quinta-feira, 30 de janeiro de 2025

PARA SABER MAIS SOBRE SEBASTIÃO FERNANDES, O POETA


Sebastião Fernandes além de ter sido Professor, Promotor Público, Procurador-Geral do Estado, Juiz, Diretor de Estado, Secretário Geral do Estado, Desembargador do Supremo Tribunal de Justiça, foi também poeta, tendo lançado o livro “Alma Deserta”, aos 26 anos.

Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais, pela Faculdade de Direito de Recife, turma de 1902, Sebastião Fernandes estava de malas prontas para fazer carreira jurídica em São Paulo, onde contava com o apoio dos primos Gaspar e Tobias Monteiro, quando resolve atender o convite de Pedro Velho, Governador, e vai morar em Mossoró, exercendo a função de Promotor Público de Mossoró, assumindo o cargo em 1903, aos 23 anos de idade.

Em Mossoró permaneceu até o ano de 1907 onde colaborou bastante com a cultura local, conforme testemunham Câmara Cascudo e Raimundo Nonato, respectivamente em “Notas e Documentos para a História de Mossoró” e “Desembargador Sebastião Fernandes de Oliveira – o último fidalgo do Rio Grande do Norte”. Escrevi ese artigo como objetivo de apresentar ao leitor, um pouco da produção poética de Sebastião Fernandes, homem que viveu 61 anos.

Paulo Afonso Linhares, autor da plaqueta “Sebastião Fernandes: uma pluralidade inquieta” afirma que o poeta “faleceu placidamente no dia 29 de maio de 1941, em Natal. No seu último instante pediu a companhia da sua amada companheira de quase quatro décadas, D. Alice, a quem brindou com um derradeiro sorriso. Na morte, como na vida, Sebastião Fernandes manteve acesa a chama da paixão. Da paixão daqueles que, humanos, em nada estranham as coisas da humanidade, seguindo o pensamento vivo de Terencius, o grande poeta latino”.

Outra curiosidade sobre o dia da morte de Sebastião Fernandes, é contada pelo pesquisador e historiador Cláudio Augusto Pinto Galvão. Ei-la: “Algumas vezes disse que, se fosse homem de posses, contrataria uma grande orquestra para que, no momento de sua morte, tocasse a Ave-Maria de Gounod.

Na tarde daquele 29 de Maio a saúde de Sebastião Fernandes aos poucos se  esvaía e às 18 horas precisamente, sua vida chegava ao final. Naquele momento, quando o sol se punha do outro lado do Potengi, tingindo de luzes o céu de crepúsculo, o rádio de seu vizinho à Rua São Tomé, sem saber o que se passava na casa ao lado, realizava a sua vontade, tocando a Ave-Maria de Gounod” (Galvão, 1994; p. 18).

Há quem diga, que no campo literário, Sebastião Fernandes teve maior projeção na arte poética, que no drama. A produção poética de Sebastião Fernandes começou aos 15 anos e o exercício o acompanhou ao longo da vida.

“As letras foram sempre o meu maior prazer”, escreve Sebastião Fernandes, aos seus filhos. Poeta Romântico e Parnasiano que não se contentava apenas com a inspiração, mas também com a palavra, argamassa do poema, que por sua vez não podia fugir à forma. De que tratou a pena poética de Sebastião Fernandes?

 

Ele escreveu sobre variados temas, abordando o civismo, o amor, cidades, morte, sofrimento, mulher, estações, amigos, etc. Há uma escalada de maturidade poética em seus poemas, como é de praxe a todos que começam cedo a escrever. “Fiz versos simples diletantes, como quase todo moço, no Brasil, o faz” (Galvão, 1994, p. 26), mas não ficou na planície da simplicidade. Gosto quando Sebastião Fernandes em seus poemas, faz o eu-lírico filosofar.

 

 

“Às vezes fico só, dentro da noite imensa:

             Que silêncio imortal! – Homens que somos nós?!”

 

E neste mesmo poema, sem título, ele perguntava à solidão, como se a mesma não fosse um substantivo abstrato.

                                  “Dá-me, se podes tu, essa resposta aziaga:

                    – Para aonde vai a luz, quando a chama se extingue?

                    – A alma para aonde é que vai, quando a vida se apaga”                    (Galvão, 1994, p.96)

 

Em um outro poema “Varredor de Rua”, o poeta observa, em plena noite de lua, o trabalho do varredor, silencioso, solitário e faz o eu-lírico externar:

 

“Ah, se eu pudesse, com essa mesma calma,

                                Varrer, oh! Varredor, o lixo e a lama

                                            Dentre os castelos que erigi nesta alma”

 

Mesmo tendo a predominância do lírico em sua poesia, o poeta, em alguns casos, deixou transparecer o seu lado religioso, como em “Ato de Contrição”, escrito em 1936.

 

                            “Senhor, quanto me dói o mal que, porventura

possa eu fazer a alguém, possa eu fazer sofrer!

                             Não somos nós irmãos de toda criatura?

                             Uns aos outros, perdoar não é nosso dever?

                             

                             Conceda-me, Senhor, em toda a minha vida,

                             o dom de perdoar toda ofensa sofrida

                             E essa graça eternal de ser justo e ser bom”.

 

Neste mesmo diapasão, o poeta escreveu a trova:

 

“Quando a morte (oh! desconsolo! Dos meus),

                                ceifar-me também,

                                 Levo comigo um consolo:

                                 Nunca fiz mal a ninguém”.

 

Embora saibamos que Sebastião Fernandes publicou em 1906, o seu livro “Alma Deserta” e também tenha publicado seus poemas em jornais da sua época, o que realmente podemos dispor sobre sua produção, e que está ao alcance da mão do leitor, é a pesquisa que foi feita, organizada e publicada por Cláudio Galvão, com o título: “Poesia Inédita:

O livro se tornou realidade em 1994, e foi lançado pela Escola Técnica Federal do Rio Grande do Norte, evolução da Escola de Aprendizes Artífices, na qual Sebastião Fernandes foi Diretor.

São mais de 70 poesias colhidas pelo pesquisador. Um trabalho louvável, pois sem ele, quase nada teríamos em conjunto. O livro “Alma Deserta” é raríssimo. Procurei a versão física do livro e não a encontrei. Perguntei à bibliotecária do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, do qual Sebastião Fernandes foi fundador, se existia algum exemplar no acervo. Não tem! Mas, conseguiu a versão digital e mandou para mim. E graças a boa vontade de Kate Coutinho de Jesus, pude finalmente ler “Alma Deserta”.

O prefácio foi escrito por Mathias Maciel Filho, em 11 de março de 1906. Apresenta o livro, não como crítico, mas como amigo do autor e não poupa elogios à obra. Os poemas foram escritos entre os anos de 1898 a 1906, ora em Natal, Recife e Mossoró.

O então jovem poeta, colocava sua pena a serviço da saudade, dos amigos, dos amores partidos, da fé e tantos outros temas. Nesse livro, Sebastião Fernandes escreveu três poemas que tratam sobre sua genitora. São eles: “Santa”, “A minha mãe”, “Carta à minha mãe”.

Deixo ao leitor a tarefa de ler “Alma Deserta”, vide link abaixo, e, assim como fez Mathias Maciel e tantos outros leitores daquele distante ano de 1906 e seguintes, possa você também degustar da cultura poética de Sebastião Fernandes.

Depois que li “Alma Deserta”, pus a mão no arado e comecei a capinar no vasto campo da internet e também consegui encontrar outros poemas, não citados por Claudio Galvão. São eles:

1) “Independência ou Morte” - 1897, Jornal “O Irís”

2) “Ave, Libertas” - LINHARES, 1988

3) “Artística”, Recife-PE, 1900 - publicada na Revista “A Tribuna do Congresso Literário” - Natal-RN, edição 31-8-1900

4) “Dia de Núpcias” - Idem, edição 31-1-1901

5) “Vem…” - Natal-1901 - Revista “A Tribuna do Congresso Literário”, ano 1901, edição não identificada

6) “Sonho Azul” - Idem, ano 1901, S. edição não identificada.

 

Importa dizer que a Revista “A Tribuna do Congresso Literário”, circulou no Rio Grande do Norte, quinzenalmente, tendo como colaboradores : Antonio Marinho, Ezequiel Wanderley, Francisco Palma, Henrique Castriciano, Manoel Dantas, Ovídio Fernandes, Pedro Soares, etc.

A Revista circulou pelo Rio de Janeiro, Bahia, Pernambuco, Paraíba, Maranhão, Ceará, Pará, Amazonas e pelas principais cidades do Rio Grande do Norte.

      Assim foi o poeta Sebastião Fernandes, homem de pluralidade e amante da arte poética. Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, da Academia Norte-rio-grandense de Letras e patrono de uma cadeira na Academia Mossoroense de Letras e patrono da Biblioteca do Campus Central do IFRN, em Natal.

 

Francisco Martins.

30 de janeiro de 2025

 

Clique aqui e leia "Alma Deserta" Alma Deserta

 

FONTES:

 

LINHARES. Paulo Afonso. “Sebastião Fernandes: uma pluralidade inquieta”. Academia Mossoroense de Letras. Coleção Mossoroense - Série B - nº 553- 1988.

 

GALVÃO. Claudio. “Poesia Inédita”. Natal -RN- 1994.

 

FERNANDES. Sebastião. “Alma Deserta”. Mossoró - RN - 1906.

quarta-feira, 29 de janeiro de 2025

16 ANOS SEMEANDO HISTÓRIAS E IMAGENS

 


O contador de Histórias Francisco Martins, esteve na tarde de ontem, no Centro Educacional Cardoso, bairro de Nova Descoberta, em Natal-RN, fazendo a abertura do ano letivo daquela instituição.


Os alunos, professores e pais ouviram histórias e conheceram o trabalho realizado por ele, ofício que executa desde 2009, 16 anos semeando imagens.


MENOS POSTAGENS, MAIS SABER

     Neste ano de 2025 o blog provavelmente terá menos publicações, mas maior densidade literária. Não ficarei preocupado em postar diariamente, optarei em pesquisar e escrever artigos que alimentem os leitores que visitam esse espaço, em busca de conhecimento.
    Esta medida se faz precisa, dada a razão de que estou com atividades laborais no Conselho Estadual de Cultura, de forma mais intensa.
    Não deixarei de propagar minhas atividades culturais, farei sempre que achar necessária. Então, vamos à primeira postagem com este propósito.

Francisco Martins.

quarta-feira, 1 de janeiro de 2025

DOZE COFRES

 


Contaremos estes dias
Como quem conta alegria.
Rindo, transbordando felicidade.
Cada mês será um cofre
Nos quais guardaremos as bençãos.
Doze cofres de amores
Doze baús de saudades
Doze berços de esperanças
Doze sacrários de perdões.
Contaremos assim os dias...

Francisco Martins
1 janeiro 2025


quinta-feira, 12 de dezembro de 2024

VATENOR OLIVEIRA: UMA SAFRA DE SAUDADES

 

O artista plástico Vatenor Oliveira se encantou. Partiu  deixando um legado de beleza em suas telas, sempre tendo como tema o cajueiro, suas folhas e frutos.

terça-feira, 10 de dezembro de 2024

BENS TOMBADOS PELO GOVERNO DO ESTADO - PARTE FINAL

Com a postagem de hoje concluímos a série sobre a relação dos bens tombados pelo Governo Estadual do Rio Grande do Norte. Chamamos a atenção do leitor que todos os imóveis aqui relacionados fazem parte de uma lista organizada pela Fundação José Augusto-FJA, tendo como base  outubro de 2013.  Passados 11 anos, outros imóveis já foram tombados e não constam no presente registro, ademais, alguns bens não estão claros a sua identificação, como por exemplo: Caixa D’água - NATAL - DOE - 09/08/2007. Onde fica esta Caixa? É preciso fazer uma atualização e nomear a lista, se possível com fotografias dos imóveis.Fica a dica.

Travessa Pax, em Natal.

 
Casa do Agente - FRUTUOSO GOMES - DOE - 18/04/2007

Prédio da Estação de Passageiros REFESA - FRUTUOSO GOMES - DOE - 11/05/2007

Igreja de N.S. do Ó - SERRA NEGRA DO NORTE - DOE - 11/05/2007

Travessa Pax - NATAL - DOE - 26/07/2007

Casa do Barão de Serra Branca - SÃO RAFAEL - DOE - 26/07/2007

Caixa D’água - NATAL - DOE - 09/08/2007

Casa da Av. Câmara Cascudo nº 398 - NATAL - DOE - 25/08/2007

Cine Nordeste - NATAL - DOE - 26/07/2008

Academia Norte riograndense de Letras - NATAL - DOE - 03/09/2008

Prédio na Av. Dr. Gregório de Paiva - Escola Estadual Waldemar de Souza Veras - ALEXANDRIA - DOE - 25/04/2009



ATUALIZADO EM 14 DE OUTUBRO DE 2013.


PARABÉNS RIMADO E METRIFICADO PARA DIVA CUNHA

 

 

Hoje, 10 de dezembro é a data natalícia da poeta, conselheira e imortal Diva Cunha.  A literatura brasileira recebeu dela uma contribuição preciosa, que através dos seus livros vieram a enriquecer o cabedal  constituído por escritores e poetas. Tenho a honra de conviver com a poeta Diva Cunha no Conselho Estadual de Cultura, onde a vejo todas as terças-feiras, por ocasião da sessão ordinária daquele colegiado, onde sou secretário.

Diva Cunha é poeta de versos livres. Nada produziu na forma da métrica e rima, mas,  o poeta Mané Beradeiro resolveu por bem escrever um pequeno poema no estilo de cordel sobre essa data, testemunhando que no universo da arte poética, o verso  existe e canta, independente da estrutura que o veste. Ei-lo:

À poeta Diva Cunha
Que tem versos sem amarra
Presenteio na sextilha
Com alegria e com garra
Votos de felicidades
Sem alarde e algazarra

Que A Palavra Estampada
Tenha aroma de Resina
E que Dom Sebastião
Que esperar tanto ensina
Venha  em nossa Via-Lactea
Protegendo essa menina.

Com meu Coração de Lata
Esses versos lhe entrego
Poema metrificado
Que sentimento agrego
Que seja Canto de Página
Assim digo e espero.

Mané Beradeiro
10 de dezembro 2024

Os títulos em negritos correspondem a livros publicados pela poeta Diva Cunha.


COMENTANDO MINHAS LEITURAS: "OS TAMBORES DE SÃO LUÍS", DE JOSUÉ MONTELLO

 OS TAMBORES DE SÃO LUÍS”  continuam a rufar, 50 anos depois, conclamando leitores ávidos em conhecerem a saga de Damião.

 

Capa da 1ª edição


"Cada terra com seu uso, cada roca com o seu fuso

"

O escritor Josué Montello (1917-2006) escreveu mais de uma centena de romances, é o maior romancista do Maranhão, quer seja em produção literária e também em qualidade. Seus livros são dignos de aplausos.

Este ano, precisamente no dia 24 de dezembro, o romance “Os Tambores de São Luís” completa 50 anos que foi escrito. Josué Montello o escreveu primeiramente usando um caderno pautado, durante um ano, e depois, datilografando, que durou também outros doze meses. Durante essa etapa, o autor revia seu texto e sempre que achava necessário, refundia os capítulos. Desde sempre teve a preocupação com o bom texto.

Concluído em 1974, o texto ganhou corpo de livro somente no ano seguinte, quando em 19 de março de 1975, ele assinou o contrato de edição com a José Olympio Editora. Foram testemunhas Nelson de Melo e Carlos Drummond.

A literatura brasileira pode principiar a festa das bodas de ouro do livro “Os Tambores de São Luís”, 50 anos depois ele continua sendo um importante instrumento literário em prol da história que se constrói sobre a consciência negra.

Vamos celebrar a gestação desse clássico, cujo nascimento aconteceu em 3 de novembro de 1975, data em que Josué Montello teve em suas mãos, no escritório da José Olympio Editora, o primeiro exemplar do livro.

Para escrever esse romance, Josué Montello fez várias pesquisas, buscando “subsídios preciosos à hora da recomposição de ambientes de outrora”, principalmente em almanaques.

São 486 personagens no romance, que permanece inexcedível, quando o tema é escravidão, consciência negra. Foram mais de 20 anos de pesquisa. "Os Tambores de São Luís" tentam recompor três séculos de lutas da raça negra, que no corpo do texto , acontece numa caminhada do protagonista, Damião, que tem início às 22 horas do ano 1915 e vai terminar no dia seguinte, às 9 horas,  entre dois pontos da cidade de São Luís do Maranhão.

Não quero escrever uma resenha do que acontece com Damião.  Prefiro açaimar sobre isso e deixar que o leitor tenha a curiosidade de buscar o livro e sentir , ele próprio, como a escrita de Josué Montello é rútila.

As páginas desse romance  nos prende. Há nelas todo um cenário histórico, que tem o poder de levar o leitor para dentro do enredo e ter a sensação de que também caminha ao lado de Damião, sem ser percebido, mas tão perto dele, que escuta suas narrativas. Dentro dessas narrativas existem fatos históricos da sociedade do Maranhão. Um desses é sobre Ana Amélia Ferreira Vale. No diálogo que tem o Dr. Olímpio Machado com Dom Manuel ( páginas 112 e 113) lemos:

"O nosso Gonçalves Dias, amigo íntimo do Dr. Teófilo Leal, apaixonou-se por uma cunhada deste, a Ana Amélia, e a pediu em casamento à Dona Lourença Vale, mãe da moça e que Vossa Reverendíssima também conhece. O Gonçalves Dias não é um homem qualquer – é o maior poeta do Brasil e amigo pessoal do Imperador. O Maranhão não tem glória mais alta. Pois nada disso teve o menor significado para a nossa Dona Lourença, diante deste fato, de que o Gonçalves Dias não tem culpa: – ser ele mestiço e filho bastardo. E respondeu ao poeta, numa carta seca, com um não redondo. Não dava a filha a um mestiço. Mas a verdade é que o Gonçalves Dias, se quisesse, podia vir a São Luís, e levar a Ana Amélia, que estava disposta a fugir com ele. E não foi isso que fez. Humilhado, guardou a mágoa. E ao chegar ao Rio, casou numa das mais importantes famílias da Corte. A Ana Amélia, coitada, não perdoou a família. E quando o Domingo Porto, que é também bastardo e mestiço, lhe arrastou a asa, não hesitou em casar com ele, amparada pela Justiça. Vossa Reverendíssima já sabe que o casamento dela, aqui em São Luís, foi um deus-nos-acuda. Parecia que o mundo estava vindo abaixo. As amigas de Dona Lourença passaram a andar de preto, solidárias com o luto fechado da família Vale. O pai da Ana Amélia, instigado por Dona Lourença, foi ao cartório do Raimundo Belo e deserdou a filha, sob a alegação de que a moça tinha casado com o neto da negra Eméria, antiga escrava do coronel Antônio Furtado de Mendonça.

O Dr. Olímpio Machado estava agora debruçado sobre a cadeira, com os antebraços apoiados na madeira do espaldar. E procurando os olhos de Dom Manuel, depois de uma pausa:

– Vossa Reverendíssima já sabia desse fato? Asseguro-lhe que é absolutamente verdadeiro. O Domingos Vale deserdou a filha, por escritura pública, apenas porque o genro, Vice-Presidente da Província e Comandante da Guarda Nacional, é neto de uma escrava! Coisas deste nosso Maranhão, Senhor Dom Manuel da Silveira! Coisas deste nosso Maranhão!

E endireitando o busto, após outra pausa:

– Vossa Reverendíssima pensa que a família Vale se deu por satisfeita? De modo algum. Fez mais. Decidiu levar o Domingos Porto à ruína, na sua casa de comércio. De um dia para o outro, o Porto se viu com todos os seus créditos cortados. Ninguém quis mais negociar com ele. O resultado foi a falência, e o pobre do Porto obrigado a sair do Maranhão às pressas, para não cair nas unhas de seus perseguidores! Um horror, Senhor Bispo! Um verdadeiro horror! Eu, como Presidente da Província, nada pude fazer para ampará-lo. Só encontrei negativas. Era a cidade inteira contra um homem. E tudo por quê? Porque o Domingos Porto, que é um homem de primeira ordem, culto, educado, finíssimo, tem a desgraça de ser neto de uma escrava! Que é que Vossa Reverendíssima me diz a isto, Senhor Dom Manuel? Em que século estamos? E que terra é esta?"

É um livro e tanto. Mas adiante, o leitor vai se deparar com outro fato histórico, onde a personagem central é Dona  Ana Rosa Viana Ribeiro, que vai a julgamento por ser culpada pela morte de escravos menores.  

É preciso lembrar a advertência do autor: " Embora o romance se coloque, não no plano do documento, mas no da criação, poder-se-á estabelecer a concordância das duas vertentes, desde que ambas se confundam na harmonia da realidade romanesca".

Um romance que vai com certeza entrar na lista dos melhores livros já lidos. Na minha já faz parte, e eu, que nunca pensei em visitar o Maranhão, graças a esse livro, começo a ter o desejo de ir a São Luís e sentir o ambiente da história contada.

Não pense o leitor que é o livro é uma obra regional, não! Ele excede os limites do Maranhão e a sua mensagem atinge todo o Brasil Um clássico da nossa literatura. A data escolhida para o lançamento foi 9.12.1975, na própria loja da editora, no Rio de Janeiro, de onde ele partiu para o mundo.


Francisco Martins

10 de dezembro de 2024


Fontes consultadas

Jornal do Brasil - edição de 31-12-1979 artigo “Receita para os anos 80” - Josué Montello

___________ edição de 8-9-1987 artigo “Centenário da Abolição” - Josué Montello.

Diário do Entardecer - 1967 - 1977. Editora Nova Aguilar, 1998- 1ª edição


segunda-feira, 9 de dezembro de 2024

OBRA PÓSTUMA DO POETA VOLONTÉ SERÁ LANÇADA AMANHÃ

Em 1982 ele lançou o primeiro livro "Antecedentes Criminais". dele também são "Ganga Impura" e "Furor Sobejo". não tenho certeza, mas creio que além dos títulos já citados há outros três e se estiver certo, o poeta que se foi aos 71 anos, deixa como legado cultural sete livros ao todo, sendo "Lares Palustres", obra póstuma.

Álvaro Dias escreveu: “Lares Palustres” estava pronto para chegar ao público leitor. Estava prestes a encerrar a trilogia que iniciou com “Ganga Impura”, de 2014, e deu sequência com “Furor Sobejo”, de 2017. Quis Deus e o destino que não houvesse tempo para que o poeta pudesse entregar seu novo livro ao público. Espero que chegue às nossas mãos, como uma última e marcante contribuição dele, para a cultura potiguar. Uma contribuição já representada nas outras cinco obras que produziu. E, ainda mais, por suas virtudes. Em especial, a de transmitir ideias com seu espírito singular, afirmativo e verdadeiro"


FONTES: Dias, Álvaro. "Volonté o poeta das ruas de Natal" - Tribuna do Norte - 16 de novembro de 2024.
Medeiros, Alex. "O Poema que anda" - Tribuna do Norte - 13 novembro 2024.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2024

CRÔNICA PARA HELENA

 

Helena  e Luana

Ela nasceu ontem, 4 de dezembro de 2024, Chegou neste mundo marcado  pelas guerras entre países, frutos de homens que não se entendem. É filha de  Thiago e Luana, um casal que por mais de uma década esperou a chegada dessa criança. Deram-lhe o nome de HELENA.

A Grécia antiga deu ao mundo uma Helena, princesa, filha de Zeus com Leda. Tornou-se esposa de Menelau, mas foi raptada por Páris, dando início a uma guerra que durou dez anos.

Helena, a grega.

A Helena potiguar foi uma vitoriosa em busca do seu nascimento. Lutou, junto com a sua mãe, vencendo obstáculos, numa gestação que exigiu muitos cuidados. Ei-la entre nós! Há na foto toda uma mensagem  rica de significados. Cores que falam da esperança, da paz, olhos fechados que nos dizem ter a certeza que ao lado da mãe está segura e toque das mãos maternas, segurando o mais valioso tesouro que um útero pode revelar.

Bem vinda Helena! Poetas hão de falar da sua beleza. Ouvirei histórias sobre você, e se não puder vê-la aos 15 ou 20 anos, saiba desde já, que sinto-me extremamente abençoado e grato por ser seu tio avô.

Francisco Martins

quarta-feira, 4 de dezembro de 2024

CAPAS DOS MEUS LIVROS PUBLICADOS

O segundo livro

O terceiro livro

Quarto livro

Quinto livro

 

Sexto livro: "As Mulheres de Jesus", 1º livro cartoneiro do Rio Grande do Norte
.A edição foi de apenas 50 livros. Cada um com uma capa diferente



Sétimo livro

Oitavo livro

Nono livro, 1a edição


Nono livro - 2 edição



Décimo livro - 1ª edição

Décimo livro - 2ª edição



Décimo primeiro livro

Décimo segundo livro

FRANCISCO MARTINS COMPLETA HOJE 20 ANOS NO OFÍCIO DE ESCRITOR

 Hoje é uma data especial para mim. Foi numa tarde do dia 4 de dezembro de 2004 que eu  lancei meu primeiro livro. É oficialmente meu batismo domo escritor. O evento aconteceu na cidade de Ceará-Mirim-RN, palco de todos os textos que estão no livro "Contos da Nossa Terra". Tive o cuidado de registrar a obra na Biblioteca Nacional. Foi uma tiragem de 500 exemplares e essa primeira edição se esgotou após seis meses do lançamento.

Tinha início uma trajetória que  eu sei que somente vai terminar quando não puder mais escrever. A literatura mudou minha vida, deu-me mais conhecimento, ampliou meus horizontes, tornou-me não apenas escritor, mas também contador de histórias, editor de livros cartoneros, poeta cordelista, manipulador de bonecos, restaurador de livros e outras coisas.

Hoje tenho em meu balaio cultural mais de 60 folhetos de cordéis, 12 livros publicados e uma enorme lista de ações culturais. Sou feliz e grato pela história construída ao longo destes 20 anos. 

Francisco Martins

04 de dezembro de 2024



segunda-feira, 2 de dezembro de 2024

COMENTANDO MINHAS LEITURAS: "ITACIRICA - A PEDRA QUE PENSAVA", DE WALDSON PINHEIRO

 Confesso que várias vezes eu peguei no livro e o soltei. A capa não me atraía e passava a sensação de que o assunto era técnico, didático, menos romance. Isso foi na década de 90 e depois, no primeiro lustro dos anos 2000.

capa da 1ª edição

Este ano eu disse a Mané Beradeiro que ele devia escrever um cordel sobre Waldson Pinheiro, um homem culto, poliglota e que está esquecido no seio cultural. O poeta aceitou a sugestão. Falei que o futuro homenageado escreveu um livro: "Itacirica - a pedra que pensava".  Ele me pede para falar sobre o livro, mas adianto que não li.
Fiquei pensando que seria bom ajudar o poeta cordelista e comecei  a garimpar o livro. Finalmente no início de setembro, consigo emprestado um exemplar da segunda edição. A primeira data de 1975.

Capa da 2ªedição
Aproveitei alguns momentos da tarde e me pus a ler "Itacirica". Logo nas primeiras páginas sinto o desejo de abandonar a leitura, mas pensando em Beradeiro e na oportunidade que tenho em ajudá-lo, continuo. Ponho-me a perguntar: Por que um homem tão sábio está escrevendo de maneira tão simples? Não encontrei resposta, até quando na semana passada, o poeta Beradeiro  me falou que "Itacirica" foi livro premiado pelo MOBRAL, aquele Movimento Brasileiro de Alfabetização, nos anos setenta. Sim, fazia sentindo o estilo utilizado pelo Professor Waldson Pinheiro.

O autor
E continuei a leitura, tendo o cuidado de premunir reflexões malsãs. "Itacirica", reclama ao leitor a sua atenção para uma história  romanceada, onde vai sendo construída a linha do tempo da nossa evolução, desde os tempos mais remotos até uns dias desses.
Vale a pena ler "Itacirica". Digo ainda mais, deve ser  incluído no rol dos livros literários para os nossos estudantes.

Beradeiro vai ficar alegre quando lhe falar do livro, e dizer que em 1974 ele foi elemento, com outros quatro livros, do conjunto das obras selecionadas pelo Prêmio Mobral de Literatura ( os outros autores foram de Brasília, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Porto Alegre.) ganhando 16 mil cruzeiros cada um e o melhor de tudo: os livros escolhidos tiveram edição  de 100 mil exemplares, por título. Não conheço nenhum outro escritor que no RN tenha alcançado tal êxito. Talvez Homero Homem.

Francisco Martins
02 de dezembro de 2024