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segunda-feira, 8 de agosto de 2016

CARAVANA DE ESCRITORES POTIGUARES -EDIÇÃO 2016

Sexta-feira p.p., foi feito o lançamento oficial do projeto Caravana de Escritores Potiguares, edição 2016,  uma iniciativa de Thiago Gonzaga, escritor e pesquisador da literatura potiguar. O evento aconteceu no Palácio Potengi, atual Pinacoteca do Estado, com a presença de escritores e convidados. Falaram na tribuna Thiago Gonzaga, a escritora e Acadêmica, Secretária Geral da Academia Norte-Rio-Grandense de Letras, Leide Câmara e encerrou os discursos, o escritor e poeta José de Castro, cuja fala está abaixo, na íntegra.


"Boa noite a todos. Quero saudar as autoridades aqui presentes e aos nossos patrocinadores, ao Governo do Estado, à Fundação José Augusto, à representante da Academia Norte-Riograndense de Letras, a pesquisadora e escritora Leide Câmara...E, claro, à COSERN.

E também saúdo o coordenador do Projeto, o escritor e pesquisador Thiago Gonzaga. E também a todos os nossos amigos escritores e escritoras que participam da Caravana, e a todos as amigas e aos amigos convidados aqui presentes nesta noite de festa.

Sinto-me honrado em falar em nome dos que compõem esse grupo de escritores. Somos pessoas que abraçam várias profissões e que escrevem em diversos gêneros, mas temos algo em comum que nos une, que é a força da palavra escrita, o amor aos livros, à leitura e à literatura.

E todos nós temos a consciência de que precisamos trabalhar muito para dar uma contribuição significativa à área da leitura literária em nosso estado.

Segundo dados da pesquisa “Retratos do Brasil”, realizada pelo IBOPE em 2015, por encomenda do Instituto Pró-Livro, 44% da população brasileira não lê e 30% nunca comprou um livro. Esse é um dado cruel e o Rio Grande do Norte, infelizmente, não foge muito desse figurino. Daí a importância do trabalho dessa Caravana de Escritores Potiguares, idealizada e coordenada pelo escritor e pesquisador Thiago Gonzaga, ele mesmo um idealista e que conseguiu mobilizar todo esse grupo de escritores desde o ano de 2013.

Desde aquele ano pegamos a estrada e saímos pelos caminhos e descaminhos destas terras potiguares, feito PIPA VOADA, como diria o escritor, teatrólogo e romancista Junior Dalberto. E seguimos pelas estradas, quem sabe “estradas de tijolos amarelos”, pavimentadas nos contos curtos de Thiago Gonzaga.

E levamos conosco alguns VERSOS TEMPORAIS, feito andarilhos expostos ao calor das palavras, cheios de CANTOS E ESPANTOS, como diria a poeta Leocy Saraiva. E temos também o nosso LIVRO DE PALAVRAS e aqui “falo da palavra lavrada entre fatos e feridas./ Falo do canto cantado entre prantos e despedidas/ Falo do falo erguendo estandartes, pulsando arte, /engravidando a vida”, como está registrado nos versos do poeta João Andrade.

E temos consciência de que nossa arte realmente engravida a vida. Pois queremos fazer nascer o novo, e somos muitos dentre ALGUMA PRATA DA CASA e andamos com leveza trilhando o CHÃO DOS SIMPLES, na escrita segura e na crítica abalizada do acadêmico Manoel Onofre Júnior, ele que é uma das nossas maiores referência dentro da Caravana.

Acompanha-nos também a literatura fantástica, não só de Junior Dalberto com seus circos voadores, seus lobisomens, sua galeria de tantas personagens insólitas, mas também a escrita ficcional de Dancley Fernandes, que tem um certo PODER DE VINGANÇA que gera o prazer da leitura em todos os que apreciam viajar na fantasia.

Como nos presenteia também o farmacêutico Damião Gomes, que faz o aviamento de uma receita novelística de como antever o futuro e como se aproveitar disso em O FUTURISTA. E depois, vira um contista de CORAÇÃO DE PEDRA, uma gema lavrada em histórias divertidas, às vezes tragicômicas, mas muito bem contadas.

E ainda na prosa temos A IMAGEM DO CÃO, não do cão chupando manga ao sol do meio dia, mas uma novela do jovem talentoso Guilherme Henrique, com uma história psicológica, que tem lá seus mistérios e seus encantos.

E temos conosco também um cronista. Um cara que gosta de contar “as maiores mentiras do verão” - e olhe que aqui no estado temos longos verões. Enfim, um cronista muito “galado”, como diria o próprio Carlos Fialho... Que também é editor...

Aliás, temos dois editores viajando conosco. O outro é o Cleudivan Jânio, que lançou um livro sobre os selos do Rio Grande do Norte. Tomo a liberdade de fazer uma pequena brincadeira com ele... Certa vez, escrevi num dos meus livros de máximas de humor a seguinte frase: “Nunca fui filatelista. E nem tenho vontade de sê-lo”.

Fialho e Cleudivan, um da Jovens Escritas e o outro da CJA Edições, vêm lançando vários livros dos nossos autores, inclusive alguns livros meus. O que seria de nós escritores se não fossem os editores? E se não tivéssemos também leitores? E se não existissem os poetas?

E se não existissem os diversos tons da poesia? Não os 50 tons de cinza, mas os TONS DE VER-TE e os TONS DE AMAR-ELA? Pois temos o nosso De Cristo com seus poemas mínimos, que dizem tanto! “Nos momentos/ ímpares/ formamos/ um belo par/// Ela gostou/ do meu tempero/ acho que estou/ no cominho certo/// Qual fênix/ ardendo/ tu me chamas/// Ela se foi / levando os móveis/ foi mais cômodo.///... Nesses poemas, o máximo, com um mínimo de palavras.

E ainda temos mais poetas conosco. Não poderia deixar de citar a poeta Drika Duarte com seu livro de poemas “NEGRA ONAWALLE”. Salve Zumbi que “vigia o mato, olha a floresta, / protege o povo/ e o que lhe resta..." Salve “Dandara que comandava o quilombo noite e dia/ E do seu olhar/ soava o grito de alforria...(...) Odó Yiá, minha mãe. Eu sou filha de Iemanjá! ” (...) “E vamos dar as mãos/ e dançar uma ciranda/ no espaço de Aruanda”’... Salve, Drika Duarte!

E todos nós, escritores, editores, leitores damos as nossas mãos e cantamos, inclusive junto com outros autores convidados, que são tantos aqui no Rio Grande do Norte. Poderíamos citar um Clauder Arcanjo, lá de Mossoró, da Sarau das Letras. Um Mané Beradeiro, poeta e contador de causos que é o Francisco Martins, de Parnamirim. Um Marcos Medeiros com sua Formiga Perdida. Um Lívio Oliveira, poeta, que esteve conosco em Acari, assim como o poeta santacruzense Marcos Cavalcanti. Um Aluizio Mathias, editor da Folha Poética. Uma Shirlene Marques, advogada e jornalista, e tantos outros que ainda seguirão conosco... E os que nos apóiam com seus registros e sua alegria, como uma Carla Alves, nossa cerimonialista de hoje e amiga de sempre.

Muitos seguem conosco e tantos outros ainda se juntarão a nós. E seguiremos, aqui e ali, plantando utopias de um estado leitor junto às nossas escolas públicas, junto aos professores e às professoras, junto a alunos, sejam crianças, adolescentes ou jovens. A todos, de todas as idades, levamos o encanto da leitura literária. E desafiamos o perigo das estradas, o risco da noite, mas sabemos sorrir o riso do vento e entoamos o nosso canto ferido de estrelas cadentes riscando o céu.

E plantamos a semente da esperança em cada coração leitor. E abrimos os olhos para a visão de um mundo melhor.

E seguimos a nossa jornada, lado a lado com o leitor, de mãos dadas com vários dedos de prosa e alguns dedos de poesia... Pois sabemos que...

“Por onde passa o poeta
sangra o caminho
de perfumes e espinho.
E ferem os versos
o avesso do mundo.
E desvira
a emoção
e grita a rima
que a alma
se acalma
se espanta
e se aninha
nos braços
do vento.
Sopra a brisa
e avisa:
ainda é tempo
de amar
e de ficar louco,
pelo menos um pouco.
É tempo
de deixar rastros
pelas estradas
cansadas
de pés feridos.
Feito versos,
cadentes estrelas,
riscando o céu.
Por onde passa o poeta
deixa uma seta
e uma encruzilhada,
uma curva, uma reta
onde o coração
decide o rumo
dos seus passos.
E o poeta
afaga os versos
e reinventa
os descaminhos
da jornada
que segue em frente
desnuda, inteiramente
sem destino.
Por onde passa
o poeta
a estrada
se alonga.
Infinita,
jamais se acaba. ** (Poema do livro APENAS PALAVRAS, de José de Castro. Natal: CJA Edições, 2015)

Muito obrigado a todos.

Natal/RN, 05/08/2016"

*José de Castro, jornalista, escritor, poeta, membro da Caravana de Escritores Potiguares.

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