terça-feira, 8 de fevereiro de 2022

VIAGEM A PIRANGI, NO TÚNEL DO TEMPO, COM DIOCLÉCIO DUARTE

    Fim do veraneio no litoral potiguar. Muitas famílias foram para Pirangi, hoje município de Parnamirim-RN. Trago para o deleite dos leitores, a crônica escrita por Dioclécio Duarte. Uma página repleta de testemunho e saudade. Um texto com 83 anos.



PIRANGI

 Cinco intermináveis horas em cavalo "chotão"... Atravessamos, primeiramente, espessa mata. Depois marchávamos ao longo do tabuleiro para, em seguida, nos enterrarmos nas areias movediças das dunas.

    Inúmeras mangabeiras que, mais tarde, desapareceram ao corte das foices e machados assassinos eram ornamentos dos terrenos arenosos.

    Os homens ignorantes dos crimes que cometiam transformaram os troncos das árvores raquíticas em caçuás e sacos de carvão vendido na cidade por preços ínfimos.

    E eu sei que ainda hoje não parou a devastação. As saborosas mangabas diminuíram. Custo a descobrir dentro das enormes cuias que, antigamente, as pretas velhas conduziam na cabeça oferecendo à porta das casas ricas.

    Entre as mangabeiras, desordenadamente, os batiputás surgiam. Os antigos aprenderam com os índios a fabricação do óleo que empregam na cozinha do peixe, dando-lhe gosto especial.

    De quando em vez se erguia um cajueiro florido.

    As mangabeiras, as árvores de bati e os cajueiros são as frutas preferidas desses sítios. Somente na proximidade da praia é que se desvendam os altivos coqueiros.

    Depois... O tempo correu veloz. Amigos morreram. Não mais existe o professor Mendes, um homem alto e magro, de extrema palidez. Andava sempre de luto e tossia como se a tísica lhe roesse continuamente os pulmões cansados.

    Onde está a família Pulga? As meninas envelheceram e abandonaram a praia carregada de filhos. Deixou de fazer rendas a velhinha de cabelos brancos entre cujos dedos esguios os bilros cantarolavam para dormirem ao contacto da almofada de palha.

    Isso foi há muitos anos. Eu não passava de uma criança travessa que gostava de apreciar as jangadas e ouvir a história feiticeira dos pescadores.

    Os meus amigos pescadores! Mas eles não me acompanham... A paisagem primitiva não aparece perante os meus olhos.

    Pirangi no meu tempo de menino era uma praia alegre. As ondas não tinham a irritação das suas irmãs. O mar era suave o tranquilo. Permitia que andássemos, com água pela cintura, 500 metros ou mais sem receios de precipícios e ressacas.

    Era um mar generoso e amigo. Quando as jangadas chegavam carregadas de "xaréus", "ciobas", "galos", "cavalas", "serras", "dourados", "garoupas", ajudava a arrastá-los até a areia da praia, onde a algazarra era enorme.

    Voltei agora a Pirangi. Não conhecia a estrada. Em lugar do animal bisonho corria o automóvel. Tudo para mim estava mudado. Os pescadores perderam também a confiança na amizade do mar.

    Poucas as jangadas. Botes raros. Apenas meia dúzia de "currais" roubam a bravura do pescador e o seu contacto destemeroso com o oceano. Os "currais" simbolizam a preguiça. E não pertencem ao pescador. Ficam os seus donos embalados e sonolentos nas redes até a hora em que os empregados vão colher a safra das armadilhas nocivas.

    Foram os tresmalho substituídos pelos "currais". Os pescadores desertaram. Não encontram ocupação. Um "curral" exige o serviço de seis homens. O tresmalho de trinta. Mas o tresmalho é mais trabalhoso, como a jangada e o bote são mais arriscados. Escasseiam os peixes. Passam fome os pescadores. Os "currais" destruíram os cardumes e mataram o animo dos pescadores. As praias perderam também a existência pitoresca e encantadora.

    Pirangi é uma vítima, pobre vítima da indolência dos homens e do espírito displicente da autoridade que preferia deixar de cumprir a lei a experimentar incômodos, desatendendo a compadres e correligionários, a quem era difícil esclarecer e mostrar o erro de não ser patriota.  

DIOCLÉCIO D. DUARTE 

 Jornal "A República", 9 de fevereiro de 1939, página 3.


Imagem: site https://natalrn.com.br/parnamirim-rio-grande-do-norte/, visualizado em 08 de fevereiro de 2022.


sexta-feira, 28 de janeiro de 2022

ASSIM VEIO O HOMEM

 

Em novembro próximo, o cordel "Assim veio o homem" vai completar 22 anos de existência. Foi o primeiro  feito por Mané Beradeiro. Ontem, 27 de janeiro, o texto passou pela sua primeira modificação e revisão. Agora, ao invés de ter doze estrofes, o cordel possui  vinte e quatro, todas em sextilhas. Confira o vídeo. Breve teremos os folhetos disponíveis para venda.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2022

O SONHO DE ADÃO - CORDEL GANHA NOVAS ESTROFES E REVISÃO


 O poeta Mané Beradeiro está aproveitando o ano de 2022 para rever suas produções de cordéis e revisar os textos, bem como acrescentar algumas estrofes àqueles que ele julga necessário. O primeiro da lista foi "O Sonho de Adão", escrito originalmente em 8 de março de 2013, com apenas 12 estrofes em sextilhas, que agora passa a ter 24 estrofes, além de ter sido revista a rima e métrica. Breve o novo folheto estará disponível para venda. Assista ao vídeo e veja como ficou a nova versão.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2022

VACINADO

 



Ontem eu tomei vacina
Sou um homem reforçado
Quando o dia amanheceu
Meu corpo estava quebrado
Tomo chá de Super Bond
Pra ficar regenerado.


Mané Beradeiro

segunda-feira, 17 de janeiro de 2022

OS NOVE NOMES DE CEARÁ-MIRIM QUE NATAL NÃO ESQUECEU NO ANO 2000

Augusto Leopoldo Raposo da Câmara (1856 -1941)

Edgar Ferreira Barbosa (1909-1976)

Eduardo Medeiros ( 1886-1961) 

Jayme Leopoldo Raposo Adour da Câmara (1898-1964)

Inácio Meira Pires (1928-1982)

Nilo de Oliveira Pereira ( 1909-1992)

Rodolfo Augusto de Amorim Garcia (1873-1949)

João da Fonseca Varela (1850-1931)

Wilson Correa Dantas Cavalcanti (1920-1998)

Esses nove nomes, de homens ilustres,  todos nascidos em Ceará-Mirim-RN, têm sua participação no livro 400 nomes de Natal, ano 2000, que foi organizado por Rejane Cardoso, na gestão da Prefeita de Natal, Wilma de Faria. Cada nome tem um pequeno ensaio biográfico.




sexta-feira, 14 de janeiro de 2022

TESTAMENTO E ÚLTIMO DESEJO

(Para Protásio) 
                                                                   
  VERÍSSIMO DE MELO


Deixo para minha família, meu pó.
Para a humanidade, meu nome esquecido.
Para a história, meus feitos invisíveis!

E a minha alma,
Continue vagando pelo espaço!
Silenciosa... Calada...
Das outras almas,
Escondas sempre o Romance de amor,
Que ainda encerras...
Não contamines a eternidade!
Os eternos não admitem ilusões,
Nem amor profundo, nem falsidade!
Guardas tudo consigo...

E numa tarde semelhante Aquela...
Penses um pouco na vida, e na eternidade!
Reúnas Amor, ciúme, ilusão, ódio, saudade!
E precipite-se no abismo virgem dos infinitos!

Fonte: A República, 4 de Outubro de 1938.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2022

"HORTO" : ESBOÇO PARA NORTEAR AS FUTURAS EDIÇÕES

"Auta de Souza, foi uma destas criaturas a quem Deus, lhe dando um corpo para sofrer, deu-lhe um'alma para brilhar" (Câmara Cascudo)


Horto e Auta de Souza, dois nomes que são praticamente inseparáveis. O primeiro  é o título do livro, o segundo, nome da autora. Poucos livros no Rio Grande do Norte recebem um olhar tão carinhoso por parte do público leitor e dos profissionais do mercado editorial, como ele. 

1ª edição - capa

Lançado pela primeira vez em 20 de junho de 1900, com 232 páginas e 114 poemas, com tiragem de mil exemplares, o livro trazia  na 1ª edição o prefácio de Olavo Bilac. Foi impresso nas oficinas de "A República". 

2ª edição - capa

Dez anos depois, em 1910, Henrique Castriciano, irmão de Auta de Souza, organiza a 2ª edição, preparada em Paris, com 17 poemas a mais. O livro  teve capa e ilustrações de D.O. Widhopff  e foi impressa na Tipographie Aillaud, Alves e Cia, Bouleve Montparnasse, 96. É importante que se diga que essa edição foi feita pelo Governo do Rio Grande do Norte, na época, Alberto Maranhão, conforme consta na Mensagem apresentada ao Congresso Legislativo, em 1º de novembro de 1911, na página 10.

2ª  edição

 A 3ª edição demora vinte seis anos para chegar ao leitores, é de 1936, Tipografia Batista de Souza, Rio de Janeiro-RJ. Nessa 3ª edição, o prefácio foi feito por Tristão de Athayde ( Alceu Amoroso Lima). A  edição foi acima de 2000 exemplares, pois o Governo do Rio Grande do Norte comprou e doou  esta quantidade para a instituição Dispensário Sinfrônio Barreto (Natal), conforme publicação no jornal "A Ordem", edição do dia 12 de dezembro de 1936.

3ªedição

Esses livros foram vendidos como ingressos para  "A Festa do Horto",  bastante divulgada pelos jornais "A Ordem" e  "A República", em várias edições. Toda a arrecadação das vendas foi destinada ao Dispensário Sinfrônio Barreto. O evento aconteceu na noite de 14 de março de 1937, no Teatro Carlos Gomes ( hoje Alberto Maranhão) e em seu programa constava uma palestra de Palmira Wanderley sobre a vida e o livro de Auta de Souza, além de declamações de poemas do Horto e aqueles que foram musicados e fazem parte do Cancioneiro de Auta de Souza, que contou com as participações de Sílvia Paiva, Dulce Tavares, Clarice Palma, Bertha Guilherme, Elza Dantas, Maria de Lourdes Lago, Maria Amorim, Zenaide, Alba e Maria do Carmo Soares, todas acompanhadas pelo Maestro Thomaz Babini. "A Festa do Horto" foi um sucesso de público e critica.

4ª edição - capa

A 4ª edição data de 1970,  e foi feita pela  Gráfica Manimbu, da Fundação José Augusto, que naquele ano tinha como Presidente Ilma Melo Diniz. A 5ª edição demorou aparecer. Somente trinta e um anos depois é que ela vai chegar às mãos dos admiradores de Auta de Souza, trazendo o selo da Editora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte - EDUFRN, lançada no ano de 2001.

5ª edição - capa
A edição acima, embora tenha sido entregue ao público no ano de 2001, ela "representa" a edição dos 100 anos de "Horto" no Calendário Cultural do Rio Grande do Norte. Há uma singularidade nessa edição, que a torna mais rica, trata-se da Introdução para um estudo da vida e obra de Auta de Souza, de Ana Laudelina Ferreira Gomes, uma pérola sobre o assunto, que se estende das páginas 21 a 62.

Edição 2009 ( a 6ª)
No ano de 2009, a EDUFRN volta a se dedicar ao livro, lançando o que podemos enumerar de 6ª edição, embora não esteja isso implícito na ficha catalográfica. Uma edição com 274 páginas, que além do conteúdo do Horto, tem outros poemas e ressonâncias. Um Cd e um DVD acompanham o livro:  no CD , "Horto em Canto", há 16 poemas de Auta de Souza que foram musicados por Alvamar Medeiros, e o outro "Noite Auta, Céu Risonho" um documentário. De todas as edições, foi a que mais envolveu pessoas. A Professora Universitária Ana Laudelina Ferreira Gomes escreveu a apresentação, introdução e o texto da quarta capa.

Fábio Fidelis e Carlos Castin organizaram a mais recente edição do "Horto", que foi lançada na tarde de 10 de dezembro de 2021, na Academia Norte-rio-grandense de Letras. Os organizadores optaram por fazer uma edição similar a de 1900, justificando que ao longo destes 122 anos, a obra vem recebendo acréscimo em suas edições. 

Edição do ano 2021 ( a 7ª )


Edições - produzidas fora do Rio Grande do Norte (sem a participação de organizadores ou editores potiguares)

No Distrito Federal, a Editora Auta de Souza - Sociedade de Divulgação Espírita Auta de Souza lançou no ano 2000 a edição comemorativa dos 100 anos de "Horto". 

A  Lebooks Editora lançou uma versão digital do "Horto", no formato eBook,  disponibilizada para venda desde o dia 18 de dezembro  de 2019, no site da Amazon.


No mesmo ano, a Editora Figura de Linguagem lançou  também uma edição que vem sendo bastante criticada pela má qualidade da diagramação e outros erros.. Segundo Carlos Castin  " Essa edição lançada pela Figura de Linguagem  é um vilipêndio à obra poética de Auta de Souza, e diante de inúmeras falhas editoriais, é para ser esquecida".

Edição da Figura de Linguagem

Fico por aqui, deixanbo bem claro aos leitores, que provavelmente falte alguma edição, não por esquecimento, mas por desconhecê-la, afinal, este artigo é um esboço e não um texto definitivo sobre o assunto.

Francisco Martins
13 de janeiro de 2022,  Parque Industrial, Parnamirim-RN.

Fontes pesquisadas

Sites:

http://www.elfikurten.com.br/2013/05/auta-de-souza.html

https://www.albertolopesleiloeiro.com.br/peca.asp?ID=7197089

https://www.amazon.com.br/HORTO-Auta-Souza-Ra%C3%ADzes-ebook/dp/B082WKHHZ3

https://literaturars.com.br/2019/09/05/horto-auta-de-souza/

http://www.editoraautadesouza.com.br/livros/horto-edicao-especial

https://www.unirn.edu.br/noticia/obras-de-auta-de-souza-serao-relancadas-com-apoio-do-uni-rn

http://www.tribunadonorte.com.br/noticia/lana-amento-da-edia-a-o-original-de-horto-acontece-nesta-sexta-feira-10/527205

Jornais: 

 "A Ordem" - edições de 12.12.1936;  23.10. 1942

"A Republica" - edições de  04.03.1937;  07.03.1937;  14.03.1937 

"Diário de Natal" -edições  de 2.02. 1970; 21.11. 1970

Livros:

Fundação José Augusto - 40 anos - 1963-2003, página 73.

"Horto" - Auta de Souza - edições  2001 e 2009 - acervo da Biblioteca SESC Rio Branco - Natal/RN

"Alma Patrícia" -  Crítica Literária - Luiz da Cãmara Cascudo - 2ª edição Fac-Similar 2021.  Org. Eulália Duarte Barros.



quarta-feira, 12 de janeiro de 2022

ASSIM DISSERAM ELES ...

 

"A Política atualmente não se faz por opinião, mas por conveniência, como os casamentos"


Fonte: Eloy de Souza, no pseudônimo de Jacinto Canela de Ferro, em carta publicada no jornal "A República", em 7 de fevereiro de 1914.

Nota: 108 anos depois continua a velha forma de fazer política no Brasil


sábado, 8 de janeiro de 2022

DEFINIÇÃO

 

Escrever?
É parto.
É crer.
É ver.
É ser.
Também é rever
É correr caneta
Sobre folha branca
Assistir nascer
A escrita mágica
Que vem nos dizer:
De um amor perdido
Do sorriso franco
Das memórias de guerra e de paz.
Escrever é ofício de redenção
Contar história da criação,
Voar e voltar, no ritmo frenético de arribação.
É se deixar espremer na moenda das ideias,
Extrair manipueira,
Purificar as sílabas
Fortalecer as palavras
Ter um coração formado de frases.
Escrever...
Contemplar a vida
Filosofar com loucos
Ser muito, tendo pouco
Soltar textos
Em savanas, caatingas, cerrados, densas matas
Ou desertos.
Entregar ao vento suas palavras
É crer, ver, ser!


Francisco Martins 08 de janeiro de 2022



domingo, 2 de janeiro de 2022

CORDEL "AS RUAS CASCUDIANAS" - 2ª ETAPA DA PRIMEIRA EDIÇÃO

 O poeta Mané Beradeiro  está montando a segunda etapa, da primeira edição do cordel "As Ruas Cascudianas", um  texto que narra de forma poética, todas as ruas de Natal  onde morou Câmara Cascudo, o "Provinciano Incurável". A primeira edição são de 500 exemplares. A metade já foi feita E vendida. Agora, no primeiro semestre de 2022, o poeta pretende encerrar a edição, com os 250 livros restantes.

Todas as capas são feitas de caixa de papelão, no estilo cartonero,  através do selo da Carolina Cartonera, editora informal fundada pelo poeta. As 500 capas são personalizadas, nenhum é igual a outra. Se você deseja adquirir o livro, pode entrar em contato pelo whatsApp (84) 9.8719-4534. O valor com frete para todo o Brasil é de R$ 10,00 (dez reais). Segue abaixo as primeiras capas disponíveis para venda em 2022.

















PESQUISADOR FRANCISCO MARTINS INICIA ANO 2022 BUSCANDO HISTÓRIAS NO ARQUIVO PÚBLICO ESTADUAL

 Amanhã, dia 3 de janeiro de 2022 eu começo a por em prática, desta vez de forma mais intensa, a minha veia de pesquisador. Consegui finalmente agendar uma visita ao Arquivo Público Estadual, que desde o início do Governo de Fátima Bezerra foi terceirizado. Todo o acervo entregue à uma empresa.  Irei verificar se realmente essa iniciativa foi boa para os pesquisadores.  Muitos projetos culturais estão na agenda: livros, cordéis, contação de histórias, vídeos, etc.  Cada um chegará em seu tempo. Aguardem!


sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

NA CASA DE DEUS

 


Agora à noite estive na casa do Pai, o Senhor de todos os Tempos e do Espaço, meu Deus. Fui entregar todos os dias vividos até o presente momento, agradecer e dizer que estou apto a receber Dele o que tem para mim reservado. Orei por vocês que caminham comigo. Feliz 2022.

Francisco Martins

ESCONDINHO

 Um prato fácil e gostoso. Pode usar feijäo verde, branco ou vermelho (400 g). Cozinhe, escorra e ponha em um refratário. Prepare carne moída ao seu modo (500 g) e ponha por cima do feijão. Faça um purê de batata, cubra a camada de carne, pincele com uma gema, espalhe queijo ralado e batata palha. Leve ao forno para gratinar. Bom apetite!



quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

A LIGAÇÃO

 

-Alô
-Alô!
-Posso falar com Deus?
-Quem deseja?
-Um filho dele
-Um momento por favor
-Não, não faça isso! Eu suplico pelas cinco chagas de Nosso Senhor Jesus Cristo.
-O que foi? Porque essa agonia?
-Um "momento" aí no Céu são muitos anos aqui na Terra, lembre-se do que está escrito em 2 Pedro 3:8: Um dia para o Senhor é como mil anos
-Verdade! Como pude esquecer disso. A frase é minha.
-Tá brincando? Então estou falando com Pedro?
-Sim
-Não acredito! Pedro Apóstolo?
-Ele mesmo
-Que legal! Mas você não é o Porteiro Celestial, o homem que tem as chaves do Céu?
-Não é bem assim ...
-Tá, depois a gente fala sobre isso, mas como meus créditos estão poucos, por favor passe a ligação para Deus.
-Seu nome?
-Mané Beradeiro
-Não acredito! O poeta cordelista que escreve folhetos bíblicos?
-Ele mesmo
-Nós gostamos muito dos seus poemas
-Nós, quem?
-Eu e muita gente que eterniza por aqui. Quando você chegar aqui vai conhecê-la.
-Eita!
-Vou passar a ligação ...
-Obrigado.
SEUS CRÉDITOS ACABARAM. POR FAVOR RECARREGUE E TENTE NOVAMENTE!
-Quê? Eu só queria dizer obrigado por 2021.


Mané Beradeiro 30 de dezembro 2021

quarta-feira, 29 de dezembro de 2021

ABERTA A EXPOSIÇÃO DE IAPERI ARAÚJO



O artista plástico Iaperi Araujo abriu ao público, na noite de hoje, uma exposição com 33 quadros que foram pintados durante o período da pandemia, 2020/ 2021.
Os quadros retratam natureza, personagens da história do cangaço, pessoas ilustres e anônimas.







O acervo vai ficar disponível para visitação até o final de janeiro de 2022, na Pinacoteca do Estado, que funciona no Palácio Potengi, centro de Natal.













CONHEÇA MAIS UM POUCO SOBRE O PADRE POETA FLORÊNCIO GOMES DE OLIVEIRA

 Segunda-feira, dia 27, eu publiquei por aqui uma apresentação do poeta Florêncio Gomes de Oliveira e no final da mesma, sugeri que o nome dele é uma boa opção para compor as galerias dos patronos das academias literárias do RN.  Ontem, à noite, eu me deparei com uma crônica de Vicente Serejo, publicada em sua Coluna Cena Urbana, no Diário de Natal, edição do dia 10 de novembro de 1988,  que trata sobre o Padre poeta, de um livro que foi escrito por Vingt-Un Rosado sobre ele.  Transcrevo na íntegra a crônica. 


O segredo dos piaus azuis


Vou vencendo a tarde lendo sobre a figura do Padre Florêncio Gomes de Oliveira, “Um Cientista Perdido nos Sertões do Apodi”, do mestre Vingt-un Rosado. E que acaba de ser editado pela Coleção Mossoroense, esse mundo editorial que espantou os olhos de tanta gente, inclusive de Edson Neri da Fonseca, um bibliógrafo.

Pois bem. E a figura do padre Florêncio termina encantando o leitor por seu espírito de observador. Como um repórter, perdido nos sertões do Apodi, ouvindo a natureza: os minérios e suas cavernas; os mistérios dos piaus azuis, os peixes que vivem e morrem sem explicação; a vegetação do sertão seco, de espinho e de flores.

O elogio de Vingt-un Rosado ao padre é porque este é o patrono da Academia Norte-Rio-Grandense de Ciências, na cadeira nº 7. Primeiro ocupante, coube a Vingt-un a missão de fazer o elogio, reunindo em discurso a história pessoal, o pensamento e a obra do cientista do Apodi, velho como a memória do seu povo.

Nasceu o padre em dezembro de 1813 para ser pastor de almas, pastorador de freguesias, escritor, pesquisador e poeta, como atesta a Acta Diurna de Cascudo, transcrita na íntegra por Vingt-un, onde o historiador do Rio Grande do Norte e de Natal mostra a poesia do padre e sua inspiração em dez versos.

O mais interessante na leitura do elogio feito por Vingt-un é o capítulo sobre “Os Piaus Azuis do Apodi”. São peixes que vivem nas pequenas cavidades das grutas e das locas, onde a água fica como em reservatórios naturais, ali conservando o mistério dos piaus azuis, de barbatanas proeminentes e dorso escuro, coberto de escamas.

E lá Vingt-un cita artigo referenciado por Nestor dos Santos Lima no Almanak do Rio Grande do Norte, de 1895, onde Manoel Antônio de Oliveira Coriolano “herdeiro do pioneirismo do padre Florêncio”. escreve sobre a região do Apodi, falando sobre os peixes das locas e sua vida efêmera como o inverno no sertão.

Defende o articulista que os peixes vivem nas cavidades das pedras quando as chuvas chegam. Aparecem do nada, crescem e vivem, até que venha outra vez a seca e todos morram de vez. Ano seguinte,em novo inverso, repete-se o fenômeno, como se as sementes dos piaus ficassem nas locas a espera da água para acordá-las outra vez.

Os peixes azulados, com escamas e barbatanas, na descrição de Coriolano, são os piaus azuis. Os peixes azuis que ficam depositados nas areias, em forma de ovos invisíveis de tão minúsculos. Os mesmos que, diante da chuva, eclodem, vivem de novo e produzem o milagre da vivificação. Eis, pois, o livro de Vingt-un, reunindo documentação, fazendo registro, deixando ficar na Coleção Mossoroense o saber da região. Do sertão sem fim.



Mané Beradeiro - 29 dezembro 2021

SENDO MEU PRÓPRIO CRÍTICO

 Se há uma coisa que eu admiro nos poetas e escritores é a paciência de guardar os textos que eles produzem, deixando-os descansarem, para quando virem à público estarem com toda força. Há aqueles que marinam seus poemas, atribuindo-lhes dia-a-dia sabores. E, outros existem, que aplicam em seus textos, a arte da lapidação, tornando-os diamantes. Confesso que ainda sou aprendiz nessa área e que tenho pressa em entregá-los ao leitores.  E assim, torno-me vítima do famoso adágio:  A pressa é inimiga da perfeição.

Acabo de perceber que em um dos meus mais recentes trabalhos, em "Guaporé - uma solidão restaurada",  poema escrito no estilo de cordel, deixei passar alguns erros que comprometeram a minha eficiência poética. São eles:

Rimei  de forma errada: 

Compasso/cansaço/pedaço
houvesse/prece

Essas rimas são aceitáveis na cantoria, mas no ofício do poeta de bancada, devem ser evitadas.

E  no meio de todas as estrofes em septilhas (sete versos), escrevi uma em forma de sextilha ( quando devia ser septilha) que não atende a nenhuma das formas que a Academia Brasileira de Literatura de Cordel-ABLC recomenda usar. Segundo a ABLC, as sextilhas podem ser abertas, fechadas, soltas, corridas ou desencontradas. 

Minhas flores já caíram
Comecei então morrer
Quando o Doutor Vicente
Naquele mês de novembro
Isso é forte eu bem me lembro
Veio então a fenecer.

Fazendo uso da Tabela Beradeiriana, a qual criei para mostrar o percentual da eficiência poética do cordelista, a minha situação, referente ao poema em análise é a seguinte: O cordel tem 293 versos, distribuídos em 42 estrofes.

Aproveitamento de rima ...96,15%
Oração ..............................100 %
Métrica .............................100%

Índice de Aproveitamento Poético: 98,66%

Não é um índice ruim, mas se eu tivesse paciência, não teria deixado o bezerro sair correndo com a placenta. É preciso lamber a cria. Fica a lição.

Mané Beradeiro - 29 dezembro 2021.


terça-feira, 28 de dezembro de 2021

CONSULTA AO CARDIOLOGISTA


Eu acabei de sair
Do doutor cardiologista
Onde o mesmo me falou
Que a minha vida de artista
Depende de emagrecer
Ler muito, pouco comer,
Caminhar cedo na pista.

Mané Beradeiro, 28 dezembro 2021

segunda-feira, 27 de dezembro de 2021

FLORÊNCIO GOMES DE OLIVEIRA - UM PADRE CORDELISTA?

 Não posso deixar que o ano de 2021 termine sem escrever algo sobre o poeta Florêncio Gomes de Oliveira,  que se tornou padre, nascido na localidade de Monte Alegre, próximo de São Sebastião, em Mossoró-RN. O Mestre Câmara Cascudo escreveu uma Acta Diurna sobre ele,  que foi publicada em "A República", em 15  de dezembro de 1940. Já se foram 81 anos. E por incrível que possa ser, o título da Acta continua  atual: "Um poeta esquecido, o Padre Florêncio Gomes de Oliveira".

Cascudo nos diz que ele versejava em sextilhas, setissilábicas, portanto, o que nos impede de afirmar que Padre Florêncio Gomes de Oliveira foi poeta cordelista? Certa feita, em 2 de março de 1843, o Padre Florêncio Gomes de Oliveira, quando era vigário de Caraúbas-RN,  recebeu o seguinte mote: A dois de março se viu/ Um grande sinal no Céu/ Prognóstica ser castigo/ Triste de mim que sou réu.

Sem demora, ele atendeu o desafio e versejou em decassílabos

Com cauda imensa e brilhante
De figura portentosa
de luz clara e  majestosa,
Refulgente e rutilante
Qual o raio coriscante
Que entre nuvens surgiu
Qual no espaço surgiu
Ao  Sul, ignoto Cometa
Que sem óculos nem luneta
A DOIS DE MARÇO SE VIU

Néscio Povo que de tudo
Faz fanático mistério,
Sem virtude e sem critério,
Sem ciência e sem estudo,
Diz e clama, de abelhudo,
Sem temer do Euro o véu,
Que todo o mundo é réu,
A quem Deus quer castigar
E prova para mostrar
UM GRANDE SINAL NO CÉU

A oculta natureza
De tal sorte organizou
Que indícios nos deixou,
De sua imensa grandeza
Pela vasta redondeza
Moderno astro antigo,
A girar sem ter jazigo
Fogo imenso que também
Quando os povos néscios vêm
PROGNÓSTICA SER CASTIGO

Não precisa a Providência
Para o Mundo castigar,
Vir ao Mundo apresentar
Sinal da Onipotência
Se o Mundo tem ciência
Dos castigos lá do Céu
Deixe do vício o labéu
Que nos dias dos clamores,
Triste de nós pecadores
TRISTE DE MIM QUE SOU RÉU.

Padre Florêncio Gomes de Oliveira - um bom nome para a galeria das Academias literárias.

Mané Beradeiro - 28 de dezembro 2021

ANNE DE GAULLE


A menina da foto é Anne de Gaulle; a terceira filha de Yvonne Vendroux e do general de Gaulle. Nasceu no dia de ano novo em 1928. Seus traços, como podem ver, são os característicos do que hoje chamamos de "Síndrome de Down", e no caso de Anne era severo, tanto que mal conseguia andar com dificuldade.

Nessa época, ter um bebê com deficiência era algo que se escondia, muitos os mandavam direto para institutos mentais onde moravam e morriam, outros os mantinham escondidos em casa, sem atenção, sem amor, apenas trancados e até as vezes amarrados como animais.

Mas os de Gaulles não viam Anne como uma vergonha, mas sim que se sentiam abençoados com ela. A foto que compartilhamos foi tirada em uma praia da Bretanha em 1933. Anne está sentada no colo do pai e ele, vestido com um chapéu de Homburg e um terno de três peças, segura suavemente suas mãos enquanto a menina de cinco anos o olha intensamente nos olhos. É uma imagem de amor incondicional.

Esse amor incondicional fez dela o centro da família de Gaulle. Charles dizia que era “a alegria dele” e que “ela o ajudou a enxergar além das falhas dos homens”.

Charles e sua esposa Yvonne insistiam para que Anne viajasse sempre com eles. O general cantava-lhe músicas e lia-lhe histórias, demonstrando um afeto e ternura que ele realmente não mostrou a muitos membros da sua família. A principal regra da família era que eles nunca deveriam fazer Anne se sentir menos ou diferente do que qualquer outra pessoa.

O general tinha devoção à sua filha, e assim o contava o capelão militar que tratou De Gaulle, com o qual pôde intimar e ser confidente: ‘Para mim, Anne foi uma grande prova, mas também uma bênção. É minha alegria e me ajudou muito a superar todos os obstáculos e todas as honras. Graças a Anne, fui mais longe, consegui me superar.’

Para o seu último biógrafo, Jonathan Fenby, ‘Anne simbolizava para De Gaulle um carinho incondicional e, embora as obrigações parecessem impedi-lo, seu pai estava sempre por perto’.

Em fevereiro de 1948, Anne faleceu de pneumonia nos braços do pai. “Agora ela é como os outros” disse Charles para sua esposa.

‘A sua alma foi libertada, mas a perda da nossa menina, nossa menina sem esperança, trouxe-nos uma imensa dor’.

Outro dos biógrafos do ex-presidente Jean Lacouture regista-o uma vez dizendo: «Sem Anne, talvez eu nunca pudesse ter feito o que fiz. Ela me deu o coração e a inspiração. Nesse sentido, o homem de 18 de junho e a sua amada petite Anne ensinam-nos algo que estamos tentados a esquecer: que todos podemos encontrar força na fraqueza e que nada é mais poderoso do que o amor que se entrega.

Em 1962, 14 anos após a morte de Anne, Charles de Gaulle foi vítima de tentativa de assassinato. Ele declarou depois que a bala que poderia ter sido fatal tinha sido parada pela moldura da fotografia de Anne, que sempre trazia consigo.

Ao morrer em 1970, o general foi sepultado no cemitério com a sua amada filha. Sua mãe juntou-se a eles em 1979.

Dizem que a única palavra que Anne conseguiu pronunciar claramente na sua curta vida foi “pai”.

 Nota: não sei a autoria do texto. Recebi pelo whatsApp.