“O judeu-alemão Jacob Rabbi, originário do condado de Waldeck, veio ao Brasil com o conde João Mauricio de Nassau em 1637. Segundo historiadores e cronistas da época, inclusive batavos, Jacob Rabbi era um homem violento, astuto, cruel e sem escrúpulos e responsável pelos mais cruéis e sangrentos episódios da história da ocupação holandesa no Brasil. Tinha fama de poliglota, pois dominava os idiomas alemão, holandês, português, tupi e tapuia. Deixou aos pósteros uma famosa crônica ou relação de viagem contendo preciosas informações sobre a geografia da Capitania do Rio Grande e sobre a etnografia dos tapuias. Por conta dos saques realizados na Capitania, acreditava-se que Rabbi conseguira acumular uma fortuna em gado, roupas e jóias. Vivia com uma nativa de nome Domingas numa propriedade chamada “Ceará” no atual município de Ceará Mirim, atualmente Araçá entre Massangana e Estivas.
No massacre de Uruaçu, comandado por Jacob Rabbi foi mandado pegar na fortaleza Keulen o castelano João Lostau Navarro, que havia sido capturado na casa de Pedra de Pirangy, e levado preso para o comando batavo na Nova Amsterdam sendo morto juntamente com outros prisioneiros da fortaleza. João Lustau era sogro do comandante do forte Keulen Joris Gartzman que, revoltado, decidiu se vingar, afirmando "que o mundo nada perderia se desembaraçassem de semelhante canalha". Chegou, inclusive, a entrar em contato com dois homens para que matassem Jacob Rabbi. Primeiro foi com Wilhelm Jansen, que colocou uma série de dificuldades. A outra pessoa foi Roeloff Barou, que concordou em realizar a sinistra missão, caso recebesse ordens do Alto Conselho Secreto. Nesses contatos, portanto, Gartzman não conseguiu efetivar seu intento. Mas não desistiu de eliminar Rabbi.
Em outra oportunidade, adiante, convidou o seu desafeto para uma reunião, em 4 de abril de 1646, com a finalidade de promover um entendimento e esquecer as mágoas passadas. O judeu-alemão aceitou, finalmente, participar de uma ceia que aconteceria na casa de Dirk Mulden Van Mel, a qual, segundo Câmara Cascudo, estava localizada nas proximidades de Refoles. Olavo Medeiros afirma que a casa de Muller "ficava à margem direita do então chamado riacho Guaja-í (água dos caranguejos), entre os distritos de Igapó e Santo Antônio do Potengi. Distando cerca de 10,5 km da matriz".
Ainda participaram desse encontro outros militares: Wilhelm Becke, Roulox Baro, Jacob de Bolan, Denys Baltesen, Johannes Hoeck e Wilhelm Tenberghe entre outros batavos.
Após o encontro dos dois desafetos em que trocaram queixas, tudfo terminou com um desentendimento.Mesmo sem terem ceado, o grupo dispersou. Gardtzman saiu primeiro. Pouco depois é que Rabbi saiu. E não demorou muito tempo para que se ouvissem dois disparos de fuzil, caindo mortalmente ferido, Jacob Rabbi. A vítima recebeu, além dos tiros, golpes de sabre que deformaram partes do seu cadáver.
Jacob Rabbi, que praticara assaltos e crimes, sendo um dos responsáveis, pelos massacres de Cunhaú e Uruaçu, morreu como conseqüência do ódio, tendo seu corpo ficado deformado por golpes de sabre. Olavo Medeiros descreve a situação em que o corpo foi encontrado: "Um dos tiros penetra-lhe do lado esquerdo do corpo, fazendo-lhe um ferimento muito profundo, em que Muller pudera introduzir até o fim dos seus dedos. A outra bala varara-lhe o lado direito das costelas falsas. Seis golpes de armas branca haviam-lhe deformado o rosto, a cabeça e o braço direito. Um dos olhos do cadáver estava aberto; as suas algibeiras achavam-se voltadas e esvaziadas. Faltava-lhe um anel de ouro, que ainda trazia no dedo quando se retirara da casa de Muller". O crime ocorreu na noite de 4 de abril de 1646.
Jacob Rabbi foi sepultado no lugar onde morreu. Garstzman, ao ser informado do crime, cinicamente disse:
- "Antes ele do que eu".
Apesar de ter negado ser o mandante do crime, ficou provado que houve um acordo entre Garstzman e Bolan para matar e depois roubar os bens de Jacob Rabbi. Domingas a bugra que esposara Rabbi foi despojada, totalmente, dos bens de seu companheiro. Os janduís, decepcionados, voltaram para o sertão. Não houve mais morticínios na Capitania do Rio Grande.
TEXTO DE IAPERI ARAÚJO
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