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quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

CORAÇÃO DE CAMPO


Tão logo chegou no consultório médico foi logo dizendo:
-Só estou aqui por causa da minha filha que vive teimando em dizer que eu tenho doença. Eu não tenho é nada! Nadinha, nem um tiquim assim de dor numa unha eu sinto. Entendeu doutor?
O Doutor olhou para ele, balançou a cabeça afirmativamente, sorriu e falou:
-Então vamos confirmar esta saúde de ferro e mostrar à sua filha que o senhor não tem nenhuma doença. Sente ali naquela cama que eu vou examiná-lo.
E ele sentou-se desconfiado.
-Tire  a camisa.
Tirou
-Vou auscultá-lo.
-O quê? Falou com os olhos bem arregalados.
-Ouvir seu coração e outras partes do corpo.
Bastou o estetoscópio tocar na sua pele que ele deu um pinote da cama, quase atropela o médico. Vestiu a camisa numa rapidez e saiu correndo de clínica à fora.
A filha quando viu aquilo tentou saber o que tinha acontecido e ele, o pai, respondeu:
-Minha filha, eu me lembrei que deixei  Moloca sem água e ração. Não tá vendo que vou maltratar a vaquinha! Vamos embora agora mesmo.

Francisco Martins
31 janeiro 2019

quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

MINHAS LEITURAS EM 2019 - AS MEMÓRIAS ALHEIAS

"As Memórias Alheias" um pequeno livro com gosto de chá da tarde. Fiz a leitura e indaguei nas várias histórias onde está a linha divisória entre a narrativa histórica e literária. Confesso que a fronteira não é tão visível assim. Sobral escreve com desejo de recompor certos acontecimentos, e quando assim se comporta, tece não apenas a narrativa histórica, mas salpica sobre ela elementos de verossimilhança, que dá ao texto característica literária. Onde bebeu Sobral desta água? Por que não teve a preocupação de referenciar o solo do qual brotaram estas memórias alheias? É como já citei acima, um livro para ser saboreado numa tarde. Não tenha o cuidado de ver o tempo passar, aliás, ao abrir o livro sinta-se transportado ao passado e aproveite para conhecer outra geografia política e social através das personagens que ressurgem para o deleite do leitor.



Francisco Martins - 30 de janeiro 2019

Livro: As Memórias Alheias
Autor: Gustavo Sobral
Editora: 8 Editora - Natal/RN - 2018
Páginas: 57

terça-feira, 29 de janeiro de 2019

MARCADA PARA MORRER



Porque eu sei que teus dias estão contados,
Porque tenho certeza que serás derrubada,
Porque nenhuma instituição gritará pela tua existência e defenderá tua vida,
Eis-me aqui, agradecendo tua beleza, teu porte magnífico, tua cor Brasil.
Já vi muitas serem exterminadas em nome da pedra, do cal e do cimento cancro, infelizmente Amém!

Francisco Martins
29 janeiro 2019.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

VALE DE LAMA


Eu que nasci do barro,
Terra molhada com água,
Que recebi nas narinas
O sopro da divindade.
Eu que fui gerado
Na solidão  de um útero,
Plasmado, medido, plantado,
É finalmente  exportado
A este "Vale" de lágrimas,
Ouso pedir a Deus, poeta
De todos  os poetas,
Senhor absoluto de todos os elementos,
Que a dor seja destruída,
A alegria reconstituída,
Os tetos restaurados,
O pão  posto à  mesa,
As almas consoladas,
As cicatrizes curadas,
Os culpados julgados,
A natureza refeita.
Eu que do barro nasci
Uno-me à dor de Minas Gerais,
de Brumadinho.
Minh'alma esta imersa na lama.

Francisco Martins
28 de janeiro 2019


TCP - CHICO DANIEL ABRE HOJE EDITAL PARA USO DE ESPETÁCULOS COM PAUTA LIVRE

O Teatro de Cultura Popular Chico Daniel, pertencente a Fundação José Augusto, em Natal-RN, está com edital aberto  para ocupação do teatro, em pauta livre, a ser utilizado nos meses de março, abril e maio de 2019. O edital foi publicado no Diário Oficial do Estado, edição do dia 26 de janeiro último. Podem participar Pessoas Físicas e Jurídicas.

Lançamento do edital 28 de janeiro 2019
Inscrições 29 de janeiro a 13 de fevereiro 2019.



sábado, 26 de janeiro de 2019

SEIS ESCOLAS ADEREM AO PROJETO "MEU PÉ DE LARANJA LIMA"

Quem foi José Mauro de Vasconcelos? Quantos livros escreveu? Qual sua importância para a literatura brasileira e que ligações ele teve com o Rio Grande do Norte?
Para responder essas e outras perguntas o escritor Francisco Martins realiza anualmente o projeto "Meu Pé de Laranja Lima", quando a partir da leitura deste romance, tão conhecido no mundo inteiro, os jovens estudantes adentram no universo de José Mauro de Vasconcelos.
Este ano o projeto vai acontecer nas seguintes escolas municipais de Parnamirim:
1) Brigadeiro Eduardo Gomes
2)Eulina Augusta
3)Silvino Bezerra
4)Sadi Mendes
5)Augusto Severo
6)Manoel Machado.
Francisco Martins
O projeto acontece  da seguinte maneira: Francisco Martins visita a escola onde vai acontecer o projeto, entrega a título  de empresto vários  volumes  do romance que dá  nome ao projeto. Depois de algum tempo, geralmente dois meses, os alunos assistem ao filme e finalmente  agendam um dia para o término  do projeto, quando novamente  Francisco  Martins  retorna à  escola, desta  vez para fazer uma palestra sobre a vida e a obra de José  Mauro de Vasconcelos.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

UM DESLIZE DE MANOEL RODRIGUES DE MELO E O RESGATE DE FRANCISCO MARTINS


Manoel Rodrigues
Manoel Rodrigues de Melo, que foi ocupante da cadeira 30 e Presidente da Academia Norte-Rio-Grandense de Letras-ANRL no período de 13 de janeiro de 1955 a 30 de janeiro de 1976, publicou vários livros, dentre eles "Dicionário da Imprensa no Rio Grande do Norte 1909-1987", lançado no ano de 1987 numa ação conjunta da Fundação José Augusto/Cortez Editora.



O  trabalho é plausível pelo seu teor e importância à literatura do RN, entretanto, o autor deixou que ficasse fora  desta pesquisa, um periódico que qualquer outro pesquisador poderia esquecer, menos ele, por ser acadêmico e presidente da ANRL, trata-se da Revista da ANRL. É interessante registrar que ele faz menção a Revista da Academia Potiguar de Letras-  que surge em 1958 e ignorou a Revista da ANRL que nasceu em 1951, quando ele já fazia parte da referida instituição, pois sua posse se deu em 13 de abril de 1950.
 
A Revista nº 1 da ANRL

Passados 31 anos daquele lançamento, o escritor e pesquisador Francisco Martins lançou em dezembro último, pelo selo da Carolina Cartonera, "Autores e Assuntos na Revista da ANRL - 1951 a 2018".  O livro foi totalmente construído de maneira artesanal, com uma tiragem de apenas 100 exemplares, 50 entregues ao acervo da Revista da ANRL, que através do Presidente Diogenes da Cunha Lima e do Diretor da Revista Manoel Onofre Jr acataram a ideia do projeto apresentado pelo autor.
Manoel Onofre Jr e Francisco Martins
 O livro  contém 200 páginas, o desenho da capa foi feito pelo Acadêmico Iaperi Araújo, o prefácio é do Editor da Revista,  escritor Thiago Gonzaga.  "Autores e Assuntos na Revista da ANRL 1951 a 2018" contempla todos os nomes das pessoas que escreveram nas edições  deste período, trazendo não apenas o nome, mais também o título do texto, o gênero, o número da revista e a (s) página(s) que o mesmo foi publicado.









ASSIM DISSERAM ELES ...




"Bebida, mulher e jogo. Dizem os teólogos que é a trindade do Diabo"

Monteiro Lobato 

A Barca de Gleyre, Tomo II, página 36.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

AGENDA ABERTA PARA RECEBER CONVITES DE INSTITUIÇOES


Conforme foi anunciado ontem, por aqui, as atividades artísticas e culturais do projeto Momento do Livro - ano XI (2019) terão início hoje, através do Palhaço Leiturino, no Núcleo de Educação Infantil- NEI - Estrela do Natal, escola sediada no bairro de Neópolis, em Natal.
O projeto Momento do Livro é formado por todas as ações que são desenvolvidas pelo seu criador Francisco Martins, homem múltiplo e cheio de talentos. Dentro do  Momento do Livro é possível encontrar o Palhaço Leiturino, o cordelista Mané Beradeiro,  o contador de histórias, o escritor, o editor de livros cartoneros e artesanais ( Editora Carolina Cartonera), o pesquisador e o conferencista sobre a vida e a obra de José Mauro de Vasconcelos ( autor do famoso livro: Meu Pé de Laranja Lima). 

Todos os anos é costume de Francisco Martins divulgar o que fez na agenda anterior, assim sendo, em 2018 o projeto Momento do Livro teve a seguinte pauta:

14 ações com Mané Beradeiro
25 ações com Palhaço Leiturino
37 ações com o escritor Francisco Martins
05 ações com a Carolina Cartonera
01 ação   sobre a vida e a obra de José Mauro de Vasconcelos

Total 82 ações 

Vejamos o que nos aguarda em 2019 para esta área. 

Interessados manter contato com o autor através do e-mail: franciscomartinses@gmail.com ou pelo whatsaap (84) 9.8719-4534.




terça-feira, 22 de janeiro de 2019

MINHAS LEITURAS EM 2019

Magno, os livros e eu
No mês de novembro do ano passado (2018) comprei no Sebo  Magno (situado na Avenida Comandante Petit, 158, Centro, Parnamirim-RN - Telefones 3272-5209 e 9.8826-4023) a Coleção  Obras Completas de Monteiro Lobato - Literatura Geral, edição de 1946. Coisa antiga sim senhor, mas de um conteúdo excepcional sobre Monteiro Lobato. 
Trouxe os 12 livros para minha biblioteca e deixei guardado para o plano de leitura do ano novo. No primeiro mês já li 5: "América", "Mundo da Lua e Miscelânia,  " Barca de Glyeire - Tomo I e Tomo II"  e "Prefácios e Entrevistas". É em "América" que encontramos a célebre frase lobatiana: " Um país se faz com homens e livros", abrindo o texto do Capítulo VI, quando ele narra a visita à Biblioteca do Congresso Nacional Americano. O livro mostra a América que Lobato conheceu quando por lá esteve   e viveu na função de adido comercial brasileiro ( 1926 a 1931). Mr. Slang, uma personagem fictícia acompanha o autor em todas as visitas que ele faz no livro. Fiz a leitura nos dias 1 a 5 de janeiro. Depois  comecei a leitura de "Mundo da Lua e Miscelânia" ( de 5 a 8 de janeiro). Livro leve  e cheio de curiosidades literárias, alguns causos e muitos pensamentos filosóficos. Concordo plenamente com ele quando diz:  "QUER SABOR DELICIOSO POSSUEM OS VELHOS LIVROS".
No dia 9 de janeiro, embora já tivesse mastigado 648 páginas sobre Lobato, ainda estava com fome de leitura ( aliás esta é insaciável).  Agarrei o o tomo I da  Barca de Gleyre e logo depois o tomo II, são livros maravilhosos,  ouso afirmar que nestes dois tomos o homem Monteiro Lobato deixou sua alma desenhada aos seus leitores. Revela-nos  as várias fases da sua vida ao longo de 40 anos das correspondências mantidas com o amigo  Godofredo Rangel. Ninguém pode afirmar que conhece Monteiro Lobato se antes não se debruçar sobre estas correspondências. Em  20 de janeiro eu concluí o segundo tomo. Entretanto,  dois dias antes, em 18, já havia iniciado a leitura  de "Prefácios e Entrevistas" e devo terminar amanhã se tudo correr normalmente.  Voltarei a escrever sobre minhas leituras.

Francisco Martins
22 de janeiro 2019

PALHAÇO LEITURINO INICIA ATIVIDADES ARTÍSTICAS DE 2019





O calendário de atividades artísticas e culturais do projeto "Momento do Livro" - 11º ano de existência terá início amanhã, dia 23 de janeiro, com  a apresentação do Palhaço Leiturino, na abertura do ano letivo do Núcleo de Educação Infantil -NEI-Estrela do Natal, no bairro Neópolis, em Natal. O Palhaço Leiturino se apresentará nos dois turnos: manhã e tarde, contando histórias para as crianças e distribuindo cordel de Mané Beradeiro.




terça-feira, 15 de janeiro de 2019

EM DEFESA DO MEU VOTO E DE UM POLÍTICO DIFERENTE



O Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) vai realizar na próxima quarta, 16, a partir das 9h, um ato em defesa da diplomação de Sandro Pimentel como deputado estadual. A manifestação acontecerá na praça Sete de Setembro, em frente à Assembleia Legislativa. Sandro teve a diplomação suspensa a partir da decisão monocrática da então juíza auxiliar Adriana Cavalcante Magalhães Faustino, 24h antes da diplomação oficial dos eleitos no pleito de 2018. Nacionalmente, Sandro é o único parlamentar eleito que não teve o diploma expedido pela justiça eleitoral. Adriana deixou de ser juíza um dia após acatar o pedido de liminar do Ministério Público para suspender a diplomação do parlamentar eleito com 19.158 votos. “O partido convoca a sua militância, apoiadores e defensores da democracia às ruas para que todos participem desse momento em solidariedade ao companheiro Sandro Pimentel e em defesa da democracia e do voto popular”, afirmou Danniel Morais, presidente da legenda no Rio Grande do Norte. Sandro é o primeiro parlamentar do PSOL eleito para um cargo na Assembleia Legislativa do RN e se notabilizou, durante seus dois mandatos na Câmara Municipal de Natal, como um defensor dos servidores públicos, dos trabalhadores em geral, da transparência, dos animais e de uma nova forma de fazer política, com um mandato popular. Uma de suas ações mais conhecidas, por exemplo, é prestar contas semanalmente nos ônibus da cidade.

Sobre isso assim escreveu Mané Beradeiro:

Eu quero que esta Justiça
seja feita de verdade
que meu voto tenha força
e seja realidade
Quero Sandro Pimentel
Diplomado sem maldade.

Ele é nosso orgulho
tem fibra, tem liderança,
coragem é vestimenta
desde o tempo de criança
Quero Sandro Pimentel
Deputado com sustança.

A nossa democracia
não pode ser diferente
O resultado das urnas
É sacro e competente.
Quero Sandro Pimentel
Diplomado minha gente.

O galo já anda triste
não canta na madrugada.
O jumento não relincha,
nem tampouco quer mais nada.
Quero Sandro Pimentel
Forte voz da bicharada!

A história fica feia,
O Estado maculado,
Negando-lhe o direito
de ser logo diplomado.
Quero Sandro Pimentel
Deputado bem votado.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

LOBATO E O PINGUIM


Rangel lendo a Barca de Gleyre
 
Monteiro Lobato manteve correspondência com Godofredo Rangel durante quarenta anos. As cartas que ele escreveu para Rangel cobrem um período que vai de 1903 a 1943. Todas foram publicadas em dois tomos, sob o título  "A Barca de Gleyre". Estou lendo este material. Em 15 de julho de 1915 Monteiro Lobato estava em Santos-SP e é desta carta que eu trago para vocês parte deste missiva que achei cheia de humor com a cena que Lobato escreve para Rangel. Leia-a:

 

"Nas pedras de São Vicente peguei outro pinguim, de asinha machucada. E por causa desse coitadinho tive de brigar no bonde. Eu o trazia ao colo. O condutor, um português bem merecedor de que Cunhambebe o houvesse comido, implicou. “O regulamento purive conduzir aves nos bondes”. Eu quis discutir calmamente. “Ave tem penas, meu senhor, e onde estão as penas deste vivente?” aleguei. Ele teimou que era ave. Eu jurei que pinguim era filhote de foca, segundo a opinião de todos os zoólogos ou exploradores ao tipo de Amundsen, etc. – uma coisa comprida. Minha ideia era manter a discussão até que me aproximasse da casa do Heitor, mas o raio do mondrongo teve ideia luminosa. Fazer parar o bonde. “Com ave o bonde nan segue!” Eu ainda fiz chicana: “E se o Ruy estivesse aqui? Perguntou o alarve. “Ruy, a águia de Haia.” Ele desconfiou que eu estava a “mangaire” e fez parar o bonde e foi a um telefone “falar a Companhia e pedir pruvidencias.” Voltou. Continuou o estupido bate-boca. O bonde estava se atrasando. Havia mais gente dentro. Tive de ceder. Insultei-o a portuguesa e desci. A casa do Heitor não estava longe. Depois de exibido lá o meu pinguim, soltei-o de novo no mar. Com que gosto se meteu a nado! Quando vinha uma onda, enristava o bico e furava-a. e lá foi nadando e sumiu-se ao longe. Talvez tenha sido o único pinguim do mundo que jamais andou de bonde."

domingo, 6 de janeiro de 2019

O CARNAUBAL DA FAZENDA ARACATI

Benedito Vasconcelos Mendes                                                                         

​A carnaubeira (Copernicia prunifera) é uma palmeira nativa do Nordeste brasileiro que ocorre em grandes concentrações nas margens dos rios intermitentes do Ceará (Rios Acaraú, Curu e Jaguaribe) e Rio Grande do Norte  (Rios Piranhas/Assú e Apodi/ Mossoró) e nas planícies dos grandes vales do Estado do Piauí, principalmente nas proximidades do Rio Parnaíba. As folhas da carnaubeira são revestidas por uma fina camada de cera, que as protege da transpiração excessiva. Esta cera é extraída na forma de pó cerífero que é depois processado para a formação da cera. O Brasil é o único país do mundo que produz cera de carnaúba, pois esta planta foi levada para outros países tropicais, onde  se desenvolveu bem, ficou frondosa, mas não produziu cera em suas folhas. As condições climáticas da região semiárida nordestina  são determinantes para que ela produza cera.                                                                     
​A Fazenda Aracati tinha um pequeno carnaubal, parte de carnaubeiras nativas, nas margens aluviais do Rio Aracatiaçu, e uma pequena área com carnaubeiras plantadas por meu avô, atrás da casa grande. Todos os anos, meu avô arrendava o carnaubal ao seu compadre Chico Rufino, mas em alguns anos, em vez de arrendar, ele produzia o pó de carnaúba (pó cerífero) e depois o  beneficiava na “Casa de Beneficiamento de Cera de Carnaúba”, do Seu Chico Rufino, na cidade de Miraíma. Era uma agroindústria primitiva, porém bem equipada, com caldeirões de ferro fundido para cozinhar a cera e uma gigantesca prensa de madeira (feita de  miolo de aroeira) para retirar  o excesso de água da cera.                                                                                                                                                           ​O processo de extração do pó cerífero se iniciava com o corte das palhas das carnaubeiras,  com uma pequena foice bem amolada, suportada por uma longa vara de até 9 metros de comprimento. O cortador de palhas (vareiro) ia derrubando as folhas maduras de cor verde e abertas e as folhas novas, fechadas (folhas do olho). O juntador de palhas cortava com um facão o talo espinhento no tronco da folha, separava as folhas abertas das folhas do olho, fazia, com embira da palha do olho, os feixes de 25 palhas e atrelava os mesmos nas cangalhas dos jumentos, que  transportavam os feixes de palha  para o palheiro, onde eram secas,  estendidas no chão forrado com bagaço de palhas velhas, cortadas em anos anteriores. A distribuição das palhas no chão do palheiro era feita por setores, de um lado colocava-se as palhas do olho e do outro as palhas abertas. A secagem ocorria  em 9 dias, sendo que de 3 em 3 dias virava-se as palhas para melhor receber o sol e secarem uniformemente. Depois de secas, as palhas iam ser riscadas e batidas, para extrair o pó cerífero, em um pequeno quarto todo fechado, com piso de cimento queimado e teto com forro de tábuas. As palhas secas eram riscadas e batidas sobre um grande lençol de tecido (algodãozinho), que recebia o pó que se desprendia das palhas secas riscadas e depois era ensacado em sacos de tecido, que tinham sido usados para  acondicionar massa de trigo ou açúcar. O pó extraído das folhas jovens (folhas do olho) é branco e  produz a cera Tipo A (cera de primeira), mais valorizada e de cor amarela, enquanto o pó cerífero tirado das folhas  abertas, mais velhas, é escuro e vai originar um tipo de cera menos valorizada, de cor parda (cera Tipo B ou cera de segunda). Meu avô mandava o pó de carnaúba produzido na Fazenda Aracati, em lombos de burros, para a cidade de Miraíma, a 25 quilômetros de distância, para ser transformado em cera de carnaúba, na unidade de beneficiamento de cera de seu compadre Chico Rufino. Lá, o pó cerífero era misturado com água limpa e cozinhado (fervido), depois prensado para retirar a água. A cera resultante era classificada, pesada, armazenada e depois vendida em Sobral, na Casa Quirino Rodrigues & Filhos.
​O riscador de palha seca era um tipo de pente com dentes de ferro pontiagudos virados para cima, fixos  em um cepo de madeira. O operador batia a palha seca  sobre ele e puxava-a para riscar (abrir) e provocar o desprendimento do pó, que  caía sobre o lençol.                                                                                             
​O Beneficiamento do pó cerífero consistia em cozinhar o pó em grandes  caldeirões de ferro fundido, semelhantes aos caldeirões usados nos engenhos de cana-de-açúcar, para a fabricação de rapadura. Quando se ia cozinhar o pó de carnaúba, colocava-se água limpa e não salobra, que ao ferver deixava a sujeira boiar na espuma, que era facilmente retirada do caldeirão e descartada. O pó derretido era levado para a grande prensa de madeira, onde era prensado para retirar o excesso de umidade. A cera, ao esfriar, se solidifica. O pó cerífero branco, retirado das palhas do olho (folhas em cartucho) era processado separadamente do pó extraído das folhas maduras (folhas abertas). A cera de carnaúba, por ser extremamente dura, possuir elevado ponto de fusão (em torno de 83 a 85 graus centígrados) e ser de difícil dissolução, em temperatura ambiente, é considerada a “Rainha das Ceras”. Quase toda a cera produzida no Brasil é exportada na forma bruta, não industrializada. Ela é utilizada no mundo inteiro por diversos segmentos industriais, como na indústria cosmética, farmacêutica, alimentícia, eletrônica (chips e transistores), na fabricação de impermeabilizantes, esmaltes, vernizes, lubrificantes, isolantes e por muitos outros setores industriais.                                                   
​Além da cera, a palha da carnaubeira é matéria prima para a produção de vários outros produtos artesanais, como chapéu, vassoura, esteira, uru, surrão, bolsa e corda. A palha também era empregada para cobrir casa de taipa. A cera e o chapéu de palha de carnaúba foram dois produtos de exportação, de grande importância econômica para os Estados do Rio Grande do Norte, Ceará e Piauí. A estirpe era utilizada para a confecção de linhas, caibros, ripas e bancos. A estirpe aberta e escavada era largamente utilizada como calha, para escoar água de chuvas de telhados. Os frutos são comestíveis e as raÍzes medicinais.