A Casa do Cordel, pelo quinto ano consecutivo, concretizou mais uma edição da Coleção Dez Mulheres Potiguares, que é um projeto voltado a homenagear as mulheres, através do gênero de cordel, onde as autoras escrevem sobre outras. Tenho acompanhado todas as edições, na qualidade de leitor e principalmente como crítico do cordel brasileiro, e até onde sei, o único do Rio Grande do Norte, que tem a coragem de escrever sobre esse gênero e tornar pública a opinião. É bem verdade que há aqueles que falam, mas não escrevem. São palavras soltas ao sabor do vento. As minhas, optei por gravá-las na pedra.
Tal atitude tem seu preço, e acreditem, nem sempre é saboroso como o mel, e isso se dá pelo fato de que o autor ou autora, objeto da crítica, às vezes não aceita ver seu cordel ser analisado de forma tão criteriosa. O que eu quero na verdade é mostrar o zelo que devemos ter por essa poesia. Se há regras que tenhamos a preocupação de segui-las; se há sugestões para melhorar a produção, que tenhamos a humildade de acatá-las. Eu mesmo sou um poeta cordelista que cresci em minha trajetória por ter vontade e disciplina. Muitos erros cometi nos primeiros folhetos, mas não me amarrei a eles. Como dizia Rafael Negreiros: “Não sou estátua para não mudar de posição”.
Feitas tais considerações é hora de
apresentar o que vi na quinta edição da coleção “Dez Mulheres Potiguares”, As
poetas cordelistas foram (por ordem alfabética):
1) Célia Melo (Bombom) - Ana Paula
campos: Mulher de todas as tribos
2) Fátima Régis - Titina Medeiros: A arte e a
resistência de uma atriz potiguar
3) Geralda Efigênia - Eliane Amorim das
Virgens Oliveira: Primeira desembargadora do RN
4) Gorete Macêdo - Maria de Lourdes
Alves Leite: Pioneira na Justiça do Trabalho Potiguar
5) Járdia Maia - Lindalva Torquato Fernandes:
Da Política no Sertão para a justiça no TCE - Ministra TCE
6) Jussiara Soares - Áurea de Gois: A
poetisa de Extremoz
7) Rita Cruz - Daluzinha Avliz: A
Contadora de Histórias
8) Rosa Régis - Dona nenén: A sua arte
deu cores ao galo de São Gonçalo
9) Sírlia Lima - Wilma de Faria: Uma
rosa vermelha e uma líder guerreira
10) Vani Fragosa - Fátima Bezerra: A
esperança fazendo a história.
Li e reli várias vezes os dez folhetos - vou apresentar um quadro geral sobre as observações, caso alguma autora deseje saber a análise que foi feita sobre o seu poema, posso enviar pelo e-mail. Como é do conhecimento de todos, o gênero do cordel possui entre suas características, três que são inegociáveis: métrica - rima - oração. Tratarei disso à luz da Tabela Beradeiriana, que vai nos mostrar a eficiência poética do conjunto dos textos analisados. Nove folhetos têm 32 estrofes e apenas um tem 31 estrofes, em sextilhas, com versos heptassílabos (pelo menos deveriam ser), isto é, sete sílabas poéticas. Assim sendo, considerei para fim da aplicação da Tabela Beradeiriana, que a coleção teria um único texto com 319 estrofes, 1914 versos, dos quais 957 devem ser rimados e ter boa oração.
MÉTRICA: 97, 87%
RIMA = 99,37%
ORAÇÃO = 95,65%
Quais ensinamentos podemos tirar
dessa análise crítica?
2º) Há excelentes poetas cordelistas
no RN mas existem aquelas que ainda precisam solidificar seus poemas.
3º) A Casa do Cordel, instituição que
tem prestado relevante serviço ao Cordel
Brasileiro, não pode achar que um trabalho com dez poetas participantes,
não careça passar pelo crivo de um Conselho Editorial. Se isso tivesse acontecido, com certeza o IAP seria muito maior.
4º) É mister promover um curso de
formação sobre métrica, rima e oração, para que possamos dessa maneira
capacitar os poetas (homens e mulheres) que têm dificuldade no assunto.
2º) Tente na construção do verso
dizer o que pretende, sem causar ruptura na sonoridade.
Exemplos:
“ Em Brasília adentrou na
Câmara dos Deputados”
“ Foi na Faculdade de Nova
Friburgo estudar”
3º) Mantenha-se fiel ao tema que se propôs poetizar. É frustrante o leitor perceber que o autor não tratou sobre o que diz o título do cordel. Nesta coleção “Dez Mulheres Potiguares - 5ª edição” dois folhetos apresentam isso:
Daluzinha Avlis: A Contadora de Histórias -
Não há uma única estrofe que trate sobre as atividades da Daluzinha, no ofício
de contadora de histórias e o registro da Maratona de Histórias, algo tão
singular criado por ela.
As cordelistas têm um bom domínio da rima e oração.
As mulheres que foram temas dos poemas revelam a importância da luta da mulher na cultura e história potiguar
O Cordel Brasileiro, escrito por mulheres, ganha cada vez mais espaço e conquista leitores
As artistas xilogravuristas ( Célia Albuquerque, Cecília Guimarães, Letícia Paregas e Kimberly) fizeram um trabalho louvável.
. O Conselho Estadual de Cultura do Rio Grande do Norte, em sua sessão plenária, de terça-feira pp, aprovou voto de congratulação pelo conjunto da obra. A proposição foi feita pela Conselheira Sônia Maria Ferreira Faustino e o voto será enviado brevemente à Casa do Cordel, as poetas participantes e à Professora Doutora em Literatura Comparada (UFRN), do Instituto Kennedy e da Rede Pública de Natal - Aparecida Rego, que escreveu a apresentação dessa coleção.
Mané Beradeiro, em 21 de março de 2022.
A imagem que ilustra o artigo foi tirada do seguinte endereço: https://www.soumaisrn.com.br/2022/03/08/coletanea-de-cordeis-homenageia-mulheres-que-fizeram-historia-no-rn-neste-8-de-marco/ Visualizada em 21 de março de 2022.
Grande Mané Verdadeiro, essas observações e dicas são maravilhosas. Fazem com que a gente que está em fazer de aprendizado cresça como escritor (a).
ResponderExcluirParabéns
Valeu poeta! É sempre muito bom ter alguém com "conhecimento de causa" opinando sobre nosso trabalho. Obrigado!
ResponderExcluirMuito bom!! Gostei do seu olhar crítico. É preciso lapidar a coleção. De todo modo, o saldo é positivo. Acredito que a coleção potencial e grupo de cordelistas é bastante empenhado. Gostei da proposta do Conselho editorial. Que venha 2023 com mais uma edição da Coleção.
ResponderExcluirMuito valiosas as considerações.
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