sábado, 9 de fevereiro de 2019

COMENTANDO MINHAS LEITURAS 2019 - O ANJO DEVASSO

"O Anjo Devasso"(2016) é o título de uma biografia romanceada do poeta Juvenal Antunes (1883-1941),  natural de Ceará-Mirim e um dos maiores poetas já nascido naquele vale. O livro foi escrito por Antonio Stélio ( foto abaixo).  Juvenal Antunes,  formado em Direito, funcionário público (Promotor de Justiça), boêmio, viveu 58 anos. Sua existência  assinalou a literatura brasileira, principalmente no Rio Grande do Norte e no Acre onde ele é bem mais conhecido.  

Antes de comentar o livro, vejamos um pouco sobre a importância deste poeta. Sua forma de viver, sua boemia, seus textos foram elementos que despertaram o olhar do crítico literário  Esmeraldo Siqueira, quando sobre ele escreveu o ensaio  "Um boêmio inolvidável" (1968). Está presente na primeira antologia  "Poetas do Rio Grande do Norte", " organizada por Ezequiel Wanderley (1922) e também da  antologia "Panorama da Poesia Norte-rio-grandense", de  Romulo Wanderley ( 1965). Em 1957 é criada a cadeira 35 na Academia Norte-Rio-Grandense de Letras, e Edinor Avelino escolhe Juvenal Antunes para ser o patrono da cadeira. Em 1956 é criada em Natal a Academia Potiguar de Letras, pelo Monsenhor  Alves Landim e Boanerges Soares, nela, Juvenal Antunes é patrono da cadeira 27.  No ano 2010, o escritor Pedro Simões Neto funda a  Academia Cearamirinense de Letras e Artes-ACLA, e dentro dos patronos é o nome de Juvenal Antunes  escolhido para a cadeira 3. Bem antes disso, em 1937, Juvenal Antunes participa da criação da Academia Acreana de Letras ( 1937) e é patrono da atual cadeira 31.
Juvenal Antunes
Dada essa introdução trago o meu comentário sobre o livro "O Anjo Devasso). Gostei da forma que o autor escolheu para narrar a biografia. Ele anuncia a  história do biografado de uma maneira que traz à tona pessoas que foram importantes no universo da vida de Juvenal Antunes, a cada uma dela é dada a participação em capítulos. Antonio Stélio  não mediu esforços de pesquisa para escrever sobre o assunto, a linha do tempo que ele nos apresenta contém tópicos relevantes sobre o poeta. Cada apresentação é como se à tela do leitor fosse fornecido tintas que vão dando vida ao melhor quadro que já se tenha pintado de Juvenal Antunes. Um homem que soube viver à sua maneira, liberto e libertino (quando assim desejou).
Não espere o leitor encontrar  nesse livro os poemas de Juvenal, há alguns, mas não foi esse o objetivo de Antonio Stélio. A produção literária do biografado encontra-se espalhada por vários jornais, revista e almanaques deste Brasil, além  dos poemas que estão em "Scimas" (1909) livro de estreia aos 26 anos e depois "Acreanas" (1922).  Mas, se o autor de "O Anjo Devasso" não quis reunir os poemas como uma espécie de antologia, que poderia compor a terceira parte do livro, ele, Stélio, nos fornece ao longo das 169 páginas, o mais belo poema escrito por Juvenal Antunes, a saber: o poema da vida, onde cada um de nós é seu próprio autor.

Juvenal "poeta muito além do seu tempo, feito de virtudes e de vícios", como prefaciou Vicente Serejo e  combatente da hipocrisia social, qualidade atribuída por Abimael Silva, editor,  é verdadeiramente digno da alcunha de Anjo Devasso.  Dentro de cada homem há duas naturezas, a carnal e a divina. Em Juvenal Antunes  a divina  adormeceu muito cedo e desde então a outra parte se fez senhora do seu tempo, da sua existência,  moldando-o como um Anjo Devasso. Conclamo os leitores que gostam de bons livros a terem em suas mãos este trabalho de Antonio Stélio.  Juvenal Antunes, canção ensaiada na bagaceira do Engenho Oiteiro (Ceará-Mirim-RN) e depois amadurecida no sabor da floresta que tempera o Acre,  é hoje, um misto de agradecimento e saudade.

Francisco Martins
9 de fevereiro de 2019

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