segunda-feira, 4 de setembro de 2017

ASSIM DISSERAM ELES ....

"O contador de histórias é justamente o contrário de historiador, não sendo um historiador, afinal de contas, mais do que um contador de histórias. Por que essa diferença? (...) O historiador foi inventado por ti, homem culto, letrado, humanista; o contador de histórias foi inventado pelo povo (...)"

Machado de Assis

História de quinze dias. São Paulo: Editora Globo, 1997, p. 84.

terça-feira, 29 de agosto de 2017

MANÉ BERADEIRO NA ESCOLA ADELINA FERNANDES

Mané Beradeiro alegrou  os alunos, na manhã de hoje, na Escola Professora Adelina Fernandes - Soledade II, em Natal/RN.  Foi no encerramento das festividades alusivas ao mês do folclore. Na oportunidade declamou cordel, contou histórias e usou seus bonecos. Participaram aproximadamente 400 alunos.

segunda-feira, 28 de agosto de 2017

E FOI ASSIM O MEU MÊS DE AGOSTO - SEM DESGOSTO NENHUM - SÓ ALEGRIA

O mês de agosto chega ao fim, estamos vivendo a última semana. Foi um mês com várias apresentações culturais, olhando a agenda, vi que estive nos seguintes locais:
Escola Municipal Professora Íris de Almeida (dia 2); Escola Municipal Homero Dantas (dia 18); CMEI Maria Leonor (dia 23); Escola Municipal Professor Belo Monte (dia 25); Complexo Educacional Escola Doméstica/Henrique Castriciano (dia 26);  amanhã, dia 29, estarei na Escola Municipal Professora Adelina Fernandes e no dia 31 fecho o mês fazendo a abertura da Feira do Conhecimento, na Escola Estadual José Mamede, em Tibau do Sul/RN.
Em todos esses lugares onde já estive vivi momentos inesquecíveis. Recebi muito carinho direcionado a mim, bem como aos meus personagens: Mané Beradeiro, Leiturino e as obras publicadas, quer sejam os folhetos de cordéis, bem como o livro infantil "Doutor Buti", praticamente com a primeira edição esgotada, totalmente vendida em sua maioria no seio das escolas, sem deixar nenhum exemplar em livrarias.
Entre as tantas homenagens que recebi não posso esquecer a manhã vivida na Escola Municipal Íris de Almeida - Monte Castelo - em Parnamirim/RN. Quando cheguei a escola fui logo orientado para ir à biblioteca e lá me deparei com um grupo de crianças, todas fantasiadas com as personagens do livro infantil "Doutor Buti",  um trabalho lindo da Professora Mediadora de Leitura, Francilene Nunes
O cão Miguel

A barata

A lagartixa

O  camaleão


Jacqueline, os alunos fantasiados e Francilene Nunes

Na Escola Municipal Homero Dantas - Nova Esperança - Parnamirim/RN, tive mais uma vez a alegria de ficar ao lado de Lucas Marques, ilustrador do livro "Doutor Buti", oportunidade em que fomos carinhosamente recebidos por aquela equipe maravilhosa. Autografamos os livros para alunos e professores
Com Lucas Marques
 


Foi também na Escola Homero Dantas que eu recebi uma declaração que todo escritor gostaria de ouvir:  Fabio Luan, que não é aluno daquela escola, sabendo que eu estaria lá, pediu para ganhar de presente o livro infantil. A irmã  Luana fez economias e deu o presente tão esperado. Dele ouvi: "Francisco Martins, quando eu crescer quero ser um escritor igual a você". Não tive como segurar a emoção, meus olhos me traíram, e as lágrimas rolaram molhando minha face de alegria.
Fábio Luan e sua irmã Luana
 No CMEI - Maria Leonor, as apresentações de Leiturino foram nos turnos matutino e vespertino, com um público de idade pequenina, mais cheio de encanto.

Em Natal, a Escola Municipal Professor Belo Monte também me deu grandes emoções. Estive lá na pele de Mané Beradeiro, falando das coisas do Nordeste, do cordel, dos causos, etc. Vi o quanto os alunos se debruçaram sobre meus folhetos e o "Doutor Buti". Foram também duas apresentações, manhã e tarde.




E quando eu pensava que nada mais poderia me surpreender, chega a aluna Alicya, mostrando-me a paródia que fez da prosa poética "O Cordel da Salvação". Olha só como ficou a primeira estrofe:
Alicya
Cheguei ao sarau cultural
Esperei ansiosa a assinatura ganhar.
O Mané Beradeiro diz em nordestinês:
-Se aprochegue mininha, seu sonho vou realizar.
Meu coração disparou, não houve comparação,
nem os oceanos juntos, nem meu Nordeste todo.
Nada pode superar o que ouvi,
vocês  podem acreditar.

São momentos como estes que me dizem eu ser um homem realizado e feliz em tudo o que faço.

Encerrei a semana, adentrando no Complexo Educacional da Escola Doméstica/Henrique Castriciano, onde no sábado pela manhã dei um testemunho do meu trabalho como cordelista, escritor, contador de histórias e leitor, aos alunos do Fundamental II, dentro do evento  Literatura em Cena, um projeto desenvolvido pela equipe de Língua Portuguesa daquela instituição.  Depois da minha fala teve uma sessão de autógrafos nos folhetos de cordéis e nos livros. Nem precisa dizer o quanto me senti feliz ali no meio daquela juventude e dos mestres, principalmente porque pude contar um pouco da poética história de Dindinha, aquela que usava uma saia de merinó, e que foi a avó de Auta, Eloy e Henrique Castriciano.  Aqui, como também nas demais, as fotos falam por si.











 



LEITURINO EM: CORAÇÃO DE PALHAÇO


UMA RUSSA NA MINHA VIDA


Condessa de Segúr
Eu confesso que nem sabia que ela tinha nascido tão longe, muito longe daquele lugar chamado Fazenda Santa Maria, no município de Ceará Mirim, onde eu vivia meus nove anos. O nome dela era Sophie Feodorovna  Rostopchine, mais conhecida pelo título de A Condessa de Segúr. Nasceu no dia 1 de agosto de 1799, em São Petersburgo na Rússia, e faleceu em 9 de fevereiro de 1874, na cidade de Paris, França.   Noventa anos depois da sua morte foi que eu nasci, e foram precisos mais nove anos para que eu tocasse num livro escrito por ela. Meus pais chegaram  em casa com um presente diferente, aquele livro, o primeiro que ganhei em minha vida. Creio que meus pais já me viam como  uma criança inclinada à leitura. 
O livro era este: Braz e a primeira comunhão. Ainda tenho guardado em  minha pequena biblioteca esta preciosidade. Braz tem algumas semelhanças com a criança que eu fui: vive numa fazenda, é pobre, seus pais também são agricultores e ele tem um coração voltado para o bem e sempre disposto a perdoar. Ah! os livros e seus habitantes. Eis-me aqui crescido,  quarenta e quatro anos se foram daquela leitura. Meu mundo é outro, tudo mudou, mas o de Braz permanece o mesmo, imutável. Continua lá, escrito do mesmo jeito, fiel desde a primeira edição.

quarta-feira, 23 de agosto de 2017

CASA DO CORDEL - 10 ANOS DE EXISTÊNCIA


ALEX MEDEIROS É O MAIS NOVO INTEGRANTE DO CONSELHO ESTADUAL DE CULTURA

Alex Medeiros, jornalista, tomou posse no Conselho estadual de Cultura, em sessão na tarde de ontem, terça-feira, dia 22 de agosto de 2017. O mandato do mais novo membro do CEC/RN  vai até o dia 21 de agosto de 2023 ( seis anos).

Momento em que o Conselheiro assina o termo de posse e compromisso. Desejo a Alex Medeiros sabedoria junto aos demais colegas desse Colegiado e que ele venha somar na defesa da cultura do Rio Grande do Norte.

segunda-feira, 21 de agosto de 2017

COMENTANDO MINHAS LEITURAS - HISTÓRIAS SEM DATA

Nunca é tarde para ser apresentado a Machado de Assis. Ele é  um dos maiores escritores da literatura brasileira, senão o maior. Ler sua obra, isto é, todos os seus livros, é uma oportunidade de aprender muito.  Em março deste ano reli HISTÓRIAS SEM DATA, uma coletânea com dezoito contos, que teve sua primeira edição em 1884, pela Garnier - Rio de Janeiro. Alguns são bem  conhecidos do público, como por exemplo: "A Igreja do Diabo", diga-se por sinal atualíssimo em relação a  situação das igrejas, parece até um conto profético. "Singular Ocorrência" é outro conto muito bem escrito e "As academias de Sião", no qual o autor mostra porque há homens femininos e mulheres másculas, são ao meu ver os três melhores desse livro. Machado de Assis ainda não foi descoberto pelos leitores brasileiros, em sua grande maioria. Alguns já ouviram falar sobre ele, sabem dizer os títulos mais famosos por ele escritos, mas não chegaram a mergulhar no conhecimento do vasto conjunto da sua obra literária. Ainda é tempo de estender a mão a este velho e bom escritor que o Rio de Janeiro nos deu.

ASSIM DISSERAM ELES ...


Joaquim Fagundes - 1856 a 1877
"Já pressinto da morte a negra sombra
a seguir pressurosa os passos meus!
Mas, é tão cedo ainda! Sinto na alma
Tanto fogo e amor! Tanta esperança!"

Joaquim Fagundes - morreu em Natal no dia 21 de agosto de 1877, aos 20 anos, 5 meses e 2 dias. Ele é o patrono da cadeira 14, na Academia Norte-rio-grandense de Letras .  Foi dramaturgo, jornalista, poeta, advogado e compositor. A cadeira 14 é atualmente ocupada por Armando Negreiros.

domingo, 20 de agosto de 2017

TESTEMUNHA



Eu ainda vi seus últimos momentos
Sou testemunha da sua partida!
Morreu atropelada no trânsito.
Rolou,  tentando não se esmagada.
Foi tudo em vão.
Dela sobrou tão somente uma pasta.
Um catador de alumínio a levou.
Foi mais uma lata que se unia as outras.
O sangue negro do imperialismo não morre!

Francisco Martins
05.05.2017

UM FRADE EM NOME DA IGREJA CATÓLICA CENSUROU A LITERATURA

Você sabia que no Brasil, a Igreja Católica promoveu a censura sobre a literatura?  Isso aconteceu no início do século passado e a lista dos livros proibidos aos leitores foi feita pelo Frade Pedro Sinzig, um intelectual pertencente a Ordem dos Franciscanos Menores -OFM, que foi escritor, jornalista, professor, músico e palestrante. Publicou mais de 40 títulos, além de inúmeros artigos em jornais e suplementos. O livro organizado por ele que censurava as obras literárias no Brasil, tinha como título "Através dos Romances", sendo lançado em 1915 e a segunda edição em 1923. Brevemente estarei com um artigo sobre esse tema. Aguarde.



Imagem do Frei Pedro Sinzig disponível em:  http://www.franciscanos.org.br/?page_id=909. Visualizada em 19.08.2017

sábado, 19 de agosto de 2017

A GRANDE PESQUISA



           
 Professora Conceição preparou para aquele semestre um seminário que iria homenagear os nomes dos escritores do Rio Grande do Norte. Dividiu tarefas entre seus alunos. Poesia,  conto, crônica, biografia, ensaio, etc. Cada grupo ficaria responsável por um gênero literário e nele deveria trazer ao plenário um pequeno histórico sobre os maiores nomes e a bibliografia do assunto. Era trabalho de pesquisa e muita leitura.
            Entre os alunos houve um que chegou à Professora Conceição e disse:
            -Professora, gostaria de fazer uma pesquisa para este seminário de história da literatura potiguar sob outro prisma.
            -Qual?
            -Tenho a idéia de escrever um ensaio sobre a história da Academia Norte-Rio-Grandense de Letras - ANRL. São oitenta anos de presença em nosso meio a ser celebrada este ano de dois mil e dezesseis.
            -Interessante! Fale-me do que você pretende pesquisar.
            E o aluno explicou detalhadamente tudo que estava organizado em sua mente. Foram quase dez minutos de explanação sobre o projeto. Professora Conceição aprovou a idéia e autorizou o mesmo a torná-la concreta.
            O tempo era curto e o desafio grande para realizar aquela pesquisa que sem dúvida viria a contribuir com a história da literatura no solo potiguar. Eram tantas as perguntas que povoavam a mente daquele estudante! Que segredos teria a ANRL? O que não se sabe sobre sua história? Em oitenta anos de existência o que ela vez pela cultura local? Não seria apenas um clube social?     
            Para respondê-las a alternativa era mergulhar no campo da pesquisa. Ler tudo que foi escrito sobre a instituição, conversar com os acadêmicos, beber nas páginas da coleção da revista da ANRL, ir às atas.  E foi exatamente assim que a coisa aconteceu; durante três meses, o  aplicado aluno passou suas manhãs na sede da Academia.  Tinha fome de conhecimento por tudo que dizia respeito àquela octagenária instituição. Tornou-se amigo de Manoel Onofre Júnior, escritor acadêmico, Diretor da Revista da ANRL.
            Os dias úteis de segunda a sexta não era tempo suficiente para suas leituras, começou a levar para casa livros que seriam estudados no final de semana. Sua mente estava cheia de nomes de escritores, dos mais variados gêneros, nomes de ontem e de hoje, alguns bem lembrados, outros sequer referenciados na memória coletiva. Com tanta leitura, tantas informações, o aluno vivia e respirava a história da ANRL. 
            Vivia, respirava e até mesmo já começava a sonhar com a própria Academia, pois nem dormindo se via livre dela.  Primeiro sonhou que estava na casa de Câmara Cascudo, o fundador, e ali, escondido entre as estantes da “Babilônia”  viu quando dona Dálhia anunciou a chegada de Aderbal de França.  Era uma tarde de domingo, e a folhinha marcava 9 de agosto de 1936. Naquele sonho o aluno escutou toda a conversa que Cascudo teve com Aderbal, o famoso Danilo das crônicas sociais.
            No dia seguinte, tão logo acordou ficou pensativo se o sonho fora invenção ou se realmente aquela reunião tinha acontecido. Qual não foi sua surpresa quando leu um artigo de Otto Guerra escrito na revista da ANRL e que dizia ter havido aquela reunião.
            Nosso aluno ficou espantado. Teria ele algum poder sobrenatural? Como soube daquela data, ano, local e turno da reunião? Estranho. Será que sua sede de conhecimento sobre a História da ANRL estava recebendo ajuda do além? Mas, logo com ele que era tão cético nestas coisas espirituais.  Tudo talvez não tenha passado de uma grande coincidência. Sim, foi isso que aconteceu, pensou o estudante.
            Pegou o ônibus e se pôs a caminho da sede da ANRL, pagou a passagem e sentou-se. Na poltrona ao lado já se encontrava um jovem com semblante de anjo, cabelo penteado para trás, olhar extremamente sério, rosto bem barbeado. Saudou o jovem pesquisador:
            -Bom dia! Indo à universidade?
            -Bom dia! Não. Vou dá continuidade numa pesquisa que, já faz algum tempo,  vem preenchendo meus dias.
            -Qual é o assunto? Desejou saber o jovem com semblante angelical.
            -É sobre a  história da Academia Norte-Rio-Grandense de Letras. Conhece?
            Ele limitou-se a sorrir e disse que sim. Sabia um pouco sobre ela, respondeu modestamente. Enquanto o ônibus corria ruas acima e abaixo, a conversa entre eles tornou-se prazerosa. Falaram de contos, um pouco de poesia e outros assuntos. Estava próxima a parada da ANRL. Antes de sair ele disse seu nome àquele jovem de olhar tão sério, compenetrado, como quem vivia numa esfera espiritual constante.
            -Vou descer na próxima. Qual é o seu nome?
            Um freio brusco foi o suficiente para desencadear um ataque de tosse naquele moço que ele conheceu. Era tão forte a tosse que imediatamente fez uso de lenço e simplesmente com um gesto disse adeus.
            Enquanto caminhava rumo a sede da ANRL pensou no rosto daquele jovem que não teve tempo de dizer seu nome.  Guardou sua fisionomia na esperança de reavê-la brevemente, quem sabe numa manhã próxima. Entrou na sede na Academia e deu continuidade à sua pesquisa. Focou nos patronos, quarenta nomes de homens e mulheres que marcaram a história do Rio Grande do Norte.
            O estudante estava animadíssimo com os textos que ia lendo sobre o traço biográfico dos patronos.  Agarrou-se ao livro “Patronos e Acadêmicos” de Veríssimo de Melo e cada página que se abria para ele era como uma porta do vasto mundo dos homens e sua história. Naquele dia ele não se dedicou a outro tema. Ao final da tarde foi ao salão nobre da Academia e ficou contemplando os quadros dos patronos. Fez isso devagar, degustando cada momento diante da pintura, e pensando sobre cada um deles.  Frei Miguelinho, o herói cívico; Nísia Floresta, a feminista do Brasil; Conselheiro Brito Guerra, grande magistrado; Lourival Açucena, o primeiro poeta do Rio Grande do Norte ... Seus olhos miravam a imagem e o cérebro, imediatamente, evocava o que cada um tinha sido.
            Na ordem cronológica dos patronos, o aluno já estava chegando ao final, via agora o patrono Luís Antonio, cadeira 38, depois Damasceno Bezerra, cadeira 39 e quando seus olhos se debruçaram sobre o quadro do patrono da cadeira 40, ele teve um grande susto, gritou e saiu correndo escada abaixo, numa atitude desesperada. Quase cai. Acudiram o jovem,  Evane e Marlucia, e ele, pálido, branco e frio como mármore, respirava ofegante.
            Marlúcia abanava o rapaz. Evane deu-lhe água e ambas perguntavam o que ele tinha visto. Os olhos dilatados, o coração batendo acelerado, a adrenalina correndo nas suas veias, impediram-no de falar.
            -Será que foi um ladrão? Comentou Marlúcia.
            Ele com o indicador gesticulava, negando. Bebeu a água, respirou e as primeiras palavras vieram...
            -Era ele, ele, o rapaz com quem conversei no ônibus hoje pela manhã.
            -Ele quem,  criatura? Indagou Evane.
            -O patrono que vi lá em cima.
            Marlúcia sentenciou:
            -É o quê dá estudar muito, ler demais. Termina ficando abilolado. Tadinho!
             Evane reprovou com o olhar aquele comentário. Levou o jovem para o jardim e  se pôs a conversar com ele. Tudo que ele falou, realmente, levava a crer que tivera uma experiência sobrenatural com Afonso Bezerra, jovem patrono da cadeira 40, falecido em 1930, aos 23 anos de idade.
            Em casa compartilhou com os seus pais aquela experiência inesquecível. Sua mãe repetiu as palavras que foram ditas por Marlúcia. Ele retrucou:
            -Não é nada disso, mamãe! Eu realmente conversei com ele no ônibus.
            E a noite veio. Chegou trazendo o vento frio, vindo do mar, peneirado pela vegetação das dunas e que entrava pela janela do quarto daquele estudante que, deitado em sua cama,  pensava nos últimos acontecimentos.  As lufadas de ar provocavam um ruído nas dobradiças da janela. Pareciam sons fantasmagóricos.  Ele levantou-se, fechou-a e voltou a deitar-se.
            Ao seu lado, deitou-se também a insônia. Usavam o mesmo lençol, tinham os mesmos olhos. Abertos, fitando o nada, ouvidos atentos a qualquer barulho que pudesse ser provocado naquela noite. O tempo passou muito devagar, madrugada densa. Um galo cantou ao longe e esperou que outro apanhasse seu canto para tecer a madrugada, como bem disse o poeta João Cabral de Melo Neto.
            Precisava dormir. Sono não chegava. Tomou chá, esperou o efeito. Teve a ideia de contar “carneirinhos”, só que ao invés de carneirinhos que pulavam a cerca, o jovem brincou de serem escritores passando pelo portal da ANRL: Adauto Câmara  1,  Henrique Castriciano 2,  Otto Guerra 3 ...Juvenal Lamartine 12... E deu certo. Não conseguiu chegar aos quarenta. Seus olhos pesaram e o lençol não mais estava sendo dividido com a insônia.
            Dormindo, o moço relaxou. E nada mais perigoso do que a bambeza corporal.  Sonhou, e  se viu num outro mundo, numa terra mítica e lendária.  Nela, as ruas eram todas calçadas com rapadura, os bancos das praças forrados com mantas de carne-de-sol, os colchões das camas de casal eram todos de queijo de coalho. Durante o dia a cidade recebia a luz vinda dos clássicos. Cada dia, a folhinha trazia uma obra inesquecível. À noite, boêmios, poetas, músicos e artistas em geral se entregavam aos prazeres da boa música e da leitura.
            No centro daquela cidade, o coração: uma grande biblioteca. Imensa, o templo que celebrava a imortalidade.   Todo aquele acervo era organizado por Câmara Cascudo, que contava com o apoio dos escritores Oswaldo Lamartine,  Veríssimo de Melo  e Deífilo Gurgel.   Estantes douradas, livros de todos os tempos e lugares, escritos em todas as línguas, mas, com um detalhe: qualquer um podia lê-los. Bastava tocá-los e imediatamente o texto assumia a versão do idioma do leitor.
            O sonho era delicioso, mas foi interrompido por um grito da mãe:
            -Acorde! Já chamei três vezes e você não se levanta. Vai perder o ônibus.
            Pulou da cama, tomou um rápido café, estava ansioso pelo fechamento da sua pesquisa.  Trabalhou com obstinação. Na data marcada fez uma belíssima apresentação. Ao final, aplaudido pelos colegas e a Professora Conceição, recebeu nota dez, e escrito na primeira página do ensaio estava o seguinte texto da sua mestra:
Ao aluno Thiago, que trouxe à nossa sala, a história da Academia Norte-rio-grandense de Letras, nosso reconhecimento pela pesquisa e votos de que continue amando cada vez mais a literatura que brota neste solo potiguar.


Francisco Martins
Parnamirim –RN  19 de agosto 2016

sábado, 12 de agosto de 2017

LUA CHEIA - UMA ANTOLOGIA POÉTICA EM COMEMORAÇÃO AOS 20 ANOS DA SPVA

 
A editora Carolina Cartonera e a Sociedade dos Poetas Vivos e Afins - SPVA/RN fecharam parceria para produzirem juntos uma antologia poética, que tem como título Lua Cheia, em comemoração aos 20 anos da instituição. O livro terá uma edição especial de 300 exemplares, com a participação máxima de 100 poetas. A peculiaridade deste livro é que está sendo confeccionado  tendo como parâmetro  os discos de CD's e DVD's que não tem mais uso. Eles serão parte da capa. O edital para inscrição será disponibilizado brevemente, ainda neste mês, na página da SPVA. Enquanto isso, Francisco Martins e Ozany Gomes (Presidente da SPVA) já deram início a produção dos livros.
 


sexta-feira, 11 de agosto de 2017

GLOBALIZAÇÃO

Era uma vez três porquinhos:
Jujuba
Torresmo
E Feijoada
Três lindos animais
Criados por um judeu


Francisco Martins
10.08.2017