Luizinho tocou o telefone prá mim e anunciou:
-Sabe quem chega hoje?
-Quem?
-O Zé Mauro de Vasconcelos!
-Não é possível!
Então combinamos que iríamos recebê-lo em Parnamirim e depois comeríamos um peixe em regozijo pelo acontecimento.
Às cinco e meia da tarde, de ontem, partíamos do Grande Ponto, em companhia do Capitão-Tenente Melo e Souza, filho do famoso escritor Malba Tahan e de Lenine Pinto atrasando a viagem para comprar um cachorro quente, em cada esquina.
O Jose Mauro saltou do avião mais gordo do que nunca e com a mesma calma, reclamando a viagem direta de São Paulo a Natal. A bagagem do escritor era tão grande que não cabia no Austin do Capital Melo e Souza. Fiquei pensando: Quem era o Zé Mauro ...Que eu conheci no Rio de Janeiro, brincando sozinho, em plena Avenida Rio Branco, de procurar alfinetes.
Afinal, viemos para a cidade. Zé Mauro contanto as novidades do sul e Luizinho informando as novidades da terra. O romancista de "Barro Banco" informa que já está na editora para ser lançado o seu novo romance "Arraia de Fogo", que continua o ciclo da selva iniciado com "Banana Brava" e cujo último livro lançado foi "Arara Vermelha". É o mesmo tema do heroísmo anônimo da vida na selva, em contato direto com os elementos e resistindo à fome, à sede, às doenças, aos bichos e aos índios não civilizados.
Apesar dos sucessos dos seus romances, acredito que a obra de José Mauro de Vasconcelos terá no futuro uma importância muito maior. Ele será ainda descoberto pela crítica nacional. Pouquíssimos escritores teem a sua disposição para se internar na selva a-dentro , estudando seus problemas e a existência dos selvícolas, para escrever romances.
Atualmente ele foi convidado para escrever um livro sobre a Bahia. Já tem tudo planejado e dentro de poucos dias seguirá para Salvador, onde vai iniciar o seu trabalho. Todavia, quis rever a terra, os parentes e amigos.Aproveitou a viagem e em lugar de saltar em Salvador resolveu vir até Natal.
Por tudo isso Luiz. G.M Bezerra ofereceu a Zé Mauro, ontem, em pleno Beco da Lama, um pitoresco jantar, servido no Restaurante Pérola, mas fora daquele corredor, no meio da rua mesmo. O Zé mauro estava meio triste porque anunciara-se que havia discurso...Mas, terminada a refeição, e antes que os oradores se manifestassem , surgiu um daqueles bêbados crônicos do Beco da Lama e fez saudação por todos nós.
Ao terminar o bêbado o seu discurso, com um porção de termos franceses pelo meio, Zé Mauro ofereceu-lhe um copo de cerveja, que era a bebida que tinha na mesa. Mas este cronista, que conhece muito bem o bêbado de vista e sabe de suas preferências alcoólicas, declarou:
-Isso faz mal a ele
E, exatamente, ao receber o copo de cerveja, o bêbado informou, categoricamente:
Não bebo isso porque me faz mal.
Veríssimo de Melo
Jornal " O Poti" - Ano I, edição 176, data: 6 de março de 1955 - Coluna Crônica Social.