Emanuel, doze anos, todos eles vividos
numa pobre casa de pau a pique, coberta com palhas de coqueiros. Lá não há luz
elétrica, em sua casa ainda se usa lamparina, alimentada com querosene. Também
não tem água saneada, usa-se água de cacimbas, tão branca que é preciso
acrescentar algumas gotas de limão para fazer o barro assentar.
A escola que fica mais próxima da sua casa está há uns cinco quilômetros, não
tem nenhum transporte que o leve até ela, se quiser estudar tem que ir a pé.
Emanuel tem nos olhos o brilho da esperança, na pele, desidratada, a marca da
fome. Maria e Zé, seus pais, são analfabetos, ele trabalha na roça, ela,
raspando mandioca numa casa de farinha. Sobrevivem, não têm carteira assinada,
plano de saúde, salário fixo, feriados e dias santos.
Alguém
perguntou a Emanuel o que é o Natal.
-Natal?
É festa que existe lá na cidade, nas ruas bonitas. Aqui não há nada disto não,
respondeu ele.
-Então
que dizer que você nunca recebeu um presente de Papai Noel?
-Nem dele, nem do meu pai. Foi a resposta dada por Emanuel, lançando seu olhar
na linha do horizonte, como quem aspirava ver chegar o inesperado.
Que
estaria pensando Emanuel?
Será
que ele tinha conhecimento que muitas vezes jogamos fora, esbanjando alimento,
que para nós não tem sabor nenhum, mas, que para ele e sua família pode ser o
único pão daquele dia? Talvez alguém tenha dito a ele, que em algumas
casas, não tão distante dali, neste mesmo País, Estado e Cidade, vivem pessoas
que se dão ao luxo de usar uma camisa, calça ou sapato uma vez por mês, posto
que, têm um guarda roupa com muitas peças.
Emanuel
levou a mão até acima dos olhos, o polegar ficou perpendicular a sobrancelha direita,
os demais, unidos, protegiam a vista de Emanuel, que já na ponta dos pés,
conseguiu ver o vulto do seu pai apontava no poente, tendo como moldura o sol
se pondo, as nuvens vermelhas.
Vi
Zé chegar, vinha do trabalho, trazia numa bolsa de couro, dois preás. Estava
garantido o salgado daquela noite e do dia seguinte. Com certeza Maria não
faltaria com a farinha.
Fui
embora, pensando que há uns dois mil e sete anos atrás, também numa aldeia de
Belém houve um José e uma Maria, que nos trouxeram Jesus, Emanuel, Deus
Conosco.
Feliz
Natal!!!
(publicado originalmente em 13 de dezembro de 2007, no blog Chaminé)
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