sexta-feira, 11 de fevereiro de 2022

O CORDEL É O MELHOR SÍMBOLO DE RESISTÊNCIA NA LITERATURA BRASILEIRA

O leitor de hoje tem ao seu dispor uma quantidade imensa de sites que tratam sobre o Cordel Brasileiro. Neles é possível não apenas ler os poemas, como também ouvir e ver declamações, aulas, oficinas, dicas de livros sobre o tema, etc. Tudo fácil de ser encontrado e   ao alcance do internauta. Mas nem sempre foi assim.  43 anos atrás, o estudioso e pesquisador do Cordel Brasileiro, Veríssimo de Melo, escreveu com entusiasmo  a mudança que estava chegando nesse gênero literário, era o uso do Micro-Filme.  Leia o artigo abaixo e perceba o quanto crescemos.


  CORDEL EM MICRO-FILME

Veríssimo de Melo


    A literatura de cordel - antes tão humilde, restrita apenas aos mercados e feiras ou nas mãos dos caboclos nordestinos, hoje é motivo constante de teses e debates em universidades dentro e fora do país. Como se explica a ascensão desse tipo de literatura tão pobre nos seus aspectos formais?

    Na era da informática e da Comunicação, descobriu-se que o cordel é um dos canais legítimos de difusão da cultura e ideologia dos nordestinos. A partir do século passado, ele desempenha papel relevante na difusão de valores, homens e fatos regionais, nacionais e até internacionais.

    A sua eclosão no Nordeste - e não noutras áreas brasileiras, - é ainda um fato que provoca reflexões. Mas já se sabe que aqui ele encontrou condições ideais para sua florescência e sobrevivência. Condições que não ocorreram noutras regiões do país. Modernamente, o cordel vem aparecendo em cidades do centro e sul, como Rio de Janeiro e São Paulo. O que se justifica pela presença maciça de nordestinos nesses Estados e igualmente porque esse tipo de literatura tem público garantido, sendo, portanto, um valor comercial.

    Só nas últimas décadas a literatura de cordel passou a interessar a professores universitários e escritores em geral. Várias teses de mestrado já se ocupam de aspectos do cordel, tanto do ponto de vista literário quanto social e cultural. Um conterrâneo nosso, prof. José Gomes Neto, para obtenção do grau de Mestre em Letras, na Universidade Federal de Santa Catarina, escreveu sua tese sobre "O ASPECTO VERBAL NA LITERATURA DE CORDEL". É valioso trabalho de pesquisa, onde examina e estuda paralelismo entre os aspectos verbais na literatura em geral e no cordel, apontando conclusões.

    Temos sido testemunhas do enorme interesse que o cordel tem provocado entre professores e escritores do país, que se deslocam até Natal, vez por outra, para adquirir folhetos. Muitos percorrem o Nordeste inteiro à procura de folhetos, comprando exemplares, tomando emprestado, fazendo cópias dos que mais os interessam.


    Ultimamente, esteve em Natal o prof. Joseph M. Luyten, holandês de origem, hoje brasileiro naturalizado, - professor de Comunicação na USP e especialista em cordel. Ele nos trouxe uma novidade na espécie: A firma de São Paulo IMS -Informações, Microformas e Sistemas S.A. - Rua Matheus Grou, 57 - 05415, S.P, - está produzindo micro-filmes de cordéis. As fichas, que medem 16 x 11,5 centímetros condensam, em média, cinco folhetos comuns, podendo ser adquiridos por Cr$ 12,00 cada. Na verdade, relativamente muito mais barato do que folhetos aos preços atuais. Sobretudo quando se trata de exemplar mais antigo.

    Vemos, assim, que a literatura de cordel já ingressou na era eletrônica. Ou, por que não dizer? - na era biônica, - pois a palavra nova, empregada até mesmo em sentido pejorativo, nada mais significa do que a união da biologia com a eletrônica. É a eletrônica a serviço do homem. E nem se compreenderia a eletrônica sem essa vinculação ao homem.

    O cordel ganhou agora um raio de ação muito mais vasto. Pode ser estudado por qualquer pessoa, em qualquer parte. O que antes era pobre lazer de caboclos semi-analfabetos, - hoje é matéria-prima para estudos e debates universitários de âmbito nacional e até internacional. 

A República, 17 novembro 1979.

Não há dúvidas: o cordel é o melhor símbolo de resistência na literatura brasileira. Ele passou por várias fases, foi lavrado pelas mãos de homens e mulheres do povo e aos poucos foi fincando suas raízes e sendo o juazeiro na flora literária. Vem as secas, falta água, morre tudo ao seu redor, mas o Cordel permanece com vigor.

Mané Beradeiro

Parnamirim-RN, 11 de fevereiro de 2022

2 comentários:

Magaly disse...

Não há dúvidas, o cordel é residência 👏👏👏👏👏😍

Casa do Cordel disse...

Excelente texto.