Antonio Glicério - 1981 - 1921 |
Exma.
Sra. Joventina Simões, Presidente desta Academia.
Exmas.
Autoridades presentes ou representadas,
Senhores
Acadêmicos,
Meus
familiares, amigos, convidados,
Meus
senhores e minhas senhoras,
Serei
breve, como breve foi a vida do meu patrono.
Chego a esta casa
conduzido pelas mãos de uma
senhora, ela não é minha mãe, mas me
deu vida, pois através dela ganhei o que há de mais precioso na minha
existência, que é a minha esposa.
Agradeço a ela, Maria da Conceição de Oliveira Pimentel, professora, por ter dados
estes passos comigo, conduzindo-me à
Casa de Pedro Simões Neto.
A imortalidade daqueles
que integram esta Academia Cearamirinense de Letras e Artes – ACLA - Pedro
Simões Neto é consagrada, aqui e em outras Arcádias literárias não pelo número
de anos que vivemos, afinal, no tocante a isso, somos efêmeros. O poeta bíblico, Davi, escreveu:
A
duração da nossa vida é setenta anos; e se alguns, pela sua robustez, chegam aos oitenta, o que ela lhes pode dar
não é mais do que cansaço e aborrecimento. O tempo
passa de tal maneira que temos a sensação de voarmos (Salmo 90:10)
Diante desta realidade
cabe a cada membro da Academia deixar às gerações o seu legado de produção
artística na prosa e/ou poesia. Isso
sim, nos fará imortal. Ficaremos presentes nas páginas que escrevemos, no
conjunto das letras que conseguimos sincronizar dando corpo a ideia do texto.
Ocupo a cadeira 18, sendo seu fundador e primeiro ocupante. Essa cadeira tem como patrono Antonio
Glicério. Quem foi ele? Que sabemos sobre sua existência? Antonio Glicério nasceu em Ceará Mirim no dia
2 de julho de 1881, no Engenho Verde-Nasce.
Nilo Pereira escrevendo a Veríssimo de Melo diz que Antonio Glicério era
filho da escrava Sancha Conceição, mucama famíliar muito querida e que gostava de contar estórias. Foi poeta, boêmio.
Não
chegou a ter grandes estudos, provavelmente apenas o que corresponde
hoje ao Ensino Fundamental II. Aos 9 anos já morava em Natal, onde teve como
professor o Padre João Maria. O poeta
Bezerra Júnior, descreve no seu discurso
de posse na Academia Norte-rio-grandense de Letras, que ele era um homem
pálido, esguio e melancólico.
Foi poeta que abraçou o estilo romântico no
início do século XX. Vejamos, por exemplo este soneto, publicado no jornal A República, em 1908.
Vamos
cantar o nosso amor, sozinhos,
longe de tudo que é descrente: vamos!
Onde
somente os ternos passarinhos
Beijam,
sorrindo, os orvalhos ramos.
Vamos
gozar os íntimos carinhos
Nos
róseos lares onde nos amamos
E
ouvir o doce gorjear dos ninhos
Enquanto
flor, na primavera estamos.
Vamos,
beijando as adoradas folhas,
Puras,
estreitas, duleidas, formosas,
De
nossa verde e fúlgida existência
Cantar
o nosso amor imaculado
Como
num leito santo e perfumado
Cantar,
ditosa, a alma da inocência.
Como
se vê, Antônio Glicério podia até não ter formação acadêmica, mas suas
leituras, fez dele um homem culto, que escrevia com maestria. A leitura é sem sombra de dúvida, a mais
natural das formações intelectuais.
Antonio Glicério foi também profissional gráfico, tendo sido tipógrafo,
onde trabalhou na composição e paginação
do jornal A República, e foi funcionário do Grupo Escolar Padre Miguelinho, em
Natal.
Casou aos 29 anos com Leopoldina Matos, em 16 de
maio de 1911 e chegou a preparar seu único livro de poemas, que chamou de Cantilenas, embora o mesmo não
tenho sido publicado. Em 5 de junho de 1921, doente, vitimado pela tuberculose,
um destino que tanto atingiu os poetas românticos, faleceu aos 39 anos na
cidade de Santo Antonio do Santo da Onça –RN.
Hoje
seu nome é referenciado como patrono das cadeiras 23 e 18, respectivamente na
Academia Norte-rio-grandense de Letras e na Academia Cearamirinense de Letras e
Artes-ACLA-Pedro Simões Neto, além de dá nome a uma rua no bairro de Lagoa Seca, na capital.
Meus
senhores, minhas senhoras, termino meu elogio ao patrono e lembro que nesta noite sou apenas aquela
criança que brincava pelas ruas de Ceará-Mirim, correndo acima e abaixo, indo
muitas vezes ao rio, onde tomava banho escondido dos meus pais.
Ceará
Mirim sempre permanece dentro de mim e agora, mais do que nunca hei de amá-la
mais e mais e cantá-la como o verso da prosa poética de Edgar Barbosa:
Vejo-te sempre
com o teu longo vestido verde, com as torres altas de tua igreja; vejo-te ainda
em minha lembrança e no meu sonho.
Obrigado.
Ceará Mirim- RN, 18 de novembro de 2016
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