O dr. Generino Semifusa
se levantou pra defender o réu.
- Senhores, o bandido que se acusa
é o tipo mais perfeito do bandido.
O crime perpetuou-o, foi cometido
com a agravante de - premeditação.
É homicida e ladrão.
(Enxugou o suor. Toda a platéia
escutava essa enorme verborréa).
- Mas, senhores jurados, vós sabeis
que a pérola nós vamos encontrar
numa ostra, enterrada sob a lama.
Este bandido de alma pervertida,
possui um sol que brilha em sua vida.
Pelo processo lido, vós vereis
um ponto importantíssimo, que a trama
do inquérito escondeu. Vou revelar
que esta alma pelo crime emperdenida,
que é capaz de matar por um vintem
assim como faz mal, pratica o bem.
Este homem que vós ides condenar
tem mãe. É uma velhinha já de oitenta,
a quem, filho exemplar, ama e sustenta.
Essa velhinha vós ides matar!
(O promotor, um bacharel careca
nervoso se assuou na própria beca.
Os jurados, deveras comovidos,
intimamente pensavam na mui gasta dirimente
da "privação dos sentidos".
O próprio juiz sentia a entalação
da mais profunda e inédita emoção)
Para encurtar esta enfadonha história
vou dizer a verdade nua e crua.
O defensor ficou cheio de glória
e o tribunal jogou o homem na rua...
Dez minutos depois, uma velhinha
já tremula, falou ao defensor:
- Venho beijar-lhes as mãos, senhor doutor!
Nossa senhora sempre o acompanhe...
Semifusa ficou todo nervoso.
- Mas quem é a senhora? perguntou.
- Eu sou, doutor, a mãe do criminoso...
E o doutor Generino retrucou:
- Minha pobre velhinha, não estranhe,
... eu nem sabia que ele tinha mãe!
FONTE: Baú de Turco
AUTOR: Sá Poty
ANO: 1932, 3ª edição, pág, 84 a 86
Editor Pedro Lopes - Recife-PE