sexta-feira, 28 de agosto de 2009

SAPOTERATURA I - O SAPO BOI E O CAVALO AFELANO


Estarei dando início a uma série de postagens de contos que denominei SAPOTERATURA.

Tomara que gostem.


Genildo, pequenino, uns seis anos no muito, brincava ao redor da sua casa. Corria com um pau de vassoura entre as pernas, galopando. Era seu cavalo Avelã, que o pai dele assim denominou, mas que ele, não sabendo chamá-lo, só conseguia pronunciar “Afelano”.
Genildo quando montava em “Afelano” abria sua mente às porteiras da imaginação e corria solto seu coração naquelas campinas. É certo que ele não ia muito longe em suas galopadas, porque seu território estava delimitado, existiam cercas de arames farpados que “Afelano” não conseguia saltar.
Naquela manhã, Genildo já havia dado umas tantas e tantas voltas ao redor da sua casa. Com um pequeno cipó em suas mãos, açoitava “Afelano” para que o mesmo corresse mais veloz.
-- Corre “Afelano”, corre mais, vamos pegar o boi brabo lá dentro das capoeiras.
E se pôs a brincar dentro das plantas da sua mãe. Tudo ia bem até ela notar que seu caçula pisoteava seu jardim. Ouve-se um grito:
-- Genildo saia já daí agora mesmo! Se você quebrar algumas das minhas plantas eu sou capaz de quebrar este cabo de vassoura em suas costas. Falou a mãe dele.
O pequeno vaqueiro saiu da capoeira fictícia em busca de outras matas fechadas, pois vaqueiro que se preza tem sempre uma história para contar sobre boi valente. E foi assim, que sem querer ele descobriu um grande “boi” deitado debaixo do pote, que ficava ao lado da casa, para guardar as águas das chuvas que eram ali derramadas pela calha.
Diga-se de passagem, que não era boi, mas sim um sapo. No entanto, como estamos juntos nesta fantasia, vamos admitir que o sapo fosse um boi, um grande e valente touro. Boi ou touro? Não importa o que vale mesmo é estarmos junto com esta criança. Lembrem-se que há pouco ela levou um grito de sua mãe e ainda está magoado..
Agora, deixe-me dizer da alegria de Genildo quando encontrou o “boi”. Primeiro ele freou bruscamente seu cavalo “Afelano”, e ficou observando o movimento daquela reis desviada. E o boi lá parado. Tendo as patas dianteiras uma próxima da outra, aquela boca enorme fechada, os olhos idem. Era até possível ouvir o pensamento do boi: “Que maravilha! Sombra e água fresca. Que mais poderia eu desejar?”.
Se aquela situação representava momentos de descanso, só durou até ali, pois nosso destemido vaqueiro cutucou o sapo que acordou totalmente desnorteado, sem saber o que estava acontecendo.
-- Ê boi, ê boi, ê boi. Falava Genildo e chicoteava os pinhaços do sapo.
Se Genildo queria vê-lo correndo, decepcionou-se, pois o sapo a cada chicotada, erguia-se sobre as patas dianteiras, inchava e recusava-se a correr. Balançava-se da esquerda para a direita, ora esticando uma perna, ora a outra, mas não corria.
Foi então que o menino teve a idéia de buscar sal e jogar nas costas do sapo. Funcionou. O sapo saiu em disparada e Genildo montado em Afelano gritava: “Ê boi, ê boi...”
E tome mais umas pitadas de sal no sapo. Não demorou muito e o sapo usando seu método natural de espantar os predadores, lançou nos olhos de Genildo um violento jato da sua mijada.
Aquele líquido ardia, queimava, deixou Genildo totalmente
Cego. E foi chorando, em grandes prantos, que nosso vaqueiro voltou à realidade e correu aos braços de sua mamãe, que lavou seu rosto, consolou e o deitou na rede.
Lá fora, sofria aquela espécie de anuro, tentando com as patas traseiras tirar o sal que penetrava em sua pele rugosa.

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