A história que vou narrar
aconteceu já faz muito tempo, eu tinha meus 23 anos, ano de 1987. Gostava de
fazer caminhadas longas, sendo a preferida o trajeto de 22 quilômetros que há entre a
cidade de Ceará Mirim até o distrito de Dom Marcolino Dantas, no município de Barra de Maxaranguape, Rio
Grande do Norte.
Caminhava sozinho, à noite,
sempre após às 20 horas. A estrada era escura. Levava comigo um cantil, um pequeno gravador, uma lanterna, um poncho e
um canivete. Era somente eu, o silêncio
das matas e as estrelas. Andava até me sentir cansado e quando assim estava
procurava uma árvore para ficar descansando . Como ali naquela área todas as
árvores são pequenas, não havia a menor possibilidade de encontrar uma
frondosa, onde à semelhança do poeta Antonio Francisco eu pudesse subir, armar
minha rede e ficar ali deitado ( 0s Sete Constituintes).
O certo é que numa dessas
caminhadas eu resolvi parar para descansar juntamente numa cruz de estrada. Já
era perto da meia noite, tudo muito escuro, com pouca luz da lua que vez ou outra conseguia driblar as nuvens que ameaçavam chuvas.
Sentei-me ali, fiquei pensando na pessoa que morreu naquele acidente, sabia que
tinha sido um homem, que dirigindo em alta velocidade perdeu o controle do
veículo e o mesmo veio a cabotar naquela curva. O motorista perdeu o controle.
Não sei seu nome, mas naquela noite, orei por ele.
Estava eu ali, sentado,
descansando meu corpo, quanto de repente ouço que vem pela estrada tão deserta
um bugre , identifico-o pela barulho do motor. Pensei: vou fazer um medo a este
motorista. Sabia que ao se aproximar do lugar onde eu estava ele teria que
diminuir a velocidade por causa da curva acentuada. Ergui-me, fiquei de pé
sobre o monumento da cruz, abri os
braços e quando ele foi chegando eu gritei:
-ME AJUDE, PELO AMOR DE DEUS, ME AJUDE!
O
motorista teve um medo tão grande, mas tão grande que acelerou o carro
numa disparada até Ceará Mirim. No outro dia, soube depois, que a conversa na
pequena cidade é que ele tinha visto a alma de fulano de tal na cruz da curva
do Riachão.
Ainda hoje, já transcorridos 25
anos, todas as vezes que por ali passo, lembro-me da minha peraltice naquela
noite escura. No último dia 15 de novembro registrei a imagem do lugar e
escrevo a crônica que tanto desejava compartilhar com vocês.
Francisco Martins
Parnamirim-RN, 19 de novembro de 2012