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segunda-feira, 22 de novembro de 2021

O POETA E A "JUMENTA PRETA"

 Com a chegada da pandemia eu comecei a fazer pão caseiro para vender, era o mês de maio de 2020 e logo tive que pensar numa forma mais econômica para entregar meus produtos, de carro ficava inviável e de bicicleta, cansativo. A solução foi  comprar uma moto. Será que daria certo? Não tinha experiência nenhuma como motociclista. Sempre achei que moto é o esposo da morte.

O poeta padeiro

E depois de uma pesquisa de preço pelas lojas decidi que a opção mais em conta para mim seria uma moto de baixa cilindrada, a famosa cinquentinha (50 cc). Não correria muito e para quem estava começando a pilotar era suficiente.  Some-se a isso o fator de consumo do combustível que é muito baixo. Pronto! Seria uma cinquentinha.  Fui à  DM Motos - Peças Shineray, em Parnamirim-RN e lá fechei a compra. Até tentei trazê-la para casa, mas como não estava seguro, pedi ao vendedor que viesse deixá-la. Foi um dia muito feliz para mim, pois aquela compra tinha muito do meu suor, oriundo das vendas dos pães e também da minha esposa que deu uma contribuição para completar o valor.

Eu e Ricardo da Shineray Motos

Tinha duas opções de cores: vermelha e preta. A segunda foi a escolhida. À noite saia pelas ruas menos movimentadas do meu bairro, treinando no volante: equilíbrio, marchas, luzes, sinalização, etc. Uma semana depois eu pensei: já tenho condições de ir entregar meus pães em Parnamirim. E assim fui.  Suava mais que chaleira no lume.  Naquela tarde eu fiz a primeira e a segunda entrega pelo Centro de Parnamirim. Ao me dirigir para o bairro Boa Esperança eu fui surpreendido numa rua estreita por um caminhão.  Nervoso não consegui controlar a moto e para não acontecer o pior puxei para o lado e fui ao chão.  Menos de uma semana com a moto e já estava sendo batizado. Literalmente um batismo de sangue, pois meu pé, panturrilha e joelho da perna direita sofreram escoriações. Junte-se a isso que a moto quebrou um retrovisor e arranhou parte da carenagem. O motorista do caminhão, um jovem, desceu muito nervoso e  me pediu por tudo no mundo para não chamar a polícia de trânsito, pois ele estava sem carteira, aprendendo a dirigir aquele veículo. Eu falei:
-Vá em paz, somos dois aprendizes. Eu também não tenho habilitação para pilotar moto. Quando cheguei em casa, minha esposa disse que não daria certo ficar com a moto. Eu argumentei que não senti medo e estava feliz por isso ter acontecido na minha primeira saída.  Ia ficar triste se tivesse sido com trinta dias ou mais.
Marco Zero da BR - 101 - destino a São Miguel do Gostoso
Aos poucos fui adquirindo experiência e segurança. Hoje, se depender de mim eu vou de ceca à meca, em busca das coisas e pessoas que gosto.  Até agora não fiz grandes viagens, as maiores foram as seguintes ( km de ida e volta)
Jandaíra-RN -  280 km - BR 406 
São Miguel do Gostoso - 238 km - BR 101
Barra de Cunhaú -RN - 140 km - BR 101
Portal de Barra do Cunhaú
Papai sempre batizava os carros e animais que ele tinha. Também gosto disso e chamei a minha moto de "Jumenta Preta". Se fosse mais potente e veloz com certeza iria denominá-la de  Pegasus,  o mitológico cavalo alado. Quem sabe se um dia não terei!


Se minha Jumenta Preta não consegue andar na velocidade que muitos esperam, às vezes sou atormentado por aqueles que não têm paciência e ficam buzinando, como se agindo assim aumentasse a potência da cinquentinha. Pensando nisso resolvi alertá-los com uma estrofe  no estilo de cordel. Ei-la:


Ah!  ainda em tempo  posso dizer que se você não gostou do nome "Jumenta Preta", pode chamá-la de Muar Azeviche, nome dado pelo Acadêmico (ANRL) João Batista Rodrigues.


E assim,  o poeta a  "Jumenta Preta" vão levando alimento para o corpo e a alma.  Até mesmo, Ananias está querendo também ser motociclista.


Ananias meu jumento
Disse que vai aprender
Dominar a cinquentinha
Para com ela correr
Sair pelo mundo afora
outros asnos conhecer

Francisco Martins

22 de novembro 2021



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