Mané Beradeiro
As coisas de antigamente
eram todas duradouras
Casamento era prá sempre,
Palavra tinha valor.
Religião era de vera
Com ela não se mascateava,
E em cada pé de serra
A família prosperava.
Falar dos tempos idos
É lembrar o cantar dos galos
Tecendo a madrugada.
É saber que no relinchar do jumento,
O almoço se fazia farto.
O Sol se punha no terreiro
E a donzela, perfumada com açuçena,
Desabrochava os desejos, em roçado de algodão.
Dentro daquelas casas existiam tudo de bom.
Um pai trabalhador, uma mãe dedicada e rainha do lar.
Meninos igual a penca, sentados em esteira de carnaúbas.
Muitos quartos, sendo um sem janelas, para a moça não fugir.
Naquelas casas, de paredes grandes, teto alto, caibros e ribas de massaranduba,
Tinham salas, parapeitos, rádio, porta com taramelas, fogão à lenha, panelas de ferro e barro,
Pratos de ágata, canecas de alumínio. Ferro de brasa e pinicos embaixo das camas e redes.
Quando a noite chegava vinha com ela um café forte.
Beiju, tapioca, cuscuz, qualhada, carne de sol e batata.
Bancos, cadeiras e tamboretes convidavam pra conversas no alpendre.
Se falava sem muita pressa, na mesma mansidão e cadência da chama da lamparina.
Entre os rangidos das cadeiras de balanço, flatos se soltavam no ar.
E se por acaso fossem sonoros ou fétidos, a culpa caia sempre nos meninos e cachorros.
As coisas de antigamente eram todas duradouras.
Que nestes versos tão livres, onde não há métrica, nem rima,
A poesia enterneça poetas de trovas , cordéis e sonetos.
Que o ontem, o hoje e o amanhã se abraçem na beleza da criação.
Natal-RN, 15 de agosto de 2011