Gilberto Cardoso que vem nestes últimos anos crescendo na arte de entrevistar, vai receber quinta-feira, numa live, os organizadores da edição 2021, do mais conhecido livro de poesia do Rio Grande do Norte, o Horto, da poeta Auta de Souza. Agende-se e venha desfrutar deste momento cultural.
terça-feira, 21 de dezembro de 2021
segunda-feira, 20 de dezembro de 2021
ALGUNS LIVROS E ARTIGOS SOBRE A CIDADE DO NATAL
Breve a Cidade do Natal vai completar 422 anos de fundação. Ainda é uma cidade jovem, pré-adolescente, se a compararmos com outras metrópoles. Fundada em 25 de dezembro de 1599, a Cidade do Natal já foi assunto de muitos historiadores, pesquisadores, escritores, poetas. Fui buscar na minha modesta biblioteca o que eu tenho sobre o assunto e eis que encontro o seguinte acervo:
Breve Notícia sobre a Província do Rio Grande do Norte - Manoel Ferreira Nobre - 2ª ediçao - Editora Pongetti - Rio de Janeiro/GB - 1971 ( Nota: O Capítulo II é dedicado a Natal).
Natal que eu vi - Lauro Pinto - Imprensa Universitária - Natal, outubro 1971.História da Cidade do Natal - Luís da Câmara Cascudo - 2ª edição - Civilização Brasileira/ UFRN e Instituto Nacional do Livro, 1980.História do Rio Grande do Norte - Luís da Câmara Cascudo - 2ª ediçao - Achiamé/FJA - Natal, 1984 (Nota: Capítulos I, II, III, XIV.Natal uma nova biografia - Diógenes da Cunha Lima - 1ª edição - Infinita Imagem, Natal, 2011.Scenários Norte-Riograndenses - Amphilóquio Câmara - edição fac-símile (1923), Sebo Vermelho - Natal, 2016.
A Revista da Academia Norte-rio-grandense de Letras dedicou uma edição especial sobre a Cidade do Natal, foi a de nº 29, em dezembro de 1999, quando a cidade completou 400 anos. Nela vamos encontrar mais de 15 textos sobre o assunto pautado.
Oriano de Almeda, Dom Nivaldo Monte, Pery Lamartine, Diogenes da Cunha Lima, Nilson Patriota, Manoel Onofre Jr, Aluísio Azevedo, Grácio Barbalho, Fagundes de Menezes, João Wilson Mendes Melo, Luís da Câmara Cascudo, Olavo de Medeiros Filho, Murilo Melo Filho foram os acadêmicos que escreveram. Além desses, a Revista traz também as participações de Carlos Henrique Nogueira de Lucena, Marlene da Silva Mariz, Tarcísio Medeiros, Lêda Batisra Gurgel de Melo, Nathalie e Branca Coelho Macauense.
É óbvio que existem muita mais produções sobre a Cidade do Natal, mas minha pretensão foi despertar os leitores para tomarem conhecimento sobre o assunto, partindo do que tenho no acervo da minha biblioteca particular.
Francisco Martins
20 de dezembro 2021
domingo, 19 de dezembro de 2021
O QUE É LITERATURA ORAL?
O que é literatura oral? A resposta vem através da plaquete "Folclore Brasileiro", de Veríssimo de Melo ( Edição MEC/Rio de Janeiro) que na página 17 assim está escrito: "Literatura Oral é o termo genérico para todas as manifestações culturais, de fundo literário, transmitidas por processos não gráficos - ensina Câmara Cascudo (1954) ... o termo foi cunhado em 1881 por Paul Sébilot".
Com aceitação deste conceito, os cantadores de viola, os repentistas, os contadores de histórias formam o grande tripé que dá base à Literatura Oral. Não podemos colocar nesse grupo os poetas cordelistas, porque eles fazem uso da escrita, embora, muitas das suas produções tiveram como mote a oralidade.
Assim como é impossível falar da fórmula da água, sem citar o Hidrogênio, o mesmo se diga do assunto em pauta, sem recorrer a Câmara Cascudo. E para esclarecer melhor o assunto, trago dois trabalhos do autor, onde o leitor poderá se aprofundar sobre o tema: Literatura Oral e Vaqueiros e Cantadores.
Literatura Oral é composto de dez capítulos e é Jerusa Pires Ferreira que escrevendo sobre o livro nos diz: " Esse livro cumpre o papel de germinadouro e é, em si mesmo, um monumento, tanto no que toca aos repertórios levantados, quanto pela intuição que faz dele um panorama, um ponto de partida e também de chegada."Em Vaqueiros e Cantadores vamos encontrar Cascudo tratando do assunto, principalmente nos capítulos "O Cantador", aquele que registra a memória viva e em seguida "A Cantoria", essa exercida pelos violeiros e rabequeiros, outrora muito presente nas feiras das cidades.Entre tantos nomes masculinos, já tão conhecidos pelos que gostam do assunto, quero trazer à tona, os nomes femininos que Cascudo registrou: Francisca Barroso, Maria Tebana e Josefa.
Como se vê, cada um de nós possuímos uma carga de literatura oral que é formada pela história da nossa família e que vamos passando aos filhos e netos. Um dia, quando essa história é registrada em formato de livro, a oralidade tornou-se escrita. Numa dimensão maior é o que acontece com as fábulas, contos, causos e vidas de pessoas. Entendeu o que é Literatura Oral?
Mané Beradeiro - 19 dezembro 2021
Fontes
Dicionário Crítico Câmara Cascudo - Marcos Silva - Org.
Vaqueiros e Cantadores - Luís da Câmara Cascudo. Itatiaia/São Paulo, 1984,
sexta-feira, 17 de dezembro de 2021
quinta-feira, 16 de dezembro de 2021
MANÉ BERADEIRO É PRESENÇA NA FEIRA LITERÁRIA DE CEARÁ-MIRIM
Está acontecendo desde hoje à tarde, em Ceará-Mirim, a 1ª edição do Festival Literário. A abertura foi feita às 16 h, com apresentações da Banda de Música Tenente Djalma Ribeiro, da poeta cordelista Vera Lúcia Barreto, apresentação musical de Juarez Lima, aluno da Escola Municipal Antonio Ferreira e em seguida a fala do Prefeito Júlio César.
Amanhã, sexta-feira, dia 17 de dezembro, a programação será intensa, com apresentações culturais de alunos, oficinas de literatura, mesas redondas com as participações de Drika Duarte, Aracelly Sobreira, etc. O poeta Mané Beradeiro também terá seu momento, quando se apresentará para as crianças com suas histórias e bonecos.UMA TARDE COM HISTÓRIAS CONTADAS POR MANÉ BERADEIRO PARA OS ALUNOS DA ESCOLA JACIRA MEDEIROS
Este ano não foi possível ir a muitas escolas, a COVID 19 afastou os Contadores de Histórias, Escritores e outros artistas ,do piso escolar, palco onde se desfruta de um calor especial. Ainda tive a oportunidade de mostrar meu trabalho em algumas. Hoje, quinta-feira, 16 de dezembro de 2021, fui à Escola Municipal Professora Jacira Medeiros de Sousa Silva, que fica no bairro Nova Esperança, em Parnamirim-RN.
À tarde foi organizada com muito carinho, tendo a frente a Professora Dalvanira Nascimento, Mediadora de Leitura do turno vespertino, e o tema foi: O Natal de Jesus com Mané Beradeiro. Teve apresentações de alunos e do Professor José Marcelo, poeta cordelista, que fez um poema para mim.Alunos declamam o cordel " O Natal dentro do Céu" |
A Contação de Histórias foi feita em duas etapas. Primeiro com os pequeninos e depois com os alunos maiores. No roteiro das histórias contadas, como sempre, apresentei os valores que elevam a alma humana, com temas relativos ao perdão, proteção, amor, etc.
Posso assegurar que a tarde foi bonita e repleta de alegria. Não podia ser diferente, pois o que é feito com carinho traz sempre o perfume das coisas boas.
Francisco Martins/Mané Beradeiro
16 dezembro 2021
quarta-feira, 15 de dezembro de 2021
GERALDO MELO VAI TER POSSE VIRTUAL NA ANRL
Se eu não estiver errado, a posse de Geraldo Melo no próximo dia 18 de dezembro, na Academia Norte-rio-grandense de Letras, que vai acontecer de forma virtual, será a mais rápida da história daquela instituição. Geraldo Melo foi eleito no dia 11 de novembro, para a cadeira 32. Ele disputou com David Leite e o resultado foi 26 a 10 votos. O vencedor tem 85 anos. Na sua posse, o Presidente da ANRL, Diogenes da Cunha Lima fará a discurso de recepção.
A cadeira 32 tem como Patrono Francisco Fausto. O primeiro ocupante foi Tércio Rosado, na sequência João Batista Cascudo Rodrigues e João Batista Machado, o último ocupante.
segunda-feira, 13 de dezembro de 2021
FALVES SILVA LANÇARÁ LIVRO DIA 18 PRÓXIMO
sábado, 11 de dezembro de 2021
sexta-feira, 10 de dezembro de 2021
OS GENOCIDAS I - ADOLFO
Tomislav R. Femenick - Jornalista e historiador, do IHGRN
Ultimamente a palavra genocida tem sido muito citada, porém poucos sabem o seu real significado: extermínio deliberado, parcial ou total, de uma comunidade, grupo étnico, racial ou religioso. Hoje vamos falar do mais notório.
Adolf Hitler (1889-1945), nascido na Áustria, foi chanceler da Alemanha de 1933 a 1945. Fundador e líder do Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães (o partido nazista), liderou, em 1923, uma conspiração conhecida como o “putsch de Munique”. Foi condenado a cinco anos de prisão, no entanto, só cumpriu nove meses da pena. No cárcere, escreveu o primeiro volume de “Minha luta”, livro que propagou o nazista, expondo a pretensa superioridade da raça ariana (representada pelo povo alemão), a predestinação do Führer, (líder dos alemães) para impor o estado germânico sobre o resto do mundo e o ódio aos judeus e “demais povos inferiores”.
O problema estava na falsidade da teoria da raça ariana. Ela teve início em 1808, em uma simples hipótese de linguística, do escritor alemão Friedrich von Schlegel. Em seus estudos ele encontrou características comuns entre o sânscrito e o persa, de um lado, e as línguas alemã, sueca e holandesa, do outro. Dessas observações ele intuiu uma hipótese para uma língua ancestral comum, o “ariano”, falada pelo povo “ariano”, que teria habitado a terra de Areia ou Ariana. Essa teoria foi logo posta de lado em virtude das descobertas subsequentes, realizadas por próprio Schlegel, e por outros filólogos, arqueólogos e sociólogos. Em 1814, Thomas Young identificou um grande tronco linguístico que abrangia a Europa, a Ásia ocidental e a Índia, chamando-o de “indo-europeu”. Sabe-se hoje que os povos indo-europeus são originários das estepes da Ásia central, de onde migraram para a Europa e para a Índia no fim do período neolítico, e que, embora tivessem um só tronco linguístico e afinidades culturais comuns, não formavam uma raça específica.
Mesmo assim, entre 1853 e 1855, Joseph-Arthur de Gobineau, conde, diplomata e historiador francês, publicou o livro de “Ensaio sobre a desigualdade das raças humanas”, fazendo a apologia da “raça ariana”, elegendo-a como a raça superior, composta de homens e mulheres altos, fortes, louros e dolicocéfalos, que habitavam principalmente o norte da França, a Inglaterra, a Bélgica e a Alemanha. Sua teoria da raça pura ariana foi um dos sustentáculos do projeto que visava à união de todos os povos germânicos em um único país e do antissemitismo nazista.
Outro fato, esse involuntário, foi usado para a defesa do racismo. Em 1865, o inglês Francis Galton, antropólogo, estatístico, matemático, meteorologista e primo de Charles Darwin, começou a formular os princípios da eugenia, fazendo uso de elementos do positivismo e do darwinismo. A eugenia seria uma ciência voltada para o aperfeiçoamento da raça humana, tendo por base a premissa de que o homem, como os outros animais, sofreria evolução biológica. Essa evolução física, por sua vez, seria a base da evolução moral. Essa nova “ciência” objetivaria estudar as condições mais propícias à reprodução e melhoramento genético do ser humano, através de três medidas práticas: educação sexual e procriação sadia; combate aos vícios e às doenças morais (alcoolismo, antipatriotismo, tuberculose e sífilis), e esterilização ou restrição de casamentos de pessoas consideradas ineptas à procriação. A eugenia foi aceita e incorporada por várias correntes do pensamento pseudocientífico.
Montado nessa cadeia de enganos e engodos, em 1933 Hitler foi nomeado chanceler e, logo em seguida, nomeou-se presidente, comandante supremo das forças armadas e Führer do Terceiro Reich, assumindo poderes ilimitados, com o que perseguiu todos os grupos opositores. Criou a Gestapo (uma polícia política) e mandou construir campos de concentração para onde mandava judeus, eslavos, ciganos, homossexuais etc. Organizou, ao mesmo tempo, uma avançada indústria de guerra, que converteu a Alemanha no país mais bem armado da Europa. Com os ataques à Tchecoslováquia e à Polônia, deu início à Segunda Guerra Mundial. As forças militares nazistas foram responsáveis pela morte de 55 milhões de pessoas. Depois de alguns anos de vitórias retumbantes e antevendo a derrota iminente, suicidou-se quando os soldados soviéticos já entravam em Berlim.
Tribuna do Norte. Natal, 10 nov. 2021.
quinta-feira, 9 de dezembro de 2021
MARINHEIROS
Dentro do ano em que comemoramos os 100 anos do nascimento do escritor Homero Homem, trago aos leitores mais um conto, pérola achada em minhas pesquisas.
O mais nele tenho fielmente fixado:
certos gestos, a voz rude, o jeitão agressivo com que fazia as perguntas - um
súbito rompante de voz que ia se atenuando até transformar-se em murmúrio, que
era o seu tom habitual de conversa.
Meu pai se desembaraçou da roupa
encharcada, sentou à mesa. Minha madrasta trouxe quase em seguida o jantar:
sopa de feijão, peixe frito com farofa de dendê e café. Meu pai comia calado, os
grandes músculos faciais contraindo-se, relaxando-se. Eu acompanhava com tenção
estudada os pequenos besouros que rodopiavam em torno do candieiro, fugidos da
chuva que caía lá fora. Estava à espreita de uma oportunidade para contar-lhe o
meu dia. Afinal tomei coragem, fui direto ao assunto.
-Estive hoje lá em cima; estou
matriculado, meu pai.
Ele levantou a vista,olhou-me como
procurando se lembrar do que falava eu; bebericou o café soprando no pires, e
disse:
-Está direito…
A frieza me doeu. Estava acostumado
a ela, meu pai era assim mesmo. Mas a situação era tão especial que me dera
coragem para engendrar aquela conversa. Disfarcei a decepção com nova
investida; a vontade de falar era grande.
-Sabe, meu pai, os exames começam
depois do Carnaval.
-Hum… -fez ele.
Inútil. Refugiei-me num silêncio
amuado, duro silêncio de menino sem mãe, acostumado à solidão. Meu pai acabara
de tomar café, acendia o cachimbo - uma pesada peça de raiz de roseira, ornada
com anéis de latão. Soprou a primeira baforada e, envolvido pela fumaça, falou
devagar pondo-me os olhos em cima:
-Você espera passar no exame, João?
Tive um choque. A pergunta de meu
pai era uma resposta, um eco à minha ânsia de comunicação e extravasamento.
Raro meu pai falar assim, encarando-me como um igual. Era um homem
entrincheirado em seu silêncio, um silêncio pesado como o resto de sua pessoa:
difícil de romper. Cedo me acostumara a ele. Em casa, eu e minha madrasta,
ninguém se espantava. Aquela frincha aberta em seu mutismo rasgava pela
primeira vez uma perspectiva nova em minha infância, que era como a sombra
miúda da solidão grisalha de meu pai. Naquele minuto eu compreendia anos
inteiros de sua vida. Sentia-me tranquilo, embora uma emoção nova tomasse conta
de mim. Ficamos assim um bocado - eu e meu pai. Foi ele que quebrou o silêncio.
-João - começou - estive pensando.
Sou um sujeito rude, um homem do mar. Tenho sabido de seus planos, sua madrasta
já me falou. A princípio não concordei muito, você sabe, filho de marinheiro
pertence ao mar. Pensava que você um dia iria comigo. Pensava que assim ia ser
com você.
Calou-se, deu uma baforada comprida,
soprou a cinza que aflorara às bordas do cachimbo. E prosseguiu:
-Você saiu à sua mãe, foi feito para
ficar em terra. Está me pedindo conselho, leio em seus olhos. Mas não sei o que
diga, não. Nunca estudei, criei-me sem necessidade de livros; marinheiro
precisa é de saúde e de fé em Deus, que a sabença tirada dos livros de nada
adianta quando se está embarcado. Você escolheu sua vida, está certo; não atrapalho
vocação de filho. Já para dar conselho retirante às coisas do mar, para isso
não sirvo. Pense bem: você é filho de marujo, neto de marujo, marujo também.
Está na massa do sangue. Os rapazes da cidade alta, estes sim, nasceram para
estudar mesmo, ser doutor, subir na vida. Levam vida de estudante, os pais dão
tudo. Com você é diferente; precisa trabalhar, o meu é pouco pro gasto, inda
mais com despesas de livro, um horror de dinheiro. Enfim,você sabe…
Calou-se, suspirando fundo, foi à
janela, ficou olhando as luzes da cidade refletindo-se nas águas do rio em
estrias de fogo inquieto.
Tomado de desânimo eu olhava a
sombra enorme de meu pai. Tocado pela claridade que vinha de fora, ele me
parecia muito só, pequeno e desamparado. Tinha ímpetos de gritar-lhe - “não
importa, meu pai, lutarei por nós dois!” Mas o silêncio nos pegou em cheio,
ficamos assim um pedaço. Depois meu pai deixou a janela, teve outro suspiro
velho de descrença, começou a desenrolar a rede que pendia do armador. Bocejei
para disfarçar o tumulto que tomara de mim. E de súbito as palavras começaram a
me sair da boca cheias de decisão:
-Amanhã começo a me preparar para o
exame.
-Quem é quem vai lhe ensinar -
perguntou meu pai impulsionando a rede para o balanço.
-Seu Geraldo da farmácia; cobra só
quinze mil réis por mês…
Novo silêncio. A rede rangia
monótona - rin… rin… rin…
-João!
-Sinhô, meu pai?
-Vá dormir para acordar cedo,
menino. Se tem mesmo de ser doutor, precisa ir se preparando.
Tive ímpeto de correr para meu pai,
abraçá-lo, tanger o punho de sua rede a noite inteira. Mas ele ressonava já, o
peito enorme subindo e descendo com regularidade. Era um sono pesado e total.
Sono de marinheiro que chega do mar.
9 de Maio de 1953
"PRESTÍGIO DO CORDEL" - UM TEXTO COM 48 ANOS
Quem ignora precisa ser informado acerca da importância da chamada literatura de cordel. Dizemos “chamada” porque não há critério exato na expressão. A literatura nada tem que ver com a maneira como os livros são expostos à venda. Não há literatura de balcão nem de vitrina – portanto, não há de cordel só porque os fascículos são pendurados em cordéis. Mas todo mundo entende que estamos nos referindo a esses modestos folhetos, vendidos nas feiras e mercados, repositórios do pensamento, do sentimento e da imaginação do povo.
Ninguém
se engane com a aparência. O péssimo salta logo à vista: serviço tipográfico,
qualidade do papel, certas capas (embora haja xilogravuras ótimas, estudadas
por Abelardo Rodrigues) erros de ortografia, de rima, de métrica, etc. O caso é
que não se deve tratar esse tipo de folheto como se fosse livro erudito,
editado sob cuidados industriais. Nem se pode julgar uma coisa e outra com as
mesmas exigências de crítica literária. O folheto é imperfeito e surpreendente como
o próprio povo. Seus autores têm formação cultural singular, até enciclopédica
pode-se dizer, nutrida na tradição, nos almanaques e, sobretudo, na observação
da vida. Daí essas obras serem documentos nacionais de interesse múltiplo,
sendo o literário um deles, apenas. Mesmo nesse campo, o que têm fornecido à
literatura erudita é imensurável, em personagens, visão da vida, argumentos,
motivos, imagens e até estrutura. Grandes achados líricos, dramáticos,
satíricos, lá se encontram. Igualmente o comentário dos acontecimentos ou seja,
a reação imediata do escritor popular ante qualquer ocorrência de vulto, que
tanto pode ser a morte de Getúlio Vargas como uma peleja de cantadores.
Pensando-se bem, o folheto antecipa muita coisa tida como novidade: o realismo
mágico, de que tanto se fala, é um exemplo.
Admiradores
do folheto são muitos escritores, que dele se servem para obra de criação ou
para estudos de interpretação do Brasil. Sem forçar a memória, nem sair do
Recife, poderíamos citar Gilberto Freyre, Valdemar Valente, Renato Carneiro
Campos – autor de um livro sobre o “amarelinho” – Mário Souto Maior, Evandro
Rabelo – também grande colecionador – Hermilo Borba Filho, que, como Ariano
Suassuna, tanto o estuda do ponto de vista folclórico como aproveita-o em obras
de criação e Joel Pontes, que recentemente publicou artigo em Lisboa sobre
Camões e o “neto” de Camões na literatura de cordel. Citamos só escritores do
Recife – certamente a lista é incompleta – mas poderíamos lembrar mestres
estrangeiros que vêm ao Nordeste interessados, mais do que em qualquer outra
coisa, nos folhetos. Um deles, jovem professor norte-americano, autor de tese
doutoral sobre o assunto, publicada pela Universidade Federal de Pernambuco.
Outro, o eminente Raymond Cantel, da Sorbonne, que, com seus setenta anos de
idade, viajou em gaiola quase todo o São Francisco, no ano passado, foi a
Caruaru, Campina Grande e Feira de Santana só preocupado em comprar poesia e
conversar com os poetas.
Para
fechar de vez: o próprio governo federal publicou obra de mais de mil páginas, envolvendo
especialistas do Ministério da Educação e Casa de Rui Barbosa, em três volumes,
intitulada “Literatura Popular em Verso”, que é toda uma consagração a João
Martins de Ataíde, Leandro Gomes de Barros, Rodolfo Coelho Cavalcante, Cuíca de
Santo Amaro e outros folhetistas populares.
Fonte:
Diário de Pernambuco, edição de 6 de julho 1973.
quarta-feira, 8 de dezembro de 2021
VICENTE SEREJO ESCREVE SOBRE O CORDEL DE VIVI
terça-feira, 7 de dezembro de 2021
CASSACOS - UM TEXTO DE OSWALDO LAMARTINE
NEM TODO FOLHETO É CORDEL - NEM TODO CORDEL ESTÁ EM FOLHETO
"A crítica deve ter a missão nobre de um bisturi em mãos de um cirugião" Felix Caignet
A Universidade Federal do Rio Grande do Norte, através da sua editora EDUFRN, disponibiliza de forma gratuita, o livro digital "Escravidão no Rio Grande do Norte", um trabalho que teve a organização de Juliana Teixeira Souza e Margarida Maria Dias de Oliveira. Para baixar o livro é só clicar aqui Livro.
Na página do repositório da UFRN lemos o seguinte resumo da obra:
"Esta obra inaugura a série "Produtos didáticos para o ensino de História", resultado de um projeto de ensino coordenado por professoras do curso de História da UFRN, com participação de alunos e alunas licenciandos, com o objetivo de contribuir de forma propositiva para os debates sobre o ensino de história e de cultura da população afrodescendente, numa perspectiva atualizada e tendo a metodologia da pesquisa histórica como referência. Como resultado desse trabalho, apresentamos para professores da Educação Básica e estudantes de licenciatura sete propostas de sequências didáticas e recursos didáticos produzidos exclusivamente para esta publicação. Antes das propostas de senquência didática, apresentamos dois breves textos, sobre ensino-aprendizagem de História e escravidão negra no Rio Grande do Norte, com algumas informações sobre população, trabalho e formas de resistência."
Quero chamar a atenção das autoras organizadoras para o material que foi usado que tem como título "Cordel dos Desiguais", presente nas páginas 70 a 72. Aqui, infelizmente, não tiveram as organizadoras o cuidado de realmente analizarem se o texto estava em conformidade com as regras da literatura de cordel. O texto em questão é da autoria de Francisca Rafaela Mirlys e Ísis de Freitas Campos.
Entre algumas características da literatura de cordel existem três que são indispensáveis: métrica, rima e oração. E isso está até presente no livro acima, página 48:
O que vem corroborar que as organizadoras não se debruçaram na análise estrutural do que aparentemente é um cordel, trazendo para a obra um texto absurdamente desmetrificado. Não há revisores capacitados na UFRN para saber reconhecer um cordel?
O poema possui vinte estrofes em forma de sextilha, portanto 120 versos. Fiz a análise aplicando o que chamo de Tabela Beradeiriana e o resultado no tocante à métrica foi terrivelmente este:
Estrofe 2 - zero de métrica
Estrofe 3 - 1 verso metrificado
Obs: este artigo foi publicado com prioridade no blog Papo Cultural
segunda-feira, 6 de dezembro de 2021
O MESTRE DOS APELIDOS ERA "O PROVINCIANO INCURÁVEL"
Câmara Cascudo gostava de apelidar seus amigos. Fui notando isso ao longo das minhas leituras e tomei a iniciativa de anotar. Depois de uns três anos já disponho de uma lista bem interessante que acho válido torná-la pública.
Manoel Onofre Júnior - era chamado de "Cruviana"
Nilo Pereira - recebeu o apelido de "Barão do Guaporé"
Meira Pires - gostava quando Cascudo o chamava de "Ventania do Nordeste"
Valério Mesquita - tinha a alcunha de "Pisa na Fulô"
Enélio Lima Petrovich - era o "Galinho"
Manoel Rodrigues de Melo - "Manoel Careca", mas na intimidade do lar, os familiares o chamavam de "Badéu".
Vingt-un Rosado - não ficou de fora e em muitas cartas que Cascudo destinava a ele, saudava-o pelo título de "Sargento-mor da Ribeira".
João Wilson Mendes Melo - "Gola azul"
Mas nenhum teve tantos apelidos por parte de Cascudo, quanto o seu amigo Raimundo Nonato da Silva, sobre ele eu consegui colher os seguintes: " "Cambiteiro de Martins", "Raimundo Pega Fogo", "Corisco de pé-de-serra", "Corisco de tabuleiros", "Corisco das trincheiras","Jesuíno das caêiras", "Desembargador Vitorino".
Encontrei apelidos de outros literatos, que não foram dados por Câmara Cascudo, mas que vale a pena tomarmos conhecimento. São eles: Ferreira Itajubá (Azinho), Veríssimo de Melo (Vivi), Ezequiel Wanderley (Zaca), Carolina Wanderley (Caró), Otoniel Menezes (Toni ou Tito), Maria Eugênia Montenegro (Geninha).
Sei que ainda irei descobrir outros e terei a lista crescida. Eles estão lá, nos livros, em artigos, crônicas e reportagens.
Francisco Martins - 06 dezembro 2021
domingo, 5 de dezembro de 2021
COMENTANDO MINHAS LEITURAS: AMOR DE OUTONO
Autor: Carlos Gomes
Ed. Sebo Vermelho - 2021
Gênero: Conto, 69 p.
"Era uma vez", geralmente as boas histórias começam assim. Não foge à regra a que escreveu Carlos Gomes: "Amor de Outono".
O autor vai narrar um conto de amor que foi vivido por Fernando e Cristina, que tem como espaço geográfico a cidade Natal. A narrativa tem duas faces, a do relacionamento entre os apaixonados e a dos fatos históricos que permeiam a história, principalmente a política.
O texto do livro tem o relevo da vida, com altos e baixos, chegadas e partidas, alegrias e tristezas .
O que aconteceu nas vidas dos protagonistas? Poderia até escrever, mas o bom mesmo é ler "Amor de Outono" , e deixar que a frase do Apóstolo Paulo testifique: "O Amor ... tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta ". ( 1 Coríntios 13:7).
Francisco Martins
05 de dezembro 2021.