Quem viaja saindo de Natal, com destino ao sertão do seridó, passando necessariamente, por Santa Cruz ou até mesmo quem vai em romaria com destino a este Santuário de Santa Rita de Cássia certamente, não vai ser possível, captar a riqueza espiritual da fé e da religiosidade deste povo em sua totalidade. É preciso resgatar, ressignificar e revalorizar este universo cultural e histórico tal qual ele significa para os nossos dias. É um belo caminho a ser trilhado.
Quando entramos em comunicação com alguém o primeiro passo é sempre perguntarmos qual é o seu nome. Em se tratando de cidades são os topônimos. Cada um tem sua história a ser desvendada. Santa Cruz já se chamou com o título de Santa Rita da Cachoeira, do Trairi e do Inharé. O primeiro deles se refere a uma fazenda localizada nestas terras. Este local foi escolhido para implantação do povoado porque a localidade de cachoeira oferecia água suficiente para o consumo de um núcleo populacional. Com o passar dos anos o povoado foi também mudado de nome. Depois passou a se chamar por algum tempo Santa Cruz da Ribeira do Trairi como referência explícita ao rio que banhava a cidade.
Por último Santa Rita do Inharé um nome que se refere a uma lenda que justifica a origem da cruz ao nome dado ao lugar: "muitos anos, já ia adiantada a colonização do alto sertão, e as terras da cachoeira do Trairi continuavam despovoadas. Diziam os primeiros que ali se aventuraram, que era impossível viver naquelas paragens, porque ao quebrarem os ramos do inharé (árvore sagrada) as fontes secavam e todos os animais tornavam-se ferozes. Um santo missionário lembrou-se um dia, de fazer uma cruz dos ramos do inharé e abençoá-la: então os malefícios cessaram como por um encanto; das fontes jorrou água cristalina; as aves cantavam o hino da natureza em festa. A terra ficou desde então, conhecida como Santa Cruz do Inharé".
O fato é que a cruz feita com os ramos tornou-se santa na crendice popular e isso é tão forte que muitos ainda chamam a localidade como Santa Cruz do Inharé.
Trata-se de um mito cosmogônico cujo resgate é por demais necessário. Outrossim podemos afirmar que quando a Paróquia foi instalada no ano de 1835 a população já se enriquecia com esta história mítica e lendária que tem tudo a ver com o início do cristianismo em terras do Trairi.
A presença dos colonizadores, primitivamente habitada pelos índios tapuios, representou o início de uma embrionária atividade pastoril na imensa área situada entre o agreste e o seridó do Rio Grande do Norte. Contudo, a história registra que esse esforço colonizador nas ribeiras do Rio Potengi e Trairi não conseguiu aglutinar um contingente organizador.
Não podemos encerrar estas breves reflexões sem uma referência direta à festa da paróquia e cidade padroeira de todos os santa-cruzenses e visitantes que louvam e bendizem a sua excelsa padroeira. O dia 22 de maio encerra sempre uma comemoração ímpar e única, festiva e popular. Que Santa Rita, patrona e protetora deste povo aponte o caminho que devemos seguir em busca de um novo amanhã. Ela transforma as nossas mediações humanas e nos faz superar os limites das mesmas.
Este é o caminho que devemos seguir na criação de uma nova Diocese, Igreja Local, Igreja Particular na Província Eclesiástica do Rio Grande do Norte. Que assim seja!
Pe. José Freitas Campos - Do Presbitério de Natal.
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