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quinta-feira, 12 de agosto de 2021

CONVERSA DE CANCELA: VOLTANDO PARA CASA

 A tarde terminava com o sol se pondo entre as carnaubeiras.  Uma imagem linda de ser vista, um descanso à alma do homem que retornava à casa  após uma dia de labuta  lavrando a terra.

Tão logo pegou a estrada,  eis que nosso campesino se encontra com Mota, seu vizinho que também voltava do trabalho. Mota gostava de prosear, tinha conversa para tomar menino das garras do papa-figo e até mesmo fazer bode tomar banho de chuva.

−Boa tarde meu amigo!

─ Boa tarde!

─ Ainda está com a visita do seu cunhado?

─ Sim, não vejo a hora daquela criatura voltar para  Santa Cruz

─ Por quê?

─ Meu amigo sabe que eu não sou miserável, mas aquele rapaz é uma estrovenga.

─ Então é trabalhador?

─ Antes fosse. Quando digo estrovenga refiro-me  à  vontade que ele tem de comer. Agora eu entendo o ditado: parente é como praga de gafanhoto: come tudo.

Pois está na hora do senhor ensinar a ele que  aranha vive do que tece.

─ Eu? Imagina se vou me meter nisso, ele  é metido a valentão e eu não quero  criar problema no meu casamento por causa de cunhado ademais em buraco de cobra tatu não entra.


 

E assim, enquanto caminhavam, os dois homens mantinham a conversa recheada de sabedoria popular, os famosos adágios, provérbios que vão passando de geração a geração.  Já chegando  próximo da casa de Mota, esse falou se despedindo:

É ditado da cutia: o sol se pôs, acabou-se o dia; mas é ditado da raposa: o sol se pôs, ainda se faz muita coisa.

 

Mané Beradeiro

Parnamirim-RN, 12 de agosto 2021

 

As ilustrações são de Perci Lau. Fonte: Almanaque Globo Rural, ano 1, 1987, página 139.

 

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