FONTE: http://www.tribunadonorte.com.br/noticia/jorge-o-grady-de-paiva/54097
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-Boa tarde dona! Me diga quem brinca com boneca assim tão grande?
Ela riu e disse são manequins. Fiquei sem entender.
Mané Beradeiro
"Há duas coisas no mundo que eu não posso entender: É padre ir para o Inferno, e doutor ter que morrer"
Fonte: Pequeno Manual do Doente Aprendiz, Luís da Câmara Cascudo.
O Projeto Rio de Leitura, que
funciona em Parnamirim-RN, nas escolas municipais e tem como objetivo principal
formar leitores, tem sofrido perdas neste ano de 2022, quando a Secretaria
Municipal de Educação retira da Biblioteca, o Professor Mediador de Leitura,
que atua nas séries do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental II.
Diante disso, eu, Francisco
Martins, escritor, poeta, cordelista, editor de livros cartoneros e outras
coisas afins, veio me solidarizar com todas as pessoas envolvidas no Projeto
Rio de Leitura e afirmar de forma contundente a não aceitação dessas ações que
minam um dos projetos mais lindos do Brasil e que tantos frutos tem dado à
cidade de Parnamirim-RN.
Senhores gestores, tenham a
dignidade de dar aos munícipes portas abertas de bibliotecas, livros nas mãos
de alunos, Mediadores semeando o prazer da Leitura e assim, somente assim, a comunidade
terá a colheita de homens e mulheres que edificam uma sociedade.
Francisco Martins
14 de junho de 2022
Mês de junho é o aniversário do blog. Completou essa semana 13 anos de existência. É uma ferramenta que ajuda na cultura e principalmente a divulgar minhas ações, em tantas áreas que vivo a fomentar o valor da leitura, dos livros e coisas afins. Aqui é possível saber muito de mim, principalmente na página BIBLIOGRAFIA, onde sempre vou atualizando as informações.
Agradeço a todos vocês que tem me acompanhado ao longo desta jornada. Há pessoas que estão comigo mais de dez anos e outras vão chegando. Algumas permanecem, há aquelas que levantam voo e migram para outros blogs.
Não me assusto, tampouco fico triste. Os que ficam é porque gostam do que faço e escrevo e isso me basta.
Será amanhã, às 17h, no Salão Nobre do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, à Rua da Conceição, nº 622, Cidade Alta, que o pesquisador Flademir Dantas fará palestra e lançará seu livro "Cidade em Chamas", que aborda os grandes incêndios que aconteceram em Natal, no período de 1917 a 1955.As palestras do projeto Quinta Cultural são abertas ao público. Flademir Dantas entrou recentemente no IHGRN é militar, servido no Corpo de Bombeiros. O seu livro está circulando desde novembro de 2021, quando foi lançado por ocasião dos 104 anos de fundação do Corpo de Bombeiros Militar do Rio Grande do Norte, e é bem aceito pelos amigos e colegas da corporação. Agora, por ocasião da Quinta Cultural, o escritor e pesquisador vai apresentá-lo à comunidade literária.
Sábado passado eu resolvi fazer canjica (cural). É um prato da culinária nordestina, indispensável à mesa neste período junino. Nossa! Fazia muito tempo que não preparava uma canjica. Dividimos as tarefas. Eu saí para comprar os ingredientes, minha esposa e um dos meus filhos deixaram o material no ponto de ser levado ao fogo. Ficou muito boa. Segue a receita poética para quem desejar fazer:
RECEITA POÉTICA PARA CANJICA (CURAL)
15 espigas de milho. Não podem ser verdes, nem maduras demais. Escolha-as no meio termo, assim como quem busca um amor que vai ficar para sempre.
1 caixa de leite condensado - pois a canjica é como casamento - vão ter momentos que precisarão se sobrepor ao poder do açúcar.
4 colheres (sopa) de açúcar
720 ml de leite in natura, quente
200 ml de manteira de garrafa
Leite de 1 coco ralado
1 pedaço de canela
1 pitada de sal
Modo de fazer: Limpe as espigas, retire os grãos, triture no liquidificador com pouca água. Passe numa peneira e reserva na panela. Junte o leite de coco, a manteiga, o leite condensado e o açúcar ao líquido acima e leve ao fogo. Vá mexendo devagar e quando começar a engrossar acrescente aos poucos o leite in natura e o pedaço de canela. Continue mexendo. Canjica é como casamento, tem que ter calor, movimento, carinho, olhar constante para poder ficar cada vez melhor.
Não esqueça de cronometrar. Vai durar no mínimo 1 hora. A canjica começa a ganhar consistência depois dos 35 minutos. Não se engane, ela ainda não estará no ponto. Baixe o lume, mas não apague o fogo. Sem calor não há casamento saudável, nem canjica bonita e gostosa.
Depois de 1 hora de preparo e você sempre mexendo, ela começa a soltar das laterais da panela. Isso são as bodas de ouro. Veja como ela está amarelinha. Deite-a em um refratário e ponha canela em pó sobre ela.
Pronto! Canjica feita.
Boa lua de milho!
Francisco Martins
06 de junho de 2022
Carinho, reconhecimento, alegria, entusiasmo, dedicação, foram coisas que estiveram presentes na manhã de ontem, por ocasião da Sorvetada Literária - tão bem organizada pela Escola Municipal Maria de Jesus, no bairro Nova Esperança, em Parnamirim-RN. A Professora Mediadora de Leitura, Rozélia Alves da Silva trabalhou algumas obras do escritor Francisco Martins com os alunos e esses fizeram apresentações sobre as mesmas.
Rozélia e Francisco Martins |
Provavelmente você nunca ouviu falar no poeta João Santana, mais conhecido por Santaninha. Ele viveu durante a época do Império. O véu que pairava sobre Santaninha foi retirado pelos pesquisadores Arievaldo Vianna e Stélio Torquato, dois cearenses que fizeram um excelente trabalho de pesquisa e cujo fruto foi o livro abaixo:
A importância do texto abaixo é porque faz justiça a imprensa potiguar, no tocante ao que afirmam os pesquisadores acima citados.
Na página 7 escrevem: " Não há também sequer uma nota nos jornais norte-rio-grandenses consultados na hemeroteca da Biblioteca Nacional no período de 1870 a 1890, à respeito das atividades de Santaninha.."
Se realmente há um período de silêncio na imprensa local sobre o poeta Santaninha, é chegada a hora de anunciar que no Jornal "A República", edição do dia 31 de dezembro de 1939, o jornalista escreveu a crônica:
MORREU, QUANDO IA RECEBER A COROA DE POETA ...
"João Santana era um poeta negro, que não cantava, como outro qualquer e teria feito, os extensos canaviais da sua terra - o Ceará-Mirim. Moço ainda viajou para o Sul, ambicioso de um céu mais amplo, onde sua imaginação pudesse voar mais alto. Porém, versejou mesmo quase terra-a-terra, como lhe permitia a cultura rasteira. O espaço tinha latitudes e alturas imensuráveis, mas as asas de pássaro não passaram de Remígio. Defeito, talvez dele próprio.
Nas letras potiguares parece que João Santana é um desconhecido. Não porque tenha sido pequeno ou simplesmente um poeta popular. Os rimadores do povo e para o povo viveram em todas as épocas e chegaram até nós. Mesmo na sua rima barbara possuem um quê de encantador, de mavioso, de original. Aí tivemos o Fabião das Queimadas, conhecido de todos os de ontem e citado por alguns de hoje. É verdade que o vate de que agora falo está num plano inferior ao nosso amigo Fabião. Mas se de fato existiu, devia não ser esquecido. Quem é vivo também aparece, diz o provérbio. E quem é morto também é lembrado.
Sebastiana da Quixabeirinha é quem me dá notícias de João Santana. Diz-me que foi um rapaz nascido em Pau Ferro, no município de Ceará-Mirim, na segunda metade do século passado. Viajou para o Sul, como escrevi acima, e, vaidoso de ser poeta, veio rever a família. Porém, quando embarcou de novo para a Côrte, - asseverava-me a velha, com uma convicção da qual eu procurava não duvidar - morreu assassinado em caminho.
- Por que? perguntei admirado.
E Sebastiana cada vez mais séria.
- Por inveja. Ele ia receber a coroa de poeta.
Um livro de versos chegou ele a publicar, livro que andou de mão em mão versos que ficaram na memória dos seus contemporâneos. Muitas sexagenárias de hoje ainda se recordam de algumas estrofes do medo de Pau Ferro. Naqueles tempos sisudos em que o Carnaval já deixava saudade na mocinha de longas tranças e vestido balão. João Santana não perdia o motivo, embora perdesse a rima:
- Se fores para a cidade e vir meu jovem por lá...
- Sinhazinha não conheço...
- Na face tem um sinal que eu fiz com um limão nas festas do Carnaval.
As Sinhazinhas, que no século XIX mal apareciam a janela, bendiziam a chegada de Momo, dias bons em que ninguém tem o direito de ser puritano. Jogavam limão nos namorados, limão de cheiro nos namorados, limão de cheiro. Os ingênuos percursores das lança-perfumes.
Uma das poesias mais interessantes do livro de João Santana é aquela em que ele conta um escândalo de certa fidalga da Côrte, que por um descuido desses naturais a todos os que amam, viu nascer um garoto da "Cor de azeviche", como diria mais tarde o sambista brasileiro. E, na hora suprema, apelou para a sage-femme a ver se esta encontrava, pelas ruas escuras do Rio de 1880, um menino branco que assumisse, no berço rico, o lugar que o preto iria desonrar. Inicialmente explica o nosso satirista:
O plano da mulher criminosa (naquele tempo julgaram-na criminosa!) foi malogrado pela cobiça da assistente, que desejou apoderar-se do conto de réis. E a viagem de João Santana também malogrou-se. Os seus rivais mataram-no segundo acredita Sebastiana para impedir que ele colocasse a cabeça encarapitada a coroa gloriosa que Camões só mereceu depois de morto."
***
No texto de Rômulo Wanderley, ele identifica o berço do poeta o lugar por nome de Pau Ferro, município de Ceará-Mirim-RN. Por outro lado, Vianna e Torquato dizem ter ele nascido em Touros, também no Rio Grande do Norte, no distante ano de 1827. Mas em qual município nasceu o poeta? Vejamos:
Pau Ferro é a denominação toponímia da atual cidade de Pureza. Touros no ano do nascimento de Santaninha fazia parte do município de Ceará-Mirim. O mesmo só foi desmembrado em 11 de abril de 1833.
Mané Beradeiro
18 de maio de 2022