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quarta-feira, 27 de junho de 2018

COMENTANDO MINHAS LEITURAS EM CORDEL: APRENDENDO COM J.BORGES

O poeta de bancada é aquele que tem por ofício construir o seu verso sem se preocupar com o tempo. A ele é dado todos os minutos, horas e dias para burilar a sua estrofe e, se isso fizer, ele vai cada vez mais aperfeiçoando sua produção textual.
No tocante à literatura de cordel associa-se a esse trabalho a aplicação da métrica, rima e oração, trio indispensável para vestir com beleza, sonoridade e elegância o poema.
Quem ler meus folhetos verá que muitas vezes eu pequei nessa pratica. Aos poucos fui aprendendo graças às críticas e também porque busquei aprender observando as sextilhas e outras formas que lia nos folhetos, sempre tendo o cuidado de selecionar poetas de renome.
Estou crescendo enquanto poeta, mas confesso que até agora não senti o desejo de consertar os erros que cometi em meus folhetos. Eles são testemunhas da minha evolução.
Hoje, quando eu leio qualquer poema de cordel eu tenho um olhar que se aprofunda sobre a sua estrutura, é uma forma de aprendizado e também me dá a certeza de que não há poeta perfeito.
Recentemente li o romance "Nazaré e Damião o triunfo do amor entre a vingança e a morte", de José Francisco Borges. São 154 estrofes num enredo com cenas cheias de ações e sentimentos. A história tem como palco o interior de Minas Gerais. J .Borges, ao meu ver, não foi feliz na construção das estrofes 144 a 148. Nas quais há um rendimento muito pobre no temperamento e caráter de Tenório, o vilão e de Maria, mãe de Nazaré.  O texto que li não determina a data da sua criação. Talvez tenha sido um dos primeiros de J.Borges, pois ele mesmo se antecipa às futuras críticas, pedindo desculpas:

"Me desculpem se não fiz
Uma história bonita
E quem for grande poeta
Duma caneta perita
Me perdoe se está errado
Que sou novo na escrita"
(Estrofe 153)

Realmente há rimas que o poeta tropeçou, tais como:

1) ninguém/ninguém/bem
2)rapaz/audaz/satanás
3)rapaz/voraz/satanás
4)desaparecer/tomar/descansar
5)surpresa/mesa/malvadeza
6)dia/viam/bebiam

J.Borges é um grande xilógrafo? Sem dúvida, o maior do Brasil e o mais premiado, mas isso é outra história.

Mané Beradeiro
27 de junho de 2018

Referência: Coleção  Cordel J.Borges. São Paulo: Hedra, 2007.

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