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quinta-feira, 16 de outubro de 2025

PLANO DE AULA SOBRE O CORDEL LIVRO: "RAIMUNDO NONATO: O FILHO DA VITÓRIA"

 🎯 Objetivos:

  • Apresentar a literatura de cordel como gênero literário e importante manifestação cultural brasileira.
  • Estimular o prazer pela leitura e a apreciação da linguagem poética popular.
  • Desenvolver a capacidade de interpretação, análise e expressão oral/escrita sobre o texto.
  • Promover a valorização das tradições e saberes populares através da narrativa oral e escrita.

�� Público-alvo:

  • Jovens (a partir de 12 anos) e adultos.

Duração:

  • 60 a 90 minutos (flexível, dependendo da profundidade das atividades e do engajamento do grupo).

🛠️ Materiais:

  • Cópias do cordel "Raimundo Nonato, o filho da vitória" (impresso ou projetado). É crucial ter o texto em mãos para a mediação.
  • Papel e canetas/lápis de cor para as atividades.
  • Instrumentos musicais (violão, pandeiro, triângulo - opcional, para criar um ambiente sonoro de cantoria popular, sem remeter a figuras específicas).

📝 Roteiro da Aula:

1. Boas-Vindas e Aquecimento (10-15 min)

  • Abertura Criativa:
    • Comece a aula com uma saudação calorosa e talvez uma canção popular ou um pequeno trecho de poesia oral que remeta à tradição de contar histórias em versos.
  • O que é Cordel?
    • Apresente brevemente a literatura de cordel:
      • Origem: Comece com a história, desde a tradição de poetas populares e repentistas que viajavam contando suas histórias. Mencione a disseminação em folhetos populares em Portugal e, posteriormente, no Brasil.
      • Características: Explique que são histórias contadas em versos, rimadas, com métrica regular, que eram publicadas em pequenos folhetos de papel. Enfatize a oralidade e a musicalidade intrínsecas ao gênero.
      • Temas: Mencione que abordam desde fatos do cotidiano, lendas, heróis, romances, até críticas sociais e políticas, sempre com uma linguagem acessível e cativante.
      • Importância: Destaque o papel do cordel como veículo de informação, entretenimento e manutenção da cultura popular, especialmente em regiões onde a transmissão oral era predominante.
  • Perguntas Disparadoras:
    • "Alguém aqui já ouviu falar em 'cordel' ou em histórias contadas em versos?"
    • "O que vocês sabem sobre o interior do Brasil e as histórias de superação e perseverança que surgem desse contexto?"
    • "Pelo título 'Raimundo Nonato, o filho da vitória', o que vocês imaginam que vamos encontrar nessa história? Que tipo de 'vitória' pode ser essa?"

2. Antes da Leitura (10-15 min)

  • Apresentação do Cordel Específico:
    • Apresente o título: "Raimundo Nonato, o filho da vitória".
    • Autor: Se souber, apresente o autor e talvez uma breve curiosidade sobre sua vida ou obra, contextualizando a criação do cordel.
    • Levantamento de Hipóteses: Peça que os participantes, com base no título e em suas primeiras impressões, compartilhem o que esperam da história. "Que tipo de enredo vocês esperam? Quais desafios Raimundo Nonato pode enfrentar?"
  • Exploração de Vocabulário:
    • Previna possíveis dificuldades: Peça que o grupo identifique palavras que podem ser regionais ou pouco conhecidas no texto (se já o tiverem lido superficialmente ou se o mediador já as tiver identificado). Anote-as e discuta seus prováveis significados antes da leitura para facilitar a compreensão.
    • Exemplo: "Existe alguma palavra no título ou que vocês imaginam que possa aparecer que possa ser diferente para nós?"

3. Mediação da Leitura (25-30 min)

  • Leitura Compartilhada e Expressiva:
    • Inicie a leitura você mesmo, com voz clara, entonação que valorize a rima e o ritmo do cordel. Tente "cantar" o texto, dando vida aos versos.
    • Convite à Participação: Após as primeiras estrofes, convide os participantes a continuarem a leitura, cada um lendo uma ou duas estrofes. Incentive-os a sentir o ritmo e a entonação.
    • Pausas Estratégicas: Faça pausas em momentos chave da narrativa:
      • Para enfatizar uma virada na história ou uma nova informação.
      • Para permitir que os ouvintes imaginem a cena ou absorvam uma emoção.
      • Para lançar pequenas perguntas: "O que vocês acham que vai acontecer com Raimundo Nonato neste momento?", "Que sentimentos essa parte da história provoca em vocês?"
    • Destaque da Linguagem: Chame a atenção para as rimas, a métrica (o ritmo dos versos), as comparações e as expressões populares usadas pelo poeta, sem necessariamente ligá-las a um visual específico.

4. Depois da Leitura (20-25 min)

  • Diálogo e Interpretação:

    • Primeiras Impressões: "Qual a primeira coisa que vem à mente de vocês depois de ouvir a história de Raimundo Nonato?"
    • Personagem Central: "Quem é Raimundo Nonato para vocês? Quais são suas principais características? Como ele alcança sua 'vitória' no cordel?"
    • Temas Abordados: "Quais temas importantes o cordel nos traz? (Ex: superação, resiliência, justiça, fé, coragem, desafios da vida, etc.)."
    • Mensagem: "Qual a principal lição ou mensagem que o cordel nos oferece?"
    • Cultura Popular: "Como o cordel reflete a cultura e a forma de contar histórias do povo brasileiro?"
    • Estrutura e Ritmo: "Vocês conseguiram identificar as rimas? O ritmo que a história tem ao ser lida? Como essa forma de contar a história influencia a nossa compreensão?"
  • Atividades Criativas (Escolha 1 ou 2, de acordo com o tempo e o grupo):

    • Ilustração de Sentimentos/Cenas: Peça para os participantes desenharem ou representarem graficamente (com cores, formas, símbolos) a cena ou o sentimento do cordel que mais os marcou. Não precisa ser uma xilogravura, mas uma representação pessoal.
    • "O que vem depois?": Proponha um desafio: "Se a história de Raimundo Nonato continuasse, o que aconteceria a seguir? Criem uma ou duas estrofes para dar continuidade ao cordel, mantendo o ritmo e a rima."
    • Cordel Pessoal: Peça para os participantes pensarem em uma "vitória" (pessoal ou observada) que eles gostariam de narrar em versos, tentando aplicar as características do cordel (rima, ritmo). Podem ser apenas algumas linhas.
    • Leitura Dramatizada: Em pequenos grupos, cada um escolhe uma parte da história para "ler" de forma ainda mais teatral, com a voz, gestos e expressões que transmitam a emoção da narrativa.

5. Conclusão e Encerramento (5-10 min)

  • Síntese: Relembre os pontos mais marcantes do cordel e as discussões feitas, focando na beleza da narrativa em versos e nas mensagens transmitidas.
  • Incentivo à Leitura: Incentive todos a buscarem outros cordéis, conhecerem mais sobre a literatura popular e a valorizarem os artistas que mantêm essa tradição oral e escrita viva.
  • Agradecimentos: Agradeça a participação e o entusiasmo de todos.
  • Despedida: Finalize com um "Até a próxima história em verso, pessoal!" ou um verso de despedida.







quarta-feira, 15 de outubro de 2025

MANÉ BERADEIRO PARTICIPARÁ DO 9º CÍRCULO DO CORDEL EM NATAL

 

A Comissão Organizadora do 9º  Círculo Natalense do Cordel fez convite especial a Mané Beradeiro, para  falar sobre o tema: "O Cordel na Trilha Potiguar: caminhos de memórias, cultura e resistência". O evento vai acontecer de 13 a 15 de novembro desse ano. A mesa com a participação de Mané Beradeiro será na tarde de 14 de novembro, às 14 h, na Estação do Cordel,  contando com a presença de Nando Poeta (presidente da  Academia Norte-Rio-Grandense de Literatura de Cordel-ANLiC) e a mediação da poeta Geralda Efigênia. Breve daremos maiores detalhes.

terça-feira, 14 de outubro de 2025

DE QUANDO OTTO GUERRA DISPUTOU ELEIÇÃO DE SENADOR

Poucos sabem que Otto Guerra foi candidato a um cargo político. Aquele homem, tão dedicado às causas sociais e às atividades religiosas da Igreja Católica um dia resolveu disputar a vaga de Senador da República.

Vou transcrever a história contada pelo neto, José Leonardo Guerra Maranhão Bezerra. Ei-la:

"Em 1954, Otto de Brito Guerra tenta uma vaga no Senado da República após insistentes pedidos dos amigos, dentre eles operários, professores, membros da igreja católica e de alguns empresários, especialmente o Sr. João Motta. Havia um anseio de alguns setores para que um novo nome viesse a compor o cenário político e - após muita insistência - conseguiram convencer o professor Otto a aceitar tal indicação e assim candidatar-se.

Na sua incursão pelo interior do Rio Grande do Norte, em plena campanha, o carro seguia o destino planejado e nele estavam Otto Guerra, seu amigo João Motta, Pedro Cunha Lima (casado com a sua irmã Bertilde) e o condutor do veículo, contratado para tal desígnio. Em determinado momento, Otto Guerra solicitou ao motorista que parasse o carro, no intuito de saber in loco a aceitabilidade do seu nome perante o eleitorado. Então, Pedro Cunha Lima, de forms direta, indaga o transeunte e diz:

-Bom dia amigo, o senhor vai votar em quem para o Senado?

-Homem, sabe de uma coisa? Vou votar no doido do Otto Guerra.

-Doido por quê? Indagou Pedro.

-Para se candidatar ao Senado e ir contra a dodradinha da UDN, Dinarte Mariz e Georgino Avelino, só sendo doido mesmo!

Vovô Otto sorriu e preferiu não se identificar.

(...) Venceram a disputa os srs. Dinarte de Medeiros  Mariz, com 103.711 votos (19,4%) e Georgino Avelino, este com 81.958 votos (15,4%), ambos pela coligação UDN-PSD-PSP. Otto de Brito Guerra obteve 46.957  votos (8,8%) e a sua coligação era PTB-PRP."


Fonte: Otto Guerra no nome, paz no coração. Organizadores: Ana Maria Guerra, Felipe Neri de C.Guerra, Marta Guerra e Maria Salete Guerra. In: Páginas de um caminhante feliz. José Leonardo Guerra M. Bezerra. Páginas 91 a 101. Natal/RN. Gráfica Santa Marta,2012. 

  

CURSO DE CORDEL A DISTÂNCIA

 

ATENÇÃO, EDUCADORES E AMANTES DO CORDEL! Não percam tempo e se inscrevam GRATUITAMENTE no melhor curso sobre Literatura de Cordel do país.

O curso de extensão LITERATURA DE CORDEL: PATRIMÔNIO CULTURAL IMATERIAL BRASILEIRO (160h/100%EaD) se propõe a discutir sobre as mais diversas facetas deste gênero que a cada dia consegue mais espaço em todas as regiões brasileiras.

A história, as temáticas, as características e estilos, o emprego em sala de aula, as adaptações, a estética, a função social e muito mais.

As inscrições estão abertas, mas o curso começa no dia 20 de outubro de 2025, por meio do Ambiente Virtual de Aprendizagem da FDR, a sua “sala de aula virtual”.

O curso, que conta com a participação de cordelistas, pesquisadores e estudiosos especialistas do cordel, é uma iniciativa da Fundação Demócrito Rocha, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura do Ministério da Cultura, com apoio da Aestrofe, da Academia Cearense de Literatura de Cordel, Universidade Estadual do Ceará (Uece) e patrocínio da Enel.

Inscrito(a), você terá acesso a 12 fascículos digitais (se for de Fortaleza-CE, poderá adquiri-los impressos, encartados no jornal O POVO), 12 videoaulas, 12 podcasts, conteúdos extras (Biblioteca Virtual), tutoria de suporte on-line, exercícios, avaliação e certificação.

Inscreva-se e compartilhe nosso curso, divulgando e promovendo a arte do Cordel como Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro para todo o Brasil.

Todos(as) que amam o cordel têm que estar conosco.

https://fdr.org.br/literaturadecordel/

segunda-feira, 13 de outubro de 2025

DOM HEITOR RECEBE HOJE O TÍTULO DE SÓCIO DE HONRA DA ANRL

 


A Academia Norte-Rio-Grandense de Letras-ANRL  vai entregar na tarde de hoje, às 17 h, o título de Sócio de Honra a Dom Heitor de Araújo Sales. Esse é o título mais importante , outorgado pela instituição, que em 2025 celebra 89 anos. Outras personalidades já foram agraciadas, e até o momento, apenas homem. Está na hora da ANRL abrir espaço para que haja nesta galeria, a presença feminina, como já ocorre na lista dos patronos e dos imortais. Abaixo, a lista dos nomes que consegui encontrar, e que receberam essa honraria:

Raimundo Soares de Brito - 1 de junho 2000

Joacil de Brito Pereira - 21 março 2017

Ives Gandra  da Silva Martins -  Jurista - Não encontrei a data da posse

Ivan Junqueira - Presidente da ABL - 16 setembro 2005

Gaudêncio Torquato  - 21 outubro 2017

Álvaro Dias - Prefeito de Natal  -  16 novembro 2022

José Roberto Tadros - Presidente da CNC - 10 de agosto 2023

Alberto Rostand Lanverly - Presidente da Academia Alagoana de Letras - 15 setembro 2025


Francisco Martins, 13 de outubro 2025


 Fontes:

Presidente da CNC recebe título de sócio de honra da Academia Norte-Rio-Grandense de Letras - Portal do Comércio

A Academia Norte-rio-grandense de letras homenageia Alberto Rostand Lanverly como Sócio de Honra – Ponto de Vista com Nelson Freire

Blog DO MIRANDA GOMES – Natal/RN: ANRL - H O J E

Câmara. Leide. "Mémoria Acadêmica". Natal: Editoraifrn, 2017. página 618.



sexta-feira, 10 de outubro de 2025

LANÇADO O CORDEL LIVRO "RAIMUNDO NONATO, O FILHO DA VITÓRIA" NO IHGRN

A Quinta Cultural de ontem, no Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte-IHGRN foi com a participação dos sócios Francisco Martins (Mané Beradeiro) e José Gaudêncio Torquato, que falaram sobre a vida e obra do escritor Raimundo Nonato.

A razão desse tema se deve ao fato de que no próximo dia 25 de novembro do corrente ano,  será aniversário do centenário de formação de Raimundo Nonato, como professor primário. Francisco Martins pesquisou e escreveu o cordel " Raimundo Nonato, o filho da vitória", tendo o lançamento na tarde de ontem no IHGRN.

O escritor, que é também contador de histórias, levou à plateia a trajetória da vida do homenageado, falando sobre a sua infância, (se ele teve), a luta pela sobrevivência e as batalhas vencidas. Após a fala de Francisco Martins, a tribuna foi ocupada por José Gaudêncio Torquato, ocupante da cadeira 117, que tem como patrono Raimundo Nonato.

Gaudêncio enfocou a importância de Raimundo Nonato na pequena cidade de São Miguel, Oeste potiguar, como professor, em 1926 e falou do importante trabalho que ele escreveu sobre a presença da Coluna Prestes que entrou no estado do Rio Grande do Norte por aquela região, e que Raimundo Nonato registrou em livro "Os Revoltosos de São Miguel"

Quem desejar adquirir o livro, pode comprar diretamente na sede do IHGRN, de segunda a sexta, pela manhã, ou diretamente com o autor. O preço do livro é R$ 20,00 (vinte reais).

quarta-feira, 8 de outubro de 2025

RAIMUNDO NONATO: UMA HISTÓRIA QUE PRECISAMOS CONHECER



É com grande alegria que anunciamos: o mais novo cordel de Mané Beradeiro.

Amanhã,  9 de outubro, a partir das 16 h na sede do IHGRN, em Natal/RN, o autor já estará disponível, autografando o livro e, depois, às 17 horas, contará a história de Raimundo Nonato.

O cordel "Raimundo Nonato, o filho da vitória", é uma obra que narra a inspiradora trajetória de Raimundo Nonato, resgatando a essência da nossa literatura de cordel, com rimas que encantam e uma história que inspira. ✨

Não perca essa oportunidade de ter em suas mãos essa joia literária. Garanta o seu e embarque nessa leitura!


terça-feira, 7 de outubro de 2025

CURSO PRESENCIAL COM ELVIRA DRUMMOND EM CURITIBA


Docente na Universidade Federal do Ceará e do Conservatório de Música Alberto Nepomuceno. Mestre em Literatura, Licenciada em Artes e bacharel em Piano. Sua trajetória une a música e a palavra, conduzindo alunos e ouvintes por caminhos de sensibilidade, imaginação e conhecimento.

Ao longo de sua carreira, percorreu diversas cidades brasileiras ministrando cursos, oficinas e conferências que celebram a educação musical e a literatura infantil, transformando espaços de aprendizagem em verdadeiros encontros com a arte.

Sua produção artística é vasta e diversa, com obras publicadas e participações em antologias internacionais. O seu trabalho inspira estudos, registros e pesquisas no meio acadêmico, bem como iniciativas de escolas e instituições públicas e privadas, no Brasil e além de suas fronteiras.

Reconhecida com prêmios nacionais e internacionais, é membro da União Brasileira de Trovadores (UBT), da Academia Brasileira de Sonetistas Clássicos e da Academia Internacional de União Cultural, consolidando-se como uma voz de referência no universo da música e da literatura.

DIA 9 DE OUTUBRO LIVRO CORDEL SOBRE RAIMUNDO NONATO SERÁ LANÇADO



🎉 Lançamento imperdível! 📚✨ Chegou o novo livro de cordel de Mané Beradeiro: "Raimundo Nonato, o filho da vitória"! 🖋️❤️

Dia 9 de outubro, a partir das 16 h na sede do IHGRN,em Natal/RN.

Prepare-se para mergulhar em uma narrativa emocionante, que homenageia a trajetória de Raimundo Nonato com a maestria e a beleza única da literatura de cordel. Uma história de superação e força que vai tocar seu coração! 🌟

Adquira já o seu exemplar e celebre essa vitória em cada verso!





quinta-feira, 2 de outubro de 2025

AVENTURAS DE UM SONETO CASAMENTEIRO


    Alberto de Oliveira, ao tempo de seu curso de Farmácia na Faculdade de Medicina, foi instado por um colega a escrever um soneto de amor:

    — É um presente que desejo oferecer à minha namorada — esclareceu o estudante.
    O jovem poeta, sentando-se à mesa, passou para o papel, correntemente, como se os improvisasse, os quatorze versos de uma de suas últimas composições do gênero:

        Amar, viver de amor, ambos na idade
        Em que o prado floreja e o sol fulgura,
        Tu vendo em mim tua felicidade,
        Eu vendo em ti minha maior ventura.

        Moços ambos, no ardor da mocidade,
        Amar, viver de amor que sempre dura,
        E nem ter medo à própria sepultura,
        Porque o amor vai além da eternidade.

        Duas vidas unirmos numa vida,
        Num só, dois corações se entrelaçando,
        A alma de um gozo único vencida;

        Eis o meu ideal, meu sonho brando,
        Eis o nosso destino, alma querida,
        Destino que há de vir... que vai tardando.

    Tão fundamente há de ter tocado esse soneto o coração um tanto esquivo da namorada do estudante, que os dois, daí a tempos, terminaram casando.
    Um dia, outro amigo do poeta formula-lhe idêntico pedido. Está noivo. E quer oferecer uns versos de amor à sua eleita. Louvado na boa fortuna do seu antigo soneto, Alberto de Oliveira volta a passá-lo ao papel. E outro casamento se realiza, ao embalo dos quatorze versos nupciais.
    Mais tarde, outro amigo — e este colega, porque era também farmacêutico, — bate à porta de Alberto de Oliveira, a suplicar-lhe uns versos. Também está noivo. A moça é romântica. E deseja que o noivo lhe faça um soneto.
    O poeta, sem relutância, volta a fazer nova cópia do velho soneto, o qual, para sossego de seus falsos autores, continuava inédito, por medida de prudência de seu verdadeiro autor.
    Desta vez, entretanto, o ineditismo se rompe. O noivo farmacêutico, de posse dos versos admiráveis, publica-os num dos jornais do Rio. E eis que surge uma estralada dos diabos entre o primeiro falso autor do soneto e sua mulher. Não fora ela que inspirara os versos! O poeta verdadeiro era aquele que assinava o soneto!
    A aventura do soneto não estava ainda terminada. Por enquanto, os versos de Alberto de Oliveira tinham circulado em área brasileira, entre o Rio e Niterói. Em breve, sairiam de nossas fronteiras, para uma aventura internacional.
    Um dia, estava o poeta a fazer as unhas, numa barbearia do centro do Rio de Janeiro, quando a manicura, argentina de nascimento, pediu ao freguês, de quem era admiradora, que lhe desse um soneto de amor.
    Alberto de Oliveira, ali mesmo, na sua letra tremida, volveu a passar ao papel os versos antigos:

        Amar, viver de amor, ambos na idade
        Em que o prado floreja e o sol fulgura...

    A manicura, logo depois, mandou o soneto ao noivo, residente em Buenos Aires. Resultado: eis os versos de Alberto de Oliveira traduzidos para o espanhol e publicados na Argentina com o nome da moça.
    No Rio Grande do Sul, o soneto foi lido, na sua versão castelhana. E logo um erudito de província, desses que têm a memória alerta para os encontros de ideias e de forma, denunciou de público o plágio, pondo em confronto o soneto da “poetisa” argentina com o soneto do noivo-farmacêutico...

FONTE:  Anedotário Geral da Academia Brasileira. Josué Montello, 3ª Ed. Editora Francisco Alves, Rio de Janeiro, 1980. Páginas 24 a 26.

O DEUS QUE SONHA EM MIM


Se eu fosse Deus,
ressuscitaria os pais de todos os órfãos.
E se eles fossem maus,
se ao menos fossem ásperos,
ou mesmo indiferentes,
incendiaria os seus corações de ternura,
para que todas as crianças do mundo
fossem amadas e felizes.


Se um dia eu fosse Deus,
brincaria de roda com os meninos,
encheria os seus bolsos de confeitos
e suas bocas pequenas de sorrisos.
E velaria.
(oh! como eu velaria!)
dia e noite eu velaria,
para que nada lhes acontecesse.


Se eu fosse Deus,
passaria pelas estradas
com os despreocupados vagabundos
e beberia com eles
a primeira luz
das alvoradas entre rosas orvalhadas
e clarinadas de galos.

Se eu fosse Deus,
me sentaria um dia à tarde,
despreocupadamente, num cais
a ver os barcos que partiam
para as sonhadas ilhas.

Deífilo Gurgel (1926 -2012)

FONTE: Jornal A Ordem, edição de 17 de outubro de 1964