gostoso. Quando precisar de leite não demore em avisar. Maricota terá prazer em poder ajudar".

Levei os cinco litros ao lume. Fiquei sempre por perto do fogão esperando ferver. Leite no fogo é como menino traquino, não merece confiança. Assim que ferveu, desliguei o fogo e acrescentei quatro colheres de vinagre de maçã para cada litro, isso  fará com quê seja coalhado. Misturei por alguns minutos, o tempo necessário para o soro ficar parecendo um mar verde e o leite formar blocos branquinhos que lembram icebergs.

Quando esfriou eu passei o produto por uma peneira, algumas pitadas de sal e fui espremendo para deixar tão somente a massa que formará a ricota.

Lembrando de Maricota, "reclusa" naquele curral de estacas de sabiá, declamei o poema "Vaca Lavandeira", de Patativa do Assaré.

 ...
Ficou uma bezerrinha,
Atacada de manqueira.
O patrão não quis comprá-la,
Tratei dela a vida inteira
E botei na bezerrinha
O nome de Lavandeira.

...
Depois que ela deu bezerro,
Causou admiração.
Vinte e dois litros de leite
Dava sem comer ração:
Ainda mais aumentou
A inveja do patrão.
 ...

E a ricota? Pode perguntar o leitor.
Ela, neste momento descansa. Inerte como uma pedra.

Francisco Martins
20 de junho 2020


sexta-feira, 12 de junho de 2020

ELES CONJUGARAM INTENSAMENTE O VERBO AMAR

Amar, verbo intransitivo - nos disse o poeta Mário de Andrade, em 1927 e muitos séculos antes dele, um outro poeta, Paulo de  Tarso, escreveu uma carta que ainda hoje é eterna. Nela, Paulo de Tarso assegura ser o  AMOR a força maior do homem, superior a Fé e a Esperança.

Hoje, 12 de junho, é comemorado no Brasil, o Dia dos Namorados.  Estes seres que trocam carícias, que se nutrem do amor,  "O Sempre Amor" que canta e encanta a poeta Adélia Prado: ...o amor é coisa que mais quero.

E é em nome desse amor, eterno e transcendental, que eu quero mostrar aos leitores dois testemunhos de casais potiguares que  souberam ser eternos namorados. Refiro-me a Câmara Cascudo/Dahlia e Eider Furtado/Elenita.

Cascudo e Dahlia viveram 57 anos de união (1929-1986). Ele, quando faleceu no dia 30 de julho de 1986, às 16:30h, sua última palavra foi: Dahlia. Ela, por sua vez, também retribuiu o gesto de amor e em 1997, quando estava falecendo pronunciou: Luís, como carinhosamente o chamava. A Conexão entre os dois foi tão forte que faleceram com a mesma idade: 87 anos. Ela partiu 11 anos, exatamente a diferença de idade entre eles. Clique nas imagens e leia os depoimentos de Câmara Cascudo e Eider Furtado sobre suas respectivas namoradas.


Jornal A República
Eider Furtado e  Elenita conviveram 72 anos de casados. Ele faleceu em 6 de novembro de 2019, aos 96 anos de idade. Dona Elenita Furtado, aos 94 anos,  dá e recebe por parte dos filhos, netos e bisnetos o  amor familiar.
 
jornal A República








É de amor igual a estes que o mundo precisa. Amor que edifica, transforma, transcende. Que possamos ter muitos casais como esses. Eles conjugaram intensamente o verbo amar.

Francisco Martins
12 de junho de 2020


Referências

PRADO. Adélia. Poesia Reunida. São Paulo/SP. Editora Record, 2016, p.64 
Jornal  NOVO, Natal/RN -  Domingo 13 de julho 2016, Caderno Cultura. "As 30 maiores curiosidades de Cascudo" ( jornalista Henrique Arruda). p. 12.
Jornal A REPÚBLICA, Natal/RN - 15 de Junho 1956 -  "Namorados de ontem falam do primeiro encontro com os esposos de hoje"  (jornalista  Talis Andrade, fotógrafo José Seabra).
 

quinta-feira, 11 de junho de 2020

CLUBE DE LEITURA MULHERES NEGRAS NA BIBLIOTECA

O poeta Mané Beradeiro estará amanhã à tarde, das 15 às 17 h, participando, como ouvinte, através de uma live,  do Clube de Leitura Mulheres Negras na Biblioteca. O evento é realizado pela Biblioteca Parque Villa-Lobos, que fica no Alto de Pinheiros, em São Paulo-SP. 

Poeta Jarid Arraes

Clube destinado a leitores e não leitores de escritoras negras. Durante encontro será realizada a leitura e troca de impressões de texto de autoria negro-feminina. Nesta edição online, a BVL recebe a participação da escritora Jarid Arraes (foto) para conversar com o público a respeito do texto proposto e sua trajetória. A mediação acontecerá  com  Carine Souza, Beatriz Nogueira e Juliane Sousa.

Jarid Arraes é natural de Juazeiro do Norte- CE, mas mora em São Paulo, capital, desde 2014 e seus textos, em prosa ou poesia (cordéis),  tem a bandeira da luta e consciência negra. Arraes possui vários livros publicados.

Para saber mais sobre a escritora visite: http://jaridarraes.com/

Francisco Martins
11 de junho de 2020

ZÉ DA JIA - UM POTIGUAR ARRETADO

Foi o poeta Marcos Medeiros quem criou o personagem Zé da Jia.  Um jovem que faz parte do lúdico de muitas crianças do Rio Grande do Norte.  Vejamos como o próprio criador apresenta sua criação, no poema "Quem é mesmo Zé da Jia"

Eu criei um personagem
que eu chamei de Zé da Jia.
Ele adora fantasia,
vivendo em mental viagem.
Narrativa e reportagem
na sua vida é presente.
Fala de forma eloquente,
de maneira firme e forte.
DO RIO GRANDE DO NORTE,
ZÉ DA JIA É BEM DA GENTE.


Zé da Jia respira desde o  mês de maio de 2015, quando saiu a primeira revista, através da LerMais Editora, em edição colorida, com oito páginas, no formato 21 x15 cm. O texto, sempre escrito em cordel, de autoria de Marcos Medeiros e as ilustrações  de Marcelo Quirino.


 Este trabalho não passou despercebido pelo crítico Thiago Gonzaga, que assim se pronunciou sobre a revista, em 8 de junho de 2015.

O escritor Marcos Medeiros, publicou recentemente o cordel em quadrinhos “Zé da Jia”, que além de entreter e alegrar, sobretudo a criançada, tem uma notória intenção, na própria sequência dos quadrinhos, de promover o desenvolvimento cognitivo das crianças, na medida em que elas raciocinam, refletem, e preveem o quadrinho subsequente, acompanhando a sua leitura.
Os quadrinhos, na grande maioria das vezes, são histórias narradas a partir da estrutura que sintoniza o desenho e a fala; constituem gênero discursivo associado às linguagens verbal e imagética, envolvendo elementos como personagens, tempo, espaço e acontecimentos organizados em sequência, numa relação de causa e efeito. É o que acontece com a história de “Zé da Jia”, quando este, nascido no Estado do Rio Grande do Norte, vai investigar suas origens e o motivo do seu apelido.
Ao invés de usar a expressão verbal, que costuma aparecer nos balões, o autor utilizou o cordel, associado a imagens. O uso de imagens e a representação de gestos compõem a linguagem não verbal.
A sequência de imagens do gibi de Marcos Medeiros, como a dos quadrinhos, colabora, muita vezes, para que a própria criança compreenda melhor o sentido da história, antes mesmo de aprender a ler. Ela vai conseguir entender muito do que trata a revista através das imagens. Sem dúvidas, a leitura de gibis é uma atividade lúdica para as crianças, que naturalmente se identificam com a linguagem dos quadrinhos e, muitas vezes, estabelecem uma relação afetiva com seus personagens. É o que acontece, por exemplo, com o personagem Zé da Jia, que tenta descobrir, por intermédio de um ancião, a origem do seu apelido.
A intenção da revista de Marcos Medeiros, bem, como a de outros quadrinhos e formas de arte, faz parte de um contexto, seja ele histórico ou social. São na verdade um instrumento de mensagem e, sobretudo de aprendizado. Iniciativa portanto muito válida.
 
Marcos Medeiros

 A Revista Ze da Jia tem os mais variados assuntos: ecologia, turismo, história, biografia, profissões, folclore, esporte, saude, etc. Ao todo já são 25 edições com temas relevantes que edificam o leitor. Todos os textos em forma de cordel, o que muito ajuda no processo de leitura das crianças, por ter este gênero textual uma cadência sonora, proporcionando prazer, no ato de ler.






 Francisco Martins
11 de junho de 2020

Referências:

 https://www.recantodasletras.com.br/cordel/6102917
https://www.facebook.com/marcos.medeiros.7946

ASSIM DISSERAM ELES ...

"Não é matando o coração de homem que o tornamos melhor"

Monteiro Lobato

Fonte:  Na Antevéspera. In: Literatura de cárcere. São Paulo/SP. Editora Brasiliense, 1946. p. 86

domingo, 7 de junho de 2020