terça-feira, 7 de janeiro de 2020

ABRINDO " O BAÚ DO MEDO" - ANTOLOGIA DE CORDEL COM SUSPENSE E TERROR - PARTE I



 Assim como a Coleção “A Cabana Maldita” publicada em 2019 também apareceu no ano passado a  antologia de cordéis de suspense e terror, intitulada “O Baú do Medo”,  ambas com o selo da Nordestina Editora. “O Baú do Medo” um livro com 236 páginas, que tem a participação de 20 poetas.  Resolvi escrever sobre o material dessa antologia e para não ficar tão extensa a resenha dividi em duas partes, cada uma contemplará 10 folhetos, seguindo a ordem da própria antologia.
Tenho sentido alegria neste ofício de ser crítico do cordel brasileiro. Ser crítico é uma atividade solitária. Fazemos nossas considerações porque acreditamos que deixaremos um legado que servirá aos que leem hoje e aos que irão ler amanhã.
Busco escrever uma crítica mestra, que traga sinais da imparcialidade e seja luz àqueles que almejam apresentar aos seus leitores um cordel mais belo. Nesta estrada nem todos compreendem os meus passos. Mas continuo com o olhar fixo no horizonte, pois sinto que já tenho alguns olhando e agradecendo a jornada que ousei começar.
Suspense e terror são elementos que integram o conjunto do medo.  Nos cordéis da antologia “O Baú do Medo” iremos nos deparar com vários textos que trazem cenas onde personagens são estimulados às situações de possível luta ou fuga. Alguns poetas souberam construir com maestria, outros nem tantos, mas o que importa é que neste momento eles fazem história por serem participantes deste livro.

Zeca Pereira, editor e organizador desta antologia nos diz:

Quando surgiu a ideia de lança-la, eu já imaginava a tamanha dificuldade, pois não seria fácil encontrar    autores com textos prontos para esse fim, e realmente foi difícil...Para muitos, inclusive para mim, foi um grande desafio, mas eu tenho dito: o poeta precisa ser versátil para conseguir chamar  a atenção do leitor” (PEREIRA, 2019).

Foi pensando nessa dificuldade e na proposta da versatilidade acima que entro na leitura crítica destes cordéis e trago até vocês minhas considerações.

O COLECIONADOR DE CRÂNIOS – Alberto Figueredo
        Numa misteriosa mansão, de um morador estranho há um galpão com uma coleção horripilante.  Esta é a trama que Alberto Figueredo desenvolveu em 41 sextilhas. Um poema com 100% de rimas aproveitadas. Desenvolveu o poema com suspense e traz várias cenas de terror. Gostei da sequência dos fatos e da forma como foi encerrado o cordel.  Entretanto, pequenos ajustes devem ser feitos nas estrofes 5,6,7,10,28 e 31 no tocante a acentuação e concordância e nas estrofes 37 e 38 a questão da cacofonia, respectivamente “la´no dela” e “praquela”, expressões carregadas de sonoridades não poéticas. Veja também o autor as estrofes 3 e 13, nelas há uma fuga de coesão, afinal o colecionador é um velho (estrofe 3) ou um moço (estrofe 13?


O VULTO  - Aurineide Alencar
Neste cordel Aurineide Alencar nos traz um causo que aconteceu com Galego, morador do Sítio Sossego que viveu uma experiência diferente, com suspense e medo. Que tipo de “bicho” perseguiu Galego? Que aconteceu com o nosso protagonista? Para ter a resposta é necessário correr os olhos nas 31 estrofes do cordel (30 sextilhas e 1 nona). A poeta Aurineide conseguiu atingir 96,83% de rimas perfeitas. Não fechou os 100% por causa das rimas orais e as que mesclam singular e plural. Aqui também há necessidade de revisar algumas palavras que precisam serem escritas com iniciais maiúsculas (substantivos: Galego, Virgem Maria, Sítio Sossego). Em edições futuras a autora faça uso das aspas (“ “)  para as frases que são pensamentos  ou falas de personagens  citadas pelo narrador (estrofes 11,19,20,27) . Quando for o próprio personagem falando, em discurso direto não é preciso o uso das aspas, mas torna-se imperiosa a presença do travessão (─). Como por exemplo a estrofe 23:
                        Galego então resolveu
                            De onde estava gritar:
                            ─Eu também quero comer
                            “tô” com uma fome de lascar.
                            Bem nessa hora a cozinha
                            Voltou a silenciar.
                            (PEREIRA,   2019, P. 20)

Na estrofe 28, página 21,  o  correto é  o verbo acender e não ascender.



O NOIVADO MACABRO  - AroDinei Gaia

Estamos com Pedro, na cidade de Belém, numa sexta-feira, dia 13, data que traz elementos de azar. É noite, e a distância vamos acompanhar os passos de Pedro, lendo o que escreveu o poetar AroDinei Gaia, nas 32 estrofes, todas em sextilhas, que se entrelaçam na construção da trama de um noivado tão diferente. 100% de aproveitamento das rimas. Apenas um verso com necessidade de correção. Ele está na estrofe 4. Como se trata de um pensamento de Pedro não deve ter o uso do travessão (─), mas sim das aspas (“ “).


A MALDITA BOTIJA DO CASARÃO -  Antonio Marcos

As botijas fazem parte do universo de contos de suspense e terror, é quase impossível numa roda de conversas sobre  histórias mal-assombradas, não aparecer este assunto na pauta. No cordel também é assim. E é o poeta Antonio Marcos quem vai ter a primazia de contar uma história com botija, nesta antologia  “O Baú do Medo”.
Faz isso através de 34 estrofes, em sextilhas. Casarão abandonado, almas penadas, a botija, o diabo, caveira e outras coisas fazem parte da lista  dos ingredientes deste cordel. É bem verdade que em alguns momentos da narrativa sentimos mais a característica do gracejo que o suspense e terror. Todavia, de forma geral, Antonio Marcos conseguiu através de José e Pedro de Bil atingir o objetivo proposto pelo editor. 97,05% de rimas perfeitas. Eu fiquei querendo um fechamento da narrativa de forma mais impactante.



A LENDA DO VAQUEIRO FANTASMA – Cleber Eduão

Pedro Valente, vaqueiro, casado com Abla Cecília, é capaz de tudo para defender seu chão. Até que ponto vai a sua determinação?  Terá Pedro Valente força suficiente para enfrentar a força do coronelismo? O poeta Cleber Eduão é o autor desta narrativa, com 54 estrofes, em septilhas, 100% de  aproveitamento de rimas perfeitas.  Três observações eu sinalizo ao poeta Cleber Eduão: 1) O verbo estar. Em algumas estrofes ela vai aparecer escrito de forma contraída (“tava”). Isso é quase uma constante no meio dos textos de cordéis, inclusive eu usei muito sem perceber que aplicava um termo oral. Creio que ele só deva ser usado assim quando estiver representando uma fala direta de um personagem e neste caso, entre aspas e de forma itálica. 2) Lá na página 45, estrofe 22, o poeta  tem um verso, dentro do qual há um cacófato ( do grego kakophonía),  que nada mais é do que um som desagradável, neste caso “já tava”. 3) Na estrofe 49  reveja a ortografia do verso: “Quando ouviu-se a livuzia” (sic).


ZÉ DEGREDO E O MALAMÉM DO CASARÃO ASSOMBRADO – Chico Leite

O Malamém que o poeta Chico Leite  nos apresenta no seu texto é um personagem já bastante presente nas histórias contadas pelos nossos avós e bem como em livros de prosas que trazem contos populares.  O que Chico Leite escreveu foi um trabalho de alusão estrutural e, diga-se de passagem, bem montada, em suas 77 estrofes, sextilhas. É um misto de suspense, terror e um pouco de gracejo.  Nas 231 rimas presentes, 97,40%  estão harmoniosamente perfeitas. Zé Degredo prova ser um homem de coragem e fazer jus ao que diz a estrofe seguinte:
                        Não tinha medo de nada:
                            Onça, caipora ou fantasma,
                            Coisas que a qualquer um outro
                            Basta para dar até asma ...
                            A coragem deste Zé,
                            Até jagunço se pasma.
                            (PEREIRA, 2019, P. 53)



JARDIM DAS ALMAS – Douglas Sodré e Zeca Pereira

Nestes versos convidamos
O nosso caro leitor
Para seguirmos viagem
Nas asas dum beija-flor
Até o Jardim das Almas,
Cenário de grande horror.
(PEREIRA, 2019, P. 67)

Atendo ao convite dos poetas Douglas Sodré e Zeca Pereira e vou com eles até o Jardim das Almas. Conheço Maristela e o jardineiro Antonio Galeno. Uma história contada em 124 sextilhas, com nível de aproveitamento das rimas em 99,19%.  Os poetas souberam costurar os versos com uma linearidade que vai  de estrofe a estrofe cativando o leitor. É na 17ª que tem início o suspense:

De repente, Maristela
Ouviu sorrisos de alguém
Ela perguntou quem era
Não apareceu ninguém
Quando viu duas crianças
Como vindas do além.
(PEREIRA, 2019, P. 69).

As cenas construídas a seguir ganham a beleza de um rio que vai desaguar numa cachoeira, atingindo em minha perspectiva de leitor, o ápice do suspense a partir da estrofe 30:

                Matilde vendo os desenhos
                   Despertou suas lembranças,
                   Em um que tinha os rostos
                   De duas belas crianças
                  Desaparecidas há anos
                   Sem deixar mais esperanças.
                   (PEREIRA, 2019. P. 70)

Neste poema vai ser preciso fazer algumas podações nas estrofes 25, 76 e 95, para que o Jardim fique mais bonito.



O CANIBAL – Ednaldo Alves e Zeca Pereira

A história tem como palco a cidade de São Paulo,  capital. São 50 estrofes, em sextilhas, com mais cenas de terror do que suspense.  Durante 10 anos os crimes permaneciam sem soluções, até que um detetive resolve ir atrás deste mistério. Gutenberg Nogueira conseguirá obter êxito? Charles permanecerá no anonimato?  No texto só encontrei duas pequenas coisas a serem revistas:  no tocante a geografia física, estrofe 3, não se pode afirmar  “A praça da Catedral fica na  periferia”.  Catedrais  estão  sempre no centro das metrópoles. A outra está na estrofe 37,  página 89, tem uma palavra com ortografia errada. O poema tem 98% de aproveitamento de rimas perfeitas.




A LAGOA DO TERROR – Flávio Barjes

 Quatro jovens estudantes se aventuram pelo interior do Pará e vão escutar a história sobre o feiticeiro  Tomé Sobral.  Conselhos, canja de galinha e seguro são coisas que não fazem mal a ninguém.Terão  os jovens o discernimento do perigo que pode atingi-los naquela lagoa amaldiçoada? Quantos escaparão?  A Lagoa do Terror  infelizmente teve sua diagramação prejudicada na antologia, há várias estrofes fora de ordem. São 54 estrofes, em sextilhas, 100% de rimas perfeitas. Na página 97, a quarta estrofe, o verbo fazer deve ficar no impessoal (Onde já faz anos). Um cordel muito bem criado, com estrofes repletas de imagens que enriquecem o texto e trazem veracidade à narrativa.



 
O CARTEIRO FANTASMA – Flaviano Medeiros

Um carteiro do além que traz correspondências sinistras às suas vítimas. Entra em qualquer ambiente sem precisar usar as portas e suas cartas só podem ser abertas pelos destinatários, qualquer outra pessoa que tentar violar as correspondências não obterá êxito. Alfredo Mendonça Filho é um dos personagens que irá ser atribulado por esse carteiro.  Uma história que cativa o leitor. Muito bem montada, através das 171 estrofes em sextilhas que foram escritas pelo poeta Flaviano Medeiros. Um triângulo amoroso, um homem ambicioso, uma família, este trinômio vai prender  sua atenção na leitura.  100% de rimas perfeitas. Há erros de ortografia, acentuação de crase, uso inadequado do travessão, colocação pronominal, respectivamente nas estrofes 19,20,52,101,142.



NOTAS DOS POEMAS
1)   O Colecionador de Crânios – pelo suspense e terror nota 5.  Por causa dos ajustes que necessitam serem feitos nota geral 3,5.
2)  O Vulto -  pelo suspense  - nota 5. Pelos ajustes a serem feitos nota geral 3,5.
3)  O Noivado Macabro – Pelo suspense nota 5. Nota geral 5.
4)  A Maldita Botija do Casarão – Pelo suspense e terror nota 5.  Nota geral 4,5.
5)  A Lenda do Vaqueiro Fantasma – Pelo suspense – nota 4,5. Nota geral 4,5.
6)  Zé Degredo e o Malamém do Casarão Assombrado – Pelo suspense e terror – Nota 5. Nota geral 4.
7)  Jardim das Almas – Pelo suspense e terror – nota 5.  Pela podação a ser feita – nota geral 4.
8)  O Canibal – Pelas cenas de terror – nota 5.  Nota geral 4.
9)  A Lagoa do Terror - Pelas cenas de suspense e terror - nota 5. Nota geral 4
10)       O Carteiro Fantasma – Pelo suspense e  terror – nota 5. Nota geral 4,5.

          Vou ficando por aqui, mas breve voltarei. Permitam-me refazer dos medos e das lembranças horripilantes que estão povoando minha mente.


Mané Beradeiro
Parnamirim-RN, 07 de janeiro de 2020. 

Referência:

PEREIRA, Zeca. O Baú do Medo - Coletânea de Cordéis  de Suspense e Terror. Barreiras/BA: Nordestina Editora, 2019.



CACIMBA DE SÃO TOMÉ - MADALENA ANTUNES



Hoje é apenas um muro, mas exatamente aí, neste local, que fica na Avenida Hermes da Fonseca, bem defronte ao que resta do Estádio Juvenal Lamartine, em Natal, foi a casa da maior memorialista do Rio Grande do Norte e uma das quatro melhores do Brasil. Quem foi ela? MADALENA ANTUNES PEREIRA, autora do livro Oiteiro -Memorias de uma sinhá-moça (1958).

Madalena com a pena
Registrou tudo que viu
Os negros sendo libertos
A nobreza que existiu
Agora só em OITEIRO
Saudamos quem já partiu.


Mané Beradeiro

segunda-feira, 6 de janeiro de 2020

O GRITO DO MAR



Mar, por que gritas com as pedras?
Quem te ensinou a esbravejar?
Meus olhos só te conhecem até a linha do horizonte e pareces ser tão calmo.
Neste balé de águas verdes percebo que tua placidez é falsa.
Tu és grande, mas as pedras não temem tua imensidão.
Tua superfície tem rastros de pescadores que somente as gaivotas conseguem identificar.


Francisco Martins 


quinta-feira, 2 de janeiro de 2020

ACADEMIA DE CORDEL DO VALE DO PARAÍBA

Edital – Concurso de Cordel de Gracejo
            O Núcleo de Editoração da Academia de Cordel do Vale do Paraíba institui o 1º Concurso de Cordel de Gracejo, com o objetivo de incentivar a criação artística ligada ao cordel em todas as suas formas de expressão e o fomento à produção, difusão e circulação de cordéis.
I – TEMÁTICA E FEITURA
A temática deverá ser ligada ao folheto “de gracejo”, ou fescenino. Serão valorizados os itens relevantes sobre pesquisa, criatividade e poética, observando os elementos estruturais do texto de cordel:  a rima, a métrica e a oração.
  1. Para a feitura do texto de cordel foi determinada a categoria de sextilha, estrofe de seis versos obedecendo o seguinte esquema de rimas: XAXAXA, ou seja, rima nos versos pares, com versos de sete sílabas métricas.
  2. O texto concorrente deverá conter 32 (trinta e duas) estrofes de seis versos cada, obedecendo a uma linha temporal com início, desenvolvimento e conclusão, digitado no Word, fonte  Arial 12, espaçamento simples entre  os versos e dois espaços entre as estrofes, em folha com margens de  1cm em todos os  lados, e em duas colunas (entre colunas  2 cm).
  3. Os textos que não obedecerem às normas citadas acima serão automaticamente desclassificados, assim como os que não apresentarem nível técnico ou que estejam fora da temática, bem como trabalhos escritos por terceiros
II – INSCRIÇÃO       
As inscrições acontecem de 1º a 31 de janeiro de 2020, podendo se inscrever cordelistas de todo o Brasil, com um trabalho por candidato.
  1. As inscrições poderão ser feitas das seguintes formas:
1 -Pela internet através do e-mail: mozartpe@gmail.com
2 – Via postal para o endereço: Rua Dr. Olavo Magalhães, 79 – Jaguaribe – João Pesso – PB CEP 58.015-010
  1. candidato deverá enviar dados pessoas com telefone, endereço, junto com o trabalho.
III –SELEÇÃO, CLASSIFICAÇÃO E PREMIAÇÃO
Serão classificados 20 textos e destes, os três melhores trabalhos serão publicados.
  1. Cada autor receberá 200 exemplares do seu trabalho publicado.
  2. Se o autor tiver capa produzida, poderá enviar. Não tendo, ao Comissão do Concurso providenciará a arte.
  3. Os vinte primeiros textos classificados serão publicados em formato de livro, havendo disponibilidade de recursos através de financiamento coletivo.
IV – CONSIDERAÇÕES FINAIS
Casos omissos a este Edital serão tratados com a comissão organizadora do concurso.
Os vinte participantes classificados cederão os direitos de publicação dos seus textos para a Academia de Cordel do Vale do Paraíba para que sejam publicados, sem fins lucrativos.
João Pessoa, 02 de janeiro de 2020
COMISSÃO ORGANIZADORA

MANÉ BERADEIRO FOI CONVIDADO PARA O CONSELHO EDITORIAL DA NORDESTINA EDITORA



O poeta Mané Beradeiro foi convidado para fazer parte do Conselho Editorial da Nordestina Editora, com sede em Barreiras/ BA. A página do Facebook da  Editora tem a seguinte nota: " A NORDESTINA EDITORA há tempos pensava em criar um Conselho Editorial para avaliar melhor suas publicações e agora temos três pessoas capacitadas para nos auxiliar nessa nova empreitada, são elas: Niro Carper(PA), Mané Beradeiro (RN) e Márcio Fabiano (SP). Com isso os novos trabalhos serão bem mais avaliados e todos temos a ganhar." A Nordestina Editora levanta e sustenta a bandeira do cordel brasileiro, publicando folhetos de vários poetas, antologias, anuários e outros livros referentes ao  assunto.

quarta-feira, 1 de janeiro de 2020

ASSIM DISSERAM ELES ...

"Estou preso nesta liberdade de viver"



Francisco Martins

O HUMOR DE MANÉ BERADEIRO - ANO NOVO


Pular sete ondas no dia 1 de janeiro é moleza.
Quero vê  beijar um baiacu,
pentear um ourisco, 
dá polimento numa ostra e pescar uma sereia.

terça-feira, 31 de dezembro de 2019

CACIMBA DE SÃO TOMÉ - PRAÇA ANDRE DE ALBUQUERQUE




Praça André de Albuquerque. Em seu entorno nasceu a cidade do Natal. A primeira rua que era conhecida com o nome de Rua Grande, a primeira igreja que foi demolida pelos holandeses, o pelourinho, etc. O chão da praça é testemunha de muita história. Deram-lhe o nome de André de Albuquerque, o líder e mártir da Revolução de 1817. Esqueceram de fazer no berço de Natal uma homenagem ao fundador da cidade: Jerônimo de Albuquerque.

Quando a praça era um descampado, em 1906 foi aí que pela primeira vez os irmãos Pedroza trouxeram da Inglaterra uma bola de futebol e Natal assistiu a primeira pelada, registra Cascudo.

No berço da capital
Tem histórias de montão
Marco Zero de Natal
Porteira do coração
Quem por ela já passou
Vê a Praça em aflição.


Mané Beradeiro

segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

SEM MEDO DE ESCREVER SOBRE O CORDEL BRASILEIRO COM TEMAS DE SUSPENSE E TERROR – PARTE I – COLEÇÃO A CABANA MALDITA



Existem vários quadros de classificações do cordel brasileiro. Alceu Maynard, Ariano Suassuna, Carlos Alberto Azevedo, Diégues Júnior, Cavalcanti  Proença, Roberto Câmara Benjamim, Orígenes Lessa, Raymond Cantel  são estudiosos  desta literatura e criadores  das classificações.
Entre estes, Orígenes Lessa (1903-1986) que classifica o cordel brasileiro em dois grandes conjuntos: temas permanentes e tipos passageiros ousou criar o campo de Sobrenatural, para poemas de terror e suspense.
O que tínhamos sobre este campo?
Talvez o que tenhamos de mais antigo neste assunto seja o texto de Leandro Gomes de Barros (1865-1918),” O Cachorro dos Mortos “, um poema dramático escrito provavelmente em 1906.
Alguns poetas  produziram textos que trazem cenas do sobrenatural. É preciso dizer, no entanto, que esses autores, nem sempre estavam preocupados em criar no leitor sentimentos de medo, suspense ou terror, a maioria deles desejava mesmo era que seu poema trouxesse prazer na leitura, por tal razão, as situações com os personagens e o sobrenatural ganhavam roupagem hilárias.
Vejamos alguns exemplos:

  Francisco Sales Arêda (1916-2005) integrante da segunda geração do cordel brasileiro, no folheto “A moça que dançou com uma caveira”.


 ...
Nisto chegou um rapaz
Falou na porta e entrou
Perguntou aqui se dança?
E logo se encostou
Pergentina disse ôba
Que lapa agora chegou!

João carbureto rasgou
Um samba na concertina
O desconhecido pegou
No braço de Pergentina
E gritou aduba o troço
Vamos se acabar menina

Quando deram duas voltas
Ele foi mudando de cor
Ficou um esqueleto preto
Fazendo um triste rancor
Criou chifre, peia e cauda
Como um dragão traidor

Tão logo começa a mutação do mundo real para o sobrenatural, o autor propositalmente prossegue seu poema relatando nas estrofes posteriores, de forma cômica, como o público presente no baile reagiu à caracterização diabólica.

Nesta hora o povo todo
Fez a maior arrelia
Apagou-se o candeeiro
E Cosme Preto dizia
Estamos com o cão de testa
Credo em Cruz Ave Maria

        Somente após a construção de nove estrofes cômicas é que o autor retorna à situação de Pergentina:

E Pergentina na sala
Ainda estava agarrada
A caveira lhe arrochando
E ela já desmaiada
A caveira beliscando
Mordendo e dando patada

Arêda não tem como já disse a intenção de escrever o cordel todo no clima de terror e medo.  E assim ele conclui:

Quando o dia amanheceu
Que foram ver Pergentina
Ela ainda estava muda
E quase morta a menina
Só fedia a alcatrão
Com sebo podre e urina.

  Joaquim Batista de Sena (1912-1993) – “História do Príncipe João Corajoso e a Princesa do Reino não vai ninguém” (157 estrofes, sextilhas, 1975)
 Feita esta introdução quero trazer aos leitores que está em formação a primeira coleção do cordel brasileiro feita especialmente com o tema de suspense e terror, já com alguns folhetos publicados, que tem como título “ A Cabana Maldita”. Vamos  conhecê-la!


Coleção A Cabana Maldita


 “O pacto maligno” é a história que abre a coleção A Cabana Maldita, uma série de folhetos totalmente voltada para o suspense e o terror, sempre tendo como constante um lugar fictício, por nome Fazenda Portal Grande, no Rio Grande do Sul.

Foi no Rio Grande do Sul,
Num ano de inverno forte,
Quando o velho bruxo fez
Sua cabana no norte,
Onde seus pactos malignos
À muito trouxe má sorte.
(Parte I)

A coleção é a primeira do gênero de suspense no cordel brasileiro, tendo até esta data, cinco folhetos publicados pela Nordestina Editora e 1 inédito. Trabalho digno de aplauso, porque envolve várias pessoas: poetas, diagramadores, revisores, capistas, etc.


  Os poetas Zeca Pereira e José Heitor Fonseca continuam juntos e são deles “O alambrador”, folheto que dá continuidade à saga.

Na fazenda Portal Grande,
A cerca estava caindo;
Os mourões apodrecendo,
O gado todo fugindo,
Há anos sem ter reparo
O tempo só destruindo.
(Parte II)

As histórias atestam a boa escolha do título da coleção. Estão realmente bem escritas, tendo capas e ilustrações que condizem com as estrofes e seguem em todos os folhetos um ritmo monocromático. Chamo a atenção do editor Zeca Pereira para que dê mais visibilidade aos capistas.  A parte III  quase que não se consegue ler a assinatura de Flavio Barjes  e fiquei sem saber o diagramador.

Terceiro conto de horror
Neste cordel apresento,
É a história duma noiva
Na hora do casamento
Que se viu abandonada
E chorou de sofrimento
(Parte III)

O poeta Niro Carper entra na geografia do medo e traz Mariana “A noiva”, numa formação construída também com Zeca Pereira, poeta que já conhece todos os cômodos da cabana maldita. É possível que neste texto, os autores tenham se influenciados com imagens da  “Noiva Cadáver”. Caso isso tenha acontecido, nenhum prejuízo há, só comprova que sempre produzimos  alicerçados em outras leituras.

...
Quero deixar um conselho
Para quem é indeciso:
-Não penda para a cabana,
Por favor tenha juízo.
(Parte IV)
 
Quando começar a leitura do folheto “A hospedaria da morte”, o leitor estará adentrando na cabana maldita, sendo ciceroneado  pelo poeta José Nascimento, que até agora escreveu a maior narrativa desta saga.
   


Eu não sei se é mentira
Do povo da região,
Muitas pessoas afirmam
Que já viram assombração,
....
(Parte V)

 Munidos com isqueiro e lampião, a gente vai tentar dormir na cabana. Será que conseguiremos?  O poeta Flávio Barjes nos recepciona com “O jantar repugnante”.  Sobre o enredo não irei descrever, apenas aguço a curiosidade, pois vale a pena ler. Até aqui 22 pessoas já foram vitimadas na cabana. Quanto mistério existe ali? Cabe aos amantes do cordel tentar descobrir, mas advirto ao leitor que ainda não conhece os poemas, que tenha por perto um bom suco de maracujá e se sofrer de insônia, não se aventure.
 

O tropeiro”  é a VI Parte dessa coleção. Esta ainda se encontra no prelo, mas graças ao Editor Zeca Pereira, que me adiantou o texto,  posso assegurar que os autores são José Heitor e Niro Carper. A capa é de Flávio Barjes. A diagramação está muito bem feita, contém até ilustrações. Com relação ao enredo eu fiquei com aquele gostinho de leitor faminto, bem que poderiam os autores terem escritos mais estrofes. 

A Coleção A Cabana Maldita é uma bela colcha de retalhos,   cada folheto que chega traz a sua contribuição e enriquece a saga. Os autores estão conseguindo atender o objetivo de levar suspense e terror ao leitor. 

 6  poetas( por enquanto) oriundos dos estados da Bahia,  Rio Grande do Sul, Pará e Alagoas são autores desta saga.
.
O pacto maligno –  Parte I - 32 estrofes/ sextilhas – 100% de rimas perfeitas – 10 vítimas – Nota 5

O alambrador – parte II – 32 estrofes/sextilhas – 100% de rimas perfeitas – 2 vítimas – Nota 5

A noiva – parte III – 32 estrofes/sextilhas – 100% de rimas perfeitas – 7 vítimas – Nota 5

A hospedaria da morte – parte IV – 36 estrofes/sextilhas – 99,53% de rimas perfeitas – 1 vítima – Nota 5

O jantar repugnante – parte V – 32 estrofes/sextilhas – 100% de rimas perfeitas – 1 vítima. – Nota 5

O tropeiro – parte VI -  32 estrofes/sextilhas – 96,87% de rimas perfeitas – 1 vítima. (Este folheto ainda está inédito. Será publicado em 2020) - Nota 4,5

O projeto da coleção A Cabana Maldita pretende publicar 10 folhetos no total.

Parabenizo a todos que participam deste projeto.  Ganham eles pelos poemas produzidos e muito mais ganhamos nós, os leitores, pela grandeza que fica no cordel brasileiro. Avante! Em 2020 trarei a resenha sobre "O Baú do Medo".

Mané Beradeiro
30 de dezembro 2019
Última resenha do ano.

FAROFA DE GRÃO DE BICO





Grão de bico é coisa boa
Pra quem quer emagrecer
Com ele eu fiz farofa
A receita vou ceder
Pois já perdi foi 6 quilos
É possível perceber.

Ingredientes:

Grãos de bico cozinhados ( 3 colheres de sopa)
Cebola branca fatiada em tirinhas (1 tamanho média)
Requeijão cremoso light ( 1 colher de sopa)
Banha de porco ( 2 colheres de sopa)
Azeite de oliva
Ovo cozido ( 1 un)
Farinha de mandioca

Modo de fazer:

Ponha numa panela a banha e quando ela derreter acrescente a cebola, refogue bem. Depois acrescente os grãos de bico e deixe  por alguns minutos. Abaixe o fogo e ponha o requeijão. Quando ele derreter, desligue e regue com azeite. Espere esfriar um pouco e ponha azeite a seu gosto e a farinha.  Ponha o ovo em pedaços e mexa bem!

Mané Beradeiro
30 dezembro 2019

PEQUENAS AULAS GRANDE LIÇÕES COM A PROFESSORA CEIÇA PAIVA

HORA DE APRENDER PORTUGUÊS.

Quando usar MIM ou ME?
MIM vem sempre acompanhado de preposição;
ME vem sempre acompanhado de verbo:
. Passe para MIM essa caneta. (Mim, vem acompanhado da preposição 'para')
. Você gosta de MIM, o quanto gosta dela? (Mim, vem acompanhado da preposição 'de')
. Vim te ver, pois ME preocupei com você. (Me, vem acompanhado do verbo preocupar)
. Amanhã você ME fala o que faremos no sábado. (Me, vem acompanhado do verbo falar))
. Gosto de ME arrumar antes de sair. (Me, vem acompanhado do verbo arrumar).
“ME” se trata de um pronome pessoal oblíquo átono, e observando , pode-se ver nos exemplos, que está sempre acompanhado de um verbo, esta é a principal característica que o diferencia na hora de “MIM”, que é um pronome pessoal oblíquo tônico que ao invés de verbos, é sempre acompanhado de preposições.
Desse modo, quando usar Mim ou Me, é só lembrar que MIM não conjuga verbo e por isso, deverá estar acompanhado de preposições (a, até, com, contra, de, em, entre, para, por, sem, sob, sobre,)
- Assim, o certo seria:
"Não ME inveje" (ME está acompanhado do verbo 'invejar').






Compartilhado do Facebook de Ceição Paiva.


domingo, 29 de dezembro de 2019

BACALHAU DE JUMENTO - RECEITA

Aos amigos vou mostrar
Um prato feito por mim
"O bacalhau de jumento".
Quem come até o fim
Fica feliz e quer mais
Sabor agrada demais
Um Maná de serafim.


Mané Beradeiro

 Receita

250 gramas de carne de charque
4 batatas inglesas
2 tomates 
1 cebola média
1 dente de alho
4 ovos cozidos
Batata palha
Banha de porco
Azeite de oliva

Modo de fazer

Escalde bem a charque (3x) para tirar o excesso do sal. Corte em pedaços. Ponha na panela de pressão com os tomates ( tiras), a cebola ( rodelas)  e o  alho (picado). Refogue bem na banha do porco. Depois tampe a panela e deixe cozinhar com um pouquinho d'agua até a carne ficar bem macia. À parte cozinhe os ovos e as batatas. Quando a carne estiver no ponto, tire o excesso de caldo se houver e num refratário monte a carne, intercalando com os ovos e as batatas inglesas, regue com um fio de azeite e ponha nas laterais batata palha.
 
 

ACPVB ABRE INSCRIÇÕES PARA MULHERES



A Academia de Cordel do Vale do Paraíba - ACVPB  abriu inscrições para candidatas. As mulheres que desejarem se inscrever podem fazer até o dia 15 de janeiro próximo. A eleição acontecerá dia 25 de janeiro no Museu Jurandir Maciel, centro de João Pessoa-PB. De acordo com o edital publicado pela ACVPB a indicação deverá ser assinada por um acadêmico, com anuência da candidata. Maiores informações podem ser colhidas com o Presidente da ACVPB, poeta Marconi Araújo, pelo (083) 99307-4545.

sábado, 28 de dezembro de 2019

OS NOTÁVEIS E ANÔNIMOS NO PAINEL DE FLÁVIO TAVARES


Este belíssimo painel, óleo sobre tela, medindo 9 metros de comprimento por 3 metros de altura é fruto do trabalho de Flávio Tavares e foi pintado em 2008. Ele está fixado num dos salões do espaço cultural Estação das Ciências, em Ponta Seixas, João Pessoa-PB. Eu já devo ter visitado este lugar umas quatro vezes ou mais.  Sempre me encanto com a beleza do painel. E fico pensando no trabalho que teve Flávio Tavares.


Hoje eu estive lá mais uma vez. Fiquei parado olhando detalhes e eis que percebo que o painel  "No Reinado do Sol" ( é este o nome dado pelo pintor), traz muitas informações sobre a vida cultural do povo paraibano. Focando os olhos e correndo devagar, eis que me deparo com Ariano Suassuna,  José Américo e Augusto dos Anjos. Três grandes nomes que enobrecem nossa literatura.

Ariano Suassuna
Augusto dos Anjos
José Américo
Aprendi que a vida é como um grande painel de Flávio Tavares, cheio de pessoas notáveis e anônimas, mas todas elas extremamente necessárias à beleza do painel.

Francisco Martins
28 de dezembro 2019

FOLHETOS DE MANÉ BERADEIRO SERÃO VENDIDOS EM JOÃO PESSOA



O Mercado de Artesanato Paraibano, na Avenida Senador Rui Carneiro, 241,  no bairro de Tambaú, em João Pessoa,  terá brevemente um ponto de vendas dos folhetos de cordéis de Mané Beradeiro. A parceria foi firmada hoje, quando o poeta esteve em passeio e conheceu Edward, proprietário da loja Raízes Artesanato, de número 94, que fica no terceiro piso.Edward vende folhetos de vários poetas e é também escultor, fazendo arte plástica em madeira.

sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

TORPEDO DE MANÉ BERADEIRO 043/2019



Dinheiro compra pão, mas não compra gratidão. Um adágio popular que tem muito a nos ensinar. Não adianta querer fazer do dinheiro  a coisa mais importante da sua vida. Dinheiro foi feito para circular, proporcionar momentos de paz. Guardá-lo é adquirir doença. "Porque o amor do dinheiro é raiz de todos os males. e alguns, nessa cobiça, se desviaram da fé e a si mesmos se atormentaram com muitas dores" (I Tm 6:10). Se uma dor já é ruim, imagine várias dores.

EM JANEIRO TEM A IV EDIÇÃO DO CANTARES DA TERRA EM SERTÂNIA/PE


VIDA EM BRANCO


Zélia Duncan

Você não precisa de artistas?
Então me devolve os momentos bons
Os versos roubados de nós
As cores do seu caminho
Arranca o rádio do seu carro
Destrói a caixa de som
Joga fora os instrumentos
E todos aqueles quadros
Deixe as paredes em branco
Assim como é sua cabeça
Seu céu de cimento
Silêncio cheio de ódio
Armas para dormir
Nenhuma canção para ninar
E suas crianças em guarda
Esperando a hora incerta
Pra mandar ou receber rajadas

Você não precisa de artistas?
Então fecha os olhos, mora no breu
Esquece  o que a arte te deu
Finge que ela não te deu nada
Nenhum som, nenhuma cor,
Nenhuma flor na sua blusa
Nem Van Goh, nem Tom Jobim
Nenhum Gonzaga, nem Diadorim
Você vai rimar com números
Você vai dormir com raiva
E acordar sem sonhos, sem nada
E esse vazio no seu peito
Não tem refrão pra dar jeito
Não tem balé pra bailar.

Você não precisa de artistas?
Então nos perca de vista
Então nos deixe de fora
Desse seu mundo perverso
Sem verso, sem graça, sem alma.

Zélia Duncan

Fonte: Revista da ANRL, edição nº 59,  abril a junho 2019, páginas 158 e 159.