segunda-feira, 18 de outubro de 2021

HUMOR DE MANÉ BERADEIRO

 

No tempo que imperava a palmatória e o professor a usava sem receio aconteceu esta história.
Professor ao aluno:
- B e bi (Bi) guê o gô (go) dê é dé (de) forma qual palavra?
O aluno nervoso respondeu sem pensar:
- melancia!
- menino rude! Dê-me a mão.
E a palmatória cantou.

Mané Beradeiro

18 de Outubro 2021



COMENTANDO MINHAS LEITURAS: PUSSANGA - MOLDURA DO BRASIL AMAZÔNICO

 "Pussanga" é o título de um dos livros de Peregrino Jr, escritor potiguar, que foi membro e Presidente da Academia Brasileira de Letras-ABL e da Academia Norte-rio-grandense de Letras, além de outras instituições. As histórias de "Pussanga" são lendas, superstições, costumes, ofícios laborais do homem que vivia  na Amazônia, no segundo decênio do  século XX.

Peregrino Jr

O livro foi premiado em 1929 pela ABL e recebeu tradução para vários idiomas. "Pussanga" é sinônimo de medicamento caseiro, conforme vemos no conto de abertura Garrafada Indígena: "nessa pussanga, tem infusão de muyrakitan".

Escrevo sobre livros antigos porque muitos leitores sequer sabem da existência deles. E é sempre bom lembrar que livro novo é todo aquele que ainda não foi lido. Em "Pussanga, Peregrino Jr nos leva a Belém (PA) onde vamos encontrar José Caruana e Vicente Dória, numa tentativa de sociedade comercial. Isso no primeiro conto já citado acima. Na sequência, em Areia Gulosa temos Antonio e Josino, o primeiro, nordestino de Catolé do Rocha (PB), o outro de Óbidos (PA). O conto tem como local a fazenda "Boa Esperança", do Coronel Zé Júlio. Ali veremos a força do trabalho e a ingratidão de uma mulher, bem como a prática da entrega de terra para cultivo em troca de uma percentagem (10%) ao proprietário.

Quando o leitor correr os olhos pelo conto "Carimbó" vai encontrar o nonagenário Zé Vicente, escravo que sabe muito sobre a presença do negro no Amazonas. Através dele conheceremos o Quilombo de Trombetas e a sua organização política, econômica e cultural.  " No ritmo do Carimbó dançando a dança negra os negros velhos recordam as senzalas tristes".

Geralmente os escritores têm uma história dedicada à beleza da mulher. Peregrino Jr não fugiu a  regra e deu formosura e curvas a "Feitiço", o nome pelo qual era conhecida a linda criada do Coronel  Rodopiano. A cabocla descrita por Peregrino Jr é sem sombra de dúvida o protótipo literário do que mais tarde iremos conhecer em "Dona Flor", personagem de Jorge Amado. "Tinha bom cheiro de carne morena, mas nela havia também a maldição". Qual seria essa maldição? Vale a pena conhecer Feitiço, um conto que mostra a saga de uma jovem mulher, lutando pela vida, numa rota de sobrevivência que se passa entre Belém(PA) até o Rio de Janeiro.

No centro do livro temos o conto "O Putirum dos Espectros"  no qual o autor vai mostrar a forma de sobrevivência de uma família pobre, através da prática da barganha. No sexto conto "O Sobejo da Cobra Grande" temos um jogo de ciúmes entre Leôncio e Luizinha, adolescentes. Ele capaz de realizar grandes gestos de coragem por amor a ela.

"Recordações da Madeira- Marmoré" é o único texto nesse livro, no qual a narrativa está na primeira pessoa. Pode ser um conto, mas há traços de ser uma crônica. O autor relata sua estada de três meses em Guajará-Mirim, fronteira com a Bolívia.

No oitavo conto, o leitor mais uma vez terá um encontro com a cultura machista que imperava naquela região, fazendo da mulher um mero instrumento, um objeto de prazer. "Ladrão de mulheres" trata disso e muito mais. Já no "O Espritado" a temática é a crença de que não se deve fazer esforço laboral nos dias grandes da Semana Santa. Zeferino foi caçar e  "ficou possuído de uma mau espírito! Sabe como é? Espritado, patrão".

E a viagem vai terminar no décimo conto "A Fogueira de Guajará". Nele tudo acontece num ambiente de festa junina, em Guajará, reinado do Coronel Antonio Gomes, rico e solteirão que tem como filosofia: " Não se deve fazer a vida pior do que ela é". Que pode uma curiboca fazer na vida de um cinquentão? Deixarei para o leitor buscar a resposta.

E assim fica resenhado "Pussanga", livro de Peregrino Jr, lançado em 1929 quando ele tinha 31 anos. A segunda edição veio em 1945 e a terceira em 1948. Peregrino Jr nasceu em Natal no dia 12 de março de 1898 e faleceu aos 85 anos, no dia 23 de outubro de 1983.

Francisco Martins
18 outubro 2021





segunda-feira, 11 de outubro de 2021

LEITURINO ESTARÁ AMANHÃ COM AS CRIANÇAS NA IGREJA DO EVANGELHO QUADRANGULAR, EM FELIPE CAMARÃO


 A Igreja do Evangelho Quadrangular, no bairro Felipe Camarão, em Natal-RN, celebra amanhã à tarde, O Dia das Crianças. Preparou com muito carinho um evento destinado aos pequeninos. "SIGA-ME!" É o tema do encontro. Como acontece em outras ações, a Igreja sempre convida o Palhaço Leiturino para abrilhantar o momento. Desta vez não será diferente. O palhaço vai comemorar com as crianças os seus 12 anos de atividades no mundo do riso. Na pauta: parlendas, piadas, Palavra de Vida, afinal "Passará o céu e a terra, porém as minhas palavras não passarão" (Lucas 21:33).

domingo, 10 de outubro de 2021

A REZADEIRA CREUZA BATISTA

     


    Carminha passou a noite sem dormir. O motivo foi uma dor aguda que ela estava sentindo, começava no ouvido esquerdo, descia para a garganta e subia para os olhos. Foi uma noite agoniada.

Mal o dia amanheceu a mãe de Carminha mandou o irmão ir à casa de Dona Creuza, a rezadeira mais conhecida daquela região. Quando ela soube do acontecido com Carminha, disse ao portador: “Vou botar o café de João e daqui a pouco eu chego lá”.

Assim disse e assim fez. No caminho colheu algumas folhas de pinhão roxo. Isso era indispensável no seu ofício de rezadeira.

−Bom dia!

− Pode entrar Creuza. Carminha tá lá no quarto, a bichinha nem quis tomar o café.

Dona Creuza entrou naquele quarto e viu Carminha encolhida e coberta com o lençol de saco de algodão.

− Sente fia, não é bom receber a reza deitada.

A menina-moça sentou com muito esforço. Dona Creuza perguntou o que ela sentia, à medida que Carminha falava, a rezadeira catalogava os santos.

−Tenho dor nos olhos

−Santa Luzia desce pra cá

−A garganta muito inflamada

− São Braz venha também

−Meu ouvido esquerdo lateja demais

Aí Dona Creuza ficou em silêncio tentando lembrar quem invocaria. Poucos segundos depois ela tinha duas opções: São Francisco de Sales e Santo Agostinho. Qual escolheria? Optou por São Francisco de Sales.

−Chico de Sales não demore chegar.

Dona Creuza tinha intimidades com os santos da sua preferência. Uma vez feita a convocação deu-se início o ritual da reza. Fez o Pelo Sinal, o Sinal da Cruz e com os ramos de pinhão roxo na mão direita tocava levemente na cabeça, umbigo, ombros esquerdo e direito de Carminha, inúmeras vezes, enquanto pronunciava as palavras da sua reza:

Iam Pedro e João a caminho de Jerusalém, quando se depararam com Santa Luzia.

“Pra donde vai Luzia Santa?” Perguntou Pedro.

“Vou curar a menina Carminha que sofre de dor nos zóios”. Pai Nosso e Ave Maria, seja noite ou seja dia dai a cura a Carminha.

 João disse a Luzia:

“Leve pinhão roxo pra benzer a tal menina. Vá depressa oh Luzia acabar com agonia que ela veja Jesus Cristo nesta sua travessia”.

Creio em Deus, o Pai Eterno

No seu filho, o Redentor

Creio no Espírito Santo

Do amor revelador.

 

Enquanto Creuza rezava e tocava Carminha com as folhas, essas iam ficando murchas.

 

     Na estrada desta vida

     Encontramos muita dor

     Mas também temos a Graça

     Dada por Nosso Senhor

     De curar toda mazela

     Vem São Braz levar Carminha

     Ao Poço de Jacó

     Dai-lhe água tão bendita

     Curai dela a garganta

     Dai-lhe força sacrossanta …

   Aqui Carminha interrompeu Dona Creuza

   −Eu não quero ir para o Poço de Jacó!

       Toda dor que nós sentimos

                Já sentiu Jesus na Cruz

                Sete selos do destino

                Tem homem, mulher e menino

               Vinde São Francisco de sales

                Com o poder de Jesus

               Curar a dor de Carminha

               Neste ouvido inflamado

               Devolver para a menina audição

               recuperada. Salvem os Santos da Igreja,

               Salvem Braz, Salve Luzia, Salve Francisco de Sales

               Na manhã de cada dia.

               Em nome de Jesus. Amém!

         Quando Creuza terminou a reza, as folhas do pinhão roxo estavam todas murchas. Deu água a Carminha e fez algumas recomendações.

         Ao se despedir, lembrou a frase que gostava de falar: "É na doença que o santo vale mais”.

 

Mané Beradeiro

08 de outubro 2021

  

     

quinta-feira, 7 de outubro de 2021

A PRAÇA É DO CORDEL







Estação do Cordel retorna atividades presenciais com o “Cordel na Praça”


Nesta sexta-feira (08) e sábado (09), o Ponto de Memória Estação do Cordel, retornará a realizar as suas atividades presenciais. O Cordel na Praça traz uma programação genuína, como exposição de cordéis, exposição de xilogravuras de Jefferson Campos, exibição do documentário ‘Mulheres Cordelistas na Cena Potiguar’, Feira do Cordel promocional, música e muita arte.


Seguindo todos os protocolos de segurança contra a Covid-19, as atividades culturais serão realizadas ao ar livre, na Praça Padre João Maria, no Centro histórico de Natal/RN. De acordo com a organização, o evento estará expondo toda a produção adquirida com os recursos da Lei Aldir Blanc.


Confira toda a programação do Cordel na Praça:


Sexta-feira: 08 de outubro de 2021


18 h – Mostra do Cordel na Praça – Exibição do documentário ‘Mulheres Cordelistas na Cena Potiguar’
19:30 – DJ Vinícius Soares– ao som do toque da terra


Sábado: 09 de outubro de 2021


8:30 – Café com poesia aberta aos poetas presentes
Exposição de xilogravura de Jefferson Campos
9 h – Fernandinho no toque da viola
10 h – A hora de Cláudia Borges
12 h – Lançamento do Livro – Inácio da Catingueira – O pandeiro da liberdade de Irani Medeiros com participação especial de Caio Padilha
13 h – A poética de Jadson Lima
14 h – Roda de Cordel com @s poetas (momento aberto aos poetas presentes)
15 h – Bando Fabião
16 h - O Cortejo do Boi Misterioso
17 h - Choro do Caçuá - Carlos Zens

BIBLIOTECA DRIKA DUARTE FAZ ANIVERSÁRIO

 


LIVE SOBRE DOM PEDRO I NO SITE DA BIBLIOTECA NACIONAL

 


terça-feira, 5 de outubro de 2021

COMENTANDO MINHAS LEITURAS: NA BODEGA DE DONA MARGARETH

 

"As Bodegas da Rua do Patu e outras histórias" é o segundo livro de Margareth Pereira, desta vez no estilo de contos e crônicas. Lançado em 2018, tem o selo da Editora CJA e em suas 71 páginas há 17 histórias que nos chamam à reflexão da vida.

A prefaciadora, Professora Doutora Cláudia Santa Rosa, escreve: "Há livros que a gente se apega, identifica cheiro, cor, gosto ...Em seus escritos, Margareth deixa todas as pistas de um vasto repertório, forjado nas memórias de várias épocas".

E foi com este norte que eu entrei nos escritos da autora Margareth Pereira. A linha do desenvolvimento exposta por ela contém vários cenários, alguns têm a geografia bem definida (Ceará-Mirim), e outros, não revelada.

Margareth Pereira

Margareth Pereira nos põe diante de uma grande tela, em branco. Deixa ao nosso alcance tintas variadas e pinceis de modelos diferentes. Com sua escrita, sua vivência e criatividade nos convida a pintar nessa tela as imagens das histórias.

É bem verdade que as ilustrações de Júlio Siqueira já fazem parte do trabalho, mas não custa fazermos a nossa também.

Os contos e as crônicas pegam o tempo e o  ontem e o hoje se mesclam. Margareth Pereira nos transporta à rusticidade dos balcões das bodegas, faz a gente ter encontros com crianças vestidas de solidão, reforça a máxima de que "o amor não passa", nos surpreende com o final do  conto  "Entalo", traça analogias do comportamento humano com alguns animais, rega sementes de amor em corações adolescentes, indaga o porquê daquela vida sem cor e sem sabor e escreve outras histórias.

Tudo isso encontrei na Bodega de Dona Margareth. Vá lá você também!

Francisco Martins
05 de outubro 2021


O LÚDICO TOMA CONTA DA CASA DE LEITURA

 


domingo, 3 de outubro de 2021

PÉROLAS DOS BASTIDORES DA LITERATURA POTIGUAR

Vingt-un Rosado

 Certa vez o jornalista Vicente Serejo escreveu para Vingt-un  Rosado: "Meu caro Vingt-un Rosado; recebi seu bilhete. O título do livro de Cascudo é "Informação de História e Etnografia". Não tenho o exemplar. Assalte, imediatamente, o poeta Diógenes da Cunha que tem a segunda edição. Faça a terceira que só voismicê é capaz disto."

Vicente Serejo
Vingt-un procurou o poeta Diógenes e dele recebeu o seguinte bilhete: "Tenho. E empresto desde que cuide do livro como Dona América cuida de você".

Diógenes da Cunha



sexta-feira, 1 de outubro de 2021

UM LUGAR ESPECIAL

 Se existe um lugar neste mundo  no qual eu quero ser lembrado, é sem sombra de dúvidas,  o espaço das bibliotecas. Eu tenho uma história de amor para com elas. Primeiro foi com a Biblioteca Pública Municipal Doutor José Pacheco Dantas, em Ceará-Mirim-RN; depois, lembro que gostava imensamente de ficar entre os livros da Biblioteca do Seminário de São Pedro, em Natal-RN. Nessa mesma cidade conheci a Biblioteca Estadual Câmara Cascudo, a  Biblioteca Esmeraldo Siqueira (na sede da Capitania das Artes) e  tive um grande caso de amor com a Biblioteca Padre Luiz Monte ( na Academia Norte-rio-grandensense de Letras), onde servi por mais de dez anos.


Em Parnamirim, cidade que me acolheu,  estou sempre que posso, flertando com o acervo da Biblioteca Pública Municipal Rômulo Wanderley.  Uma biblioteca que merece receber por parte do poder público, um olhar  e atitude dignas de uma cidade leitora. Quantas cidades no Rio Grande do Norte  têm vários prêmios por ações desenvolvidas no campo da leitura? Uma eu sei: Parnamirim, e o mérito é todo do esforço do projeto Rio de Leitura, que tem em seu leito de ações a força e a coragem dos professores mediadores de leitura e da equipe que administra o projeto, desde sua criação, tendo à frente a professora Angélica Vitalino. Nutro a esperança de que o legislativo e o executivo de Parnamirim compreendam o que significa a frase lobatiana: " Um País se faz com homens e livros".

Fui agraciado  com uma visita que fiz à biblioteca particular do jornalista Vicente Serejo,  uma das mais bonitas do Rio Grande do Norte, que ocupa praticamente toda uma casa, no bairro de Morro Branco.  Senti o aconchego na biblioteca particular do poeta Oreny Junior, em Parnamirim. Sentei nos bancos da Biblioteca Central Zila Mamede, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, e, antes da pandemia eu estava namorando com a Biblioteca Veríssimo de Melo, que também pertence  a UFRN e fica sediada no Museu de Antropologia Câmara Cascudo. A pandemia me distanciou, mas a paixão continua e tão logo ela esteja aberta ao público voltarei àquele lugar.

Biblioteca particular de Vicente Serejo

Recentemente organizei o acervo da Biblioteca Ciro Tavares, que pertence a Academia Ceará-mirinense de Letras e Artes -  ACLA - Pedro Simões Neto, na cidade de Ceará-Mirim. Na semana, quase todos os dias, agendo um horário para pesquisar, de forma remota,  no site da Biblioteca Nacional.  Alimento-me dos jornais e revistas que estão disponíveis ao público, esse material é muito rico de informações culturais.

Minha biblioteca 

Dentro do meu lar, tenho uma pequena biblioteca, onde descansam nas prateleiras as obras que jugo necessárias tê-las perto de mim e debaixo do meu teto.  Não muito distante lá de casa, na Escola Municipal  Rubens Lemos,  eu fui agraciado para ser o patrono da biblioteca escolar, vejam só quanta alegria! Lá na placa de inauguração consta: Biblioteca Escolar Francisco Martins. Breve celebraremos sete anos de existência, em dezembro próximo.

Esta fascinação que tenho pelas bibliotecas me faz um bem enorme. Foi graças ao amor pelos livros que aprendi não apenas me tornar leitor, mas ser também: escritor, encadernador, arrumador de bibliotecas, pesquisador e outras coisas correlatas. Todo esse universo,  que possui um clima de sabedoria e paz, leva-me cada vez mais para perto de Deus, afinal, Ele também  nos dá a alegria de termos nas mãos a sua Biblioteca, onde a Palavra se fez carne  e habitou entre nós.

Francisco Martins -  Parnamirim-RN - 01 de outubro 2021

quinta-feira, 30 de setembro de 2021

O HUMOR DE MANÉ BERADEIRO

 Frederico da Prussia tinha o costume de dirigir as três seguintes perguntas a todo o soldado que entrava em seu serviço: Que idade tens? Que tempo há que estás ao meu serviço? Satisfazem-te a paga e o tratamento que te dão?

         Um jovem soldado, natural da França, depois de ter servido ao seu país, desejou entrar no serviço da Prussia. O seu aspecto deu-lhe aceitação; mas ele ignorava completamente a língua alemã; entretanto o seu capitão advertiu-lhe que ele havia de interrogá-lo nessa língua, logo que o visse, e por isso deu-lhe o conselho de aprender de cor as três respostas competentes.

Assim o soldado as decorou no dia seguinte, e apresentando-se nas fileiras, foi logo interrogado por Frederico; permitiu, porém, o acaso que desta vez o rei começasse pela segunda pergunta, e lhe dissesse: Que tempo há que estás ao meu serviço? Ao que respondeu o soldado: Vinte e um anos. O rei, observando que a sua mocidade mostrava claramente não ter ele tantos anos de serviço, perguntou-lhe admirado: E que idade tens? Um ano somente, replicou o mancebo; então Frederico, ainda mais espantado, exclamou: Um de nós dois, certamente perdeu o juízo! O soldado, julgando ser isto a terceira pergunta, respondeu muito seguro: Ambos, com permissão de V. Majestade.

 

Fonte: Jornal Academia Popular - Pernambuco, ano 1, edição 3 de maio de 1863,p.8



sexta-feira, 24 de setembro de 2021

MINHA VIDA






A minha vida tem cheiro de luta
Tem as marcas das vitórias
Há estradas guardadas, carinhosamente conservadas,
Pois um dia nelas passei.

Minha vida tem dois tempos: o ontem e o hoje
Há dias que eles se mesclam
E eu não sei se estou naquele ou neste.

Minha vida tem pessoas especiais.
Gente que dou meu sangue
Se preciso for.

Francisco Martins

24 setembro 2021

POEMA PARA CORTEZ

Sr. Cortez e Mané Beradeiro

 Lá vai Sr Cortez todo alegre para o Céu!

Leva nas cores da alma, tudo de bom que fez aqui.

Há uma nuvem que vai transportá-lo

Nela, sintoniza-se a Rádio CNSP (Currais Novos-São Paulo)

Uma Estação que somente Sr Cortez pode escutar.

Nesta viagem, ele ouve forró.

Sr Cortez vai e fica. Vai na saudade, fica nas ações que impregnou nos livros.

Choram os linotipos, silenciam os teclados, gemem as grandes máquinas  gráficas.

Há um corredor, no tempo, que hoje lembra aquele homem vendendo livros.

Lá vai Sr. Cortez!

Bate a porta do Céu: '"toc-toc"

-Quem é?

E o Sr Cortez, diante daquela pergunta fica a pensar: "O que eu sou agora".

Os poetas respondem:  O amigo dos livros

O "Rio de Leitura" diz: Um grande homem

Os seus amigos confirmam: O melhor dançarino de forró

Os filhos, com lágrimas, proclamam: O pai que jamais esqueceremos!

Entre, Sr Cortez! O Céu  é todo seu!


Francisco Martins/ Mané Beradeiro

24 de setembro 2021


Leia também o poema que escrevi Do Sertão ao Mar


Morre José Xavier Cortez, fundador da editora Cortez, aos 84 anos

 José Xavier Cortez, o sr. Cortez, editor que foi plantador de algodão, marinheiro e lavador de carros até começar a vender livros no estacionamento da PUC, morreu aos 84 anos, em São Paulo, em decorrência de um câncer. Querido no mercado editorial, era conhecido também por sua paixão pelo forró - tanto que era comum, durante as bienais do livro, que as noites terminassem em dança no Restaurante Andrade, em Pinheiros.

Nascido em Currais Novos, no Rio Grande do Norte, em 18 de novembro de 1936, ele trabalhou na agricultura de subsistência com a família, no sítio em que vivia e que ficava a 25 quilômetros da cidade, e estudou, até a 5ª série, em uma escola rural distante 6 quilômetros de casa - percurso que ele fazia a pé ou a cavalo.

Aos 18 anos, ele se mudou para Natal, fez bicos, inclusive vendendo frutas, como contou em uma entrevista, e ficou por lá até 1955. Ingressou na Escola de Aprendizes-Marinheiros de Pernambuco, passou um ano no Recife e, em 1956, foi transferido para o Rio de Janeiro, onde serviu em vários navios da Marinha do Brasil. Ali, voltou a estudar.

Sua vida na Marinha durou até 1964, quando, em plena ditadura militar, ele foi expulso da corporação. O motivo, ele contou, foi ter participado de um movimento organizado pela Associação dos Marinheiros e Fuzileiros Navais do Brasil, que ficou conhecido como Rebelião dos Marinheiros.

Em janeiro de 1965, sr. Cortez chegou em São Paulo e foi trabalhar como lavador de carros no estacionamento de um parente. Já era um leitor naquela época e, ainda em 1966, entrou no curso de Economia da PUC. Neste momento, sua trajetória começou a mudar.

A aproximação com o mundo dos livros foi reforçada pela amizade com o gerente de uma editora que publicava obras da sua área e ficava perto de sua casa. Ele começou a vender para os colegas da faculdade os livros que os professores sugeriam. Como tinha desconto na compra desses livros, esse trabalho o ajudou a complementar o pagamento da mensalidade.

Em 1968, ele foi autorizado a usar um pequeno espaço nos corredores da universidade e ampliou a oferta de livros para outros cursos.

"Fiquei conhecido entre os professores porque conseguia para eles qualquer livro, mesmo que fosse proibido (pela ditadura). Sabia das bocas", revelou o editor em uma entrevista ao Estadão em 2010. Entre a sua clientela, ele contou, estavam intelectuais como Florestan Fernandes, Paulo Freire e Maurício Tragtenberg.

Nessa época, começou a flertar com a edição, trabalho que tocou com um colega de classe até inaugurar, em 1980, a Livraria Cortez e a Cortez Editora. Começou assim: o professor Antônio Joaquim Severino fez uma apostila em mimeógrafo e depois numa pequena gráfica para seus alunos. "Sempre vinha algum aluno me perguntar se eu não vendia aquela apostila", contou Cortez na mesma entrevista ao Estadão. Foi atrás do professor, que lhe entregou cerca de 20 exemplares - vendidos num piscar de olhos.

Cortez, que não sabia nada sobre os processos editoriais, se ofereceu para transformar a apostila em livro. E ela virou Metodologia do Trabalho Científico, primeira obra da Cortez que é um sucesso comercial até hoje.

A editora publicaria, ao longo de sua história, obras acadêmicas e livros infantis. "Publicar livros para trazer ensinamentos é tão importante quanto plantar o tomate que vai servir de alimento", disse o editor.

Sr. Cortez, que foi diretor da Câmara Brasileira do Livro, virou nome de escola e foi homenageado, em 2005, com o título de cidadão, pela Câmara Municipal, teve sua história contada no documentário O Semeador de Livros. Em 2016, a Livraria Cortez, em Perdizes, deixou de comercializar livros de outras editoras e passou a ser apenas um ponto de venda das obras da Cortez.

Durante a quarentena, em outubro de 2020, ele lançou o livro Tempos de Isolamento, escrito com a jornalista Goimar Dantas.

Texto coletado na íntegra do site: https://www.dgabc.com.br/Noticia/3778994/morre-jose-xavier-cortez-fundador-da-editora-cortez-aos-84-anos