" O compromisso da crítica é com a verdade"
Álvaro Lins
Por qual razão é tão difícil a alguns poetas, que pretendem ter textos no gênero de cordel, fazer a coisa certa? Tenho a impressão que esses poetas não sabem, e se sabem, negam-se a aplicar na construção do poema, a estrutura básica e imprescindível da rima, métrica e oração.Publicam-se folhetos e livros, classificados no gênero do cordel, e quando os lemos, encontramos com certa frequência a distorção à arte. Essa infidelidade presta um desserviço ao cordel brasileiro. Ninguém é pressionado a escrever nesse gênero, mas, uma vez decidido a escrever cordel, tem o poeta autor, a obrigatoriedade de fazê-lo com maestria. Escreva, peça a alguém para revisar, e que essa pessoa tenha conhecimento sobre o assunto. Aprenda com os melhores!
Eu poderia publicar aqui nomes de poetas e os títulos das suas obras, onde aparecem esses erros. Deixarei, porém, no anonimato, nem todos os avaliados têm a maturidade de aceitar a crítica.É bem verdade que muitos "poetas" estão surgindo e publicando seus poemas, mas quem ficará neste roçado do cordel daqui a dez anos? Muitos sairão da vereda bem antes dos três anos de caminhada. Estarei torcendo para que fiquem os bons.
Veja este exemplo:
Naquele tempo, minha gente!
Mulher era "bitolada"
Só dirigia fogão,
Cuidava dos filhos e da casa,
Nísia começou a escrever,
na história vamos ver,
Foi verdadeira batalha!
O autor da estrofe acima não é um poeta novato. Pelo contrário, sua produção em folhetos já ultrapassou mais de 150 títulos. É notável a discrepância há no lugar das rimas: bitolada/casa/batalha. O poeta aprendiz pode errar numa construção dessa, pois ele é iniciante, mas, se tiver um olhar crítico à sua produção, ele mesmo verá que precisa corrigir.
Igual ao autor acima tem muitos outros que se comportam como ele na produção. Não ficarei mostrando estrofes doentes, que já deveriam ter sidos tratadas pelos seus próprios poetas.
Não me canso de dar meu testemunho sobre isso. Meus primeiros folhetos tinham muitos erros. Fui aprendendo com os bons e os clássicos. Tive e ainda tenho a coragem de corrigir o que erro. Nisso não há desmérito, pelo contrário, é gesto de respeito ao cordel.
Chamo a atenção também para associações e academias que se propõem a organizar antologias do cordel brasileiro. Tenham muito cuidado quem for ser o antologista responsável pela coleta do material. Recentemente adquiri e li uma antologia, organizada pela Casa do Cordel,em Natal, que infelizmente está repleta de poemas em cordel que deixam a desejar.
O cordel brasileiro caminha para duzentos anos - nenhuma antologia da literatura brasileira, até onde sei, dedicou algumas páginas ao gênero - talvez por desconhecimento dos antologistas, por não gostarem do estilo, por terem o pensamento de que o poeta cordelista é um poeta de subliteratura, não sei! O que sei e propago é temos a missão de fazermos o melhor pelo cordel.
Por fim, compreendam-me, não quero com esse meu ofício de crítico dizer que sou melhor do que ninguém, mas desejo que se saiba, usando as palavras de Paul Souday: " A crítica é a consciência da literatura".
Por fim, não esqueçam: métrica, rima e oração é trinômio indispensável no cordel.
Mané Beradeiro
13 de outubro de 2024
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