quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

O CORDEL DE SAIA (OU NÃO) - MOSTRA A FORÇA DA MULHER QUE TRAZ À LUZ OS SEUS VERSOS

 


 Izabel Nascimento, poeta cordelista, escreveu na apresentação do livro que é objeto desta resenha, o seguinte: “honrar o passado é a maneira mais admirável de alicerçar o futuro”. Concordo plenamente com a poeta dos girassóis. E aproveitando essa assertiva, dela extraio para introdução da resenha duas palavras: honra e futuro.

HONRA A QUEM MERECE

82 anos de Publicações Femininas na Literatura de Cordel” é um dos mais recentes trabalhos publicados pela Cordelaria Castro, que tem sua sede em Petrolina – PE.  A edição  foi organizada por Graciele Castro, tem capa e ilustrações de Nireuda Longobardi e também  de Kelmara Castro e Regina Drozina, poetas das goivas. 

 A obra coletiva contou com a participação de 21 mulheres cordelistas, cujos nomes citarei adiante. Além da presença de Alzinete Alencar Pimentel, Alinete Pimentel  e Suely Pimentel. Tudo nesse livro foi feito com a presença feminina, nem mesmo o projeto gráfico da capa (Julie Oliveira), a diagramação (Graciele Castro) e a revisão (Isis da Penha) fugiram disso.

Toda essa equipe e o empenho dela teve como objetivo honrar  MARIA DAS NEVES BATISTA PIMENTEL,  a primeira mulher que escreveu  poemas no gênero de cordel, publicado em 1938.  Maria das Neves nasceu em João Pessoa-PB no dia 2 de agosto de 1913. Era filha de Francisco das Chagas Batista e Hugolina Nunes Batista. O fruto nunca cai longe da árvore, e Maria das Neves é a prova disso.

Maria das Neves

     Naquele tempo, todos os poetas cordelistas eram homens. Maria das Neves recorreu ao nome do esposo Altino Alagoano (Altino de Alencar Pimentel) para  poder imprimir o folheto e vender. O título dessa obra foi  “O Violino do Diabo ou o valor da honestidade” (uma releitura do livro “O Violino do diabo” de Victor Pérez Escrich).

 

Quem desejar se aprofundar no poema do cordel acima, convido o leitor a conhecer o excelente texto “Maria das Neves Batista Pimentel: a voz por trás do verso”, de Elanir França de Carvalho e Letícia Fernanda da Silva Oliveira. Vide endereço abaixo.

A bandeira erguida pela Cordelaria Castro é digna de honra e aplauso por todos aqueles que labutam e sabem o quanto é importante apregoar o cordel brasileiro.

CONSTRUINDO O FUTURO AGORA

Há outras coisas que devo escrever sobre o livro “82 anos de Publicações Femininas na Literatura de Cordel”. É a hora de apresentar minhas considerações como crítico literário.  Primeiro: gostaria de dizer que oito décadas guarda muitos acontecimentos referentes ao tema proposto. Senti falta de uma pesquisa mais profunda sobre outras mulheres. Segundo, não sei qual foi o critério usado pela editora para formar o ramalhete das 21 poetas, mas muita gente boa ficou de fora e  que  com certeza só viria a engrandecer a obra.

Terceiro: quando eu me proponho a escrever uma crítica sobre determinado livro ou coletânea, procuro ter respeito pelos participantes, mas, sobretudo pelo meu leitor. Li e volvi minha atenção aos poemas e suas autoras. Todas as 21 convidadas receberam a missão de tecer seu poema usando o mote: “Minha trajetória no cordel”, optando pela sextilha ou setilha. Quero chamar a atenção do leitor para uma observação que jugo importante: apenas a poeta Tânia Castro optou pela sextilha no estilo corrido (AABCCB), a maioria ficou mesmo na sextilha com estilo aberto (XAXAXA) e somente Cleusa Santos escreveu em setilha.

 Debrucei-me sobre os cordéis que elas produziram, andei entre as estrofes, conversei com os versos, sentei e escutei as rimas. Vi a beleza da oração, senti o ritmo dos poemas, e alguns estão carentes disso. Quando se trata se poesia, queremos o melhor, pois a poesia é a moldura da beleza.  Esse pensamento aplica-se também ao cordel brasileiro.

Quero mulheres escrevendo com qualidade, com segurança, com o exercício de lapidarem seus versos e apresenta-los como diamantes que são cobiçados. Isso não é um sonho utópico, é tangível. Aqui, nesta resenha temos o exemplo de Giselda Pereira, poeta de excelência, e outras que estão chegando neste nível.

Trouxe tudo anotado e apliquei na minha Tabela Beradeiriana, que com base nos dados de rimas certas, métricas corretas, oração e ritmo, consigo obter o Índice de Coeficiente Poético – ICP  dessas 21 mulheres. O resultado foi o seguinte:

1)   Alaíde Souza Costa – 87,9%

2)  Aurineide Alencar – 91,2%

3)  Bhetty Brazil – 62,4%

4)  Cleusa Santo – 99,2%

5)  Cris Moura – 92,2

6)  Dani Almeida – 98,9%

7)  Daniela Bento – 93,9%

8)  EdiMaria – 98,5%

9)  Elizângela Soares – 89,3%

10)       Giselda Pereira – 100%

11)         Graciele Castro – 81 %

12)       Isabel Maia – 89,5%

13)       Josenilda Dias – 79,9%

14)       Josy Silva –  73,5%

15)       Julie Oliveira – 95,2%

16)       Madalena Castro – 93,7%

17)       Negra Aurea – 97,7%

18)       Raimunda Frazão – 79%

19)       Tânia Castro – 93%

20)      Vana Miletto – 98,8

21)       Vânia Alves – 76,3%

 Quanto mais próximo de 100 estiver o ICP, mas competente é a poeta no que diz respeito aos itens avaliados.  As cordelistas que apresentam problemas de métricas e rimas, que são os  pilares mais problemáticos na construção de um cordel, deixo aqui o que escreveu a poeta Madalena Castro:

                                       “Fiz meus primeiros cordéis 

                                               Alguns desmetrificados,

                                               Mas com o tempo eles foram

                                               Todos eles revisados

                                               Já conto quase noventa

                                               De cordéis meus publicados”

                                               (CASTRO, 2020, p.44).

 Essa é a atitude que o cordel brasileiro espera que todos os cordelistas façam sempre. Burilar o poema é engrandecer o cordel. Reconhecer os erros é uma qualidade dos grandes poetas. Infelizmente eu já ouvi alguns dizerem: “não fico preocupado se a rima ou a métrica estão certas”. Que tipo de cordel esse poeta produz? Eu mesmo venho fazendo isso com os meus cordéis. Quantos erros eu cometi de métrica e rima! Se queremos um futuro para esse gênero literário, não podemos permitir que ele continue sendo impresso com erros gritantes que atingem a  base das suas regras.

Hoje, a maioria dos poetas cordelistas possui o ensino médio e há até doutores. Eis a razão de estarmos atentos a tal assunto.

As xilógrafas trouxeram suas imagens poéticas e enriqueceram a obra. Continuem escrevendo seus textos, extraindo da madeira as raspas que permitem surgir a beleza das cenas que nascem através das vossas mãos.

Por último, gostei do registro que o trabalho apresenta fazendo referência às mulheres violeiras.  Por tudo isso, está de parabéns a Cordelaria Castro.  O livro, ora resenhado, podia ter vindo bem melhor, mas o importante é que ele chegou e está circulando pelo Brasil, compondo as prateleiras da estante reservada à História do Cordel Brasileiro.

E se eu não fosse um crítico de cordel escreveria apenas:  O livro “82 anos de Publicações  Femininas na Literatura de Cordel”, uma obra coletiva, mostra-nos o quanto o cordel é importante para transformar vida. Lemos isso nos vários depoimentos, em formas de versos, que as 21 mulheres participantes escreveram. É uma prova tangível que a poesia funciona como terapia, tábua de salvação, além de ser uma ferramenta para  hastear a bandeira do feminismo e denunciar  pensamentos retrógrados. Viva as mulheres desse universo!

Se você leu até aqui, quero que saiba, parafraseando o poeta  Manoel Cavalcante: " ...a grandeza da poesia jamais vai ser exata...a poesia não é regra de três".  Mas um texto  como manda o figurino do cordel brasileiro é bem mais bonito, isso é.

 

Mané Beradeiro

Parnamirim-RN,  29 de novembro a 3 de dezembro de 2020.

 

 Fontes:

1)   https://www.paraibacriativa.com.br/artista/maria-das-neves-batista-pimentel/

 

2)  “Maria das Neves Batista Pimentel: a voz por trás do verso”, file:///C:/Users/Cliente/AppData/Local/Temp/716-Texto%20do%20artigo-1801-1-10-20170221.pdf

 

3)   Dicionário Brasileiro de Literatura de Cordel – ABLC. Rio de Janeiro, 2005.

 

segunda-feira, 30 de novembro de 2020

FRANCISCO MARTINS LANÇARÁ ATÉ O FINAL DO MÊS A SEGUNDA EDIÇÃO DE : "AUTORES E ASSUNTOS NA REVISTA DA ANRL"

 Em 2018 o escritor  e pesquisador Francisco Martins publicou o livro "Autores e Assuntos na Revista da ANRL - 1951 -2018".  No final do mês de dezembro o pesquisador estará com nova edição, revista e atualizada, desta vez com textos que compreendem o período de 1951 a 2020.

A primeira edição foi de 100 exemplares,  no estilo cartonero. A edição de 2020 poderá ser adquirida como livro físico ou na versão digital.  "Autores e Assuntos na Revista da ANRL - 1951-2020" é um livro de referência, bastante útil aos pesquisadores, estudantes de literatura e àqueles que escreveram na revista ou tem parentes que nela participaram.

Para se ter uma ideia do conteúdo , segue dois exemplos (acadêmico e colaborador):

 

LOPES, Onofre – cadeira 11 – 2º ocupante.

 1)    O Padre e o Médico – discurso (de posse) – nº 4 – 1956 – páginas 139 a 159.

 2)      Eloy de Souza – discurso – nº 7 – 1968 – páginas 123 a 129.

 3)      Saudação a José Tavares –discurso -  nº 7 – 1968 – páginas 205 a  208.

 4)      Saudação a Diogenes da Cunha Lima – discurso – nº 11 – 1974 – páginas 27 a 32.

 5)      Cristovão Dantas – necrológio – nº 9 - 1971 – páginas 160 a 163.

6)      Saudação a Veríssimo de Melo (por ocasião do lançamento do livro Patronos e Acadêmicos)- discurso – nº 11 – 1974 – páginas 195 a 199.

 7)      Waldemar de Almeida – necrológio – nº 12 – 1976 – páginas 55 a 60.

 8)      Lançamento de um livro e seu significado cultural – discurso ( lançamento do livro “Centenário” de José Melquíades) – nº 14 – novembro 1978 – páginas 249 a 252.

 9)      Discurso no centenário de nascimento de Januário Cicco – nº 16 – novembro 1980/1981 – páginas 15 a 18.

 10)   Saudação ao Senador Jarbas Passarinho – discurso  (por ocasião da entrega do diploma de Sócio Honorário) – nº 18 – janeiro a dezembro  1983 – páginas 7 a 12. 

LOPES, Rui

 1)      A noite veste lilás -  conto – nº 62 – janeiro a março 2020 – páginas 154 a 156.

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domingo, 29 de novembro de 2020

CARTA A UM RAPAZ DE CEARÁ-MIRIM

 

O Bacharel em Direito - Nilo Pereira
 

"A Rosa Verde", livro que foi escrito por Nilo Pereira (tendo iniciado no segundo semestre de 1980 e  disponibilizado para venda em julho de 1982, embora o lançamento oficial tenha ocorrido em 4 de agosto daquele ano) foi lido por Américo de Oliveira Costa, um homem que viveu sempre perto dos livros e deles conhecia a intimidade. Deixou uma biblioteca particular com 10 mil volumes.  Finda a leitura do livro, Américo de Oliveira Costa escreveu a carta abaixo. Nilo estava com 72 anos, mas o leitor Américo escreveu para o jovem rapaz que estava narrando sua história em "A Rosa Verde".


   "Meu caro Nilo Pereira:

    Chego ao ponto final de teu livro "A Rosa Verde". Deste-lhe uma explicação: "crônica quase- romance". Parece-me, antes, um livro de memórias, o primeiro volume, talvez, de tuas memórias, pois terminas as narrações em redor dos 18 anos, já transferido para Natal, concluindo os preparatórios no Atheneu e congregado mariano. O fato de aqui e ali aludires a acontecimentos ou circunstâncias posteriores, que, juntos, te criaram um lugar ao sol, na cátedra, no livro, no jornal, na tribuna das Academias, nas assembleias, nos gabinetes de governo, não lhe altera a estrutura do tempo vivido, reencontrado e recomposto literariamente. Teu personagem Lauro, por outro lado, resulta numa máscara, num pseudônimo um tanto desajeitado, sobretudo por figurar invariavelmente, em contatos com criaturas reais, conhecidas e invocadas pelos nomes do registro civil.

    Outra impressão que me provocou teu livro: já muito escreveste sobre, a propósito, em torno de Ceará Mirim. Tens admiráveis páginas sobre a cidade, o vale, os velhos engenhos, os rios, a atmosfera específica, certos estilos e maneiras do comportamento de sua gente, formados à base de civilização canavieira, com foros de aristocracia rural. "Manhã da criação", tão justamente celebrada, é uma delas. Mas (perdoe-me o radicalismo do testemunho, que não é um julgamento), dir-se-ia que tudo quanto escreveste anteriormente foram esboços, visões, experiências, resumo, (sem que pretenda diminui-los) que, ao final, se ajustaram e consolidaram em "A Rosa Verde". Ele é a suma, a soma de tua vivência de infante e adolescente, na tua e na mesma cidade de Edgar Barbosa ( ah! o caro Edgar, de tão grata memória e hoje mais uma sombra no país dos mortos), Sanderson Negreiros, Meira Pires, outros ainda, todos almas sensíveis, eternamente "rapazes de Ceará Mirim", pela alvoraçada ternura, pelo entusiasmo idílico, pelo calor humano, pela paixão sem reservas, pelos arroubos românticos, com que sempre se referem ao seu berço natal, - não importam a passagem dos anos, certos fios de cabelos brancos  e os inevitáveis ceticismo e desencantos de que se tecem as jornadas do homem. A respeito, por exemplo, das glórias passadas, das ruínas das suas casas senhoriais, como a de Guaporé ou do Verde-Nasce, onde verde-nasceste, dos seus engenhos decadentes, e como expressão da permanência dos arrebatamentos daquela mocidade de espírito, - vocês não fazem por menos: evocam a Acrópole, no mínimo. Afinal de contas, é possível que tenham razão. Como diz Malraux, "uma Grécia secreta repousa nos corações de todos os homens do Ocidente". Criadores de símbolos e de imagens, cada um de nós por erguer as suas próprias Acrópoles. E como nós, cá de fora, contagiados, acabamos concordando com vocês, convictos, como no verso do poeta, de que ali "outrora retumbaram hinos". Por tais sugestões e influências, é que foi tanto mais eloquente e irretocável a carta-crônica que Sanderson te enviou há dias.  

    Em certos lugares e momentos, por ti evocados, os saraus no solar dos Antunes, digamos, o ambiente todo se ilumina e anima do antigo movimento, como um navio dentro da noite oceânica, os participantes revivem, ouvem-se as valsas tocadas ao piano por Paulo Lira, ido de Natal, ou Dona Darquinha, enquanto, vinda lá de fora, entra pelas varandas largas, a  aragem dos espaços enluarados. Comparecem, igualmente, no teu livro, as festas da Padroeira, as festas cívicas (como a do Centenário) as festas populares (Fandangos e Nau Catarineta). Uma figura feminina passa, silenciosa e apressada, na manhã tranquila, em direção à sua escola primária: é dona Adele de Oliveira, tua professora e doce poetisa. Cruza, talvez, na rua, por acaso, (imaginamos) com outra figura feminina incorporada definitivamente à vida do vale: é Magdalena Antunes Pereira, menina ainda, que escreveria depois o livro "Oiteiro, memórias de uma sinhá-moça". Enquanto isso, os chefes locais do Partido Liberal e do Partido Conservador se empenham nas intrigas e escaramuças das campanhas políticas sucessivas...

    Feliz e abençoada terra de Ceará-Mirim, que tem merecido tantos louvores, tantos cânticos, tantos devotamentos, vencendo o tempo, as ausências, as distâncias. Embora todos lá voltem, periodicamente, em peregrinações por assim dizer espirituais e telúricas.Prática em que és um irremediável reincidente, mestre Nilo.

    Fizeste, na realidade, um belo livro, dentro de suas características essenciais, inclusive sob os aspectos históricos ( com reflexos nos próprios destinos da província) e sociológicos, sem esquecer o ângulo da "petite histoire", a sua face pitoresca, o lado anedótico, o limitado quotidiano de homens e de coisas do vale. Um livro agradável de ler, - e isto é, a meu ver, por sua simplicidade, a melhor qualidade de um livro. Deve-nos , entretanto, a sua continuação. Houve, um dia, tua saída de Ceará Mirim para Natal, estudar no Atheneu. E lembro aqui as palavras iniciais de Raul Pompeia no seu grande romance: "Vais conhecer o mundo", disse-me meu pai à porta do Atheneu. "Coragem para a luta". Esse tipo de coragem não te faltou. Muita água correu sob as pontes de tua vida, depois do Atheneu, cujos preparatórios concluíste em 1928, meu caro Nilo. Deves-nos, repito, a sequência das tuas navegações, começadas nas águas humildes do rio (ou córrego?) Água Azul.

    Quase-romance, crônica romanceada ou memória, - o rótulo não impõe limites nem tem maior importância. O que vale e se impõe é quanto nele se contém. Até no mito da rosa verde, perdida e reencontrada miraculosamente em espaços e condições imprevisíveis e fantasiosas, impregnaste tuas páginas da misteriosa busca do sentido da vida e de algumas inconclusas insatisfações e indagações do destino do homem. Ela é o símbolo transcendental e legendário de anseios de superações terrenas, de jubilações e consolações espirituais. O homem não é uma paixão inútil, como queria Sartre que ele fosse."


Fonte: Diário de Natal, 23 de setembro 1982.

Coluna Paulo Macedo 

terça-feira, 24 de novembro de 2020

CURIOSIDADES DA LITERATURA DO RIO GRANDE DO NORTE - SALÃO LITERÁRIO COM MADALENA ANTUNES

 No Rio Grande do Norte há um livro que faz parte do canon clássico da literatura local. Seu título é: "Oiteiro - memórias de uma Sinhá Moça", que tem como autora Madalena Antunes, natural de Ceará-Mirim. O livro foi lançado no dia 26 de outubro de 1958, no Salão da Faculdade de Filosofia, que funcionava na Rua Jundiaí, onde é hoje a sede da Fundação José Augusto. O evento foi promovido pela Academia Norte-rio-grandense de Letras. Nilo Pereira, sobrinho da escritora, veio de Recife-PE fazer a apresentação do livro.  A Curiosidade literária é  esta que Nilo Pereira escreveu ...

 

Nilo Pereira

"Quando adolescente, no Ceará-Mirim, vi as reuniões que minha tia Madalena Antunes Pereira fazia no Palacete Antunes, para ler capítulos do seu livro romanceado - Oiteiro, Memórias de uma Sinhá-Moça, que a critica recebeu muito bem. Quem fazia parte desse Salão? Lembro-me de Edgar Barbosa, que seria mais tarde, o maior estilista do Rio Grande do Norte, Umberto Peregrino, escritor, e Oliveira Júnior, poeta.


 Era um alumbramento da Inteligência. A cidade quieta, repousada, sempre lírica, acordava por assim dizer para ouvir a leitura dum romance do coração: uma elegia em prosa."

 

Madalena Antunes

Francisco Martins

24 de novembro 2020

 

Referência:

PEREIRA, Nilo. Salões  do Recife: uma bela história a ser escrita. Jornal do Commércio, edição de 10 de julho de 1989. 

O Poti, edição de 23 de outubro de 1953.



quinta-feira, 19 de novembro de 2020

ASSIM DISSERAM ELES ...

 

 "Até uma certa idade, tem-se um amigo, que é o nosso próprio corpo. E depois, de repente, ele se torna um traidor, vivemos com um traidor".

Paul Morand (1888 - 1976), escritor.

12 CONTOS DE CASCUDO EM FOLHETOS DE CORDEL - UMA COLEÇÃO QUE VALE POR UM CURSO DE CORDEL

Hoje, 19 de novembro, o cordel brasileiro celebra o Dia Nacional do Cordelista. Foi nesta data em que nasceu Leandro Gomes de Barros, considerado o pai do cordel brasileiro. Não vou escrever sobre Leandro, pois há muitas coisas produzidas e publicadas com esse assunto, Basta dá uma busca pelos sites de pesquisa que encontraremos material suficiente para nosso deleite.


 Quero, entretanto, aproveitar a data para pontuar uma coleção que todo estudioso e/ou colecionar de cordel deve ter em seu acervo. Refiro-me aos "12 Contos de Cascudo em folhetos de Cordel", um trabalho primoroso  que tem  nada mais nada menos, que a presença de Marco Haurélio, Arievaldo Viana, Gustavo Luz, Jô Oliveira, na equipe de organização e produção. Isso é coisa nova? Pode perguntar o leitor. Respondo: não! É uma publicação da editora  Queima-Bucha (Mossoró-RN). Já está com 13 anos e afirmo que nada perdeu do seu valor, ao contrário, só ganhou.


 Os folhetos que integram a coleção  foram baseados em dois livros de Câmara Cascudo, a saber: "Os cinco livros do povo" e os "Contos Tradicionais do Brasil", e tem os seguintes títulos:


1) História completa do navegador João de Calais - autor: Arievaldo Viana

2) História da Donzela Teodora -  autor: Leandro Gomes de Barros

 3) O Homem que pôs um ovo - autor: Evaristo Geraldo

4)  O Papagaio Real ou o Príncipe de Acelóis - autor: Rouxinol do Rinaré

5) O Príncipe do Barro Branco e a Princesa do Reino do Vai-não-torna - autor: Severino Milanês da Silva .

6) O Boi Leitão e o Vaqueiro que não mentia - autor: Francisco Firmino de Paula 

7) A Sorte do Preguiçoso e o Peixinho Encantado - autor:  Antonio Francisco

8) O Rapaz que Encheu um saco de Mentiras - autor: Luiz  Antonio .

9) As aventuras de Pedro Malazartes e o Urubu Adivinhão - autor: Klévisson Viana

10) História da Moura Torta - autor: Marco Haurélio

11) João Besta e a Jia da Lagoa - autor: Francisco Sales Arêda 

12) O Príncipe das Sete Capas - autores: Vidal Santos e Arievaldo Viana


 Todas as capas têm o traço artístico do  ilustrador  Jô Oliveira.  Esta coleção vale por um curso de cordel brasileiro. Nela, o leitor vai se deparar com textos poéticos bem construídos, onde os autores lapidaram seus versos e não deixaram de atender as exigências fundamentais do cordel (rima, métrica e oração).

Existem muitos trabalhos que devemos trazer ao conhecimento do público. Alguns estão saindo agora das editoras, outros dormem nas prateleiras das bibliotecas e aguardam  serem acordados. O importante é que a atual geração tome consciência de que o cordel brasileiro está cada dia mais vivo e forte. Fazemos uma literatura que não está   a margem de nenhuma outra  deste país, e se por acaso alguém ousa rotulá-la de  subgênero ou algo parecido,  falta-lhe conhecimento e estudo na área.

Parabéns a todos os poetas cordelistas. Viva 19 de novembro!

 

Mané Beradeiro

Parnamirim-RN, 19 de novembro 2020.



terça-feira, 17 de novembro de 2020

DUAS ACADEMIAS: ACLA - CEARÁ-MIRIM E ACRE SE ENCONTRAM PARA FALAR SOBRE JUVENAL ANTUNES

 


PAPO CULTURA TEM TEXTO DE FRANCISCO MARTINS

 

 Foi publicado ontem, no blog Papo Cultura, o meu segundo  artigo. Dessa vez eu escrevi sobre o livro "A Biblioteca e seus habitantes" que completa 50 anos da primeira edição. Convido vocês que são leitores desta página a irem até o blog  e conhecerem um pouco mais sobre o livro que é um dos clássicos da literatura do Rio Grande do Norte.  Clique aqui e leia: A BIBLIOTECA E SEUS HABITANTES

sexta-feira, 13 de novembro de 2020

A LEITURA TRANSFORMA VIDAS


Sabemos que a afirmação acima é verdadeira, que o convívio com os livros fornecem elementos que funcionam como nutrientes à alma e espírito que crescem e se libertam. Ser leitor faz toda a diferença entre o que sou e o que poderei ser.
Não muito longe de nós temos exemplos disso. Thiago Gonzaga, de menino praticamente iletrado a Mestre de Literatura, traz no corpo, literalmente, a marca desta trajetória. Ele navegou no mar da ignorância e o atravessou fazendo dos livros sua tábua de salvação e das palavras os remos. 
Hoje eu quero contar a história de um outro menino que tinha toda uma geografia e situação social favorável a não ter seu nome escrito nos anais da literatura.
Nasceu no dia 12 de novembro de 1876, em Araruna-PB. Antonio Joaquim PEREIRA DA SILVA, filho de pais pobres. Veio ao mundo poucos meses antes do Brasil viver uma das maiores secas da sua história, a de 1877. 
Seu pai era marceneiro, fazia violas e sua mãe cuidava do lar. Pereira da Silva perdeu o pai muito cedo e isso marcou indelevelmente seu espírito.
Foi graças a um tio que ele aprendeu as sonoridades das letras. Tendo aprendido a ler, os livros foram suas pontes, e de Araruna parte o jovem pobre para o Rio de Janeiro, onde consegue continuar seus estudos em escola militar. Consegue depois se formar em Direito, trabalha no estado do Paraná, aprende Alemão, escreve na língua germânica em jornais da comunidade alemã. Não esqueçam que toda essa conquista foi fruto da leitura.
Pereira da Silva foi poeta, jornalista, escritor. Estreia na literatura aos 27 anos com "Vae Solis", 15 anos depois lança "Solitudes" e o poeta foi se formando com outros livros. Sete livros ao todo.
Onde chegaria o menino de Araruna?
Chegou até a Academia Brasileira de Letras, ocupante da cadeira 18. Foi o primeiro paraibano a fazer parte da Casa de Machado de Assis.
Viva a leitura!
"A glória que fica nas Academias é a que se traz de fora delas" (Manuel Bandeira).
Francisco Martins

13 de novembro 2020

quarta-feira, 11 de novembro de 2020

CURIOSIDADE DA LITERATURA DO RIO GRANDE DO NORTE - AMÉRICO DE OLIVEIRA COSTA SAUDOU CASCUDO

Você sabia que o escritor Américo de Oliveira Costa (1910-1996) foi quem fez o discurso de saudação a  Luís da Câmara Cascudo (1898-1986),  na Academia Norte-rio-grandense de Letras?  Cascudo tomou posse  na cadeira nº 13, no dia 4 de novembro de 1943. A curiosidade é que os que estavam tomando posse  sempre foram saudados por  Acadêmicos já empossados.  Américo de Oliveira Costa tinha sido eleito em 22 de julho de 1943 e só tomou posse em 22 de dezembro de 1949. O discurso de Américo de Oliveira Costa foi publicado na Revista da ANRL, nº 3 (1955), páginas 50 a 69.

 

 Referências
 

MARTINS, Francisco.  A Grande Pesquisa - homenagem aos 80 anos da Academia Norte-rio-grandense de Letras (1936-2016). Natal/RN. 8 Editora, 2016.

__________________.  Autores e Assuntos na Revista da ANRL (1951-2018). Natal/RN. Carolina Cartonera, 2018.

terça-feira, 3 de novembro de 2020

FREI ZITO O HOMEM QUE ME ENSINOU A FAZER PÃO

 Em 1984 eu estava morando no Convento Sagrado Coração de Jesus, da Ordem dos Frades Capuchinhos, no bairro Farol, na cidade de Maceió, estado de Alagoas. Naquele ano  viviam   no Convento dos Frades Capuchinhos: os seguintes religiosos: Francisco Barreto (Guardião), Walter,  Cassiano,  José  Carlos,  Evilásio,  Dimas, Manoel,  Zito, Luiz de França, Luiz Vieira, Oswaldo, Airton (todos frades)  e os  seminaristas: Aquiles, Chapron,  Luis Carlos, Ismar e Adilson.

 

Convento dos Frades Capuchinhos - Maceió-AL

No meio dessa turma  tinha um frade que um dia me fez um convite para auxiliá-lo a fazer pão. Ele se chama Frei Zito. Fui ajudá-lo a fabricar os pães. Nunca que eu pensei em um dia usar aquele ensinamento para ser um complemento da minha renda familiar.  Já se foram 36 anos daquela aula.  Por causa da pandemia na qual estamos eu vislumbrei a oportunidade de poder fazer pães caseiros, vende-los e entrega-los nos lares dos clientes.

Frei Zito

Comecei em março e já vou para o décimo mês de  produção. Precisava escrever isso e dizer ao Frei Zito o quanto sou grato a ele por ter me ensinado a por a mão na massa. 

  Na semana passada eu fui ao Convento dos Capuchinhos, em Natal, local que ele fez o noviciado. Queria saber onde ele estava morando. Infelizmente  o recepcionista da casa nada sabia sobre ele, sequer tinha ouvido falar nesse nome. Estranhei e pensei comigo: provavelmente ele não deve mais fazer parte da Ordem dos Frades Capuchinhos.

Folheei um anuário com os nomes dos frades que integram a Província e não o encontrei. Mas ontem, a internet me forneceu uma pista, li no blog de Tiago Padilha,  que em 2019 ele foi nomeado para ser Vigário Paroquial, na cidade de Bom Conselho - PE ( referência abaixo, da qual copiei a foto). Agora só tenho que fazer este artigo chegar até ao conhecimento de Frei Zito. Tomara que ele leia e saiba da minha gratidão.

O ofício de padeiro tem me dado muitas alegrias, pois associei ao ato de fazer pão, levar também o pão literário aos meus clientes. Geralmente entrego junto, a Revista da Academia Norte-Rio-Grandense de Letras ou então algum cordel mais recente, escrito por Mané Beradeiro. E o que recebo? Ah!  Frases como estas:

 "Luxo mesmo é quando um amigo junta mil grãos de trigo e traz, à casa, um livro e o alimento mais universal: um pão." (Angelica Vitalino)


 "Comprar pão a um poeta padeiro é outra história. Pão com Literatura de Cordel. Obrigada, amigo,  pela  sensibilidade" (Maria José)


   
A gente às vezes faz as coisas e não percebe a dimensão do que elas podem chegar. Um convite, uma palavra, um gesto, um sorriso, um abraço, um pão. Obrigado Frei Zito, que jamais lhe falte o "Pão descido dos Céus" - Jesus!

 

Francisco Martins

Parnamirim-RN, 3 de novembro de 2020 

 

 

 Imagem de Frei Zito copiada do blog de Tiago Padilha

http://tiagopadilhaoblog.blogspot.com/2019/04/frei-zito-e-o-novo-vigario-paroquial-de.html

 Imagem do Convento copiada do endereço:  https://br.infoaboutcompanies.com/Catalog/Alagoas/Maceio/Convento/Igreja-dos-Capuchinhos


 

A MÉTRICA DO CORDEL BRASILEIRO SERÁ O TEMA DA 2ª OFICINA REALIZADA POR MANÉ BERADEIRO

 

 O poeta Mané Beradeiro dará continuidade hoje à noite, ao curso sobre Cordel Brasileiro, de forma remota, em plataforma voltada  para um seleto grupo de professores e contadores de histórias  dos estados de São Paulo, Paraná, Pernambuco. O tema de hoje será "Métrica".

 O cordel  como gênero literário tem lá seus elementos de construção, e além da rima e a oração, a métrica é também uma das colunas indispensáveis à beleza do cordel. Por isso, o poeta Mané Beradeiro falará na noite de hoje, a  partir das 19:30h, sobre a importância da escansão,  licenças poéticas, diérese, sinérese, elisão, etc.

segunda-feira, 2 de novembro de 2020

REFLEXÕES DE UM PRÉ-FINADO

 

      O escritor   Gilberto Cardoso dos Santos,  residente em Santa Cruz-RN, escreveu uma prosa poética que vale a pena lê-la. Tentei publicar por aqui, mas não consegui. Tive problemas na edição. Mas, convido vocês a conhecerem  o texto: Reflexões de um Pré-Finado



O HUMOR DE MANÉ BERADEIRO : DIA DE FINADO

 

Sebastião acordou neste dia 2 de novembro com uma homenagem feita por sua esposa, Dona Gorete, que tão logo raiou o dia, ela colocou no colo dele uma coroa de flores e cantou:

"Os que no Senhor dormiram, descansando já estão/ Aos heróis se reuniram e aguardam a ressurreição" 

Quando ele abriu os olhos ela olhou para ele e disse: 

-Feliz Dia dos Finados!

É como diz a trova:

 "Ora, louvado seja Deus!

Ora, Deus seja louvado!

De cabeça para baixo

Este mundo anda virado"

 

 

 



 

domingo, 1 de novembro de 2020

ASSIM DISSERAM ELES ...

 


 " A política é a arte de atingir o cocho e nele ficar, com exclusão dos outros porcos, o mais tempo possível. O poder executivo é um cocho estreito, embora cheio de boa lavagem, que não permite, aos lados, ou outros poderes, ou outros porcos"

Thomas Carlyle (1795-1881)

sexta-feira, 30 de outubro de 2020

CRÔNICA COM SABOR DE FANTASIA NUMA CIDADE ENCANTADA - PARTE II

 Numa esquina que fica localizada no bairro Monte Castelo, em Parnamirim-RN, existe um exemplo de superação. Não é dado por uma pessoa nem animal, o exemplo vem de uma planta


 Eu a conheci na semana passada, quando trafegava por ali, montado na minha Muar Azeviche* e fazia entrega de pães. Fiquei curioso com aquela  "árvore", nunca tinha visto nada igual na  Cidade Trampolim da Vitória. Parei a Muar  Azeviche  e fotografei. Foi quando ouvi um  psiu de alguém me chamando. Olhei para os lado e não vi ninguém. Liguei a Muar e o psiu voltou a ser dado de forma mais forte. Só assim percebi que era a própria árvore que eu tinha fotografado, que me chamava.

-Venha aqui! Sei que você consegue escutar a gente, assim como um dos seus escritores favoritos também escutava

Fiquei pasmo, pálido, tremi nas bases, mas fui.

-Olá dona árvore! Como vai?

 -Não sou árvore, sou uma trepadeira, unha-de-gato, que cresce  agarrada aos muros das cidades. Sou muito usada em paisagismo, mas eu resolvi ir mais além. Quis ser árvore! Sempre desejei  crescer para cima ter raízes sólidas, ver mais além.

-Verdade! Agora que percebo que a sua folhagem é de uma vegetação totalmente diferente das árvores. Como conseguiu esta proeza?

-Com determinação, força de vontade e muita superação. Não foi fácil mas estou aqui. Sou única!

-Parabéns! Posso  dizer isso lá no meu blog?

-Sim. 

-Qual seu nome pessoal?

-Eu sou Darci. Agora pode ir. Espalhe minha história.

E foi assim que eu, poeta, padeiro, pude perceber que em tempo de pandemia até a vegetação busca se aventurar. Viva Darci!


Francisco Martins

30 de outubro 2020

 

*Jumenta preta, minha moto de 50cc