Está acontecendo desde hoje à tarde, em Ceará-Mirim, a 1ª edição do Festival Literário. A abertura foi feita às 16 h, com apresentações da Banda de Música Tenente Djalma Ribeiro, da poeta cordelista Vera Lúcia Barreto, apresentação musical de Juarez Lima, aluno da Escola Municipal Antonio Ferreira e em seguida a fala do Prefeito Júlio César.
Amanhã, sexta-feira, dia 17 de dezembro, a programação será intensa, com apresentações culturais de alunos, oficinas de literatura, mesas redondas com as participações de Drika Duarte, Aracelly Sobreira, etc. O poeta Mané Beradeiro também terá seu momento, quando se apresentará para as crianças com suas histórias e bonecos.quinta-feira, 16 de dezembro de 2021
UMA TARDE COM HISTÓRIAS CONTADAS POR MANÉ BERADEIRO PARA OS ALUNOS DA ESCOLA JACIRA MEDEIROS
Este ano não foi possível ir a muitas escolas, a COVID 19 afastou os Contadores de Histórias, Escritores e outros artistas ,do piso escolar, palco onde se desfruta de um calor especial. Ainda tive a oportunidade de mostrar meu trabalho em algumas. Hoje, quinta-feira, 16 de dezembro de 2021, fui à Escola Municipal Professora Jacira Medeiros de Sousa Silva, que fica no bairro Nova Esperança, em Parnamirim-RN.
À tarde foi organizada com muito carinho, tendo a frente a Professora Dalvanira Nascimento, Mediadora de Leitura do turno vespertino, e o tema foi: O Natal de Jesus com Mané Beradeiro. Teve apresentações de alunos e do Professor José Marcelo, poeta cordelista, que fez um poema para mim.Alunos declamam o cordel " O Natal dentro do Céu" |
A Contação de Histórias foi feita em duas etapas. Primeiro com os pequeninos e depois com os alunos maiores. No roteiro das histórias contadas, como sempre, apresentei os valores que elevam a alma humana, com temas relativos ao perdão, proteção, amor, etc.
Posso assegurar que a tarde foi bonita e repleta de alegria. Não podia ser diferente, pois o que é feito com carinho traz sempre o perfume das coisas boas.
Francisco Martins/Mané Beradeiro
16 dezembro 2021
quarta-feira, 15 de dezembro de 2021
GERALDO MELO VAI TER POSSE VIRTUAL NA ANRL
Se eu não estiver errado, a posse de Geraldo Melo no próximo dia 18 de dezembro, na Academia Norte-rio-grandense de Letras, que vai acontecer de forma virtual, será a mais rápida da história daquela instituição. Geraldo Melo foi eleito no dia 11 de novembro, para a cadeira 32. Ele disputou com David Leite e o resultado foi 26 a 10 votos. O vencedor tem 85 anos. Na sua posse, o Presidente da ANRL, Diogenes da Cunha Lima fará a discurso de recepção.
A cadeira 32 tem como Patrono Francisco Fausto. O primeiro ocupante foi Tércio Rosado, na sequência João Batista Cascudo Rodrigues e João Batista Machado, o último ocupante.
segunda-feira, 13 de dezembro de 2021
FALVES SILVA LANÇARÁ LIVRO DIA 18 PRÓXIMO
sábado, 11 de dezembro de 2021
sexta-feira, 10 de dezembro de 2021
OS GENOCIDAS I - ADOLFO
Tomislav R. Femenick - Jornalista e historiador, do IHGRN
Ultimamente a palavra genocida tem sido muito citada, porém poucos sabem o seu real significado: extermínio deliberado, parcial ou total, de uma comunidade, grupo étnico, racial ou religioso. Hoje vamos falar do mais notório.
Adolf Hitler (1889-1945), nascido na Áustria, foi chanceler da Alemanha de 1933 a 1945. Fundador e líder do Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães (o partido nazista), liderou, em 1923, uma conspiração conhecida como o “putsch de Munique”. Foi condenado a cinco anos de prisão, no entanto, só cumpriu nove meses da pena. No cárcere, escreveu o primeiro volume de “Minha luta”, livro que propagou o nazista, expondo a pretensa superioridade da raça ariana (representada pelo povo alemão), a predestinação do Führer, (líder dos alemães) para impor o estado germânico sobre o resto do mundo e o ódio aos judeus e “demais povos inferiores”.
O problema estava na falsidade da teoria da raça ariana. Ela teve início em 1808, em uma simples hipótese de linguística, do escritor alemão Friedrich von Schlegel. Em seus estudos ele encontrou características comuns entre o sânscrito e o persa, de um lado, e as línguas alemã, sueca e holandesa, do outro. Dessas observações ele intuiu uma hipótese para uma língua ancestral comum, o “ariano”, falada pelo povo “ariano”, que teria habitado a terra de Areia ou Ariana. Essa teoria foi logo posta de lado em virtude das descobertas subsequentes, realizadas por próprio Schlegel, e por outros filólogos, arqueólogos e sociólogos. Em 1814, Thomas Young identificou um grande tronco linguístico que abrangia a Europa, a Ásia ocidental e a Índia, chamando-o de “indo-europeu”. Sabe-se hoje que os povos indo-europeus são originários das estepes da Ásia central, de onde migraram para a Europa e para a Índia no fim do período neolítico, e que, embora tivessem um só tronco linguístico e afinidades culturais comuns, não formavam uma raça específica.
Mesmo assim, entre 1853 e 1855, Joseph-Arthur de Gobineau, conde, diplomata e historiador francês, publicou o livro de “Ensaio sobre a desigualdade das raças humanas”, fazendo a apologia da “raça ariana”, elegendo-a como a raça superior, composta de homens e mulheres altos, fortes, louros e dolicocéfalos, que habitavam principalmente o norte da França, a Inglaterra, a Bélgica e a Alemanha. Sua teoria da raça pura ariana foi um dos sustentáculos do projeto que visava à união de todos os povos germânicos em um único país e do antissemitismo nazista.
Outro fato, esse involuntário, foi usado para a defesa do racismo. Em 1865, o inglês Francis Galton, antropólogo, estatístico, matemático, meteorologista e primo de Charles Darwin, começou a formular os princípios da eugenia, fazendo uso de elementos do positivismo e do darwinismo. A eugenia seria uma ciência voltada para o aperfeiçoamento da raça humana, tendo por base a premissa de que o homem, como os outros animais, sofreria evolução biológica. Essa evolução física, por sua vez, seria a base da evolução moral. Essa nova “ciência” objetivaria estudar as condições mais propícias à reprodução e melhoramento genético do ser humano, através de três medidas práticas: educação sexual e procriação sadia; combate aos vícios e às doenças morais (alcoolismo, antipatriotismo, tuberculose e sífilis), e esterilização ou restrição de casamentos de pessoas consideradas ineptas à procriação. A eugenia foi aceita e incorporada por várias correntes do pensamento pseudocientífico.
Montado nessa cadeia de enganos e engodos, em 1933 Hitler foi nomeado chanceler e, logo em seguida, nomeou-se presidente, comandante supremo das forças armadas e Führer do Terceiro Reich, assumindo poderes ilimitados, com o que perseguiu todos os grupos opositores. Criou a Gestapo (uma polícia política) e mandou construir campos de concentração para onde mandava judeus, eslavos, ciganos, homossexuais etc. Organizou, ao mesmo tempo, uma avançada indústria de guerra, que converteu a Alemanha no país mais bem armado da Europa. Com os ataques à Tchecoslováquia e à Polônia, deu início à Segunda Guerra Mundial. As forças militares nazistas foram responsáveis pela morte de 55 milhões de pessoas. Depois de alguns anos de vitórias retumbantes e antevendo a derrota iminente, suicidou-se quando os soldados soviéticos já entravam em Berlim.
Tribuna do Norte. Natal, 10 nov. 2021.
quinta-feira, 9 de dezembro de 2021
MARINHEIROS
Dentro do ano em que comemoramos os 100 anos do nascimento do escritor Homero Homem, trago aos leitores mais um conto, pérola achada em minhas pesquisas.
O mais nele tenho fielmente fixado:
certos gestos, a voz rude, o jeitão agressivo com que fazia as perguntas - um
súbito rompante de voz que ia se atenuando até transformar-se em murmúrio, que
era o seu tom habitual de conversa.
Meu pai se desembaraçou da roupa
encharcada, sentou à mesa. Minha madrasta trouxe quase em seguida o jantar:
sopa de feijão, peixe frito com farofa de dendê e café. Meu pai comia calado, os
grandes músculos faciais contraindo-se, relaxando-se. Eu acompanhava com tenção
estudada os pequenos besouros que rodopiavam em torno do candieiro, fugidos da
chuva que caía lá fora. Estava à espreita de uma oportunidade para contar-lhe o
meu dia. Afinal tomei coragem, fui direto ao assunto.
-Estive hoje lá em cima; estou
matriculado, meu pai.
Ele levantou a vista,olhou-me como
procurando se lembrar do que falava eu; bebericou o café soprando no pires, e
disse:
-Está direito…
A frieza me doeu. Estava acostumado
a ela, meu pai era assim mesmo. Mas a situação era tão especial que me dera
coragem para engendrar aquela conversa. Disfarcei a decepção com nova
investida; a vontade de falar era grande.
-Sabe, meu pai, os exames começam
depois do Carnaval.
-Hum… -fez ele.
Inútil. Refugiei-me num silêncio
amuado, duro silêncio de menino sem mãe, acostumado à solidão. Meu pai acabara
de tomar café, acendia o cachimbo - uma pesada peça de raiz de roseira, ornada
com anéis de latão. Soprou a primeira baforada e, envolvido pela fumaça, falou
devagar pondo-me os olhos em cima:
-Você espera passar no exame, João?
Tive um choque. A pergunta de meu
pai era uma resposta, um eco à minha ânsia de comunicação e extravasamento.
Raro meu pai falar assim, encarando-me como um igual. Era um homem
entrincheirado em seu silêncio, um silêncio pesado como o resto de sua pessoa:
difícil de romper. Cedo me acostumara a ele. Em casa, eu e minha madrasta,
ninguém se espantava. Aquela frincha aberta em seu mutismo rasgava pela
primeira vez uma perspectiva nova em minha infância, que era como a sombra
miúda da solidão grisalha de meu pai. Naquele minuto eu compreendia anos
inteiros de sua vida. Sentia-me tranquilo, embora uma emoção nova tomasse conta
de mim. Ficamos assim um bocado - eu e meu pai. Foi ele que quebrou o silêncio.
-João - começou - estive pensando.
Sou um sujeito rude, um homem do mar. Tenho sabido de seus planos, sua madrasta
já me falou. A princípio não concordei muito, você sabe, filho de marinheiro
pertence ao mar. Pensava que você um dia iria comigo. Pensava que assim ia ser
com você.
Calou-se, deu uma baforada comprida,
soprou a cinza que aflorara às bordas do cachimbo. E prosseguiu:
-Você saiu à sua mãe, foi feito para
ficar em terra. Está me pedindo conselho, leio em seus olhos. Mas não sei o que
diga, não. Nunca estudei, criei-me sem necessidade de livros; marinheiro
precisa é de saúde e de fé em Deus, que a sabença tirada dos livros de nada
adianta quando se está embarcado. Você escolheu sua vida, está certo; não atrapalho
vocação de filho. Já para dar conselho retirante às coisas do mar, para isso
não sirvo. Pense bem: você é filho de marujo, neto de marujo, marujo também.
Está na massa do sangue. Os rapazes da cidade alta, estes sim, nasceram para
estudar mesmo, ser doutor, subir na vida. Levam vida de estudante, os pais dão
tudo. Com você é diferente; precisa trabalhar, o meu é pouco pro gasto, inda
mais com despesas de livro, um horror de dinheiro. Enfim,você sabe…
Calou-se, suspirando fundo, foi à
janela, ficou olhando as luzes da cidade refletindo-se nas águas do rio em
estrias de fogo inquieto.
Tomado de desânimo eu olhava a
sombra enorme de meu pai. Tocado pela claridade que vinha de fora, ele me
parecia muito só, pequeno e desamparado. Tinha ímpetos de gritar-lhe - “não
importa, meu pai, lutarei por nós dois!” Mas o silêncio nos pegou em cheio,
ficamos assim um pedaço. Depois meu pai deixou a janela, teve outro suspiro
velho de descrença, começou a desenrolar a rede que pendia do armador. Bocejei
para disfarçar o tumulto que tomara de mim. E de súbito as palavras começaram a
me sair da boca cheias de decisão:
-Amanhã começo a me preparar para o
exame.
-Quem é quem vai lhe ensinar -
perguntou meu pai impulsionando a rede para o balanço.
-Seu Geraldo da farmácia; cobra só
quinze mil réis por mês…
Novo silêncio. A rede rangia
monótona - rin… rin… rin…
-João!
-Sinhô, meu pai?
-Vá dormir para acordar cedo,
menino. Se tem mesmo de ser doutor, precisa ir se preparando.
Tive ímpeto de correr para meu pai,
abraçá-lo, tanger o punho de sua rede a noite inteira. Mas ele ressonava já, o
peito enorme subindo e descendo com regularidade. Era um sono pesado e total.
Sono de marinheiro que chega do mar.
9 de Maio de 1953
"PRESTÍGIO DO CORDEL" - UM TEXTO COM 48 ANOS
Quem ignora precisa ser informado acerca da importância da chamada literatura de cordel. Dizemos “chamada” porque não há critério exato na expressão. A literatura nada tem que ver com a maneira como os livros são expostos à venda. Não há literatura de balcão nem de vitrina – portanto, não há de cordel só porque os fascículos são pendurados em cordéis. Mas todo mundo entende que estamos nos referindo a esses modestos folhetos, vendidos nas feiras e mercados, repositórios do pensamento, do sentimento e da imaginação do povo.
Ninguém
se engane com a aparência. O péssimo salta logo à vista: serviço tipográfico,
qualidade do papel, certas capas (embora haja xilogravuras ótimas, estudadas
por Abelardo Rodrigues) erros de ortografia, de rima, de métrica, etc. O caso é
que não se deve tratar esse tipo de folheto como se fosse livro erudito,
editado sob cuidados industriais. Nem se pode julgar uma coisa e outra com as
mesmas exigências de crítica literária. O folheto é imperfeito e surpreendente como
o próprio povo. Seus autores têm formação cultural singular, até enciclopédica
pode-se dizer, nutrida na tradição, nos almanaques e, sobretudo, na observação
da vida. Daí essas obras serem documentos nacionais de interesse múltiplo,
sendo o literário um deles, apenas. Mesmo nesse campo, o que têm fornecido à
literatura erudita é imensurável, em personagens, visão da vida, argumentos,
motivos, imagens e até estrutura. Grandes achados líricos, dramáticos,
satíricos, lá se encontram. Igualmente o comentário dos acontecimentos ou seja,
a reação imediata do escritor popular ante qualquer ocorrência de vulto, que
tanto pode ser a morte de Getúlio Vargas como uma peleja de cantadores.
Pensando-se bem, o folheto antecipa muita coisa tida como novidade: o realismo
mágico, de que tanto se fala, é um exemplo.
Admiradores
do folheto são muitos escritores, que dele se servem para obra de criação ou
para estudos de interpretação do Brasil. Sem forçar a memória, nem sair do
Recife, poderíamos citar Gilberto Freyre, Valdemar Valente, Renato Carneiro
Campos – autor de um livro sobre o “amarelinho” – Mário Souto Maior, Evandro
Rabelo – também grande colecionador – Hermilo Borba Filho, que, como Ariano
Suassuna, tanto o estuda do ponto de vista folclórico como aproveita-o em obras
de criação e Joel Pontes, que recentemente publicou artigo em Lisboa sobre
Camões e o “neto” de Camões na literatura de cordel. Citamos só escritores do
Recife – certamente a lista é incompleta – mas poderíamos lembrar mestres
estrangeiros que vêm ao Nordeste interessados, mais do que em qualquer outra
coisa, nos folhetos. Um deles, jovem professor norte-americano, autor de tese
doutoral sobre o assunto, publicada pela Universidade Federal de Pernambuco.
Outro, o eminente Raymond Cantel, da Sorbonne, que, com seus setenta anos de
idade, viajou em gaiola quase todo o São Francisco, no ano passado, foi a
Caruaru, Campina Grande e Feira de Santana só preocupado em comprar poesia e
conversar com os poetas.
Para
fechar de vez: o próprio governo federal publicou obra de mais de mil páginas, envolvendo
especialistas do Ministério da Educação e Casa de Rui Barbosa, em três volumes,
intitulada “Literatura Popular em Verso”, que é toda uma consagração a João
Martins de Ataíde, Leandro Gomes de Barros, Rodolfo Coelho Cavalcante, Cuíca de
Santo Amaro e outros folhetistas populares.
Fonte:
Diário de Pernambuco, edição de 6 de julho 1973.
quarta-feira, 8 de dezembro de 2021
VICENTE SEREJO ESCREVE SOBRE O CORDEL DE VIVI
terça-feira, 7 de dezembro de 2021
CASSACOS - UM TEXTO DE OSWALDO LAMARTINE
NEM TODO FOLHETO É CORDEL - NEM TODO CORDEL ESTÁ EM FOLHETO
"A crítica deve ter a missão nobre de um bisturi em mãos de um cirugião" Felix Caignet
A Universidade Federal do Rio Grande do Norte, através da sua editora EDUFRN, disponibiliza de forma gratuita, o livro digital "Escravidão no Rio Grande do Norte", um trabalho que teve a organização de Juliana Teixeira Souza e Margarida Maria Dias de Oliveira. Para baixar o livro é só clicar aqui Livro.
Na página do repositório da UFRN lemos o seguinte resumo da obra:
"Esta obra inaugura a série "Produtos didáticos para o ensino de História", resultado de um projeto de ensino coordenado por professoras do curso de História da UFRN, com participação de alunos e alunas licenciandos, com o objetivo de contribuir de forma propositiva para os debates sobre o ensino de história e de cultura da população afrodescendente, numa perspectiva atualizada e tendo a metodologia da pesquisa histórica como referência. Como resultado desse trabalho, apresentamos para professores da Educação Básica e estudantes de licenciatura sete propostas de sequências didáticas e recursos didáticos produzidos exclusivamente para esta publicação. Antes das propostas de senquência didática, apresentamos dois breves textos, sobre ensino-aprendizagem de História e escravidão negra no Rio Grande do Norte, com algumas informações sobre população, trabalho e formas de resistência."
Quero chamar a atenção das autoras organizadoras para o material que foi usado que tem como título "Cordel dos Desiguais", presente nas páginas 70 a 72. Aqui, infelizmente, não tiveram as organizadoras o cuidado de realmente analizarem se o texto estava em conformidade com as regras da literatura de cordel. O texto em questão é da autoria de Francisca Rafaela Mirlys e Ísis de Freitas Campos.
Entre algumas características da literatura de cordel existem três que são indispensáveis: métrica, rima e oração. E isso está até presente no livro acima, página 48:
O que vem corroborar que as organizadoras não se debruçaram na análise estrutural do que aparentemente é um cordel, trazendo para a obra um texto absurdamente desmetrificado. Não há revisores capacitados na UFRN para saber reconhecer um cordel?
O poema possui vinte estrofes em forma de sextilha, portanto 120 versos. Fiz a análise aplicando o que chamo de Tabela Beradeiriana e o resultado no tocante à métrica foi terrivelmente este:
Estrofe 2 - zero de métrica
Estrofe 3 - 1 verso metrificado
Obs: este artigo foi publicado com prioridade no blog Papo Cultural
segunda-feira, 6 de dezembro de 2021
O MESTRE DOS APELIDOS ERA "O PROVINCIANO INCURÁVEL"
Câmara Cascudo gostava de apelidar seus amigos. Fui notando isso ao longo das minhas leituras e tomei a iniciativa de anotar. Depois de uns três anos já disponho de uma lista bem interessante que acho válido torná-la pública.
Manoel Onofre Júnior - era chamado de "Cruviana"
Nilo Pereira - recebeu o apelido de "Barão do Guaporé"
Meira Pires - gostava quando Cascudo o chamava de "Ventania do Nordeste"
Valério Mesquita - tinha a alcunha de "Pisa na Fulô"
Enélio Lima Petrovich - era o "Galinho"
Manoel Rodrigues de Melo - "Manoel Careca", mas na intimidade do lar, os familiares o chamavam de "Badéu".
Vingt-un Rosado - não ficou de fora e em muitas cartas que Cascudo destinava a ele, saudava-o pelo título de "Sargento-mor da Ribeira".
João Wilson Mendes Melo - "Gola azul"
Mas nenhum teve tantos apelidos por parte de Cascudo, quanto o seu amigo Raimundo Nonato da Silva, sobre ele eu consegui colher os seguintes: " "Cambiteiro de Martins", "Raimundo Pega Fogo", "Corisco de pé-de-serra", "Corisco de tabuleiros", "Corisco das trincheiras","Jesuíno das caêiras", "Desembargador Vitorino".
Encontrei apelidos de outros literatos, que não foram dados por Câmara Cascudo, mas que vale a pena tomarmos conhecimento. São eles: Ferreira Itajubá (Azinho), Veríssimo de Melo (Vivi), Ezequiel Wanderley (Zaca), Carolina Wanderley (Caró), Otoniel Menezes (Toni ou Tito), Maria Eugênia Montenegro (Geninha).
Sei que ainda irei descobrir outros e terei a lista crescida. Eles estão lá, nos livros, em artigos, crônicas e reportagens.
Francisco Martins - 06 dezembro 2021
domingo, 5 de dezembro de 2021
COMENTANDO MINHAS LEITURAS: AMOR DE OUTONO
Autor: Carlos Gomes
Ed. Sebo Vermelho - 2021
Gênero: Conto, 69 p.
"Era uma vez", geralmente as boas histórias começam assim. Não foge à regra a que escreveu Carlos Gomes: "Amor de Outono".
O autor vai narrar um conto de amor que foi vivido por Fernando e Cristina, que tem como espaço geográfico a cidade Natal. A narrativa tem duas faces, a do relacionamento entre os apaixonados e a dos fatos históricos que permeiam a história, principalmente a política.
O texto do livro tem o relevo da vida, com altos e baixos, chegadas e partidas, alegrias e tristezas .
O que aconteceu nas vidas dos protagonistas? Poderia até escrever, mas o bom mesmo é ler "Amor de Outono" , e deixar que a frase do Apóstolo Paulo testifique: "O Amor ... tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta ". ( 1 Coríntios 13:7).
Francisco Martins
05 de dezembro 2021.
sexta-feira, 3 de dezembro de 2021
O ESCRITOR SE RETRAI PARA RENASCER - UM LONGO ANO SABÁTICO
4 de dezembro de 2021, uma data que é muito importante para mim, pois exatamente em 2004, eu estreava no mundo da literatura, com o meu primeiro livro; "Contos da Nossa Terra". Já se foram 17 anos. E ao longo desse tempo vieram outros livros e muitos folhetos de cordéis, além da criação dos personagens Mané Beradeiro, Palhaço Leiturino e os bonecos que manipulo.
Ganhei prêmios, sou até comendador da Ordem Deífilo Gurgel. Pertenço a algumas instituições. Sou um incansável batalhador neste campo da cultura. Para conhecer um pouco do que está registrado sobre mim clique aqui bibliografia
É hora de dizer muito obrigado a todos vocês que estiveram comigo e estão. Confesso que em 2022, se Deus assim permitir, irei ficar mais quieto. É momento de descansar. Atenderei poucos convites, não tenho mais estrutura física de correr tanto.
Minhas idas serão agora mais no campo das pesquisas e publicações, e elas chegarão como as estações do ano. É isso que gostaria de dizer: estou entrando em um processo retiro, como se fosse um longo ano sabático.
Palhaço Leiturino
Mané Beradeiro
HOJE EM PLENÁRIA DA ANLiC
Às 19 h de hoje, a Academia Norte-rio-grandense de Literatura de Cordel _ANLiC realizá uma sessão plenária, de forma virtual. Na pauta os seguintes tópicos: Avaliação da ANLiC; Posse dos novos eleitos; Agenda do Cordel; Estatutos.
quinta-feira, 2 de dezembro de 2021
terça-feira, 30 de novembro de 2021
UMA CRÔNICA DE THADEU VILLAR DE LEMOS SOBRE CEARÁ-MIRIM DE ANTIGAMENTE
CEARÁ-MIRIM
Estive em Ceará-Mirim, no restrito
tempo de minha última estadia em Natal. Não fui reconhecido, e, incógnito andei
por toda a cidade. Foi melhor assim. Ali, absorvendo o cheiro da garapa cozida,
vindo dos “banguês” que se sucediam ao longo dos canaviais que enfeitavam com a
sua folhagem verde o grande vale, vivi os melhores dias da minha infância,
entre os 7 e os 14 anos de idade.
Visitei todos aqueles recantos da
cidade, inclusive os locais onde, há cinquenta e cinco anos passados, existiam
os botecos que vendiam caldo de cana, cocada e grude de goma fresca.
Nada mais existe do tempo da minha
infância; o progresso acabou com tudo.
Estive no mercado público, onde
procurei recompor na memória aqueles locais pitorescos que tantas alegrias me
causaram. Durante muito tempo contemplei o sobrado dos Antunes, a mais
imponente residência dos velhos tempos, tendo na parte térrea o depósito do
velho José Antunes para a venda de açúcar bruto, rapadura, aguardente de cana,
banana e outros produtos. Na casa vizinha, estava a residência e a funilaria do
velho Sena que rivalizava, na sua arte, com “seu” Moisés, instalado na rua São
José.
Passei pela casa onde morava D. Ana
Sobral. Aí eu gostava de ir brincar à sombra das grandes mangueiras. Bem em
frente, existiam os alicerces de uma casa inacabada onde a cega Maria Fôlha
vivia, escandalizando a cidade com o seu palavreado pornográfico,
especialmente, quando bebia. Não estando embriagada, momentos raros da sua
vida, Maria Fôlha perambulava pelas ruas, gritando ininterruptamente:
“Menino?!... Ou menino”?!... Certa vez foi mexer com essa figura popular da
cidade, e recebi sobre o ombro uma forte bordoada do bastão que a mesma usava
para se manter de pé.
João Cego era outra figura popular da
cidade. Morava em um quartinho de taipa erguido em um terreno baldio, quase em
frente à residência de Luiz Ferreira da Silva, na rua São José. Andava em todas
as ruas, sozinho tendo como guia uma varinha de marmeleiro bravo. Conhecia todo
mundo inclusive as crianças, pelo timbre de voz.
Uma das coisas tradicionais do meu
tempo, em Ceará-Mirim, eram as batalhas de busca-pé no dia de São João.
Geralmente elas tinham como palco a rua São José. Às 7 horas da noite, fechavam
as portas e janelas das residências,e todo mundo já sabia que, depois daquela
hora, ninguém poderia passar por ali. Postavam-se os dois grupos nas duas
extremidades da rua, e avançavam um contra o outro com os raios luminosos
desprendidos, com violência, das bases de bambú que mediam 30 e 40 centímetros
de comprimento. De muito longe via-se o clarão da batalha. Os busca-pés eram
preparados com muita limalha e salitre para que produzissem maior luminosidade.
A luta se prolongava por mais de três horas, até que um dos lados fosse
vencido, pelo esgotamento da munição. Depois disso, havia a festa da vitória em
que tomavam parte os dois grupos contendores. Passados os dias de São João e
São Pedro, chegava boa hora dos caiadores porque todas as frentes das casas da
rua São José estavam riscadas pelo carvão desprendido das chamas das armas de
combates. E o que é mais curioso em tudo isso é que nenhum proprietário
reclamava a sujeira em que ficavam as fachadas das suas residências.
Outra brincadeira tradicional de
Ceará Mirim era a dos “papagaios”, que antecedia as festas de Natal. O “papagaio”
ou “coruja” do norte, é a “pipa”, no sul. Os rapazes faziam “Papagaios” de mais
de dois metros quadrados, colocando nos mesmos uma cauda de dez metros,
aproximadamente. Alavam os bichos a favor do vento aguentados em cordas de
fibra de gravatá. Para sustentar o monstro no ar, em grande altura, eram
necessários três homens que movimentavam a corda de sustentação, cuja
extremidade se encontrava presa a um tronco de madeira, previamente fincado no
chão para esse fim. No dia em que o “Papagaio” teria de ser empinado, ninguém
deixava de ir assistir ao espetáculo. Por mais de uma vez vimos a corda se
soltar do tronco e o “papagaio” arrastar os três homens, forçando estes a se
desprenderem da corda. Três ou quatro dias depois, o monstro era localizado no
canavial do vale, a muitos quilômetros de distância. Pedroca, o chefe da
brincadeira ia buscá-lo.
Havia no Ceará-Mirim o uso de locação
de cavalos selados para quem quisesse cavalgar na cidade ou viajar. Não
tínhamos automóveis nesse tempo, e o único transporte se fazia em costados de
animais.
Eu gostava de cavalgar e os cavalos
da minha preferência eram os do engenho “Porão”, bem pertinho da cidade,
pertencente a José Ribeiro de Paiva, mais conhecido por seu Zuza. Pagava-se de
aluguel por meio dia 1$000, e por 24 horas, 2$000 - ou sejam, um milésimo e
dois milésimos de cruzeiros respectivamente.
Mas, nem sempre eu tinha o dinheiro
completo para o aluguel, e a vontade de cavalgar era grande.
-
Que
fazia eu?...
Chegava no “Porão” e falava com seu
Zuza pedindo que me alugasse um cavalo para dar duas voltinhas na cidade, por
$500 (cinco décimos de um milésimo de cruzeiro). Seu Zuza atendia o meu pedido,
porém recomendava que levasse o cavalo dentro de duas horas. Como era de praxe,
eu pagava o aluguel, adiantado, ia ao cercado pegar o cavalo da minha
preferência, trazia ao celeiro, punha os arreios, e saía. Mas só voltava à
noite, quando seu Zuza já estava deitado. Abria a porteira, cuidadosamente para
não fazer barulho, puxava o cavalo pelas rédeas até o celeiro, tirava os
arreios e soltava o animal. Seu Zuza não desconfiava de nada porque o movimento
de fregueses era muito grande. Acontece que, certo dia, alguém disse ao homem
que eu andava nos seus cavalos o dia inteiro, galopando nas estradas dos
engenhos até o começo da noite. Seu Zuza ficou de tocaia e me pegou com a boca
na botija. Fez queixa a Papai e eu fui proibido de cavalgar.
Muitos anos depois, eu e Zuza éramos
colegas da fiscalização do imposto de consumo, e ele relembrou o caso dos
cavalos, adiantando aos ouvintes que eu entrava no engenho tão sorrateiramente,
que nem acordava o bebê, seu filho Jorge, o hoje Monsenhor Jorge Ograyde.
Finalmente, muita coisa eu ainda
poderia narrar sobre a minha infância em Ceará-Mirim, porém vamos parar por
aqui.
Rebuscando Escarcelas
Thadeu Villar de Lemos 1970, p. 79 a
83.