Era uma tarde
de quarta-feira, ensolarada e quente. Mané Beradeiro resolveu fazer uma visita ao
seu compadre Oreny. Saiu de casa dirigindo sua Rural Willys 1960,
conservadíssima, aprumada que só vara de espanador de teto.
Quando
chegou ao seu destino foi logo recebido pelo compadre Oreny, cinquentão,
cabelos prateados, homem cheio de causos e com alma de poeta. Oreny é sinônimo
de alegria e receptividade.
-Mas
veja só quem veio me visitar? “Paixão” vem cá ver quem chegou!
E
ela veio. Esposa sorridente, o porto
seguro do compadre Oreny. Deu logo as
boas vindas e tratou de oferecer água, mas antes, para refrescar, trouxe um
copo de suco de limão siciliano, bem geladinho.
-Eita
que suco bom da mulesta! Elogiou Mané
Beradeiro. E para aperrear perguntou a comadre se ela ainda criava o casal de
cururu dentro do pote para comer as larvas do mosquito da dengue.
-Compadre
acabe com essa conversa sem fundo!
Falou, riu, e deixou os dois conversando no alpendre.
Depois
de um bom tempo Oreny quer saber:
-Vai vender a Rural quanto?
-Nunca! Essa vai se acabar comigo. Não posso me desfazer do que foi dote de casamento.
-Compreendo. De dote eu também tenho minha história. “Paixão” me
enganou quando foi se casar comigo. Dizia que tinha dote: uma fazenda e criação
de bichos. Só depois que casei foi que vi: Fazenda? Uma peça de tecido que ela
guardava da sua avó. Criação de bichos? Gado nenhum sequer, tudo bicho de pé,
que fui tirando com espinho de quixabeira. Mas, não reclamo, sou feliz e rico com a vida dessa mulher no meu coração.
E
a tarde passou, os olhos negros da noite chegaram cedo, como é costume no
nordeste, trazendo entre o por do sol e o abóio do vaqueiro, um cheiro
irresistível de carne de sol assada na brasa para ser degustada com cuscuz com
leite.
08.02.2017
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