Um pequenino circo, destes que não tem nem empanada e o assistente tem de levar a própria cadeira, chegou à Redinha. A população humilde vibrou, afinal, diversão ali era coisa rara. Estamos falando dos anos 40.
Querendo retribuir as inúmeras atenções recebidas, o dono do circo resolveu encenar o drama da Paixão de Cristo. Convidou dois jovens do lugar para viver a cena em que o centurião prende Jesus, no Jardim das Oliveiras. A cena não tinha nada de difícil. O centurião chegava e perguntava:
--Sois vós, Jesus Nazareno, o que se intitula o Filho de Deus?
e Jesus:
--Tu o dizes!
Então o centurião explicava a missão de que fora incumbido:
--De ordem de Caifás, o Supremo Sacerdote, considerai-vos preso, por desrespeito às Leis Judaicas.
E Jesus, levantando-se, humilde:
--Seja feita a vontade do Senhor.
Os dois jovens escolhidos foram Teotônio e Ferrinho, os quais muito nervosos, exageravam nas biritas antes de pisar o picadeiro. Sei que, quando o centurião (Teotônio) entrou, vinha com a moléstia:
--Quem é um tá de Jesus Cristo, aqui?
Jesus (Ferrinho) não aceitou o tom provocativo. Em bons termos, como ensaiado, vá lá, mas na base da intimidação, não. Levantou-se num repelão e respondeu atrevido:
--Sou eu! E o que é que há?
Teotonio encostou a espada na barriga de Ferrinho e berrou arrogante:
--Teje preso! Cabra safado!
Ferrinho, para salvar o espetáculo, com toda a pachorra, levantou o polegar esquerdo ( um gesto da influência americana em Natal) e pronunciou:
-
Ok my friend!
Referência
GARCIA. José Alexandre.
Acontecências e tipos da confeitaria delícia. Natal: Clima, 1989. pág 77-78.