Mensagem do além na exposição de Bandeira em Lisboa
Em meio às recordações de Bandeira, uma curiosidade do outro mundo: a carta que escreveu a Odylo Costa Filho - na época adido cultural brasileiro em Portugal. Conta Bandeira, na missiva, que a viúva do poeta Augusto Frederico Schmidt, D. Yeda, desejando esclarecer dúvidas sobre negócios do espólio, deliberou comunicar-se com o espírito do falecido numa sessão espírita. Quem baixou, entretanto, não foi o Schmidt. Foi o poeta e compositor Jaime Ovalle - espírito bem humorado, que disse, entre outras coisas: " Aqui estamos todos nus". Lembra Bandeira que tanto D. Yeda quanto o Dante Milano, presentes à sessão - reconheceram a estranha declaração "como coisa autêntica do Ovalle".
Como o Dante Milano não conseguiu fazer uns versos sobre a inusitada declaração - embora tentasse - Mestre Bandeira pôs mãos à obra e escreveu as deliciosas quadrinhas que reproduzimos a seguir, como homenagem também ao espírito inesquecível do poeta de "A CINZA DAS HORAS". Bandeira era insuperável nesses exercícios lúdicos:
MENSAGEM DO ALÉM
(Aqui estamos todos nus - Jaime Ovalle)
Aqui é tudo o que olhamos/ Nu como o
céu, como a cruz,/ Como a folha e a flor nos
ramos:/ Aqui estamos todos nus.
As vestes que aí usamos/ Nada adiantam.
Se o supus,/ Se o supões, nos enganamos:/
Aqui estamos todos nus.
Dinheiro que aí juntamos,/ Jóias que
pões (e eu já as pus),/ De tudo nos despoja-
mos:/ Aqui estamos todos nus.
Aos pés de Deus, que adoramos/ Sob a
sempiterna luz,/ É nus que nos prosterna-
mos:/Aqui estamos todos nus.
Manuel Bandeira
Trecho de um artigo escrito por Veríssimo de Melo, publicado no Jornal do Comércio, Recife/PE, em 6 de junho de 1990.
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