Para Américo Pita
Venha cá Maria Amélia
Se achegue ao que é seu.
Tome conta deste homi
Que é todinho seu.
Maria! Oh, Maria! Você tá mouca?
Não vê que estou chamando?
Venha cá Maria Amélia
Nossa rede eu já armei,
Butei óleo nas escarpas promudi não rangir.
Apaguei a lamparina pra você se divertir.
Deixei apenas um tição, acesso lá no fogão,
Pra sua sombra esculpir.
Maria, nossa casa é pobrezinha,
Com piso de barro batido,
Um pote pra guardar água,
Uma mesa sem toalha,
Quatro tamboretes baixos.
Tudo isto é todo teu.
Aqui mora o amor, eu e tu, tu e eu.
Leôncio eu tô te ouvindo
Mas não vou me aprouchegar.
Eu sou moça donzela, acabei de me casar.
Mãe disse: "Varra a casa, limpe o terreiro, lave e passe bem lingeiro.
Cozinhe tudo que ele quiser, faça Leôncio feliz, sendo assim sua muié".
E apóis, minha estrela, minha fulô de açucena, meu pé de bugari,
Meu roçado de algodão. Tá aqui teu nego fornido, bucho cheio, bem nutrido,
Roupa limpa, bem passada te chamando pro chamego.
Venha logo Maria Amélia, não me faça vaquejar, tô perdendo a paciência, juro
Assim não aguentar.
Maria foi se chegando, com o polegar na boca, escorando-se nas paredes,
Aquela linda caboca, com duas tranças bem feitas e um vestido de chita.
Os olhos pretos diziam "Meu deus que será de mim?"
Leôncio sorria, mostrando os dentes brancos, cor de marfim, já tirara a camisa,
Com um pé abriu a rede. Maria deu um pinote d'um susto que tomou gritando: "Valha-me Santa Bárbara, Leôncio não se mexa, eu vi algo se bulindo, vou correndo acender a lamparina".
Nega, carece não, você tá vendo demais. Me de cá a sua mão. Deite aqui devagarinho, feche os olhos, bem de manzinho, escute eu aboiar. Sinta o calor do meu corpo buscando o seu abraçar.
Lá fora, a lua cheia, lançava raios de luzes, que por entre as palhas do teto chegavam àquela rede. Mária Amélia gemia, dizendo algo inaudível. Leôncio, feliz da vida, fazia juras sem fim. E assim naquela noite, a donzela sumia e na rede de algodão uma mulher se fazia.
...
Maria, Mária Amélia
Você quer me matar? O dia tá raiando, os pássaros tão cantando, eu preciso trabalhar.
Mané Beradeiro - dezembro 2010
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