Março, mês dedicado às mulheres. Nada mais justo do quê escrever uma resenha sobre a importância da mulher no gênero de cordel, principalmente no tocante àquelas que foram pioneiras e também as atuais. A resenha não irá conter todas, até porque o assunto é crescente e amplo, entretanto, o pouco que se escrever por aqui já servirá para enriquecer nosso conhecimento.
Gutenberg Costa |
Tomo como base o livro Presença Feminina na Literatura de Cordel do Rio Grande do Norte, de autoria do pesquisador e historiador Gutenberg Costa.Sobre ele quero afirmar que aprender com Gutenberg é sempre bom, suas pesquisas são profundas, alicerçadas, têm a maturidade dos bons vinhos. Suas obras sobre o tema são referências obrigatórias quando se trata de estudar, saber e escrever sobre o cordel no Rio Grande do Norte, ele chegou até aqui com muito esforço e dedicação. Está imortalizado na literatura.
Mas, deixemos Gutenberg Costa descansando na Morada São Saruê, lá em Nísia Floresta/RN, onde ele não é amigo do rei, mas sim o próprio e merecido rei e vamos adentrar no tema que se propõe a resenha. A primeira mulher a publicar um folheto na forma tradicional de cordel, no Nordeste, foi uma poeta natural da Paraíba: Maria das Neves Batista Pimentel (1913-1938), que teve a coragem de enfrentar a sociedade machista, que certamente não aceitaria a sua presença no cordel e ela usou o pseudônimo de Altino Alagoano ( nome do marido). Naquela época a imagem da mulher era com frequência atribuída aos trabalhos domésticos e dela se esperava ser: beata, mãe e esposa, nada mais. E ainda por cima eram tidas como peso. Veja por exemplo esta estrofe do cordel O casamento do velho e um desastre na festa", Leandro Gomes de Barros, escrito em 1913.
Manoel Lopes dos Anjos
Nunca tinha se casado
Dizia sempre: a mulher
É um volume pesado
Deus me livre de mulher,
De médico e advogado
(BARROS, ....)
Maria das Neves Batista foi filha de Francisco das Chagas Batista (1882-1930) que era poeta cordelista e tinha sua própria tipografia.
Eu sou filha de poeta
e neta de repentista
meu avô era Ugolino
e meu pai Chagas Batista
também faço poesia
o poeta é um artista!
(MENDONÇA, 1993, p. 86).
"O Corcunda de Notre-Dame"; "O violino do Diabo ou o valor da honestidade" e "O amor nunca morre" . Os três folhetos, bem lembra Aderaldo Luciano: são todos transposições de clássicos da literatura universal, o que coloca
por terra a tese elitista de que quem fazia cordel era analfabeto ou
semi-analfabeto. Quem desejar conhecer mais sobre a história dessa mulher, aconselho a leitura do livro "Uma voz feminina no mundo do folheto", de Maristela Barbosa de Mendonça ou de uma forma mais sucinta, porém densa, o texto acadêmico :"Maria das Neves Batista Pimentel: a voz por trás do verso" de autoria de Elanir França de Carvalho e Letícia Fernanda da Silva Oliveira.
Maria das Neves |
Voltemos ao colo feminino, melhor lugar para os poetas repentistas e de bancadas, e vamos neste aconchego tomando conhecimento da saga da mulher no cordel brasileiro e visitar a Academia Brasileira de Literatura de Cordel - ABLC ( instituição que vai completar 30 anos de existência no mês de setembro) com sede no Rio de Janeiro, para sabermos como anda a presença feminina naquela Arcádia.
Cadeira 3 - Maria Anilda Figueiredo - CE
Cadeira 16 - Alba Helena Correa - RJ
Cadeira 18 - Maria Rosário Pinto - MA
Cadeira 25 - Dalinha Cacunda - CE
Das 40 cadeiras 10% são das mulheres, e nenhuma cadeira tem como patrona a figura feminina. Isso mostra o quanto a mulher ainda tem a conquistar. Mas, se nas Academias a mulher ainda não está em par de igualdade com os homens, no que diz respeito a quantidade de cadeiras ocupadas, na produção de folhetos já não há mais esta exclusão. Hoje a poeta cordelista nem precisa fazer uso de pseudônimos masculinos. Exceto, por opção.
Como bem diz Queiroz:
Na terra de Clara Camarão, a Academia Norte-Rio-Grandense de Literatura de Cordel - ANLIC deu espaço a três patronas: Gizelda Trigueiro, Nati Cortez ( a primeira cordelista do RN) e Maria Eugênia e tem no seu rol de membros as notáveis: Antonia Mota ( atual Presidente), Rosa Regis, Josenira Fraga, Clotilde Tavares, Sírlia Souza, Geni Milanez, Lucila Noronha e Cláudia Borges, 20% de participação nas cadeiras. Um exemplo a ser seguido pela ABLC. Temos outras poetas no RN que se dedicam ao cordel e estão cada vez mais alcançando esse campo que tem espaço para todos.
Sabemos que essa participação ainda não é das melhores, mas acreditamos que breve o quadro há de melhorar. Doralice Alves de Queiroz fez uma extensa pesquisa em nove instituições, nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia e Paraíba, no período de junho de 2004 a novembro de 2005, quando tomou conhecimento da existência de 31.105 folhetos de cordel no acervo desses órgãos, sendo apenas 120 de autoria feminina. Qual será o quadro hoje?
Março está apenas começando e sobre mulheres e cordel eu ainda voltarei a escrever.
Mané Beradeiro
Como bem diz Queiroz:
Somente a partir de 1970 é que se pode verificar manifestações de autoria assumidamente feminina. Na atualidade, mulheres, através da escrita de cordéis, denunciam uma realidade social e também anunciam perspectivas de vida. São professoras, psicólogas, advogadas, dramaturgas, donas de casa, que, utilizando-se dessa forma de manifestação da nossa cultura, deixam fluir sua poeticidade e através dela demonstram seus sentimentos, aspirações e visões de mundo, consolidando uma identidade autoral e o espaço feminino na literatura de cordel.
Na terra de Clara Camarão, a Academia Norte-Rio-Grandense de Literatura de Cordel - ANLIC deu espaço a três patronas: Gizelda Trigueiro, Nati Cortez ( a primeira cordelista do RN) e Maria Eugênia e tem no seu rol de membros as notáveis: Antonia Mota ( atual Presidente), Rosa Regis, Josenira Fraga, Clotilde Tavares, Sírlia Souza, Geni Milanez, Lucila Noronha e Cláudia Borges, 20% de participação nas cadeiras. Um exemplo a ser seguido pela ABLC. Temos outras poetas no RN que se dedicam ao cordel e estão cada vez mais alcançando esse campo que tem espaço para todos.
Sabemos que essa participação ainda não é das melhores, mas acreditamos que breve o quadro há de melhorar. Doralice Alves de Queiroz fez uma extensa pesquisa em nove instituições, nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia e Paraíba, no período de junho de 2004 a novembro de 2005, quando tomou conhecimento da existência de 31.105 folhetos de cordel no acervo desses órgãos, sendo apenas 120 de autoria feminina. Qual será o quadro hoje?
Março está apenas começando e sobre mulheres e cordel eu ainda voltarei a escrever.
Mané Beradeiro
Livros recomendados - sugestão de leitura
1) A Mulher na literatura de cordel - BORGES, Maria Núbia Câmara/MORAIS, Vera Lúcia Albuquerque. Edições Pirata, 1981.
2) Romaria de versos: mulheres cearenses autoras de cordel - SANTOS, Francisca Pereira dos. Edições SESC, 2008.
1) A Mulher na literatura de cordel - BORGES, Maria Núbia Câmara/MORAIS, Vera Lúcia Albuquerque. Edições Pirata, 1981.
2) Romaria de versos: mulheres cearenses autoras de cordel - SANTOS, Francisca Pereira dos. Edições SESC, 2008.
Referências
BARROS, Leandro Gomes de. O casamento do velho e um desastre na festa.
COSTA, Gutenberg. A presença feminina na literatura de cordel no Rio Grande do Norte. Natal/RN: Editoras 8 e Queima Bucha, 2015.
MENDONÇA, Maristela Barbosa de. Uma voz feminina no mundo do folheto. Brasília: Thesaurus, 1993.
QUEIROZ, Doralice Alves de. Mulheres cordelistas - percepções do universo feminino na literatura de cordel. Belo Horizonte/MG: UFMG, 2006.
ABLC disponível em
LUCIANO, Aderaldo. Disponível em:https://jornalggn.com.br/blog/aderaldo-luciano/duas-ou-tres-coisas-sobre-o-cordel-brasileiro-e-seus-protagonistas
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