quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

UM SONHO INESQUECÍVEL


Não faz muito tempo que sonhei algo maravilhoso. Nos sonhos as coisas acontecem sem grandes explicações. É o inconsciente que domina e administra tudo. Pois bem, sonhei que estava em Ceará-Mirim já com meus quarenta e cinco anos de idade, passeando no átrio do Mercado Central, quando de repente olho para o Casarão dos Correias e vejo que alí não funciona nenhuma loja, apenas uma residência. Curioso, aproximo-me e peço para conhecer aquela casa por dentro. A senhora que me recebe tem cabelos brancos, parecendo flocos de algodão, usa um vestido floral e sorrindo me diz:
-Pode entrar moço.
Entro e fico encantado com a beleza dos móveis e utensílios que existem ali dentro. Pergunto se posso subir e conhecer a parte do pavimento superior. A senhora permite e me acompanha na subida da velha escada de madeira. Lá em cima os quartos também guardam seu explendor. E então meto a mão no bolso, retiro a máquina digital e peço permissão para fotografar.
-Que máquina estranha! Diz a senhora. Toda brilhosa e pequena. A que temos aqui em casa é grande e preta.
Foi quando eu notei que estava numa outra dimensão do tempo. Olhei para o Mercado, vi que ao redor não havia revestimento nenhum de asfalto. Carros, pouquíssimos trafegavam por ali. Muitos homens cavalgavam. Vi um jeep descendo pela Rua do Patu.
Já na calçada do Casarão dos Correias eu pergunto que dia e mês é hoje.
A senhora responde-me indagando:
-Como assim? Você não sabe que dia e mês é hoje?
-Por favor. Que dia e mês é hoje?
-Dezoito de agosto meu filho.
-De qual ano?
-Escuta aqui, você tem problemas? Estamos em mil novecentos e sessenta e seis.
Meu coração bateu forte, acelerou. A respiração tornou-se ofegante e corri em disparada à rua Boa Ventura de Sá. Caiu a ficha. Eu tinha voltado ao tempo. Biologicamente estaria com apenas dois anos de idade. Entrei na rua Boa Ventura de Sá e vi duas araras passeando nos fios da rede elétrica. Tudo Rico e Dona Francisca no balcão da sua bodega. Dr. Rivadávia e Idalina Pacheco na área da sua casa, Dona Ana, saindo com uma lata para buscar água na cisterna da casa de Chico Martins ( meu avó).
Eu vi isto e muito mais no sonho maravilhoso. Passei pelas pessoas na velocidade de um raio, pois o que eu almejava ver mesmo era meus avós maternos. Quando cheguei na esquina e meus olhos volveram-se para dentro daquela mercearia, contemplei um balcão de madeira verde-oliva, uma geladeira antiga, muitas prateleiras, e lá dentro um homem alto, de cabelos brancos, com 63 anos. Era meu avó, o inconsciente ainda resistiu ao sonho, o suficiente para eu ouvi-lo dizer:
-Mimosa, venha cá ver as araras catarolando no fio da energia.
Minha avó apareceu, pequena, cabelos longos e pegando nas mãos do gigante Chico Martins olhou as araras gritarem: "É o padre, é o padre!".
Acordei e não esqueci o sonho que me portou ao dia 18 de agosto de 1966.

3 comentários:

Ceicinha Câmara disse...

Neto, que lindo este seu sonho! Fez-me lembrar também, da primeira vez que fui ao andar de cima deste casarão! Ao contrário de você, não me lembro o ano, mas quem sabe sonharei para lembrá-lo! Risos... Lembro-me de ter visto, de uma das janelas laterais, um pouco do verde do vale. Que pena que conservam só a parte de baixo! Porque não pintam pelo menos por fora? Daria outro aspecto à história.
Um grande abraço, amigo!
E sucesso com o "Momento do Livro"

Ceicinha Câmara

Anônimo disse...

Oi Neto, tudo bem? Li todo o seu sonho. Saiba que nos sonhos fazemos viagens que estão em sintonia com nossas idéias e pensamentos. Como vc sempre admirou e gosta dessa história ligada as questões da infância em nossa Ceará-Mirim, viaja ,então, nessa direção para viver aspectos e lembranças dessa época.E ainda com o privilégio de ver parentes e amigos. Isso é bom! Respeito sua opção pelo catolicismo, mas hoje, faço um esforço para seguir a doutrina espírita.Acho-a ,simplesmente, fantástica!!! Mudando de assunto, fui na escola e fiquei feliz em ver um livro que vc deixou, dedicado à professora Margarida.Um abraço e em breve, estarei enviando as fotos do nosso evento.
Bete Campos.

Lena Sousa disse...

as vezes por uma história, por um sonho nós chegamos a encontrar algo que nos faz falta ou que nos traz saudade, não sei muito sobre vc, entrei aqui por acaso e li seu sonho, me encantei pois me relata fatos da minha vida, ..ainda hoje gosto de sentar ao lado da minha avó de 93 anos e escutar suas histórias de menina, de quando meu bisavô quis dar ela em troca de uns kilos de farinha e de feijão a um mercador de estrada e ela se escondeu mato a dentro para não ser levada, ...tudo que li desse sonho inesquecivel me deu lembranças...quando vc escreveu assim ..."Quando cheguei na esquina e meus olhos volveram-se para dentro daquela mercearia, contemplei um balcão de madeira verde-oliva, uma geladeira antiga, muitas prateleiras, e lá dentro um homem alto, de cabelos brancos, com 63 anos. Era meu avó, o inconsciente ainda resistiu ao sonho, o suficiente para eu ouvi-lo dizer:
-Mimosa, venha cá ver as araras catarolando no fio da energia."
me deu muitas saudades dos meus avós maternos, meu vô era comerciante e minha avó foi uma maezona de mais de 10 filhos, infelizmente eu ainda era criança quando eles morreram, mas minha mãe contava muitas proezas ...gostaria de poder ler mais coisas suas...foi um prazer ver um pouco do seu espaço aqui..abraço