Duas
safras de imbu já havia passadas,
O
inverno derramou o líquido tão sagrado.
Os
açudes do sertão choraram de emoção,
As
vazantes deram milho pra fogueira de São João.
A
natureza demonstrou seu poder transformador:
Galinha
tirou ninhada, da vaca, bezerro veio,
Da
gruta, a sussuarana forte berro ecoou,
Era
ela dando a luz na lagoa do Piató,
A três felinos ruivos caçadores de mocó.
Lá
na casa do vaqueiro quase nada mudou.
O
tição tinha fogo, a mulher disso sabia.
Por
que naquele lar criança não existia?
Vaqueiro
criou coragem foi ao padre perguntar:
-Seu
vigário qual é a veia que faz mulher embuchar?
Desde
do meu casamento que tento obedecer
“crescei
e multiplicai”, mas ta difícil fazer.
Conheço
bem o caminho,
Acredite,
pode crer.
O
levita embaraçado, pouco pode ajudar.
Disse
entender de santo e por ele ia rezar.
Vaqueiro
foi ao pastor outro conselho buscar
Que
disse ser preciso em Abrãao se espelhar.
Nada
de quebrar o pote, nem a onça cutucar,
Pois
tudo tem o seu tempo, basta em Deus esperar.
E
o dia então chegou numa manhã de abril
A
mulher tinha enjôo quando via o marido,
A
coisa ficou tão feia que ele dormiu no terreiro,
Junto
com Maribondo, seu cão faceiro.
Quando
soube que a esposa estava prenha,
Sim
senhor! Vaqueiro cuidava dela
Com
mais zelo e amor.
Parecia
mangangá na flor do maracujá.
Os
desejos atendia com total dedicação,
Para
não perder a cria de tudo ele fazia.
Quatro
meses de barriga tava ela a tocar
Quando
deu louca vontade de um bago degustar.
Comeria
com farinha, era esse seu pensar.
O
vaqueiro amolou sua faca de ofício
E
a ela perguntou: -De qual gado quer ovo meu amor?
De porco,
boi, bode ou cavalo?
-Nenhum
desse, meu marido.
Foi
resposta que lhe deu.
E
ispiando os bagos seus, os beiços ela lambeu.
Vaqueiro
mudou de casa durante a gestação.
Danado
quem dormiria naquela situação
“Pirão
de bago meu tava fora de questão”.
A
história não parou, ela vai continuar.
Aguarde
a narração do parto que vou contar,
Mas
isso não é agora, deixe o tempo chegar.
Mané
Beradeiro
Natal
13 novembro 2016
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