Comecei 2010 criando galinhas. Além de ser um negócio rendável é também fonte de prazer. Ademais, matuto não sabe viver sem criação, tem que ter por perto cabra, vaca, galinha, preá, cachorro, etc.
Então eu comprei algunas galinhas de granja e meu sogro me deu uma caipira, juntei todas no mesmo galinheiro. E uma tarde, quando fui chegando para dar comida as bichinhas eu ouvi uma discussão entre duas galinhas. A coisa foi mais ou menos assim:
De Granja: Tu é uma galinha otária, vive numa eterna luta. Mode arrumá o que comer, de manhã à noite é puta. E prá cagá o que come, bota uma força bruta.
De Caípira: Tua vida é muito curta, munto pouco tempo dura. Toma hormônio prá crescer, come ração sem mistura. A tua carne é sem gosto, prá quem come, é merda pura.
De Granja: Tu não é muito diferente, tem mais longa a tua vida, mode a demora em crescer, para ser consumida leva quase sete meses, até quando é abatida.
De Caipira: Mais in valô nutritivo juro que di'eu, tu num ganha. Do meu volume de carne, de capote, tu apanha. E adispois de tu guizada, se dismancha toda in banha.
De Granja Mais quando alguém tá doente, qui precisa de uma canja, de uma cumida inocente, a mãe, com todo cuidado arranja, mode dá como remédio, uma galinha de granja.
De Caipira: Adispois qui a muié pari, na hora do seu resguardo, quando o mininim nascer e aliviar o seu fardo, mode se recuperá, vem logo atrais do meu caldo.
De Granja: Tu só come do pior, posso até fazer aposta, passa fome de montão, de todo basculho gosta, e quando tua fome aperta, bebe mijo e come bosta.
De Caipira: Tu com bestera, e teu ovo? Pouco a pessoa alimenta. É mais barato, tá certo, porém a ninguém sustenta. Teu ovo é vinte centavo, o meu, é quage cinquenta.
De Granja: Tu com essa pabulagem, se acha esperta pra xuxu, mais para lhe entupir eu vou perguntar pra tu: Tu acha que trinta centavos compensa eu rasgar meu cu?
De Caipira: Eu passo o dia no mato, de noite venho discansá, Me assubo no puleiro, fico inté o Só raiar. Tu é cumendo direto, la nos galpão, sem pará.
De Granja: Dia e noite sem parar na ração eu vou vivendo. Eu aqui na mordomia e tu, no mato, sofrendo, Comendo munturo e bosta, e uns galo te cumendo.
De Caipira: Se uns galo tão me comendo, eu chego mudo de tom, da zuada qui nós faiz, muito longe se oice o som. Eu levando chibatada, cantando e achando bom.
De Granja: Falando de companheiro, de tu, aí também ganho. Pra galo que nem os teus, eu juro que não me assanho. Os teus são pequenininhos e os meus são desse tamanho.
De Caipira: Os teus é desse tamanho, mais prá eu é infadado. Abasta dá umazinha, fica arquejando, cansado. Meus piquininim é macho , e dá conta do recado.
Homi se eu nãoi tivesse espantando as galinhas, a briga ia durar um tempão, Terminei com aquela prosa galinácea, joguei os milhos, pus a água e separei as duas depois. Mas cá prá nós, caipira é bem melhor, não é?
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O causo acima foi criado baseado no cordel PELEJA DAS GALINHA DE GRANJA X CAIPIRA, de Roberto Coutinho Motta, o famoso BOB MOTTA, cujo teor encontra-se em itálico.
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