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terça-feira, 7 de dezembro de 2021

NEM TODO FOLHETO É CORDEL - NEM TODO CORDEL ESTÁ EM FOLHETO

 

"A crítica deve ter a missão nobre de um bisturi em mãos de um cirugião" Felix Caignet


A Universidade Federal do Rio Grande do Norte, através da sua editora EDUFRN, disponibiliza de forma gratuita,  o livro digital "Escravidão no Rio Grande do Norte", um trabalho que teve a organização de Juliana Teixeira Souza e Margarida Maria Dias de Oliveira. Para baixar o livro é só clicar aqui Livro.

Na página do repositório da UFRN lemos o seguinte resumo da obra:

"Esta obra inaugura a série "Produtos didáticos para o ensino de História", resultado de um projeto de ensino coordenado por professoras do curso de História da UFRN, com participação de alunos e alunas licenciandos, com o objetivo de contribuir de forma propositiva para os debates sobre o ensino de história e de cultura da população afrodescendente, numa perspectiva atualizada e tendo a metodologia da pesquisa histórica como referência. Como resultado desse trabalho, apresentamos para professores da Educação Básica e estudantes de licenciatura sete propostas de sequências didáticas e recursos didáticos produzidos exclusivamente para esta publicação. Antes das propostas de senquência didática, apresentamos dois breves textos, sobre ensino-aprendizagem de História e escravidão negra no Rio Grande do Norte, com algumas informações sobre população, trabalho e formas de resistência."

Quero chamar a atenção das autoras organizadoras para o material que foi usado  que tem como título "Cordel dos Desiguais", presente nas páginas 70 a 72. Aqui,  infelizmente, não tiveram as organizadoras o cuidado de realmente analizarem  se o texto estava em conformidade com as regras da literatura de cordel. O texto em questão é da autoria de Francisca Rafaela Mirlys e Ísis de Freitas Campos.


Entre algumas características da literatura de cordel existem três que são indispensáveis: métrica, rima e oração.  E isso está até presente no livro acima, página 48:

O que vem corroborar que as organizadoras não se debruçaram na análise estrutural do que aparentemente é um cordel, trazendo para a obra um texto absurdamente desmetrificado.  Não há revisores capacitados na UFRN para saber reconhecer um cordel? 

O poema possui vinte estrofes em forma de sextilha, portanto 120 versos.  Fiz a análise aplicando o que chamo de Tabela Beradeiriana e o resultado no tocante à métrica foi terrivelmente este:

Estrofe 1 - zero de métrica 
Estrofe 2 - zero de métrica
Estrofe 3 -  1 verso metrificado
Estrofe 4 - zero de métrica
Estrofe 5 - 2 versos metrificados
Estrofe 6 -  1 verso metrificado
Estrofe 7 -  1 verso metrificado
Estrofe 8 -  1 verso metrificado
Estrofe 9 -  zero de métrica
Estrofe 10 - 2 versos metrificados
Estrofe 11 -  zero de métrica
Estrofe 12 -  zero de métrica
Estrofe 13 - zero de métrica
Estrofe 14 -  zero de métrica
Estrofe 15 -  zero de métrica
Estrofe 16 - 3 versos metrificados
Estrofe 17 -  zero de métrica
Estrofe 18 -  2 versos metrificados
Estrofe 19 - zero de métrica
Estrofe 20 - zero de métrica


Diante do quadro acima, onde não  há nenhuma estrofe totalmente certa na metrificação, chega-se a um percentual de 21,66% de acertos na métrica, índice muito baixo. Nem quero  escrever sobre outros fatores que também comprometem classificar este poema como cordel, tais como a ausência de poética, a oração, coerência, etc.

Minha pretensão  não é ferir as organizadoras, nem tampouco as autoras do texto em crítica. Preocupa-me  sim, saber que esse livro vai chegar às mãos de muitos formadores, que  vão lê-lo e   achar que ali está verdadeiramente um cordel.

Fica a diga para que quando se tratar de publicação que contenha o cordel brasileiro, a instituição tenha mais cuidado e na dúvida procure quem de fato entende do assunto.

Mané Beradeiro - 07 de dezembro de 2021


Obs: este artigo foi publicado com prioridade no blog Papo Cultural

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