A tarde terminava com o sol se pondo entre as carnaubeiras. Uma imagem linda de ser vista, um descanso à alma do homem que retornava à casa após uma dia de labuta lavrando a terra.
Tão logo pegou a estrada, eis que nosso campesino se encontra com Mota, seu vizinho que também voltava do trabalho. Mota gostava de prosear, tinha conversa para tomar menino das garras do papa-figo e até mesmo fazer bode tomar banho de chuva.
−Boa tarde meu amigo!
─ Boa tarde!
─ Ainda está com a visita do seu cunhado?
─ Sim, não vejo a hora daquela criatura voltar para Santa Cruz
─ Por quê?
─ Meu amigo sabe que eu não sou miserável, mas aquele rapaz é uma estrovenga.
─ Então é trabalhador?
─ Antes fosse. Quando digo estrovenga refiro-me à vontade que ele tem de comer. Agora eu entendo o ditado: parente é como praga de gafanhoto: come tudo.
─ Pois está na hora do senhor ensinar a ele que aranha vive do que tece.
─ Eu? Imagina se vou me meter nisso, ele é metido a valentão e eu não quero criar problema no meu casamento por causa de cunhado ademais em buraco de cobra tatu não entra.
E assim, enquanto caminhavam, os dois homens mantinham a conversa recheada de sabedoria popular, os famosos adágios, provérbios que vão passando de geração a geração. Já chegando próximo da casa de Mota, esse falou se despedindo:
─É ditado da cutia: o sol se pôs, acabou-se o dia; mas é ditado da raposa: o sol se pôs, ainda se faz muita coisa.
Mané Beradeiro
Parnamirim-RN, 12 de agosto 2021
As ilustrações são de Perci Lau. Fonte: Almanaque Globo Rural, ano 1, 1987, página 139.
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