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quarta-feira, 31 de maio de 2023
O SOFRIMENTO DO JUMENTO
terça-feira, 30 de maio de 2023
DADOS BIOGRÁFICOS DE GILBERTO ARANHA - O JOVEM ESCRITOR POTIGUAR
Voltemos à conversa sobre Gilberto Aranha. Deixei o leitor sem ter algumas informações sobre ele, porque conforme anunciei, precisava ter certeza sobre elas. Vou enumerá-las:
1) Teria Gilberto Aranha realmente morrido aos 15 anos?
2) Quem foram seus pais?
3) Qual a causa da sua morte?
Para encontrar a resposta a essas perguntas eu sabia que teria que me dedicar à pesquisa. Tinha anotado em minha agenda ir ao cartório solicitar o atestado de óbito do jovem escritor e também mergulharia de forma profunda nos jornais que estão disponíveis na hemeroteca digital da Biblioteca Nacional. Mas, quem tem amigo, tem um tesouro, e eu tenho entre meus amigos, um confrade, um pesquisador, escritor e irmão das Belas Letras. É o André Felipe Pignataro Furtado, que ao ler a minha publicação sobre Gilberto Aranha, foi ele mesmo buscar as respostas que eu ainda iria atrás.
E na manhã de ontem, logo cedo recebi dele as respostas. Portanto, todas as informações que aqui vou mostrar eu devo e agradeço ao leitor e pesquisador André Felipe.
Gilberto Aranha realmente escreveu "Aspectos da Vida" aos quinze anos, embora não tenha publicado. Isso só aconteceu em 1932, o que levou Terra de Senna a deduzir que ele tinha morrido com quinze anos. Acreditando em Terra de Senna, fiz a conta: 1931 -15 = 1916 ( o ano do nascimento).
A conta não bate, pois em 1918 e 1919 vamos encontrar textos de Gilberto Aranha nas revistas Fon-Fon e Tico-Tico, o que comprova ser impossível ele ter nascido em 1916.
Gilberto Aranha nasceu no dia 21 de outubro de 1901, na casa de nº 47, da Rua do Comércio, na Ribeira, sendo filho de Fortunato Rufino Aranha (paraibano) e Bernardina de Oliveira Aranha.
O jovem escritor viveu (29) vinte e nove anos, pois faleceu no dia 23 de janeiro de 1931, às 20 h, na Avenida Nísia Floresta, sendo vítima de colapso. Foi sepultado no Cemitério do Alecrim.
Isso basta por hoje. Nossos aplausos e agradecimentos a André Felipe.
Francisco Martins, 30 de maio de 2023.
A ONÇA DO RIO PARDO (MEMÓRIAS DA MINHA INFÂNCIA)...
Eu devia ter treze anos. Minha irmã mais velha sempre nos levava à fazenda do seu sogro, onde passávamos o fim de semana. A propriedade dista 90 quilômetros da cidade, de maneira que percorremos longa distância sem ver uma única casa. É mato dos dois lados da estrada de terra. Alguns trechos formavam túnel de árvores nativas quilômetros a fio, de maneira que era comum nos depararmos eventualmente com manadas de pacas, antas, capivaras, Caititu (porco do mato), veados, seriemas, tamanduás, jaguatirica, anta, cutia e todo tipo de fauna daquela região.
Obviamente que havia onças-pintadas, mas essas não percorriam locais com barulho, de maneira que só se viam os seus rastros pela estrada ao amanhecer, acaso o motorista descesse do carro. Nas praias dos rios se veem pegadas em abundância.
A fazenda era cortada pelo imenso e caudaloso rio Pardo, que fazia uma curva sinuosa a uns trezentos metros dali. Raros homens adultos empreendiam atravessar esse manancial a nado.
A sede da fazenda guardava um silêncio que nunca mais experimentei. Seus únicos sons são proporcionados pelos pássaros e a bicharada que, de vez em quando, rosna na mata. Durante a noite as matas, campinas e pastos são pincelados de luzinhas vagantes que na verdade são olhos.
Como a própria cidade onde morávamos era emoldurada de matas e rios, não era de estranhar o seu aspecto bucólico, mas vivíamos a experiência interessante do silêncio pleno, luz e geladeira a gás. E sem o lampião, tudo era breu. Ficávamos sentados nos bancos da varanda do casarão, conversando e olhando para aquela placa do horizonte invisível, preto, rompido pelo azul escuro do céu, furado de pontinhos reluzentes. Nunca vi céu mais lindo.
Durante o dia, eu e minha irmã costumávamos percorrer a fazenda, apreciando tudo. A começar por um pequeno rio que ficava atrás do casarão. Rasinho e com nuvens de lambaris.Andávamos no mato à cata de marolo, goivira, ingá e outras frutas do mato, deliciosas e inesquecíveis.
Nesses passeios silvestres gostávamos de correr dentro dos túneis que as capivaras e antas constroem. São caminhos redondos, esculpidos naturalmente pelo vai e vem desses animais dentro dos arbustos altos. Quase um labirinto. Andar por essas tocas era diferente de rasgar o mato à mão para avançá-lo, portanto sentíamos a desenvoltura dos bichos, como se o fôssemos.
Recordo-me de uma experiência com uma onça, certa vez, quando passeava sozinho nesses labirintos misteriosos, mas atraentes. Assim que deixei o túnel, dei-me com as margens do assustador rio Pardo. As águas caudalosas emitem um som único e indescritível. As copas gigantes das árvores parecem seres fantásticos quando sombreiam as águas. É uma presença indescritível de algo que só se sente estando ali.
Na outra margem do rio uma multidão de ariranhas entrava e saia de suas tocas no barranco ribeirinho. Mais adiante, numa pequena enseada, dezenas de capivaras tomavam sol na prainha de areias alvas. Pareciam contemplar o silêncio daquele paraíso. São impressionantes as delícias da natureza. Elas proporcionam um misto de medo e envolvimento irresponsável naquelas peles, naqueles couros, seduzindo-nos.
Eis que nesse estado de natureza olho para a mata ribeirinha e dou-me com a visão de uma onça pintada sobre o braço de imensa ingazeira. Deitada despreocupada e elegantemente. Um portentoso exemplar. Tal e qual essa bela espécie da fotografia aqui postada. Logicamente que não era essa, mas exatamente igual. Havia entre nós a distância da largura de duas BR, de maneira que ela poderia ter-me tornado sua refeição num disparo de segundos. Se eu entrasse na água, elas são excelentes nadadoras. Se eu subisse numa árvore, elas são exímias escaladoras. Correr seria em vão.
Fiquei como um toco, fincado ali sem movimento. Logo aquele ser de beleza extraordinária saltou na água e deu na outra margem, num nado impressionante. As capivaras irromperam dali, desaparecendo como se entrassem nas árvores. Fiquei observando, almejando vê-la novamente, mas a mata era muito fechada. Então disparei para a sede da fazenda. Coração ameaçando sair pela boca.
Doido é quem quer amizade com onça. Para mim, animais silvestres pertencem às matas, devem ser louvados e nada mais. Eles estão no espaço deles. Sempre tive aversão a quem fere qualquer animal. Mas, por falar em onça, as pegadas da onça-pintada assustam. São grandes e carimbam pesadamente o chão. A pata dianteira é bem maior que a traseira. A dianteira tem uns 12 cm de comprimento e uns 13 cm de largura. A pata da pegada traseira tem uns 11 cm de comprimento a 10 cm de largura, com almofada grande e arredondada. Os dedos são arredondados e sem marcas das unhas.
À noite, durante as conversas de lampião, meu cunhado disse que ela estava alimentada, e jamais me faria mal. Ou talvez estivesse interessada na manada de capivaras do outro lado do rio. Talvez ela dormisse naquele momento e minha presença a despertou.
As onças sentem cheiro numa profusão incomparável. São iguais aos indígenas que adivinham alguém chegando de longe. Ele orientou que eu não fosse mais por ali sem companhia. A peonada dali só anda de faca e arma de fogo. As onças se afastam ao menor barulho. Jamais se aproximam de lugar com ronco de motores ou converseiro. Assim também são as sucuris.
Pois bem, essa é a história de uma onça que estava em paz em seu habitat, eu a perturbei, e ela, por alguma razão, me poupou, Seguem outras imagens. Elas, no caso, são imagens reais do rio Pardo contornando a cidade em que nasci. Essas matas tiveram parte comigo. Esse rio conheceu a minha infância. Quantas vezes saltei de sua velha ponte de madeira e nadei até a margem como que acabara de experimentar o feito de um heroi…
AUTOR: Luiz Carlos
segunda-feira, 29 de maio de 2023
domingo, 28 de maio de 2023
GILBERTO ARANHA - CONTISTA FORA DO CANON POTIGUAR
Quantos livros de literatura de prosa foram publicados na década de 30 do século passado em Natal? Quais escritores tiveram notoriedade naquela época? Quais passaram de forma tangencial e que ficaram esquecidos nas estantes de bibliotecas?
Recorro a quem bem sabe do assunto e trago ao leitor que no final da década de 20 e depois já nos anos 30, Policarpo Feitosa dispunha suas obras "Flor do Sertão"(1928), "Gizinha" (1930, "Alma Bravia" (1934), "Encontros do Caminho"(1936), "Os Moluscos (1938). Edgar Barbosa publica em 1937 "História de uma Campanha" e em 1938, José Bezerra Gomes apresenta ao público o seu primeiro romance "Os Brutos". Depois disso as próximas produções em prosa já irão pertencer à década seguinte.
Importante deixar bem claro que no tocante ao gênero conto, a produção praticamente não existia. Gurgel nos ensina que as primeiras tentativas foram frustantes nos anos de 1914 e 1915 e somente em 1961 Newton Navarro publica "O Solitário Vento de Verão", livro de conto. Chego com estas informações, preparando o terreno para que possa deitar a semente deste artigo.
No dia 24 de janeiro de 1931 faleceu em Natal Gilberto Aranha, aos 15 anos de idade. Menino inteligente, leitor e infelizmente doente. Não sei qual foi a causa da sua morte. Queria dizer aqui neste artigo quem foram seus pais, mas enquanto pesquisava surgiu uma incógnita sobre o assunto e estou tentando resolver. Tão logo tenha a solução publicarei sobre a filiação.
Gilberto Aranha era potiguar, nascido em 1916. Deixou um livro póstumo, e após a sua morte o mesmo foi lançado em 1932. Foi um livro de contos, com qualidade textual, aprovado pela crítica do Rio de Janeiro e até onde saiba, totalmente ignorado na província potiguar. Terra de Senna lhe dedicou uma resenha no jornal "Diário Carioca", que publico abaixo, na qual é possível perceber que Gilberto Aranha foi sem sombra de dúvidas um bom contista. Ele não consta no cânon dos escritores consagrados, mas passa agora, 92 anos após a sua morte, a constar na lista dos contistas esquecidos e revelados do Rio Grande do Norte.
Leia a resenha feita por Terra de Senna e tire suas conclusões.
"ASPECTOS DA VIDA"
Aspectos da Vida...Viu-os, sentiu-os, uma criança de quinze anos. Na idade precisa em que nós abrimos os olhos à vida, ávidos de sensações, numa tentativa hercúlea, humana, de aprender a viver com a felicidade e o infortúnio dos outros. Por isso, aos quinze anos, todos nós pretendemos ver muito, todos nós desejamos ver e sentir com toda a força dos nossos sentimentos...
Invade-nos, então, a tristeza dos males alheios. E porque alçamos bem alto os nossos sentimentos, aparecemos aos olhos dos que não sabem ver, ao juízo dos que não sabem sentir, como a efigie clássica da tristeza da raça. Gilberto Aranha, a criança que escreveu "Aspectos da Vida", foi, como todos nós, um pesquisador tenaz da vida. Não quis, porém, o destino que as suas observações se amadurecessem com a própria vida.
GURGEL, Tarcísio. Informação da Literatura Potiguar. Natal: Argos, 2001.
(Pesquisa no site da Biblioteca Nacional - Hemeroteca)
DIÁRIO DE NATAL, edição de 17 fevereiro de 1907
DIÁRIO CARIOCA, edição 25 de janeiro de 1931.
DIÁRIO CARIOCA, edição 9 de abril de 1932.
DIÁRIO DE NATAL, edição de 21 de fevereiro de 1949
O POTI, edição de 19 de janeiro de 1975.
sábado, 27 de maio de 2023
MANÉ BERADEIRO E LIMA NETO FALARAM DE LIVROS E LEITURA PARA ALUNOS DO CEI
A manhã de ontem, sexta-feira, foi muito especial. Eu e Lima Neto estivemos com os alunos das unidades do Centro de Educação Integrada-CEI, localizadas na Roberto Freire e Romualdo Galvão, onde falamos de nossas experiências como leitor e escritor.
quinta-feira, 25 de maio de 2023
MANÉ BERADEIRO E LIMA NETO FAZEM APRESENTAÇÕES EM UNIDADES DO CEI
Na manhã desta sexta-feira, 26 de maio, o poeta Mané Beradeiro divide o palco com o escritor Lima Neto em duas apresentações, que irão acontecer nas unidades do Centro de Educação Integrada - CEI da Romualdo Galvão e Roberto Freire, respectivamente às 8 h e 10 h.
O evento acontece no encerramento da Semana Literária, com os alunos do Ensino Fundamental II. Na oportunidade os dois escritores estarão falando para o público sobre o universo da leitura e suas formas, principalmente mostrando que para fazer arte literária basta ter a sensibilidade, criatividade e buscar a forma que deseja expressar a criação, seja ela culta ou popular.
Mané Beradeiro apresentará alguns escritores populares e também mostrará as suas obras. Lima Neto ficará com a parte da escrita culta e os escritores clássicos, não deixando de apresentar textos de sua autoria.
Lima Neto |
quarta-feira, 24 de maio de 2023
terça-feira, 23 de maio de 2023
sexta-feira, 19 de maio de 2023
A ÚLTIMA VELA DA VIDA
quinta-feira, 18 de maio de 2023
terça-feira, 16 de maio de 2023
sexta-feira, 12 de maio de 2023
terça-feira, 9 de maio de 2023
ORMUZ BARBALHO LANÇA ÂNCORA NO CEC
segunda-feira, 8 de maio de 2023
QUINTA CULTURAL SERÁ COM IAPERI ARAÚJO FALANDO SOBRE MANXA
Escutar Iaperi
É deveras prazeroso
Por isso eu lhe aviso
do momento precioso
Nesta Quinta Cultural
Na Cidade do Natal
Encontro maravilhoso.
Mané Beradeiro
sexta-feira, 5 de maio de 2023
A MÃE DO BANDIDO
O dr. Generino Semifusa
se levantou pra defender o réu.
- Senhores, o bandido que se acusa
é o tipo mais perfeito do bandido.
O crime perpetuou-o, foi cometido
com a agravante de - premeditação.
É homicida e ladrão.
(Enxugou o suor. Toda a platéia
escutava essa enorme verborréa).
- Mas, senhores jurados, vós sabeis
que a pérola nós vamos encontrar
numa ostra, enterrada sob a lama.
Este bandido de alma pervertida,
possui um sol que brilha em sua vida.
Pelo processo lido, vós vereis
um ponto importantíssimo, que a trama
do inquérito escondeu. Vou revelar
que esta alma pelo crime emperdenida,
que é capaz de matar por um vintem
assim como faz mal, pratica o bem.
Este homem que vós ides condenar
tem mãe. É uma velhinha já de oitenta,
a quem, filho exemplar, ama e sustenta.
Essa velhinha vós ides matar!
(O promotor, um bacharel careca
nervoso se assuou na própria beca.
Os jurados, deveras comovidos,
intimamente pensavam na mui gasta dirimente
da "privação dos sentidos".
O próprio juiz sentia a entalação
da mais profunda e inédita emoção)
Para encurtar esta enfadonha história
vou dizer a verdade nua e crua.
O defensor ficou cheio de glória
e o tribunal jogou o homem na rua...
Dez minutos depois, uma velhinha
já tremula, falou ao defensor:
- Venho beijar-lhes as mãos, senhor doutor!
Nossa senhora sempre o acompanhe...
Semifusa ficou todo nervoso.
- Mas quem é a senhora? perguntou.
- Eu sou, doutor, a mãe do criminoso...
E o doutor Generino retrucou:
- Minha pobre velhinha, não estranhe,
... eu nem sabia que ele tinha mãe!
FONTE: Baú de Turco
AUTOR: Sá Poty
ANO: 1932, 3ª edição, pág, 84 a 86
Editor Pedro Lopes - Recife-PE