Os poemas de Marcelo José Gomes Costa são como a água do pote, saborosos, refrescantes. Não me canso de admirar o seu estilo. Neste "O Pobre Coitado", o eu lírico nos prende desde os primeiros versos. Na simplicidade do falar caipira, o poeta usa o cordel para nos dá uma lição de sabedoria. Verifiquem leitores, leiam e tirem suas conclusões.
Cumpade, DEUS pôs dois zóio
Aqui no meu coração.
Num fui perguntá a ELE
Os mutivo ô a razão
Pois acho qu'eu sei porque:
SÓ DEVE SÊ MOD'EU VÊ
O SOFRÊ DOS MEU IRMÃO.
Com os zóios do coração
Fica mais fácil inxergá
A dô que o ôtro sente
Sem nada lhe perguntá.
E o coração, meu cumpade,
Acredite que é verdade,
Num custuma s'inganá.
Quand'eu olhava, cumpade,
Usano os zói da razão,
Lhe confesso e inté lhe peço
Que me conceda o perdão
Por agir como um bandido
Ao tratá os "disvalido"
Sem a menó compaixão.
Compaixão que um certo dia
Eu cheguei a precisá
Mas você sabe, cumpade,
Quem veio me ajudá?
Um ''daqueles disvalido"
Qu'eu tratei como um bandido
Foi quem vêi me alevantá.
Pois foi um "deles", cumpade,
Que veio me socorrê
Mermo sabeno que eu
Dêxava ele morrê
S'eu tivesse em seu lugá.
E isso me fez pensá:
E agora, o que fazê?
Sem precisá dizê nada,
Só com um gesto m'insinô,
Que a vida é bem mais fácil
Praquele que tem amô.
E quem também intendê
Que um dia só vai colhê
Aquilo que se plantô.
Foi ali, naquele instante,
Qu'eu vi quant'eu tava errado.
Ao vê sua mão istendida
Fiquei mêi disconfiado,
Mas seu gesto me amostrô
Que na verdade "eu que sô"
O mais pobre dos coitado.
Marcelo José Gomes Costa
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